O inimigo é outro: Meritocracia e a ameaça ao Estado Democrático, por Ricardo Cappelli

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Montagem com obras de Tommy Ingberg

O inimigo é outro: Meritocracia e a ameaça ao Estado Democrático

por Ricardo Cappelli

Esqueçam Temer e os “Golpistas”. Daqui a pouco mais de 300 dias não existirão mais. São meros coadjuvantes que souberam aproveitar a oportunidade que lhes caiu no colo. Do ponto de vista histórico não representam nada. Olhando em perspectiva, menos ainda.

Quem condenou as contas de Dilma, argumento usado para derrubá-la? O Tribunal de Contas da União – TCU. Quem transformou o Estado num antro de corruptos, no inimigo a ser combatido? A Controladoria Geral da União – CGU. Quem vem atacando a política, tentando destruir sua legitimidade, caçando especialmente a esquerda? O Ministério Público. Quem impede a posse de Ministros (Lula e Cristiane Brasil), vaza áudios ilegais e condena por convicções? O Judiciário. Quem indiciou Haddad por “intuir que ele sabia de supostos crimes”? A Polícia Federal.

Quantos votos os representantes destas corporações receberam? De onde vem o poder que exercem de forma exibicionista todos os dias? Da Constituição Federal. Um poder derivado, vindo da Carta Magna redigida e consagrada pelo povo através de seus representantes eleitos. Todo poder emana do povo?

No parecer do MP pelo afastamento dos vice-presidentes da CEF uma questão chama a atenção. Segundo os procuradores, as indicações devem ser técnicas, não podem ser políticas. Onde está escrito isso? Em qual legislação? Para ocupar determinada função é recomendável que a pessoa possua conhecimentos correlatos, mas o fato de não possuir a desqualifica? Como é na alta administração privada? Por que um CEO de uma empresa de bebidas vira no mês seguinte CEO de uma empresa de plásticos ou cosméticos? Conhecimento técnico específico? Visão estratégica? E por que a indicação política, através de pessoas eleitas, forma pela qual o povo expressa seu poder e garante a aplicação do programa aprovado nas urnas, virou algo tão abjeto?

Não é mera coincidência o surgimento de grupos políticos tachados de “novos”, criando “fundings” de campanha, provas para selecionar candidatos, e o discurso ideológico meritocrático de parcela da alta burocracia estatal. Ambos, corporações e mercado, têm o mesmo objetivo: sequestrar o Estado para preservação e perpetuação de suas benesses e de seus interesses. Atacam a política, vilipendiam a democracia por um motivo simples: querem o povo fora do jogo.

O capitalismo viverá nos próximos anos uma radicalização. Estima-se que mais de 70% dos empregos existentes hoje deixarão de existir nos próximos 10 anos. Com o advento da chamada indústria 4.0, inteligência artificial e etc., teremos uma concentração de renda e capital jamais vista na história da humanidade. Esta situação é incompatível com a democracia. Como manter sociedades equilibradas, um sistema político democrático com tamanha exclusão, com uma indecente concentração de riqueza?

Setores da classe média acreditam que terão vaga neste trem espremido de prosperidade. Outros, percebendo que será difícil, olham para o orçamento público e vêem nele a oportunidade de conquistar o apartamento de frente para o shopping com o fake da Estátua da Liberdade na fachada.

Sob o falso discurso meritocrático vai se justificando a exclusão pelo mercado. E com o mesmo argumento tenta-se tirar o povo do orçamento público impedindo que a política, representante legítima do interesse da maioria, exerça seu poder. O objetivo é um estado mínimo, que entregue o ouro ao mercado, a prata para as corporações e o lixo para o povo.

Sem recolocar a política no seu devido lugar, resgatando a soberania do povo sobre os destinos da nação, nenhum governante eleito irá governar de fato. Viveremos numa democracia de fachada, com votos cada vez mais desvalorizados, com valores de face podres.

Uma república de governantes tutelados pela chantagem do capital de um lado e pela ameaça dos donos do estado de outro.

Esqueçam os coadjuvantes. O inimigo é outro.

Ricardo Cappelli é Secretário Chefe da Representação do Governo do Maranhão no DF, trabalhando com Flávio Dino. É formado em jornalismo e pós-graduado em administração pública

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. Chama governança

    Isto chama governança.

    O estado brasileiro tem de ter uma maior governança. Instituições sólidas.

    Não se pode dar uma “cavalo de pau” a cada eleição. Isto acontece em toda democracia avançada no mundo.

     

  2. o inimigo….

    “….resgatando a soberania do povo sobre os destinos da nação…” “…viveremos uma Democracia de fachada…”. Lunático Esquerdopata é com este discurso que vocês querem continuar nesta latrina? Latrina que já dura 40 anos. O VOTO no Brasil é obrigatório. Democracia aqui já é de fachada. 40 anos de redemocracia com 30 anos de ConstituiçãoEscárnioCaricaturaCidadã  é que produziram este Estado. ‘Masmorras Medievais’ são resultados de décadas e décadas de farsante-progressismo, exercido por Flavio Dino, FHC, Montoro, Covas, Brizola, Collares, Pires, Erundina, Marina, Teotonio, Neves, Lula, Dilma, Marta, Picolé, Serra, Freire,….É com a continuidade de farsantes e bandidos, travestidos em AntiCapitalistas que tentarão continuar guiando este país? Pobre país. .

  3. Isso est´ame cheiradno à

    Isso est´ame cheiradno à defesa de uam superestrutura burocrática aparelhada pelos que detêm o poder, para que nada lhe escape do controle… sob o discurso do ataque à meritocracia (ou seja, do ataque aos técnicos que ocupam órgãos de Estado e não de Governo) está a vontade de colocar nos cargos da administração pública, sejam os mais executivos sejam os  mais estratégicos, os meus “manos”, os que cresceram na burocracia do partido (Delúbios e Vaccaris), as pessoas de confiança, para que a coisa não desande.

    O Estado deve ser administrado sob os princípiso da Adminstração Pública. Basta isso. A impessoalidade, a legalidade, a eficiência, a moralidade,  a publicidade, a razoabilidade, princípios estes elencados no art.37 da CF. Agora, se ao tomar o poder, a turma se locupleta (cadê a moralidade? , se lambuza com o mel de empreiteiras  e das grandes empresas que adoram questionar o que lhes é cobrado (cadê a impessoalidade?), com empresas   escolhidas para serem as campeãs nacionais (cadê a impessoalidade, de novo?), fazem opção por escamotear as contas publicas, etc, etc, não é satanizando quem, por dever de ofício, apura os desvios qu etermos um país mais justo.

    O que o ilistre articulista deseja é o Estado ao seu bel prazer. Creio já termos visto esse filme antes, aqui e algures…

  4. Quantos votos receberam?

    Quer dizer que o exercício de competências legais só é permitido a quem tem voto? Quer juízes e procuradores eleitos, como nos EUA? Se prepare pra ver juízes Danilo Gentili, juízes Alexandre Frota, juízes Kim Kataguiri, os queridinhos do povo atualmente.

    Então agora a meritocracia no Serviço Público é ruim e a indicação política é que é boa? Então um funcionário público de carreira, selecionado por concurso público, treinado dentro do serviço público, com 20 anos de casa, pra ocupar um cargo de direção é ruim? Bom mesmo é ocupar o cargo com uma indicação política, do PMDB, do DEM, do PR e do PP – em troca de livrar o Temer das denúncias e aprovar a reforma da Previdência?

    As pessoas estão pegando um ponto fora da curva pra bradar contra todo o sistema de competências legais dos servidores e agentes públicos. Olhar pros abusos e desmandos da Lava-Jato, para o que a CGU se transformou no governo Temer e concluir que TODO o serviço público é e sempre foi igual é no mínimo caolhice ideológica.

    Quando aprovarem uma emenda constitucional estabelecendo juízes e políticos eleitos, servidores públicos admitidos por análise de currículo ou simplesmente nomeados sem concurso por vontade do titular do executivo e sem nenhuma independência, autonomia ou prerrogativa, dependendo do titular do executivo pra tudo, aí estarão felizes…

    1. Brilhante, meu caro. Estão

      Brilhante, meu caro. Estão confundindo tudo…

      Concurso para o serviço público significa IMPESSOALIDADE. O maior princípio, um dos mais republicanos, que deveria ser buscado. A partir dele, tudo o mais deveria emergit, porque fundamenta o tratamento igual, isonômico, equidistante com o qual o Estado deveria tratar todos os que estão sob a sua administração.

      O artigo sob comento é de uma absurdo de cabo a rabo!

  5. Fascismo é isso aí

    A primeira coisa que Hitler fez, quando assumiu o poder, foi perseguir os politicos “legalmente” até a extinção de todos os partidos menos o nazista.

    O estamento jurídico-policial é intrinsicamente fascista; se não ficar submetido a um estamento político forte, plural e democrático, a coisa toda desanda. A Alemanha pós-guerra aprendeu a lição e mantém o primeiro sob rédeas curtas. A França separa juiz de instrução do juiz que vai julgar; aqui temos juizes que, não somente instruem e julgam o mesmo processo, como formulam acusações contra os réus diferentes das apresentadas pelo ministério público e os expõem na mídia antes do julgamento. 

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