O desenvolvimento comandado pelo capital financeiro

Por arkx

Comentário ao post “Fazenda ensaia uma autocrítica

“Mais de 90 dos recursos dos fundos VGBL e PGBL, de previdência privada, estão alocados em títulos de renda fixa, de prazo diário.Ou seja, enquanto a política monetária não reduzir a remuneração de curto prazo dos títulos públicos, o principal investidor de longo prazo – os fundos de investimento e de pensão – não sairá a campo para produzir a tal agenda de investimento.”
 
Enquanto os intelectuais lulistas se imobilizam e apelam para o rivotril, façamos nós uma viagem no tempo ao agora longínquo ano de 2007: a reciclagem da poupança financeira.
 
Foi Ignácio Rangel quem anteviu para o Brasil um novo estágio de desenvolvimento, não mais comandado pelo capital industrial, e sim pelo capital financeiro. ousou defender que, para a soberania nacional, a estruturação de um mercado interno de capitais era então da mesma importância estratégica quanto fora no passado a criação de nosso parque industrial.

 
O mercado de capitais se converteria na fonte principal de financiamento da economia, tendo como prioritária destinação dos recursos a criação e expansão dos grandes serviços de utilidade pública.
 
Hoje, a indústria de fundos de investimentos no Brasil, com patrimônio líquido atual superior a R$ 1 trilhão, é mais desenvolvida, mais sofisticada, mais competitiva e maior como proporção do PIB se comparada a qualquer outro país emergente.
 
Bastaria uma redução na oferta dos títulos públicos – por conta da diminuição da dívida interna – para disponibilizar uma dinheirama no mercado, para financiar o desenvolvimento.
 
Os gestores dos fundos de investimentos terão que buscar ativos com rentabilidade para substituir títulos públicos.
 
É erro pensar que o sistema bancário é quem irá prover recursos para financiar empresas e consumo. o funding será dado pelos fundos, financiando a produção por meio de debêntures e o consumo por meio de instrumentos como os Fundos de Direitos Creditórios, pelos quais as empresas antecipam receitas futuras contratadas. [
 
Há pouco incentivo em se investir em atividade produtiva, gerando empregos, renda e aumentando a propensão ao consumo, enquanto a taxa básica do BC regular a disponibilidade de recursos bancários para empréstimos e também remunerar a maior parte da dívida pública.
 
Os títulos públicos, qualquer que seja seu prazo nominal de vencimento, têm liquidez diária garantida pelo governo.  além disto, a taxa básica por um dia é maior que as taxas de juros de médio e longo prazo. o resultado é um ativo financeiro que rende juros e nunca fica indisponibilizado.
 
Esta anomalia proporciona uma rentabilidade diária alta, segura e sem os embaraços de ter que contratar e pagar salário a trabalhadores, sem as complicações com o Fisco, sem taxas e impostos, sem ter que cumprir regras ambientais, sem obrigações sociais.
 
um capitalismo sem risco e que dispensa a produção.
Redação

9 Comentários

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  1. Ajoelhou, tem que rezar!
    É pior!
    Neste país, quem produz ainda é explorador.

    Não é isso pessoal? Diz aí!
    Aí eu me pergunto, quem defende à produção?
    A direita defende o financeiro. A esquerda defende um mundo lindo, sem consumo, sem luz, se os índios podem….
    Mas que ideologia defende a produção?
    Sobrou para O CENTRO, o PMDB!

    A esquerda colhe o que planta.

    1. Não é bem assim ou não cabe essa generalização para a esquerda

       

      Athos (sexta-feira, 19/06/2015 às 11:04),

      Há os de esquerda que acreditam que o capitalismo deve ser superado e não destruído e, portanto, há que se privilegiar a produção. E até mesmo o setor financeiro deve ser protegido ou deve se ter como um aliado como era a recomendação do Ignácio Rangel que era bem de esquerda.

      O próprio primeiro governo da presidenta Dilma Rousseff foi um governo de esquerda e que tentou proteger a produção. Não teve êxito, por circunstâncias bem fora do controle do governo como foram, por exemplo, o julgamento da Ação Penal 470 e as manifestações de junho de 2013.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 22/06/2015

      1. Não generalizo para TODA a
        Não generalizo para TODA a esquerda.

        Mas esse pensamento é exclusivo de PARTE da esquerda.
        A parte comunista que não percebeu que não venceram qualquer eleição.
        Eles tem que ser defenestrados do PT porque produzem efeitos!

        1. Concordo na parte que você exclui a sua generalização

           

          Athos (quinta-feira, 25/06/2015 às 10:56),

          Concordo com você de que a visão de quem produz ainda é explorador é apoiada por parte da esquerda.

          Agora quando você diz que a parte comunista que pensa assim deve ser defenestrada do PT, você me parece fazer outra generalização. Não sou petista, apenas tenho votado em candidatos do PT em que eu confio mais, então essa minha avaliação de que você generalizou pode ser uma mera opinião pouco balizada pelos fatos, mas me parece que os comunistas estão mais no PPS e no PC do B. Entre os políticos do PT, eu não saberia mencionar um que seja comunista. Agora entre os eleitores, simpatizantes, apoiadores e inscritos no PT podem realmente existir muitas pessoas que querem a destruição do capitalismo.

          Não creio, entretanto que este grupo deva ser defenestrado do PT. Ele deveria ser instruído a poder ver no aperfeiçoamento do capitalismo uma possibilidade de superação do capitalismo muito mais realista do que executar, quando o capitalismo ainda está em um estágio atrasado, a sua destruição.

          Clever Mendes de Oliveira

          BH, 29/06/2015

  2. viagem no tempo

    agradeço o post e repasso os créditos aos autores do texto: Ignácio Rangel, José Carlos de Assis e Luís Nassif.

    grande abraços a todos nós, brasileiros que jamais desistiremos de nós mesmos.

    .

  3. Antes você dormia como Rip Van Winkle, agora quer puxar o futuro

     

    Arkx,

    Recentemente eu dei minhas boas vindas ao seu retorno ao blog de Luis Nassif porque senti que você em falta aqui durante um bom tempo. Foi lá no post “A miopia da política econômica de prioridades conflitantes” de domingo, 17/05/2015 às 15:59, contendo texto do próprio Luis Nassif. O endereço do post “A miopia da política econômica de prioridades conflitantes” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-miopia-da-politica-economica-de-prioridades-conflitantes?page=1

    Em meu comentário enviado segunda-feira, 18/05/2015 às 21:35, junto ao seu comentário de domingo, 17/05/2015 às 15:58, eu lembro do post “Pensando o Futuro” de quinta-feira, 21/05/2009 às 14:48, saído aqui no blog de Luis Nassif e com texto de sua autoria. O endereço do post “Pensado o futuro” é:

    http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/21/pensando-o-futuro/

    Em meu comentário eu alego que você e eu também não mudamos. Você voltou com um comentário e justificou você não ter mudado com base no fato de que nada mudou. Na verdade são coisas diferentes. Em The Boxer, Simon (escreve) e Garfunkel (canta):

    “Now the years are rolling by me, they are -[rockin evenly]-

    I am older than I once was

    And younger than I’ll be that’s not unusual.

    No it isn’t strange after changes upon changes

    We are more or less the same

    After changes we are more or less the same

    Lie la lie”

    Sim, é verdade que nós somos os mesmos. Só que em “Apenas um rapaz Latino –americano” Belchior já dizia que

    “Mas trago de cabeça

    Uma canção do rádio

    Em que um antigo

    Compositor baiano

    Me dizia

    Tudo é divino

    Tudo é maravilhoso

    Tenho ouvido muitos discos

    Conversado com pessoas

    Caminhado meu caminho

    Papo, som, dentro da noite

    E não tenho um amigo sequer

    Que ainda acredite nisso não

    Tudo muda!

    E com toda razão”

    É claro que você pode alegar como o ditado “Plus ça change plus ça devient la même chose”. Ou então apelar para a frase célebre de Giuseppe Tomasi conde de Orlando e príncipe di Lampedusa em “O Leopardo” e dita por Tancredi para o tio dele, Fabrizzio, príncipe de Salina, para justificar ele se juntar aos revoltosos comandados por Garibaldi: “As coisas tem de mudar para que permaneçam na mesma”.

    Então divergimos. E estamos divergindo desde o seu post “Pensando o futuro”. Teríamos divergido mais se você não tivesse desaparecido do blog por tão longo tempo. E voltamos a divergir recentemente também em dois posts aqui no blog de Luis Nassif. Primeiro divergimos no post “O BC e a Fazenda ignoraram o óbvio” de terça-feira, 16/06/2015 às 00:00, como se pode ver no comentário que eu enviei terça-feira, 16/06/2015 às 21:33, para junto do seu comentário enviado terça-feira, 16/06/2015 às 14:30. O endereço do post “O BC e a Fazenda ignoraram o óbvio” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-bc-e-a-fazenda-ignoraram-o-obvio

    E depois nós divergimos no post “Barbeiragens do BC começam a assustar o mercado” de quarta-feira, 17/06/2015 às 06:00, e de autoria de Luis Nassif como se pode ver em meu comentário enviado quarta-feira, 17/06/2015 às 21:05, para Luis Nassif, mas com menção a você e na sua resposta enviada quinta-feira, 18/06/2015 às 10:27. Aliás, o meu comentário apareceu solto por erro meu, pois era para o colocar junto ao comentário anterior meu enviado quarta-feira, 17/06/2015 às 14:29. E o endereço do post “Barbeiragens do BC começam a assustar o mercado” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/barbeiragens-do-bc-comecam-a-assustar-o-mercado

    A nossa divergência tem três componentes. Primeiro considero você idealista sobre o modelo capitalista. Segundo considero você idealista sobre o modelo democrático. E terceiro vejo uma identificação sua com Luis Nassif exatamente nesse idealismo e que os leva a cometer erros de avaliação.

    No meu comentário para você lá no post “O BC e a Fazenda ignoraram o óbvio” eu lancei o repto de você trazer mais textos de Luis Nassif em 2003 e 2004 criticando a taxa de juros, como você fizera no seu comentário em que você queria mostrar que tudo continuava a mesma coisa, porque era minha intenção mostrar como os argumentos de Luis Nassif estavam equivocados naquela época se levarmos em conta que o Brasil cresceu mais de 4% em 2004. E o grande erro do Brasil foi ter diminuído o juro no segundo semestre de 2003, pois seria melhor se o país tivesse tido um crescimento mais modesto em 2004 e o crescimento aumentasse nos anos seguintes.

    E eu insisto que Luis Nassif tem cometido esses equívocos de avaliação desde 1983. Ele foi a favor do Plano Cruzado porque havia a crença que a economia brasileira estaria em frangalhos quando na verdade após o ajuste fiscal de 1983 com a desvalorização do cruzeiro em 30% em fevereiro de 1983, o Brasil cresceu 4% em 1984 e 7,8% em 1985, sendo este o maior crescimento que tivemos desde então. Só que o Plano Cruzado destruiu a nossa recuperação econômica.

    Ele foi a favor do Plano Real em 1994, apenas se se insurgindo contra o juro alto e a valorização do real como se o Plano Real pudesse dar certo sem os juros alto e a valorização do real. É claro que o Plano Real deu certo ao contrário do Plano Cruzado, mas não se deve esquecer que no fim do governo de José Sarney a dívida pública era bem menor do que no fim do governo de Fernando Henrique Cardoso e também nos cinco anos de governo de José Sarney o país cresceu mais do que durante os 8 anos de governo de Fernando Henrique Cardoso.

    Agora neste post “O desenvolvimento comandado pelo capital financeiro” de sexta-feira, 19/06/2015 às 09:41, aqui no blog de Luis Nassif e com texto de sua autoria você se torna mais realista. E de um realismo mais fundamentado pois me parece que você é economista, o que eu não sou. E você fala de um assunto de modo bem semelhante a mim como se pode ver no parágrafo que transcrevo a seguir retirado de um comentário meu enviado sexta-feira, 03/08/2012 às 12:28 para Luis Nassif lá no post “O novo desenvolvimento e o papel do Estado – 5” de sexta-feira, 03/08/2012 às 08:00, portanto há quase três anos. Disse eu lá no trecho de interesse aqui (Fiz o acréscimo com a informação sobre a tradução do livro):

    “Um dos grandes defensores de se capturar os recursos do fundo de pensão para desencadear investimentos no Brasil foi Inácio Rangel. Lembro que uma vez fiz menção a essa idéia de Ignácio Rangel e um comunista pediu para que se esclarecesse mais a idéia, pois era um assunto pelo qual ele interessara desde que lera o livro “The Unseen Revolution: how pension fund socialism came to America” de Peter Drucker. No livro [Ele foi traduzido com o título mais chamativo: “A revolução Invisível, como o Socialismo invadiu os EUA”], Peter Drucker sonha, na verdade ele faz uma previsão, com a possibilidade dos trabalhadores americanos através dos fundos de pensão virem a controlar a economia americana”.

    Agora o fato dos fundos de pensão não passarem a irrigar a economia de imediato não quer dizer que isso não venha ocorrer no longo prazo. No curto prazo quem vai relançar a economia não é os fundos de pensão, mas sim o real mais competitivo.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 19/06/2015

    1. com o passar do tempo

      1. jamais não afirmei que “nada mudou” em termos sociais ou mesmo no âmbito pessoal. refiro-me a política econômica do lulismo, que nunca deixou de ser neoliberal, até mesmo por adotar políticas sociais compensatórias conforme o indicado pelo Consenso de Washington. sem romper este modelo tudo pode parecer mudar, mas apenas para disfarçar ter continuado o mesmo;

      2. não tenho qualquer ilusão com o capitalismo, tampouco com a democracia representativa. não há reforma possível para o capitalismo. e só existe autêntica democracia numa sociedade com ampla e direta participação da população em todas as instâncias. por outro lado, o capitalismo tornou-se global e integrado. o capitalismo não é apenas o modo de produção dominante, ele é único. e isto é singular na história da humanidade. como conseqüência não existe nada fora do capitalismo. já que tudo e todos estamos sob seu domínio, mesmo que a estratégia seja a sua superação, o que podemos fazer concretamente no aqui e agora é a “gestão do capitalismo”, trabalhando para regulá-lo e atenuar seus impactos, sem perder, contudo, a certeza de que é preciso ultrapassá-lo;

      3. desenvolvimento é bem mais do que apenas crescimento do PIB. e mesmo o conceito de PIB é bastante inadequado. não há desenvolvimento sem inclusão social. neste sentido, o Plano Real jamais foi um plano de desenvolvimento e se pautou por um projeto de país. a dívida pública interna surge com o Plano Real, sendo esta dívida uma forma de inflação, muito mais eficaz na transferência de renda do setor produtivo para o financeiro;

      4. o post “O desenvolvimento comandado pelo capital financeiro” é uma viagem no tempo, pois se inscreve numa série de posts entre 2007 e 2009 no blog do Nassif, remete a colunas do Nassif em 2003 e retorna até 1963, ano do lançamento do livro “A Inflação Brasileira”, de Ignácio Rangel. muito mais do que apenas focar a inflação, nesta obra temos uma política econômica para um projeto de país. Ignácio Rangel tampouco era economista por formação acadêmica. mas foi ele  pioneiro em compreender ser o mercado interno de capitais tão vital para a soberania nacional, e portanto para o desenvolvimento, quanto um parque industrial.;

      5. os fundos de investimento são sim a possibilidade dos trabalhadores controlarem a economia. mas note como os trabalhadores participam da direção dos fundos de pensão das estatais, os quais tem grande participação nas maiores empresas do país, mas nem por isto estas empresas atuam afinadas com os interesses dos trabalhadores, em mais um exemplo do que se denomina de ‘Hegemonia às avessas” e “reformismo sem reformas”;

      6. a única possibilidade da economia ter um crescimento compatível com um projeto de inclusão social é atuar conjuntamente no tripé da política econômica: monetária, cambial e fiscal. ou seja: SELIC com juros reais negativos, câmbio administrado e fim do livre fluxo de capitais, carga tributária progressiva e cobrança das dívidas das grandes empresas.

      abraços

      .

      1. As nossas divergências são profundas, mas estão nos detalhes

         

        Arkx (sábado, 20/06/2015 às 09:25),

        Primeiro de tudo agradeço a atenção com os meus comentários e a dedicação não só de os ler mas elaborar resposta bem detalhada.

        Segundo, mas não menos importante, lembro que as idéias que temos debatido vêm sendo discutidas aqui há bom tempo. Sem querer voltar ao passado mais longínquo e para evitar um comentário ainda mais alongado é que eu me restringi à sequência dos dois posts “O BC e a Fazenda ignoraram o óbvio” de terça-feira, 16/06/2015 às 00:00, e o post “Barbeiragens do BC começam a assustar o mercado” de quarta-feira, 17/06/2015 às 06:00, ambos aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele e nos quais havia comentários seus para os quais eu indiquei pontos em que divergimos. Haveria ainda que fazer menção ao post “Fazenda ensaia uma autocrítica” de sexta-feira, 19/06/2015 às 06:00, também aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele e de onde o seu comentário enviado sexta-feira, 19/06/2015 às 08:23, foi destacado para ser transformado neste post “O desenvolvimento comandado pelo capital financeiro” de sexta-feira, 19/06/2015 às 09:41.

        Outro ponto que gostaria de manifestar diz respeito a uma resistência que eu tenho em considerar os textos de Luis Nassif como referência de entendimento de uma época. São textos para atrair atenção então o que os textos dele dizem não leva ao esclarecimento lógico e racional de uma dada situação. Eu chamei atenção de modo bem superficial para este aspecto em comentário que eu enviei quarta-feira, 17/06/2015 às 14:29, para Luis Nassif lá no post “Barbeiragens do BC começam a assustar o mercado” quando eu disse que, em razão do esforço que ele fazia para manter o blog eclético e não um mero nicho de uma meia dúzia de cabeças duras, o blog dele apresentava um espectro muito amplo de opiniões desencontradas. Li depois um comentário de Edna Baker junto ao meu em que ela dizia:

        “Clever, gostei do seu “fruto do seu esforço para manter o blog eclético”. Tá vendo como a turma da direita tá toda vindo para o blog do Nassif? E a turma da esquerda tá desaparecendo?”.

        Não sei se há o risco de que ela afirma. Eu creio que não se perde comentaristas de esquerda no blog. Há os atritos costumeiros, mas a maioria se mantém frequentando o blog. Há é verdade o aparecimento de novos com formação mais de direita que sentem certo espaço favorável à manifestação mais crítica aos governos do PT. O crescimento desse grupo guarda mais relação com o próprio crescimento da direita, no país e no mundo.

        De todo modo o que eu queria até comentar para a Edna Baker, e talvez aproveito algum momento mais à frente para dizer isso para ela, era que eu não fizera a observação sobre Luis Nassif como uma afirmação que surgira de repente. É uma avaliação que eu desenvolvo há muito tempo. Chamo a esse respeito atenção para o post “A solidão disfarçada das redes sociais” de quarta-feira, 07/01/2015 às 14:35, aqui no blog de Luis Nassif e originado de sugestão de Nickname para entrevista publicada na Folha de S. Paulo com o título de “Solidão no Facebook” que o repórter Marcos Flamínio Peres faz como Sociólogo de comunicação e diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (Paris) Dominique Wolton. O endereço do post “A solidão disfarçada das redes sociais” é:

        https://jornalggn.com.br/noticia/a-solidao-disfarcada-das-redes-sociais

        No post eu fiz um comentário mais extenso enviado quarta-feira, 07/01/2015 20:00 para Nickname, onde eu abordo este problema dos blogs e sites se fecharem para um grupo cada vez mais restrito de participantes e indico posts antigos onde este problema já vinha sendo abordado.

        Então Luis Nassif precisando de audiência para manter o blog dele ativo e comercial procura desempenhar um papel que evita que o post dele fique restrito àqueles pequenos grupos com a cabeça feita e que não mudam de opinião sob hipótese nenhuma. Ele parte para o ecletismo. Infelizmente o ecletismo é apenas uma colcha de retalho. É uma colcha de retalho de idéias. Não só as ideias estão retalhadas como elas não formam uma nova idéia. Assim o ecletismo pouco serve ao esclarecimento.

        São textos úteis para serem criticados e assim eles podem até servir para a construção de idéias distintas daquelas que aparecem retalhadas querendo expressar uma só ideia.

        Aliás, ele desenvolve bastante essa mania de criar polêmica e para isso faz uso de certo ecletismo na própria exposição das idéias em que ele acredita. Assim para obter a polêmica ele se centra em bater nos dois lados quando só há dois lados na disputa. Bateria em mais se houvesse outros lados. É o que mostra o post dele “Falta governo e falta oposição no país” de domingo, 21/06/2015 às 07:31, e que pode ser visto no seguinte endereço:

        https://jornalggn.com.br/noticia/falta-governo-e-falta-oposicao-no-pais

        Não há como no futuro tirar uma análise alí dele que sirva de orientação para enfrentar uma situação complicada pela qual o país esteja atravessando. Essa era de certo modo uma crítica a que eu fazia no comentário seu junto ao post “O BC e a Fazenda ignoraram o óbvio”.

        Aliás ele chegou a detalhar como ele procede como se pode ver no post “Pequeno manual de como discutir política nas redes sociais” de quinta-feira, 26/06/2014 às 11:51, e que pode ser visto no seguinte endereço:

        https://jornalggn.com.br/noticia/pequeno-manual-de-como-discutir-politica-nas-redes-sociais

        Você ao contrário, neste post “O desenvolvimento comandado pelo capital financeiro”, não cometeu este tipo de análise, martelando a mesma ladainha do que Luis Nassif expôs lá no post “Fazenda ensaia uma autocrítica”, reproduzindo alguma fala de Luis Nassif, embora você trata de um assunto que insistentemente é mencionado por Luis Nassif e que é o juro elevado criar um mercado autônomo e auto suficiente e fora do mercado de produção. Creio que uma afirmação assim tem mais um conteúdo de polêmica que abre a discussão, mas não é uma análise racional da situação porque não há como o mercado financeiro se desacoplar do mercado de produção.

        Foi essa perspectiva de quase autonomia que de certo modo me decepcionou no término deste post originado de comentário seu quando você afirma:

        “Esta anomalia proporciona uma rentabilidade diária alta, segura e sem os embaraços de ter que contratar e pagar salário a trabalhadores, sem as complicações com o Fisco, sem taxas e impostos, sem ter que cumprir regras ambientais, sem obrigações sociais”.

        Ora você trata a anomalia do mercado financeiro como algo normal, comum ou perene no Brasil sem atentar para o fato que ele também tem os ciclos e sem atentar para particularidades que ocorreram no Brasil que tornaram a anomalia mais gritante.

        Posso mencionar, o Plano Cruzado, que destruiu a retomada de crescimento econômico brasileiro em bases sustentáveis. Não se pode esquecer, entretanto, que foi o Plano Cruzado que nos deu uma das Constituições mais modernas do mundo. Se não fosse o Plano Cruzado talvez tivéssemos elegido um Congresso Nacional como o dos nossos dias atuais.

         

        Também se considerarmos o combate gradual da inflação adotado pelo Ministro da Fazenda da época, Marcílio Marques Moreira, que reduzira a inflação de quase 30% no final de 1991, para algo próximo de 20% no mês de abril de 1991, podemos ver no impeachment de Fernando Collor de Mello um fator que impediu o combate à inflação de modo gradual e que assim impediu que tivéssemos uma dívida mais de acordo com a realidade de um país em desenvolvimento. Agora, sem o impeachment e com a inflação em queda, na Revisão Constitucional de 1993, Fernando Collor de Mello iria se transformar em imperador perpétuo do Brasil.

        Outro fator a tornar as crises econômicas brasileiras mais frequentes foi o Plano Real. Ele nos levou ao problema do endividamento muito grande e de curto prazo e ao câmbio com o real valorizado. A necessidade de aprovar a emenda da reeleição e depois a necessidade de garantir a própria reeleição contribuíram para aumentar a dívida e aumentar a proporção da dívida de curto prazo.

        A adoção do tripé de 1999: câmbio flutuante, regime de metas de inflação, superávit primário e os acréscimos da Lei de Responsabilidade Fiscal e da desoneração das exportações foram cruciais para deixar o país a mercê tanto da banca externa como interna. O Regime de Metas de inflação também aumentou o nosso endividamento, que só não é maior porque a presidenta Dilma Rousseff bem instruída por Guido Mantega teve a coragem de trabalhar com uma taxa de inflação mais próxima do teto da meta. Agora o Regime de Metas de Inflação é um poderoso instrumento de combate a inflação e muito útil em campanhas eleitorais e a Lei de Responsabilidade Fiscal tem sido um importante instrumento para que os governos da União possam ter um controle maior das finanças estaduais e municipais.

        Só que não podemos esquecer que com o Plano Real a presidência da República passou a ser uma disputa “inter pares”, ou seja, entre PT e o PSDB, partidos que tem evitado que a disputa se possa dar com a presença de algum aventureiro. Os eleitores do PSDB são hoje de direita e os políticos do PSDB são na maioria intelectuais sem carismas que bradam slogans que eles sabem ser falso em uma hipocrisia cínica e depreciativa do eleitor, mas ainda assim dão a perspectiva de que o país esteja em melhores mãos do que se administrado por um aventureiro qualquer. Dai talvez, embora eu tenha avaliado como equivocado, o Darcy Ribeiro tenha dito em 1994 que era um luxo para a esquerda a disputa ser entre Lula e FHC.

        Também constituem fator a nos levar para situações de crise a necessidade política e econômica de reverter a crise de 2008, via mercado interno, e não via mercado externo. Ao buscar a solução via mercado interno tivemos que conviver com um aumento do juro e a uma valorização do real. A necessidade política porque via mercado interno o crescimento de início seria maior e facilitaria a eleição da presidenta Dilma Rousseff. A necessidade econômica porque havia o temor de que todos os países iriam criar mecanismos de modo a dificultar as importações e, assim, o mercado externo poderia não ser a alternativa mais adequada. Podemos reclamar da opção tomada, mas sem ela a presidenta Dilma Rousseff não seria eleita.

        Feito esse introito, eu penso que dá para abordar um pouco os seus seis pontos em que você consolidou o seu comentário.

        Considero que o primeiro e o segundo item constituem um só aspecto. Não vou esquecer de mencionar o seu modo peculiar de dizer que você não afirmou que “nada mudou”, pois tirando as duas negativas que você utilizou – jamais e não – a frase ficaria “Eu afirmei que “nada mudou”” quando o que você quis dizer foi o contrário. Só que ao dizer que a política econômica do lulismo seria uma política neoliberal você dilata o conceito de política neoliberal e de certo modo não leva em conta aquilo que você trata no segundo item e que é o sistema capitalista e a democracia representativa em que vivemos. Sim enquanto vivermos em um modelo capitalista vai vigorar o modelo capitalista. Romper com um modelo é uma possibilidade. Só que surge a pergunta dada a existência de só dois modelos econômicos que deram certo no sentido de permanecerem: o modelo de quase todos os países do mundo ocidental e o modelo chinês, por que se deve criar a expectativa de que o Brasil possa ensaiar um novo modelo.

        Enfim o nosso grande problema é esse: não temos como romper com o modelo capitalista. Os três grupos que surgem com propostas relativamente ao sistema capitalista são bem nítidos. Há os que querem a destruição do modelo capitalista, há os que querem a superação do modelo capitalista e há os que querem a manutenção do modelo capitalista tal como ele é hoje. A maior dificuldade de atingir o objetivo aparece para o último grupo, isto é, surge para o grupo que quer manter o modelo capitalista tal como ele é hoje. A dificuldade reside no fato de o capitalismo ser muito dinâmico e de estar em constante mutação. Dada a impossibilidade de se por um novo modelo no caso de destruinção do capitalismo, eu não vejo para a esquerda alternativa que não seja a de desejar a superação do capitalismo e isso só se atinge se se conseguir aprimorar, aprimorar e desenvolver o capitalismo.

        Aliás aqui devemos recordar da frase atribuída a James Boswell (1740-1795) “Immota Labascunt et quae perpetu sunt agitata, manent” (Em português: “O que é rígido desaba e o que está em constante movimento persiste”) conforme se apreende no artigo do Alberto Dines publicado na Folha de S. Paulo de 09/08/1997, intitulado “Immota Labascunt” e que pode ser visto no seguinte endereço:

        http://www1.folha.uol.com.br/paywall/login.shtml?http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/8/09/ilustrada/27.html

        Assim como nós, para permanecemos, mudamos, também o sistema capitalista só permanece enquanto estiver em constante mutação. Então não divergimos, em relação aos dois primeiros itens seja quando tratamos de nós seres humanos como quando tratamos da nossa sociedade com os sistemas que a aprisionam. Divergimos mais em intensidade quando avalio que foi feito o máximo que se poderia fazer em direção à superação do capitalismo dada as correlações de força.

         

        E divergimos também quando você diz:

        “não tenho qualquer ilusão . . . com a democracia representativa . . . só existe autêntica democracia numa sociedade com ampla e direta participação da população em todas as instâncias”.

        Sou a favor de “ampla e direta participação da população em todas as instâncias”, mas desde que esta participação direta que deve ser ampla não venha a substituir a participação representativa.

        A democracia direta é pontual. Qualquer animal doméstico treinado pode votar sim ou não em uma urna desde que condicionado. Só os humanos podem participar do processo de composição de interesses conflitantes que se instala no parlamento. Trata-se de política de toma-lá-dá-cá, dos ajustes, dos conchavos, das barganhas. A esquerda estará representando o atraso enquanto ela não perceber a superioridade da democracia representativa sobre a democracia direta. Com a democracia representativa o império da vontade majoritária excluindo as vontades minoritárias deixa de acontecer, pois via barganhas, acordos, conchavos um lado ainda que minoritário pode sempre se recuperar e proteger seus interesses.

        Quanto ao desenvolvimento enquanto formos relativamente pobres e bastante desigual tanto socialmente como geograficamente (ou espacialmente, no território nacional) não podemos dar o luxo de não querer o crescimento econômico. Enquanto formos pobres, é o crescimento econômico que nos traz desenvolvimento. Sobre a questão da relação de desenvolvimento e crescimento eu destacaria um comentário que eu enviei quinta-feira, 21/08/2014 às 19:08, há portanto quase um ano, para o economista indiano Deepak Nayyar junto ao post “Economista questiona relação entre crescimento econômico e desenvolvimento” de quinta-feira, 21/08/2014 às 16:29, aqui no blog de Luis Nassif e contendo matéria do Jornal GGN e que pode ser visto no seguinte endereço:

        https://jornalggn.com.br/noticia/economista-questiona-relacao-entre-crescimento-economico-e-desenvolvimento

        A matéria do Jornal GGN era para dar destaque ao lançamento do livro “A corrida pelo crescimento – Países em desenvolvimento na economia mundial” de autoria do mencionado economista indiano, Deepak Nayyar, e que estaria presente no lançamento a ocorrer sexta-feira, 22/08/2014, na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

        Em meu comentário eu faço várias referências a posts ou artigos diversos tratando sobre o assunto da relação entre desenvolvimento e crescimento econômico. Entre as várias referências eu dou aqui destaque especial ao artigo “Crescer e desenvolver” de autoria de Marcelo Miterhof, publicado na Folha de S. Paulo quinta-feira, 11/10/2012 e que pode ser visto no seguinte endereço (Infelizmente os endereços na Folha de S. Paulo só estão disponíveis para assinantes):

        http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelomiterhof/1167583-crescer-e-se-desenvolver.shtml

        O artigo “Crescer e desenvolver” trata especificamente da relação entre crescimento econômico e desenvolvimento, mostrando o quanto os dois são imprescindíveis para países como o Brasil.

        O Marcelo Miterhof até recentemente escrevia na Folha de S. Paulo, mas foi defenestrado, como eu suponho a saída dele da Folha de S. Paulo foi realizada, muito provavelmente em razão de artigos como “Conservadorismo atávico” publicado na Folha de S. Paulo de quinta-feira, 11/12/2014, e que pode ser visto no seguinte endereço:

        http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/199568-conservadorismo-atavico.shtml

        E aqui há a possibilidade de consulta ao artigo “Conservadorismo atávico” em post aqui no blog de Luis Nassif onde ele foi transcrito. Trata-se do post “Conservadorismo atávico, por Marcelo Miterhof” de sexta-feira, 12/12/2014 às 06:07, e que pode ser visto no seguinte endereço:

        https://jornalggn.com.br/noticia/conservadorismo-atavico-por-marcelo-miterhof

        E no artigo você pode ver frase como a transcrita abaixo que salvo dita por Inácio Rangel nunca você vira algo semelhante saindo na grande imprensa brasileira:

        “Porém, se os preços sobem porque os salários se elevaram mais que a produtividade, a desigualdade é reduzida e isso é bom para os mais pobres”.

        Assim, há um pouco de divergência minha em relação a você querer fazer uma separação entre desenvolvimento e crescimento econômico. É ideia que poderia frutificar no momento atual em uma Dinamarca, mas que não cabe ainda no Brasil. Precisamos ainda de muito crescimento.

        Não chega a ser um ponto de divergência tanto o item 4 como o 5 do seu comentário. No item 6 sim há divergência no sentido que você está propondo políticas que em meu entendimento estão afastadas da realidade brasileira. Primeiro vivemos em uma democracia e nela não há como um governante sobreviver politicamente sem que ele aja com mão de ferro contra a inflação. Depois, precisamos realizar esforço para até mesmo aumentar a desvalorização do real. O juro baixo ajuda a manter o real desvalorizado, mas ele torna impossível o controle da inflação. O câmbio administrado de certo modo vem ocorrendo no Brasil, mas não há como, agindo de modo pontual, quebrar as amarras do Regime de Metas de Inflação, câmbio flutuante e superávit primário . O que eu insisto é que esta realidade brasileira não é permanente. É preciso ter paciência para que possamos quebrar este longo período em que nos tornamos dependentes do capital internacional, com pouca margem de manobra. E encontrando o caminho correto perserverar nele.

        Clever Mendes de Oliveira

        BH, 22/06/2015

  4. Desenvolvimento

    Existem duas visões, na minha humilde opinião de trabalhador e comerciante, sobre o desenvolvimento no Brasil.

    Uma que olha a realidade, sonha e adpta seu discurso ao sonho.

    Outra que olha a realidade e não enxerga nada e reza o terço da sua religião.

    Nenhuma das duas diagnostica, planeja soluções e favorece o desenvolvimento, só produzindo uma cortina de fumaça para desviar o foco do que deveria, realmente, ser objeto de estudo para a mudança nas condições do Brasil.

    Vamos aos fatos:

    1.Se têm quem compra, têm quem vende, até imunidade em delação premiada, querem mais que isso!

    2. Onde funcionou o governo incentivando a indústria e o desenvolvimento, a China (3.000 fábricas de bicicletas elétricas, uma parcela de um setor do transporte individual), está ai para mostrar o caminho das pedras. Financiamento por banco oficial praticamente a fundo perdido.

    3. O desenvolvimento do Brasil têm de ser holistico, unitário e de qualidade, sem isto – não funciona.

    Todas as elocubrações sobre a origem do capital que financia inovação vão contra as evidências empíricas, onde o que se enxerga são start ups que obtem o funding na internet ou de agiotas (os investidores anjos) que cobram uma parcela do lucro do emprendimento se este vingar, nada de fundo de pensão ou investimento, que não é agiota e também não arrisca dinheiro neste tipo de negócios.

    A outra ponta, ou é subsidiada pelo governo, Nasa, Darpa e que tais, ou vêm de doações discricionárias de pessoas que querem ver suas universidades na ponta da tecnologia, como a de Notingham no seu laboratório de materiais agregados por impressoras, como postei ontém.

    Não escapa disto nunca. Discutir outra coisa é pura perda de tempo.

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