Julgamento – Intervalo do 1.o tempo

Mal começou o intervalo do Julgamento, a midia que pouco ou nada transmitiu “ao vivo” ao grande público, passou a editar seus jornais e suas versões dos “melhores momentos”.

Na manhã seguinte, Rádios e Jornais estiveram vários tons acima do normal. Frequentemente o mesmo Ancora ou Comentarista faz turnos. Às vezes até para patrões diferentes: de noite na TV, de dia na rádio e a tarde em jornal e revista. Tem vários que ganham um “por fora” para providenciar entrevista. 

O dia seguinte teria parecido uma 6.a feira normal: transito, negócios (o mercado financeiro se agitou com a guerra comercial de Trump contra a China), clima…quase tudo como quase sempre. Mas, o que reverberava mesmo, é o Habeas Corpus do Lula. Esta é a questão fundamental do momento.

Na Jovem Pan, Augusto Nunes e etc., sob a liderança discreta do dublê de jurista e radialista, Joseval Peixoto, um conservador arguto, “uma das mais tradicionais vozes do Rádio Brasileiro”, ostenta, ninguém menos que Carmem Lúcia, sendo entrevistada ao vivo. Na manhã seguinte ao julgamento, logo cedo, a Presidente do STF, desce do pedestal e conversa naquele terreiro sobre Drummond, queijos mineiros e outros assuntos republicanos, como o colegialismo da Corte Suprema, por exemplo. Quase ao mesmo tempo na BandFM, Monica Bergamo, paradoxalmente ressalta, a discrição e a reserva da Primeira-Ministra do STF quanto a imprensa e as pressões. 

meme_-_barroso_diz_a_gilmarO que terá levado a ministra a colocar sua cara e voz na janela de um dos mais conservadores focos do rádio jornalismo brasileiro deste momento? Sem dúvida é a consciência de que a grande batalha em curso no STF expõe – ainda que tímida e envergonhadamente – as fragmentações em aumento da sociedade brasileira. E que se revelam na forma de picuinhas entre suas eminências. Lula tem se mostrado invencível nas pesquisas de opinião pública e é sobre o pano de fundo de seu destino que se dão os debates. Apesar disto quase não se fala nele diretamente. No plano das aparências ressoam as frases de Luis Roberto Barroso, na antevéspera, pintando Gilmar Mendes como emanação do mal com pitadas de psicopatia. Eis um dos memes memoráveis da semana (As palavras de Barroso a Gilmar, proferidas ao vivo e memizadas):

Caberá a corte de 11 membros decidir entre ser a mão do gato que afasta as castanhas do fogo para a raposa comê-las (tirar Lula da eleição); redimir-se de cento e tantos anos de cultura oligárquica e escravocrata e ir ao encontro dos anseios do povo brasileiro. Ou, então, e este é o cenário mais provável, bem brasileiro: decide-se nada decidir e enquanto isso a gente deixa como está para ver como é que fica.

Os 11 “seres humanos”[1] são veteranos profissionais em lidar com conflitos de interesse.
Ou seja: são políticos até o cerne da medula espinhal,
começando no cérebro e terminando lá onde termina a coluna vertebral.
São profundamente políticos e politizados,
mesmo que na imprensa predomine o viés
de fazê-los luzir como Técnicos Eminentes,
pródigos no enunciado de brocardos jurídicos,
que façam o povo sentir-se incompetente,
mesmo quando se trata de questão auto-evidente.

 Assim os Magistrados saúdam o advogado Batocchio, que representa a Lula discretamente e tem ao fundo Sepúlveda Pertence e Cristiano Zanin, e conquista com categoria o adiamento do processo e de uma eventual prisão
(pelo menos até o fim do recesso da Pascoa) pelo vitorioso placar de 7 a 4.

Este é o resultado claro e transparente: adiou-se o momento de colocar o guizo no gato. De atravessar um Rubicão. A margem de manobra para os meios-termos, os adiamentos vão se estreitando.

Foi digno de nota o final da jornada da suprema justiça brasileira. O Ministro Marco Aurélio se ausentou para cumprir “compromissos assumidos com o seu dever”. Sofrerá no dia seguinte repreensão de Boechat, a quem responderá com altivez e galhardia, sobre “não se deixar pegar no laço, defender que sessões devem ter regras, como, p.ex., horário de início e fim…” (talvez para que não se deixem manipular pela pressão dos manipuladores de rádios e de outros meios).

Suas Excelências, os Supremos, estarão agora submetidos às pressões isoladas (e combinadas) de jornalistas e outros setores até a retomada do julgamento em 4 de abril. No decorrer do fim de semana será Marco Aurélio o crucificado pela grande imprensa por obstaculizar o grande momento por ela ansiado. De forma ampla, como nunca, os privilégios de um Judiciário oligárquico e reacionário são agora expostos ao grande público: auxílio-moradia, férias de 60 dias, recessos de Natal e Semana Santa. A imprensa eternamente muda sobre estes assuntos agora chantageia.

Em resumo: a grande imprensa pede a prisão de Lula e garante cobertura a suas excelências.
Os Magistrados usarão o feriado para pensar e conversar o assunto a boca pequena.
Resta saber, a quem devem recorrer suas excelências
quando a parte desagradada no processo quiser agredí-las nas ruas
e eles tiverem de dormir com suas consciências.

Ao mesmo tempo que o STF é pressionado, Lula está em caravana pelo sul do país, saudado entusiasticamente por pequenos agricultores, trabalhadores, populares, e acossado pelos grandes proprietários organizados por Federações desrespeitosas das liberdades de expressões em cenas fascistóides arrepiantes. Eclodem os ovos da serpente.

 


[2] http://jovempan.uol.com.br/programas/jornal-da-manha/estamos-lidando-com-seres-humanos-diz-carmen-lucia-sobre-bate-boca-no-stf.html

 

Redação

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