Na Europa, enchentes mataram mais de 200 pessoas somente na última semana. No Brasil, o Pantanal matogrossense teve queimadas gigantescas em 2020 e, neste ano, a catástrofe pode não só se repetir como ser pior, uma vez que a estiagem foi mais prolongada. Esses são alguns exemplos de como um modelo de desenvolvimento predatório, pode, ao longo de décadas, prejudicar não apenas o meio ambiente, como impactar negativamente a vida humana.
Segundo o Relatório de 2019 do Institute for Public Policy Research (IPPR), de Londres, “os impactos humanos negativos no meio ambiente vão além das mudanças climáticas para abranger a maioria dos outros sistemas naturais, conduzindo um processo complexo e dinâmico de desestabilização ambiental que atingiu níveis críticos. Esta desestabilização está ocorrendo em velocidades sem precedentes na história humana e em consequência disso entramos na idade do colapso ambiental (the age of environmental breakdown)”.
Conforme o Escritório das Nações Unidas para a Redução de Riscos e Desastres alertou que, em 2015, quase 100 milhões de pessoas tiveram suas vidas destruídas ou desestruturadas por desastres “naturais”, dentre esses desastres, contam-se 32 secas extremas, que atingiram mais de 50 milhões de pessoas.
Em 2017, em todo o Brasil, 872 cidades tiveram reconhecimento federal de situação de emergência causada por um longo período de estiagem. A região mais afetada foi a do Nordeste e o estado da Paraíba, que concentrou o maior número de municípios, com 198 que comunicaram o problema à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec).
Cada vez mais tem-se fatos que cruzam a questão ambiental, a economia e a questão social. Exemplo disso é a crise hídrica na Região Sudeste, em especial no Estado de São Paulo, onde a hidrovia do Tietê fechou por seis meses e isso representou a perda de 5 mil empregos diretos que trabalhavam na hidrovia e outros indiretos e na mobilização de 10 mil caminhões para transportar o que a hidrovia transportava.
Para satisfazer a avidez de 393 milhões de indivíduos – os 8,4% da população mundial adulta detentora de 83,3% da riqueza mundial –, move-se a economia do planeta, máquina produtora de crises ambientais, a começar pelas mudanças climáticas: “as 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo produzem metade das emissões de CO2, enquanto os 3 bilhões mais pobres emitem apenas 7%”.
De outro lado, pelo aspecto positivo, o Brasil tem excelentes oportunidades de refletir sobre um novo modelo de desenvolvimento que pode colocar a questão ambiental como central para integrar e articular um desenvolvimento baseado nas suas riquezas naturais, na sua diversidade e na existência de diferentes biomas (Amazônico, Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado, Pampa, Caatinga).
O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta. Esta abundante variedade de vida – que se traduz em mais de 20% do número total de espécies da Terra – eleva o Brasil ao posto de principal nação entre os 17 países megadiversos (ou de maior biodiversidade).
O Brasil ainda possui Unidades de Conservação que contribuem para regulação da quantidade e qualidade de água para consumo; fertilidade dos solos e estabilidade das encostas (relevo); equilíbrio climático e manutenção da qualidade do ar; alimentos saudáveis e diversificados; base para produção de medicamentos para doenças atuais e futuras; áreas verdes para lazer, educação, cultura e religião; fornecer matéria-prima para tudo o que se possa imaginar, ou seja, elas oferecem oportunidades para novos tipos de negócios.
As considerações mostram a necessidade e a importância do debate para um novo modelo de desenvolvimento.
Para discutir esses assuntos, participa do debate o Angelo Lima, doutor em Análise Ambiental e Dinâmica Territorial (UNICAMP); Cláudia Sala de Pinho, bióloga e mestre em Ciências Ambientais; Isabel Cristina, formada em Turismo e Educação Ambiental; Raphael Roberto, biólogo e membro do Movimento Popular Salve o Rio Itapanhaú e ativista do Greenpeace; Silvia Helena Passarelli, doutora em Arquitetura e Urbanismo; e Solange Ikeda Castrillon, doutora em Ecologia pela UFSCAR.
Assista, ao vivo, nesta quarta-feira a partir das 18h30
Querem saber mais sobre o assunto? Segue uma lista de referências que os pesquisadores usaram na produção deste artigo.
REFERÊNCIAS
Capitalismo e Colapso Ambiental. Marques Filho, Luiz César. 2.ed.rev. e ampl – Campinas SP: Editora da Unicamp, 2016.
Secas no Brasil – Política e gestão proativas. Organizadores. De Nys, Erwin e outros. CGEE. 2016.
Um século de secas: PORQUE AS POLÍTICAS HÍDRICAS NÃO TRANSFORMARAM O SEMIÁRIDO BRASILEIRO. Catarina de Oliveira Buriti e Humberto Alves Barbosa. Chiado Books, 2018.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: CONSERVANDO A VIDA, OS BENS E OS SERVIÇOS AMBIENTAIS. São Paulo – 2008
https://www.marsh.com/br/insights/research/global-risks-report-2019.html
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2016/02/
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-03/mais-de-850-municipios-brasileiros-enfrentam-problemas-por-falta-de-agua-em
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