Resíduos: alternativas econômicas e sustentáveis

A máxima eficiência na gestão de lixos e resíduos urbanos só poderá ser alcançada a partir da conjugação de diversas técnicas, conclui autor do “Estudo das alternativas de valorização econômica para a sustentabilidade da gestão e resíduos urbanos no Brasil”, Marcos Godecke.

O objetivo do trabalho foi comparar as diversas tecnologias disponíveis para solucionar a crescente geração de lixo nas cidades. Com base em suas pesquisas, o economista afirma que a “incineração pode ser a melhor alternativa quando o objetivo for a maximização da geração elétrica e calor; a digestão anaeróbia pode ser preferível quando a ênfase estiver na sustentabilidade ambiental; e o biogás de aterro, nos casos onde a disponibilidade para investimentos for limitada”.

Dados da Associação Brasileira de Empresa de Limpeza Pública e Resíduos Sólidos (ABRELPE) mostram que, em 2007, no Brasil foram gerados 61,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RUS), o equivalente a 1,106 kg por habitante/dia. A destinação desse montante é considerada “bastante insatisfatória”, uma vez que quase a metade dos municípios (45,1%) encaminha seus resíduos a aterros precários ou lixões.

Godecke coloca que a má gestão do lixo no país está ligada a fatores culturais e a falta de políticas públicas que valorizem economicamente os resíduos. Além da reciclagem e produção de energia, o estudo aborda também a obtenção de receitas a partir da comercialização de créditos de carbono “resultantes da mitigação na geração de gases de efeito estufa pelos resíduos”.

O gás metano é responsável por 14% do efeito estufa, e 25% da sua origem vem da decomposição orgânica dos resíduos. E o Brasil, 5º país mais populoso do mundo, está entre as 10 nações que mais emitem gases de efeito estufa pelo setor de resíduos.  O economista reforça que “ao invés de serem percebidos apenas como fonte de despesas para os governos e concessionárias, [os resíduos] poderiam ser vistos como matéria-prima do lugar, e o não aproveitamento do seu potencial, seja para reciclagem, compostagem ou geração energética, como dinheiro jogado fora”.

Segundo dados, de 2008, do Ministério de Minas e Energia, o país tem um potencial estimado de 7.700 MW médios de conservação de energia elétrica contido na reciclagem de resíduos urbanos. Isso equivale ao potencial instalado de 14.000 MW em usinas hidrelétricas. Logo, o a energia contida numa tonelada de lixo permitiria a geração de mais de 500 kWh de eletricidade, superando o potencial energético de um barril de petróleo.

A implementação de usinas de lixo-energia (ULE), ou seja, da incineração de lixo para fins energéticos, também é apontada pelo pesquisador Godecke como forma de obter ganhos econômicos com os resíduos urbanos que não tem condições de serem recicláveis e, por isso, teriam como único destino os aterros sanitários. 

Estima-se as emissões relativas das ULE equivalem a 15% da parcela de carbono equivalente emitido na decomposição de resíduos urbanos deixados nos aterros ou lixões, “pela sua reabsorção natural em substituição à biomassa incinerada”. Ou seja, apesar de também emitir gases de efeito-estufa, a incineração do lixo, substitui a incineração de outras fontes energéticas, como, por exemplo, do carvão, resultando numa quantidade menor global de emissões de gases de efeito-estufa, para geração da mesma quantidade de energia.

“A partir dessa consideração, calculou-se que uma típica usina WtE (que incinera lixo pra produção de energia), que gera 0,5 MWh com uma tonelada de RSU, resulta em uma carga ambiental líquida de CO2e (equivalente) da ordem de 0,264 t/MWh, menor que aquela relativa a utilização do carvão, de 0,950 t/MWh; do gás natural, de 0,525 t/MWh; e, inclusive, em relação ao gás natural com ciclo combinado (CCGT), de 0,400 t/MWh, onde a eficiência do processo é maior”, completa Godecke.

O pesquisador lembra que apensar da evolução tecnológica das usinas térmicas de lixo, quanto ao controle de emissões, a resistência da implementação desses projetos ainda é grande na maioria dos países. Os parques de incineração de décadas passadas não tinham controle sobre a emissão de gases cancerígenos, formados durante o processo de queima do lixo urbano.

Leia também: Incineração: saída para lixo ou risco iminente?

Outro ponto em destaco no trabalho, é o fator geração de renda e emprego do setor. O Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) estima que mais de 800 mil brasileiros vivem da catação de reciclados, com renda média de 1 a 1,5 salário mínimo. A organização revela, ainda, que esses trabalhadores respondem por 90% dos materiais reciclados no país, em contrapartida, ficam com apenas 10% do lucro dessa atividade.

O economista recorre a uma questão fundamental, a ser solucionada nos próximos vinte anos. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que em 2030 o mundo necessitará do dobro de combustíveis que utiliza hoje para manter sua atividades econômicas. Portanto, os problema de gestão do lixo devem ser superados levando em consideração “os resíduos sólidos e esgotos como players num cenário de necessidade de descarbonização das economias, face o aquecimento global, combinado com a perspectiva de aumento na demanda por energia”.

Para acessar: Aterros oferecem potencial para iluminar cidades

Acesse ainda o “Estudo das alternativas de valorização econômica para a sustentabilidade da gestão e resíduos urbanos no Brasil”, na íntegra. 

Redação

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