Os problemas de comunicação do Metrô

Da Folha

Relatórios revelam segredos em dia de colapso no metrô

Paralisação da linha 3-vermelha afetou 150 mil passageiros em setembro

Técnico da manutenção acompanhava viagem devido a problema na cabine; teto de vagão foi usado como rota de fuga

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO

O colapso por mais de duas horas da principal linha do metrô de São Paulo, em setembro, foi antecedido pelo tráfego congestionado nos trilhos, por um problema na cabine do trem e sucedido por falhas de comunicação.

O pânico entre as estações Pedro 2º e Sé naquela manhã de terça, dia 21, foi tanto que passageiros subiram no teto dos vagões para alcançar a passagem de emergência.

As informações, ocultadas em divulgações da estatal, constam de relatórios oficiais e depoimentos de operadores da linha 3-vermelha obtidos pela Folha -expondo bastidores do que pode ter agravado os transtornos.

OMetO Metrô, na época, divulgou que uma blusa presa na porta (incidente confirmado nos relatórios) era a provável origem da paralisação. Não há qualquer indício da sabotagem cogitada pela gestão Alberto Goldman (PSDB).

O saldo do apagão foi de 18 trens danificados e mais de 150 mil pessoas afetadas.

COMUNICAÇÃO
Um dos principais problemas documentados foi a dificuldade dos operadores dos trens em manter contato por radiofrequência com equipes do CCO (Centro de Controle Operacional), que ditavam as ordens na hora do pânico.

O condutor do trem 363, que vinha logo atrás da primeira composição a parar, relatou: “Não consegui comunicar com CCO nenhuma vez”, “CCO não me ouvia”.

Ele citou também que não sabia se os avisos no sistema de som eram escutados pelos passageiros e decidiu pôr a cabeça para fora da cabine para falar com as pessoas.

O condutor do trem 309, primeiro a parar, relatou comunicação entrecortada com os funcionários do CCO. Os relatórios do metrô revelam ainda que, antes do colapso, o mesmo trem enfrentava problemas em um dos indicadores que balizam a velocidade que pode atingir.

Não há, por enquanto, sinal de que essa falha possa ter interferido na paralisação. Mas por conta dela havia uma condição atípica: um técnico em eletrônica, da manutenção, de 26 anos, acompanhava a viagem.

Foi ele que saiu da cabine, detectou a blusa na porta e tentou empurrá-la para dentro do vagão. O Metrô não diz se ele é treinado para isso.

Pelos depoimentos dos operadores, a parada do trem 309 antes de chegar na estação Sé ocorreu devido ao congestionamento à frente.

Ele parou na altura do X-21 (equipamento da via onde se permite a mudança entre os trilhos) por haver sinal de interferência adiante. 

Para Metrô, incidentes não foram relevantes

Estatal diz que eventual problema de comunicação não agravou caos

Companhia afirma que divulgou informações que eram importantes sobre a paralisação de setembro na linha 3

DE SÃO PAULO

O Metrô minimiza a relevância dos relatos registrados em documentos técnicos e diz que eles não permitem conclusões definitivas sobre a paralisação na linha 3.

A estatal afirma que “as informações relevantes e diretamente ligadas a essa ocorrência” “foram amplamente divulgadas” e que uma “análise parcial” “com base em trechos de relatórios” pode ficar “fora do contexto”.

Segundo a companhia, “eventuais interferências na comunicação” com as equipes do CCO (Centro de Controle Operacional) “não foram determinantes para os seus desdobramentos”.

A Folha ouviu de um operador da linha 3 que, logo após a paralisação, a empresa mudou os procedimentos para impedir a parada dos trens entre Pedro 2º e Sé -na altura do equipamento X-21.

Os trens, segundo ele, só saem agora de Pedro 2º se houver previsão, nos picos, de que podem chegar à Sé sem parar no caminho.

O X-21 fica em um trecho em curva onde os trens inclinam para a direita. Por isso, trabalha-se com a hipótese de os corpos dos passageiros de um vagão superlotado terem forçado a porta para esse lado, motivando um sinal de de que ela estava aberta.

A investigação também avalia possível falha no sensor de fechamento de portas.

A estatal não comentou as mudanças entre Pedro 2º e Sé. Só informou que “medidas operacionais são adotadas para minimizar estas ocorrências [parada do trem antes de chegar à plataforma], principalmente em estações mais carregadas”.

O Metrô diz que a parada do trem 309 antes de chegar à Sé não é uma “falha”.

BLUSA
Em nota, a companhia afirma ter informado na ocasião que “não houve falha técnica” e que a blusa presa na porta “foi a responsável pela perda de indicação de porta fechadas, mas jamais a causa do colapso da linha”.

A estatal também diz que “em nenhum momento afirmou que houve sabotagem” -a hipótese foi aventada na época pelo governador Alberto Goldman (PSDB).

Na versão do Metrô, “a presença de técnicos na cabine é um procedimento de rotina para a realização inspeções regulares para monitorar desempenho dos trens”.

Ele não comentou a possibilidade de os problemas de oscilação de velocidade terem tido alguma influência.

A estatal afirma que também considerou correta a ação operacional adotada pelos funcionários para verificar a blusa presa na porta.

E, segundo ela, “as passarelas e saídas de emergência estão de acordo com os rigorosos padrões de segurança exigidos para a operação”.

(ALENCAR IZIDORO) 

Fuga começou cinco minutos após trem parar

DE SÃO PAULO

A cronologia da paralisação registrada em relatórios do Metrô informa um intervalo de ao menos cinco minutos entre a parada do trem 309 e os primeiros relatos de passageiros saindo dos vagões.

A investigação policial do incidente depende da conclusão de laudo do IC (Instituto de Criminalística) que tentará apontar as causas da ocorrência.

Ele poderá ser concluído nos próximos dias, segundo a Secretaria da Segurança Pública. (AI) 

Luis Nassif

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