Queima de arquivo? Jornalista conta bastidores da morte de Adriano da Nóbrega

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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"O que aconteceu especificamente nessa operação foi que tentou se chegar a ele com uma operação, digamos assim, low profile”

Adriano da Nóbrega

Um dos protagonistas no caso Marielle foi o ex-militar, miliciano e contraventor Adriano da Nóbrega. Sua morte em 2020, durante uma operação do Bope para prendê-lo na Bahia, levantou suspeitas de possível eliminação deliberada. No entanto, as investigações até o momento não comprovam essa hipótese. É o que diz ao GGN o jornalista Rafael Soares, autor do livro recém-lançado, “Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele”. 

Na entrevista ao programa TVGGN 20 Horas [assista abaixo], apresentado por Luis Nassif, Soares explica como foi realizada a ação policial demandada por promotores do Rio de Janeiro.

“O BOPE da Bahia é o corpo estranho para mim nessa história, porque se a operação tivesse sido feita pela polícia do Rio, eu acho que a gente teria aí vários interesses que se conjugam [formando a hipótese de queima de arquivo], porque o Adriano tem uma ligação muito grande com as polícias daqui [do Rio]. O que aconteceu especificamente nessa operação foi que tentou se chegar a ele com uma operação, digamos assim, low profile [que deu errado na primeira vez]”. 

O passo a passo 

Em entrevista ao jornalista Luís Nassif, Soares relembra passo a passo os bastidores até a morte de Nóbrega. À época, as autoridades conseguiram rastrear a localização do suspeito na Costa do Sauípe, na Bahia, onde morava sua prima. Em seguida, uma equipe da Subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro foi enviada à região, acompanhada pela polícia civil baiana, “mas foi uma operação pequena que deu errado”. 

“Eram só dois agentes da Polícia Civil aqui do Rio que foram fazer essa operação. Eles entram no condomínio como compradores em potencial. A Júlia [esposa] estranha a movimentação, fala com o Adriano e ele foge por uma uma lagoa atrás da casa”. 

A partir do momento que a operação vem à tona, tornando Adriano publicamente alvo da polícia, o MP do Rio pensou em abortar outras tentativas de localizá-lo para dar tempo de concluir o inquérito e apresentar a denúncia à Justiça. Mas após discussões internas, a decisão de estender a interceptação por mais uma semana foi mantida. Nesse contratempo, a equipe captou uma ligação sobre o paradeiro de Adriano, que estava abrigado na casa do fazendeiro Leandro Abreu Guimarães, também na Bahia.

Nesse momento, Soares detalha que houve um impasse na equipe responsável pela operação. “Não tinha tempo hábil para a Polícia Civil do Rio ir para lá, tanto que não havia policial do Rio na Bahia no dia em que o Adriano foi morto, então, teve que arranjar uma maneira de conseguir deflagrar [a operação num curto espaço de horas]”.  

No dia da operação, a Polícia Federal foi chamada na Bahia, mas declinou a liderança da ação devido ao protagonismo da polícia local, conforme esclarecido pelo jornalista. Não havia um agente disponível do Rio para executar a busca, nem um promotor designado, e a execução precisaria ocorrer dentro de um prazo de 12 horas. Foi então que se iniciaram as negociações com o BOPE (Batalhão de Operações Especiais). 

“Aí entra a negociação com o BOPE, entre o Gaeco do Rio e as forças de segurança da Bahia, a Secretaria de Segurança da Bahia, para que essa operação fosse feita, e no final das contas, pela periculosidade do alvo [Adriano foi um atirador de elite], optou-se pelo BOPE. Então, os caras que foram escalados para aquela operação, que entraram na casa e acabaram matando o Adriano, eles souberam que iam participar cinco, seis horas antes da operação ser deflagrada”. 

Levando em conta os esses fatores que compõem os bastidores da operação, para Soares, “é muito difícil isso entrar na minha cabeça como queima de arquivo”. 

“Acredito na tese de que Adriano possa ter sido executado, mas mais por receio dos policiais em relação a ele como alvo [já que Adriano tinha habilidades letais], do que por um interesse específico. A maneira como a operação foi conduzida reforça essa impressão”.

Assista a entrevista completa abaixo:

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1 Comentário

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  1. Outra hipótese é a do miliciano ter preferido se auto executar. Sabia que seria eliminado pelos “patrões” se fosse preso, não correriam o risco de produzirem provas conta eles mesmos. Adriano deve ter resistido a tiros de forma a não ser capturado mesmo exposto a um fuzilamento.

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