Psicanalistas apoiam Nassif e o GGN

Psicanalistas se unem em apoio a Luis Nassif e Jornal GGN, contribuindo com a luta e com o esforço de sobrevivência da mídia independente.

Psicanalistas se unem em apoio a Luis Nassif e Jornal GGN, contribuindo com a luta e com o esforço de sobrevivência da mídia independente.

Psicanalistas unidos pela democracia

O que a Psicanálise, concebida em uma perspectiva crítica e não adaptacionista ao status quo, teria a dizer sobre as injunções político-jurídicas que engendram e praticam a perseguição desavergonhada e explícita contra cidadãos que usam seus recursos profissionais, intelectuais e discursivos exatamente para exercer sua cidadania, sob a forma concreta, em exemplo, de um permanente, rigoroso e contundente exercício do jornalismo crítico?

Se pensarmos na psicanálise como uma prática exclusivamente clínica e individual, destinada a um cuidado de si e ao tratamento, no espaço público ou privado, coletivo ou individual, dos que sofrem psiquicamente além da quota que a vida, ordinariamente, já impõe aos seres de linguagem, concluiremos que pouco poderíamos dizer, fazer e portanto, contribuir com esta questão. Será que a única coisa que podemos fazer, como psicanalistas, é dar suporte clínico capaz de tratar os efeitos psíquicos nos cidadãos que sofrem esse tipo de perseguição?

Se contudo estendermos os horizontes da psicanálise para além dos limites das práticas clínicas e de cuidado, verificaremos que esta prática discursiva permite a leitura e a intervenção nos atos e processos concretos que se produzem no laço social, no espaço ampliado das relações políticas e sociais, como no caso da perseguição política a jornalistas críticos a que nos referimos aqui.

Freud pôde transmitir à humanidade que a civilização impõe aos indivíduos (que, para a psicanálise, não são meros indivíduos psicológicos ou sociológicos, mas sujeitos de um campo de determinantes inconscientes) uma importante dose de mal-estar, que se sustenta nas bases pulsionais da vida psíquica. Pulsão de vida e de morte, sempre mescladas, governam a subjetividade, e as exigências de renúncia à satisfação direta e integral impostas às pulsões para a sustentação da ordem social resulta em indefectível mal-estar na civilização.

No esforço de formular (e depois de formalizar) esse processo, Freud elaborou uma concepção de Lei que não coincide com a Lei e o corpo de leis jurídicas, mas mantém com o plano jurídico importantes relações. Segundo a Lei, na perspectiva freudiana, não se pode ter gozar plenamente de bem ou direito algum: é preciso sempre reconhecer a dimensão faltante que acompanha toda satisfação de um ser falante.

No plano jurídico que medeia as relações sociais, isso se traduz no limite ao exercício do poder derivado do ato jurídico, que constitui inclusive a Cláusula Pétrea de todo Sistema de Justiça digno deste atributo, como nos ensina o psicanalista e jurista Agostinho Ramalho Neto. Os atos de Justiça não detém um poder ilimitado em sua aplicação. Precisam respeitar, por exemplo, o direito inalienável de pensamento e de expressão, de crítica, assegurado a todo cidadão em uma sociedade regida pela Democracia real – não a democracia aparente e formal, mero jogo artificioso de mecanismos que, como bem nos demonstrou Marx, permitem toda sorte de manipulação em benefício dos interesses daqueles que detém maior poder que, nas sociedades capitalistas neo-liberais, são sempre as elites econômicas e seus asseclas.

Ora, todos os cidadãos, sejam eles jornalistas, escritores, pensadores, professores, pesquisadores, sejam cidadãos ditos comuns, não academicamente qualificados mas dotados de opinião e posição sobre a sociedade em que vivem, têm o direito de expressar seu pensamento, agrade ele ou não aos referidos interesses dos que dominam, pelo dinheiro, as armas ou – e aí é que a questão se torna mais grave e complexa – o arsenal jurídico. O Sistema de Justiça, como um dos três poderes do Estado Democrático, teria por função assegurar que qualquer outro vetor de poder não agisse de modo abusivo contra as liberdades democráticas. Mas há conjunturas em que isso se corrompe, comprometendo a função princeps da Justiça, que passa a ser, ela própria, uma aliada do poder hegemônico, perdendo sua dignidade e sua razão ética de ser, a limitação ao abuso de poder no cerceamento à liberdade do cidadão, que, como tal e por definição, não está do lado de quem domina a “máquina” do poder, caso em que perderia sua condição de cidadão para assumir a de agente de dominação… de quem? Justamente dos seus concidadãos.

No Brasil de hoje testemunhamos uma quebra do pacto democrático, porquanto o Sistema de Justiça, senão in totum, certamente de modo preponderante, tem operado como instrumento do poder das elites econômicas e políticas. Isso caracteriza, para a psicanálise, uma posição eminentemente perversa: recusa dos limites estruturalmente impostos ao exercício do poder, recusa da falta constitutiva do laço social civilizado, avidez gananciosa e irrefreada de um poder sem limites, opressão descarada e violenta de todo aquele que se interpuser, por suas ideias, palavras, em ato, à plena consumação de seus interesses.

A psicanálise permite pensar, ler os fatos sociais como sintomas, e localizar, nessa situação, um modo de expressão da posição perversa para além da esfera íntima da sexualidade, em que Freud a localizou em sua obra. O perverso como sujeito do desejo sexual não exibe poder ofensivo comparável àquele de que estamos aqui tratando. Não se trata, portanto, aqui, do diagnóstico estrutural da posição de um (ou mais) sujeito(s) singular(es) que, este(s), teriam do psicanalista a mais atenciosa disposição ao acolhimento e ao tratamento, caso essa demanda lhe fosse por ele(s) dirigida. Trata-se, antes, da atribuição de um funcionamento perverso a uma estrutura social, coletiva, um recorte certamente delimitado embora hegemômico da sociedade brasileira, que tem levado a gravíssimos atos de violência, no caso, perpetradas através de instrumentos jurídicos perversamente utilizados, contra cidadãos, no caso, jornalistas críticos em relação à atual conjuntura do Estado e das forças destrutivas que nele operam.

Os psicanalistas devem associar-se a todos os demais profissionais e pensadores do campo social – na verdade a todos os cidadãos ameaçados pela conjuntura politicamente perversa que grassa e viceja no país, para combater decididamente este conjuntura, e o presente texto tem exatamente este sentido. Como política se faz em ato, e ato concreto e não abstrato, ou seja, em relação a situações localizáveis na experiência, estamos aqui associados ao jornalista Luís Nassif que vem sendo alvo de muitas ações como as que descrevemos ao longo deste texto, ações que inclusive visam demolir seus recursos materiais como forma de calar sua voz crítica em defesa da democracia brasileira. Luís Nassif é um homem concreto, vivendo concretamente esta experiência. Entretanto, ele encarna, condensa em si, muitos outros cidadãos, jornalistas como ele ou não, que podem estar de modo igualmente concreto na mesma situação, que não é portanto pessoal embora atinja as pessoas, e o atinja como pessoa, homem, pai de família, cidadão. Ele não corre, pelo menos no movimento de pensamento e ação psicanaliticamente orientados, nisso afinados com o materialismo dialético, de se tornar uma referência abstrata. Todos os Luís Nassif que houver serão alvos, tão concretos como ele, da abjeção que constitui a perseguição política por vias judiciais, e por toda qualquer outra via.

VIGÍLIA PELA VIDA E PELA LIBERDADE

Setores da sociedade civil se juntaram em defesa da vida e da liberdade e em apoio a Luis Nassif. O caso de Nassif é um exemplo do que acontece hoje no país, com perseguições e sufocamentos para que a vida seja colocada em segundo plano e a liberdade seja só um sonho distante. Unidos, esses setores criaram um manifesto, uma vigília constante, para que tais preceitos não se percam de nós, brasileiros.https://34d81b6f7fdf1b357513d9b54fa580ee.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

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JORNAL GGN: FINANCIAMENTO EMERGENCIAL

E, lutando contra a perseguição jurídica e disposto a se manter atuante, o Jornal GGN lança uma campanha emergencial para fazer frente às dificuldades enfrentadas. Uma ajuda de seis meses para levantar o site, que sofreu com ataques hackers, e modernizar a estrutura, uma forma de prosseguir atuante e na luta. A campanha dura seis meses e sua contribuição é muito importante para o GGN.

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