Temer contra Lula

Temer, o breve, está fazendo tantas maldades em tão pouco tempo e destruindo tanto, que talvez seu papel seja mesmo esse e os golpistas estejam preparando um novo projeto para o país, que ainda desconhecemos. Para conhecê-lo seria preciso existir uma imprensa investigativa, que vasculhasse todos os ramos do golpe e o que tramam nas sombras.

Talvez o fecho do projeto de Temer seja cancelar as eleições de 2018. Surge então uma pergunta: Temer tem cacife para se impor como ditador? Não se pode ignorar sua competência política. Afinal, está aprovando tudo e se mantém no poder, apesar de tudo.

Se conseguir se apresentar como como a melhor opção para todas as forças díspares que apoiaram o golpe, a ideia pode não ser absurda. E não é isso que ele está fazendo? Contenta um, contenta outro, põe uma peça sua aqui, outra ali, mantém apoio, conquista novos aliados…

Em outros tempos talvez lêssemos na capa de uma revista um dia desses a seguinte manchete: “Temer escolhe seu candidato em 2018: ele mesmo”. A ilustração poderia ser uma caricatura de Temer diante do espelho.

Numa situação de instabilidade política como a atual, o “príncipe” será aquele que conseguir manipular as peças do jogo e afastar seus concorrentes. Resta acrescentar que a candidatura de Temer em 2018 não seria pela via direta, mas pela via indireta que ele aprovaria no Congresso, que controla, e, diante da falta de opções, do enfraquecimento dos adversários e da satisfação do interesses da grande mídia, do controle da PGR, do STF, da PF, seu projeto seria emplacado.

As massas nas ruas evidentemente são importantes, provavelmente não haveria impeachment se as classes médias ignorantes, estúpidas e neofascistas não se prestassem ao papel de serem manipuladas pela Globo e sua laia, fazendo o papel ridículo para a posteridade de protestarem contra a corrupção vestindo a camisa da CBF, cujo presidente estava preso nos EUA por corrupção.

Uma coisa no entanto são massas nas ruas apoiadas pela grande mídia, outra são massas nas ruas ignoradas pela grande mídia e reprimidas violentamente pela PM, e é assim que sabemos que são tratados os protestos contra governos de direita.

Como diria Adoniran, além disso tem outra coisa: é preciso ter uma bandeira e a esquerda — ao contrário da direita, que foi competente na manipulação do impeachment — não tem ainda sua bandeira.

“Não vai ter golpe” não pegou: teve. “Diretas já” não chegou a esquentar, “Volta querida” também não. Parece que agora a bandeira é “Lula 2018”. Talvez a bandeira seja o próprio Lula, usá-lo para agitar a memória popular, lembrando os bons tempos do seu governo, em contraposição ao caos do governo Temer, a ideia meio mágica de que bastaria Lula voltar para tudo melhorar.

Ser o candidato com mais chances de vencer não significa ser o melhor candidato. Para ser a melhor alternativa, Lula precisa defender um programa melhor do que o que executou e que tem parcela de responsabilidade no que vivemos hoje. Precisa, principalmente, defender um programa com mudanças duradouras, que não nos deem em seguida uma Dilma e um Temer. Precisa fazer o que não fez nos seus dois mandatos. E aí é que pega: temo que Lula e os lulistas pretendam reeditar o que foi feito entre 2002-2010.

Tudo isso, no entanto, só tem sentido se Lula for candidato, se houver eleição em 2018. Este é hoje o jogo da esquerda. Conta com o fato inegável da deterioração geral do Brasil no governo Temer, com uma mudança tão radical no país em apenas seis anos, como mostra o vídeo da homenagem da Fiesp a Lula em 2011.

Temer joga outro jogo, o jogo de se manter no poder. Aposto que ele quer ser candidato em 2018, quer continuar no poder e sabe que para isso não pode ter eleição direta. O que precisa para isso é: 1) continuar contentando seus aliados golpistas; 2) mostrar-se como a melhor alternativa destes; 3) destruir as outras candidaturas; 4) garantir dinheiro público para a grande mídia, para os políticos que votam no Congresso e para os empresários; 5) garantir sua impunidade e dos seus aliados; 6) reprimir protestos populares; 7) cancelar as eleições diretas para presidente em 2018 usando o artifício do prolongamento do seu mandato; 8) ampliar sua base de apoio, dialogando à esquerda, fazer promessas que não vai cumprir mas que acalmam, como fazia a ditadura; 9) lançar um programa de reconstrução nacional.

O grande problema para Temer é Lula, porque Lula pode se tornar a alternativa ao próprio Temer. Basta lembrar, vendo o vídeo da Fiesp, a forma como Lula já foi tratado pelas elites. Estas podem concluir que Lula é a melhor opção.

É por isso que acho que, para os brasileiros comuns, o que importa não é a política tradicional, que Lula e Temer sabem fazer, mas a construção de uma consciência, de um programa e de instituições que garantam uma democracia duradoura, com participação popular verdadeira.

 

Redação

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