As manifestações fracassaram porque prometiam levar um número crescente de pessoas às ruas e mal chegaram a um terço da participação anterior. Também ruiu a fantasia daheterogeneidade social do movimento, que pareceu ainda menos defensável.
A derrota maior coube à mídia corporativa. O poder propagandístico empenhado pelos grandes veículos foi equivalente à decepção com os resultados obtidos, ferindo a própria credibilidade das empresas jornalísticas.
Não subestimemos o tamanho dessa frustração. O noticiário provocativo durante o domingo chegou a níveis patéticos (“70 pessoas em Arapiraca!”), faltando pouco para a convocação aberta. As contagens de público pareciam relatar apurações eleitorais, com a mesma expectativa e, por isso, o mesmo constrangimento final.
Previsivelmente, o comentarismo golpista procura consolos que preservem a relevância da campanha. Mas é fácil perceber os analistas desnorteados e macambúzios, fazendo um ridículo esforço para transmitir otimismo com os atos meio vazios.
O malogro evidencia que a bandeira do combate à corrupção é um tiro no pé dos defensores do impeachment. As duas plataformas são incompatíveis num ambiente apartidário. Quanto mais a moralidade pública norteia o discurso revoltoso, mais difícil fica para o antipetismo instrumentalizá-lo.
Insisto, portanto, na necessidade da esquerda aproximar-se dos protestos, usando suas pautas éticas para conquistar espaço e visibilidade. Assim que os interesses da mídia, do empresariado e dos governos regionais sofrerem abalos (como já começou a ocorrer), o golpismo voltará à insignificância original.
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