Não conheci pessoalmente Marco Aurélio Garcia. Sei algo do homem público e nada do privado. No entanto, não deixa de me estarrecer que, na hora de sua morte, pessoas falem mau dele, sobretudo da pessoa privada. Em público ou nas redes. Muitos.
A morte é a detestável margem para onde cada um nós migrará. Quando morre um dos nossos, excogitamos nosso destino – e as loas aos falecidos são o ritual pelo qual nós mesmos encontraremos paz. É preciso se despedir das pessoas, mesmo mortas. É preciso ter forças para prosseguir.
Nesta hora, insultar os mortos é aviltar a condição humana. Ao inimigo, adversário ou simples desconhecido, deve-se o silêncio. Nenhum pio. Ataca-lo é covarde, pois que não pode mais se defender.
Pode ser que você considere uma pessoa má. Inerentemente má. Isto apenas revela sua falta de lucidez. Todos – todos – amamos, sofremos, passamos por encontros e desencontros, pelas angústias e alegrias da curta vida. Terrivelmente humana. Com a morte, tudo cessa. Se você queria um acerto de contas, chegou tarde.
Decência — estranho ouvir esta palavra hoje em dia. A decência do silêncio.
Lembremo-nos do verso de T.S. Eliot sobre Flebas, morto havia quinze dias:
“Ó tu que o leme giras e avistas onde o vento se origina
Considera Flebas , que foi um dia alto e belo como tu”.
O silêncio é de praxe, dixit M.C.
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