Sobre as doenças imaginárias e reais dos brasileiros

Nos últimos dias o Twitter e o Facebook foram  inundados com mensagens indignadas e cômicas criticando o ministro da saúde de Michel Temer. Esta nova revolução virtual tem um motivo pueril. O ministro disse “Brasileiros que usam o SUS inventam doenças”.

Esta é uma frase lapidar. Ela sugere que o SUS não existe para tratar doenças imaginárias ou, pior, que o sistema público de saúde deixará de existir porque a doentia imaginação dos brasileiros não justifica despesas estatais.

No primeiro caso, o ministro está errado. Doenças imaginárias podem e devem ser tratadas pelo SUS.

“A hipocondria, distúrbio que acomete cerca de 5% da população, é o mal em que o paciente sente que é real a dor que de fato não existe. Nem mesmo os médicos conseguem convencer a pessoa de que ela é sadia.”

“A hipocondria é um problema tão antigo que os primeiros relatos a seu respeito foram feitos por Hipócrates (460 a 377 a.C), o pai da medicina. A origem do nome da doença está associada a queixas de dor na região do hipocôndrio, palavra grega que se refere à área abdominal abaixo das costelas. Na galeria de famosos hipocondríacos estão o naturalista britânico Charles Darwin, autor da teoria da evolução, o compositor alemão Ludwig Van Beethoven, o escritor brasileiro Roberto Drummond,  autor de Hilda Furacão e de Hitler manda lembranças, e o cantor e compositor Toquinho. O parceiro de Vinicius de Moraes assume que é hipocondríaco, mas saudável, embora admita que costuma carregar remédios por onde quer que ande.”

http://www.apm.org.br/noticias-conteudo.aspx?id=5800

O Estado brasileiro tem obrigação constitucional de manter um sistema de saúde público para atender a população. Despesas estatais, quer a imaginação dos brasileiros seja doentia ou não, devem ser realizadas pelo ministério da saúde. É isto o que consta dos arts. 196 a 200 da Constituição Federal de 1988 http://conselho.saude.gov.br/web_sus20anos/20anossus/legislacao/constituicaofederal.pdf.

Tudo bem pesado, é evidente que o ministro de Temer só pode ser considerado ignorante e/ou malicioso.

Ignorante porque não sabe que as doenças imaginárias existem e devem ser tratadas pelo sistema público de saúde. Os hipocondríacos são cidadãos contribuintes e, goste ou não o ministro interino da saúde, eles tem direito ao atendimento e este não pode lhes ser recusado pelo Estado. Malicioso porque pretende convencer o “respeitável público” de que o SUS será desmantelado sem que ele mesmo possa ser responsabilizado por ter deixado de realizar despesas que devem obrigatoriamente ser feitas pelo Estado.

A fala do ministro de Temer é irrelevante. O SUS só deixará de existir e de gerar obrigações para o Ministério da Saúde quando a CF/88 for rasgada ou revogada. Contudo, não podemos deixar de admitir que o ministro nos colocou diante de uma outra questão. A CF/88 é real e produz efeitos ou já se tornou apenas mais uma lei imaginária como tantas que foram publicadas no Brasil?

54,5 milhões de brasileiros elegeram Dilma Rousseff. Ela foi empossada de maneira legítima pelo TSE. Nada disso foi capaz de impedir o início do processo de impedimento. A acusação sacada contra ela (pedaladas fiscais) é uma prática corriqueira e nunca acarretou a punição de presidentes e governadores. Mas este fato jurídico foi deliberadamente ignorado. Recentemente o MPF pediu o arquivamento da investigação criminal sobre as pedaladas fiscais porque as mesmas não ocorreram. Isto já deveria ter sido, mas não foi, suficiente para o Senado arquivar o Impedimento.

Tudo bem pesado, devemos considerar a hipótese de que nossa Constituição Federal não é mais capaz de surtir efeitos jurídicos. Os políticos fazem o que querem, as ações deles não são pautadas pela CF/88 e o cumprimento desta não pode mais ser exigido ao STF e garantido pelo Poder Judiciário. O que nos impede de espancar nas ruas o ministro que quer destruir o SUS, de expulsar do país os deputados e senadores que rasgaram a CF/88, de tirar a força Michel Temer da presidência e de chutar os traseiros dos juizes que legitimaram o golpe de estado?

A resposta circula na internet. Ela foi dada por um ex-presidente da Turquia ao se referir à rebelião popular contra o golpe de estado no seu país e à evidente covardia dos brasileiros que assistiram tranquilamente sua democracia ser destruída.

Nós enchemos o Twitter e o Facebook de mensagens contra o infame ministro da saúde de Michel Temer, mas fomos capazes de esbofetear ele diante das câmeras quando ele disse “Brasileiros que usam o SUS inventam doenças”.  A nossa verdadeira doença é imaginar que, na situação em que fomos colocados por Eduardo Cunha e Michel Temer, a política poderá ser feita em segurança e sem violência.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

2 Comentários

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  1. Até nos portais e blogs

    Até nos portais e blogs coxinhas por excelência, caso do uol/folha o cara sofreu um verdadeiro massacre, quase tão grande quanto o que sofreram os milicos turcos  golpistas, pelas mãos do povo turco indignado com o  golpe.

    1. Grato pelo informação. Eu

      Grato pelo informação. Eu bloqueei todos os portais de notícias golpistas no Twitter e no Facebook. 

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