O Egito e a lição de democracia, por absurdo.

A democracia é, até agora, um dos melhores sistemas de governos. Bem aplicado proporciona paz, justiça, liberdade e confiança em toda sociedade.

E ao mesmo tempo é dos mais complexos, porque está baseada na vontade popular. E sabemos, um país é composto por caleidoscópios de interesses, muitas vezes conflitantes entre si.

Por ser baseado nessa diversidade o sistema exige de seus membros total compreensão. E também regras claras.

E quem define as regras é a Constituição do país.

“Definição de Constituição: conjunto de leis, normas e regras de um país ou de uma instituição. A Constituição regula e organiza o funcionamento do Estado. É a lei máxima que limita poderes e define os direitos e deveres dos cidadãos. Nenhuma outra lei no país pode conflitar com a Constituição.”

É tal a importância do seu conhecimento que todo cidadão deveria ter um exemplar da constituição na sua casa, no trabalho.

A ignorância ou imaturidade democrática abre espaço para golpes de estado.

Foi o que aconteceu recentemente no Paraguai. O motivo para derrubada de Fernando Lugo foi estapafúrdia: massacre num conflito de terras. E os golpistas culparam imediatamente o presidente. E os paraguaios aceitaram passivamente essa explicação.

Na Venezuela, Hugo Chaves por pouco não foi destituído do posto de presidente. Graças a filmagens e a reação de seus apoiadores ele voltou ao poder. Aliás, o continente sul-americano tem triste histórico de golpismo.

Mas o exemplo mais ilustrativo de que a falta de entendimento do jogo democrático leva ao golpe vem do Egito.

O povo saiu às ruas em manifestações contra medidas adotadas por Mohamed Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no país. Os militares então deram um “ultimatum”: ou atende as reivindicações do povo ou será deposto.

Bem, ele não quis ouvir a voz do povo, foi deposto e preso. Porém, que povo ele não quis atender?

O que é povo numa democracia? Ele foi colocado no cargo pelo povo, através do voto. Democraticamente.

Então, obviamente existe um povo que o elegeu e o apoia. E logicamente deve ser a maioria. E que neste momento sai em protesto contra sua deposição. A seu favor.

Os generais egípcios deram simplesmente um golpe, ignorando completamente a outra parcela da população.

Não sei se os golpistas ignoram o que seja constituição, democracia, mas para retirar do poder um presidente só através de leis constitucionais. E, após debates e julgamentos justos e transparentes. Com provas cabedais. Porque se não o risco de acontecer uma guerra civil no país é alto.

Pelos recentes noticiários já chega a mil os números de mortos egípcios nesses últimos dois dias. E agora? O mundo está diante de uma nova Síria?

E outra questão: os EUA não tem nada que ficar titubeante diante do episódio. Cortar ou não a ajuda ao Egito? Eles sempre afirmaram que não compactuam com golpe e não fornecem ajuda. Provavelmente estão contabilizando perdas e ganhos, futuros, não é mesmo?

A democracia é excelente, mas necessita ser bem compreendida. E reafirmada a cada dia.