Sem refino, Petrobrás seguirá refém de preço internacional

Deputados de várias legendas estão especialmente preocupados com a insatisfação de caminhoneiros com o recente aumento de 5,7% no preço do diesel

da Federação Única dos Petroleiros – FUP 

Sem refino, Petrobrás seguirá refém de preço internacional

A privatização das refinarias não trará a redução do preço dos combustíveis para o consumidor final, como a gestão da Petrobrás vem propagando. Segundo dados apresentados pelo economista Henrique Jäger, pesquisador do Intituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), os caminhos para essa redução incluem o aumento da capacidade instalada das refinarias existentes e uma revisão na política de parametrização de preços de acordo com o mercado internacional.

Ele fez uma exposição técnica na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara na tarde da última terça-feira (5), em Brasília. O debate sobre a política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras foi proposta pelos deputados Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) e Célio Moura (PT-MG).

Deputados de várias legendas estão especialmente preocupados com a insatisfação de caminhoneiros com o recente aumento de 5,7% no preço do diesel. Participaram da audiência representantes de ministérios, dos caminhoneiros, da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo.

Em sua exposição, Henrique Jäger mostrou que a crença de que a privatização vai aumentar a concorrência e, consequentemente, diminuir os preços, não se sustenta frente a uma análise técnica. “Há uma enorme dificuldade para a concretização dessa auto-profecia defendida pela atual gestão da Petrobras. Essa dificuldade pode ser resumida em dois pontos principais. Primeiro, a margem de lucro do refino é relativamente pequena, portanto não há espaço para grande mudança no preço. Além disso, a Petrobras adotou uma estratégia deliberada de reduzir o refino no país, o que só a deixa ainda mais refém da parametrização de preços, que são ajustados de acordo com as flutuações do mercado internacional”.

Para o pesquisador, a privatização pode falhar até mesmo na tentativa de acabar com o monopólio, já que há a tendência da formação de monopólios privados regionais. “O exemplo mais claro disso é a Refinaria Isaac Sabaá, a Reman, que abastece a sete estados da Amazônia”.

A tributação também é um ponto a ser revisto, especialmente no caso do ICMS. “Ao usar o preço médio ponderado ao consumidor final como base de cálculo, a tributação acaba punindo quem vende mais barato. No modelo atual, quem vende mais caro paga, proporcionalmente, menos ICMS”, explica Jäger.

A participação do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo (Ineep) trouxe elementos novos, que não seriam tratados na audiência. Apesar da defesa que a Petrobras fez de sua política atual de preços, houve acordo entre os presentes no sentido de que é necessária uma revisão e um consenso de que é preciso aumentar o uso da capacidade instalada, que já foi de 100% e hoje é de cerca de 73%.

Assista a íntegra da participação do pesquisador do INEEP no debate:

Foram convidados para o debate:

– o coordenador-geral de Acompanhamento de Mercado do Ministério de Minas e Energia, Deivson Matos Timbó;

– o coordenador geral de Estudos e Monitoramento de Mercado do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Andrey Vilas Boas de Freitas;

– o superintendente de defesa da concorrência, estudos e regulação econômica da Agência Nacional de Petróleo, Bruno Conde Caselli;

– o gerente de Preços da Petrobras, Gustavo Scalcon;

– o representante da Cooperativa dos Transportadores Autônomos do Brasil Wallace Costa Landim (Confirmado); e

– o pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Henrique Jäger.

[Via blog do INEEP]

Redação

4 Comentários

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  1. É evidente que o Brasil, fazendo as coisas sob a ótica do SEU INTERESSE, poderia estar muito melhor na utilização de energia fóssil (no nosso caso, eminentemente petróleo). Mas está longe e se afastando disso.
    O problema é que não é assim porque misturamos diversas variáveis:
    1) Interesses conflitantes:
    Do Brasil, dos acionistas (hoje, graças ao traidor-mór de sua pátria, FHC, em boa parte acionistas estrangeiros, sem nenhuma vantagem relevante para a empresa ou para o país) e evidentemente, dos concorrentes. Se a empresa é estatal, deveria estar olhando o interesse do Estado, SEM PREJUIZO do acionista privado. Mas o privado precisa entender que carona nos lucros é diferente de maximizar lucros a qualquer “custo”. Entra no jogo quem quer. Há ainda o interesse dos usineiros que não conseguiriam competir seu etanol com uma gasolina mais barata (ou lucrariam menos). Tudo sem falar de concorrentes.
    2) Da dependência do mercado:
    a) Se o país é praticamente autossuficiente em petróleo e em refino (sem contar o etanol e biodiesel), porque depender de preços INTERNACIONAIS e de CÂMBIO, se podemos utilizar nossos custos menores que os internacionais, em Reais (R$) e ainda lucrar?
    Por que não usamos todo o nosso óleo para nós e exportamos o que sobrar?
    Porque o petróleo anterior ao pré-sal é pesado para as nossas refinarias, projetadas no passado para o óleo leve então necessariamente importado (ainda hoje misturada). Mas isto tende a mudar lentamente pois o óleo LEVE do pré-sal já é e será cada vez mais predominante na nossa produção.
    Portanto cada vez mais poderemos refinar nosso óleo aqui mesmo, ficando independentes do preço internacional de óleo e dos derivados (este último, uma FARSA, pois não há exatamente um “preço internacional de derivados”).
    b) Porque o acionista (eminentemente aquele estrangeiro de FHC) quer ganhar em dólar e não em Reais, e quer que a empresa pratique preços internacionais pois são maiores que os locais e portanto geram mais receita (na ida e na volta).
    c) Porque estamos, sobe estes governos traíras de Temer e Bolsonaro, com a Petrobrás aparelhada, exportando nosso óleo de boa qualidade, ficando mais com o pior e comprando derivados de fora, reduzindo nosso refino à enorme ociosidade. Tudo companhando preços internacionais.
    Então é fácil perceber que poderíamos ter gasolina e óleo diesel (bem) mais baratos, beneficiando toda a cadeia de operação e produção de NOSSA economia.
    Poderíamos ter LUCRO, exportar excedentes de óleo a preços internacionais e termos derivados (eminentemente gasolina e diesel) BEM mais baratos, SEM oscilações de preço internacionais e câmbio. Simples assim, é só ajustar toda a matriz (produção, importação, exportação, refino) para o interesse da sociedade brasileira.
    Mas de tudo acima, o que prevalece não é o interesse do Estado ou da nossa sociedade, mas os de:
    . Acionistas, principalmente os estrangeiros
    . Usineiros de etanol
    . Petroleiras internacionais (a “concorrência incentivada” pelo atual presidente da Petrobrás em seu INACREDITÁVEL discurso de posse).
    Por essas e outras é que 1% do mundo detém mais renda e riqueza que ~metade ou mais do resto…
    E aumentando!

  2. Petrobrás não !! Quem fica refém é o Brasil !!! É sua Indústria, seu Mercado, suas Industrias Satélites, Indústria Naval, suas Indústrias de Suporte, Assistência Técnica, Tecnologia, Fornecedores. Quem fica sequestrado é o EMPREGO NACIONAL !!! Mas a liberdade democrática e pressão civil finalmente mostra a sua força com a Greve dos caminhoneiros. Onde está aquele papo furado de preços internacionais, de aumentos diários, de acompanhamento internacional? Mesmo com aumento da Petrobrás, o diesel que estava em SP, a quase 5 reais, depois da Greve é encontrado mesmo em rodovias a menos de 3,20 reais. E aumenta para ver o circo pegar fogo !!! Os Caminhoneiros já estão ‘espumando pela boca’ novamente. ” Do Povo, pelo Povo, para o Povo “. De forma livre e facultativa. Todo resto é farsa e ditadura. O Brasil é dos Brasileiros. ‘Liberdade, Liberdade… Abras as Asas sobre Nós’

  3. O texto é correto na sua premissa básica: é preciso atuar com senso estratégico e isso significa deixar Bolsonaro afundar com seus erros. O eixo do combate deve ser à política econômica genocida de Guedes, cujos efeitos perniciosos avançam inclusive sobre os comerciantes e industriais nativos, em função do violento enfraquecimento do mercado interno e a sensível perda do poder de compra do consumidor.
    Porém há dois reparos nos fundamentos teóricos e históricos que apoiam os argumentos do autor.
    O primeiro é com relação à caracterização de Bolsonaro como fascista. Os fascistas são autoritários, como Bolsonaro, e investem em um modelo de poder ditatorial. Porém o fascismo é caracterizado por uma disputa do apoio do trabalhador com a esquerda. Por isso sob regimes fascistas, como na Alemanha Nazista ou a Itália de Mussolini, houve ataques à organização sindical associado a importantes medidas para a geração de empregos, aumento da renda e da qualidade de vida dos trabalhadores. Tanto na Itália, como na Alemanha, sob o fascismo real, os regimes procuravam associar medidas favoráveis aos trabalhadores associadas a políticas de controle da população.
    Portanto, talvez a caracterização mas apropriada seja definir Bolsonaro como sub-fascista ou caudilho de extrema direita, um personagem clássico da América Latina, na tradição de Fulgêncio Batista, o sargento que virou ditador.
    Com relação ao acordo Molotov-Ribbentrop, de fato a União Soviética ganhou tempo com isso, pois o objetivo central da teoria da Lebensraum, ou espaço vital (que não é originária do Nazismo, mas sim conceito desenvolvido no final do século XIX, por teóricos alemães – mas essa é outra história), era a conquista do leste do império czarista, depois a União Soviética. Então no cerne das concepções nazistas estava a conquista do espaço vital, tomando terras da União Soviética.
    No entanto é falso que o Exército soviético descobriu as novas técnicas bélicas quando observadores militares acompanharam as forças alemãs.
    Os soviéticos já as conheciam desde os tempos da República de Weimar, quando o governo germânico fez um acordo secreto com a União soviética, para que seu incipiente exercito treinasse e fizesse experiencias no território russo, em troca de equipamentos industriais.
    Na época, o tratado de Versalhes proibia a Alemanha de manter forças militares além do limite de 300 mil soldados e a essas tropas não era permitido a utilização de equipamentos avançados, como aviões de combate ou tanques de guerra.
    Para burlar tais restrições a republica de Weimar combinou com os russos de mandar secretamente suas tropas mais avançadas para fazer experimentos de novas táticas e equipamentos inovadores na União Soviética. Alí treinaram com o Exército Soviético. A experiencia permitiu que os militares aos soviéticos conhecerem as novas ideias da Wehrmacht (as forças armadas alemãs), mas também os germânicos a terem contato com as inovadoras táticas de combate soviéticas, as operações em profundidade, desenvolvidas pelo Marechal Tukhachevsky. No período ambas as forças conheceram uma a outra e o conceito de blitzkrieg é diretamente influenciado pela ideia de operação em profundidade. Os soviéticos, por seu lado, perceberam a importância da mecanização, para a realização de suas táticas inovadoras – foi observando os protótipos dos Panzers e dos Stukas, entre outros equipamentos, que os soviéticos desenvolveram armas poderosas como o Tanque T 34 e o caça de ataque ao solo Sturmovik, ambos os melhores de suas categorias no conflito.
    A Alemanha teve grande vantagem no inicio do ataque, porque ouve o grandes expurgo de oficiais do Exército Vermelho, como o afastamento, condenação e execução de 30 mil dos militares mais brilhantes e experientes da União Soviética.
    A maré somente começou a mudar, quando foram chamados para a frente de combate oficiais que estavam afastados, como Zukov, praticamente exilado na distante fronteira com a China, onde desumprinco ordens derrotou uma força japonesa superior, utilizando o conceito de operação em profundidade; ou presos esperando a execução, como Rokossovsky, talvez o mais brilhante comandante de toda a Segunda Guerra Mundial (ele foi o primeiro a chegar aos limites de Berlin, mesmo indo por um caminho mais longo, mas deteve suas forças para dar a Zhukov, a quem era agradecido por te-lo retirado de um campo de concentração). Ambos, Zhukov e Rokossovsky foram os comandantes da Batalha de Moscou, a mais importante de todo o conflito, onde a máquina nazista foi detida pela primeira vez na guerra. A partir de Moscou, a União soviética começou sua longa caminhada para chegar a Berlim.
    Mas, no essencial, é isso mesmo: Lula precisa agir com cautela e estratégia, como os bons times que sabem jogar no erro do adversário.

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