Os porta-vozes dos presidentes

Da Folha

Porta-vozes dos presidentes dão sua versão

Livro registra os depoimentos de 24 secretários de imprensa da Presidência, de Juscelino Kubitschek até Lula

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE SÃO PAULO

Um dos problemas da produção acadêmica sobre jornalismo no Brasil tem sido a raridade de trabalhos dedicados a documentar fatos. Gastam-se muito mais tempo e energia em teses abstratas do que no exame da realidade. O que, inevitavelmente leva a estudos frágeis e pouco úteis.
É louvável que, na contramão dessa tendência, André Singer, jornalista com sólida vida acadêmica paralela, o editor Mário Hélio Gomes, o diplomata Carlos Villanova e o jornalista Jorge Duarte tenham produzido o livro ontem lançado com o título “No Planalto, com a Imprensa”, que transcreve entrevistas feitas com praticamente todos os ocupantes da função de secretários de imprensa e porta-vozes da Presidência da República desde Juscelino Kubitschek até Luiz Inácio Lula da Silva.

EssaEssas funções são vitais em qualquer democracia, ainda mais nas que, como a brasileira, o Poder Executivo é tão relevante. Para o jornalismo, também são fundamentais, já que muita informação e desinformação essenciais para o público de lá procedem. A relação entre ocupantes desses cargos e colegas “do outro lado do balcão” são sempre complexas e ricas. No entanto, pouco se sabe sobre elas e o seu exercício no país. A falta de documentação é tamanha, que André Singer relata na apresentação que “não se tem conhecimento da data precisa em que o escritor Autran Dourado, o decano dos secretários, foi designado por JK”. As pesquisas feitas pelos autores apontam para o provável ano de 1958.Nos EUA, qualquer estudante de jornalismo aprende que o primeiro secretário de imprensa formalmente designado pela Casa Branca foi George Edward Akerson, pelo presidente Herbert Hoover, em 1929. E não faltam naquele país bons livros ou de memórias de ex-secretários ou de história (como “All the Presidents” Spokesmen”, de Woody Klein, de 2008) ou mesmo de teoria jornalística (como “Spin Cycle”, de Howard Kurtz, sobre a atividade da secretaria de imprensa do presidente Bill Clinton, de 1998).
André Singer deixa muito claro logo no início que ele e os outros organizadores estavam conscientes das limitações de sua obra: “Sem a pretensão de ter realizado um trabalho de história, procurou-se, contudo, reunir o máximo de informações cabíveis em um livro de memórias”.
Nesse sentido, ela é bastante valiosa. São 24 depoimentos importantes dos 26 ocupantes desses cargos em meio século de República (dois preferiram não ser entrevistados: José Maria de Toledo Camargo, do governo Geisel, e Ana Tavares de Miranda, do governo FHC). As entrevistas dão ampla liberdade ao depoente para se expressar. Momentos fundamentais da vida nacional são revividos com interesse e quase sempre muita verve. Os relatos não foram factualmente checados, e não seria o caso, o que pode dar margem a contradições e controvérsias. Mas os organizadores tiveram o cuidado de acrescentar centenas de notas para contextualizar as falas, didáticas mas perturbadoras da leitura.
E deixaram um material precioso para os pesquisadores que quiserem se aprofundar no tema.

NO PLANALTO, COM A IMPRENSA

ORGANIZADORES André Singer, Mário Hélio Gomes, Carlos Villanova e Jorge Duarte
EDITORA Editora Massangana (Fundação Joaquim Nabuco) e Secretaria de Imprensa da Presidência da República
QUANTO R$ 150,00 (990 págs.) 

Luis Nassif

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