“Vacinas sendo feitas a toque de caixa não preocupa”, diz Pasternak

A quantidade de vacinas e a velocidade dos estudos são respostas ao alto investimento financeiro visto na pandemia. O que a população deve observar é a eficácia e a segurança do imunizante. Assista

Jornal GGN – Com o mundo imerso na maior pandemia do último século, nunca se viu tanto dinheiro injetado de uma vez no desenvolvimento de uma vacina o mais rápido possível. O Brasil já dispõe de acordos bilaterais com alguns laboratórios internacionais, mas em meio à politização da vacina chinesa por Jair Bolsonaro e o anúncio de obrigatoriedade da vacinação em São Paulo, parte da população começa a se questionar se a velocidade impressa aos estudos trará ou não implicações quanto à segurança.

Para a microbiologista e presidente do instituto Questão de Saber, Natalia Pasternak, “o fato da gente ter várias vacinas sendo feitos a toque de caixa, se elas cumprirem todo o rigor metodológico e todas as fases de segurança e eficácia, não preocupa.”

Às jornalistas do GGN, durante o programa Cai Na Roda, Pasternak defendeu que o que importa à população é saber se a vacina apresentou resultados de segurança e eficácia.

“A gente pode se dar o risco de ter vacinas que não funcionam tão bem quanto a gente queria, mas a gente não pode correr o risco de ter vacinas que não são seguras. Todas estão passando pelas fases de segurança, nenhuma está pulando etapas, podemos ficar tranquilos de que seguras elas serão”, comentou.

Na segunda (20), o Instituto Butantan, que tem acordo com a empresa Sinovac, divulgou dados que mostram que a vacina chinesa é a mais segura, entre todas que estão em teste no Brasil, em termos de efeitos colaterais adversos. Faltam os resultados de eficácia.

No dia seguinte ao anúncio, o Ministério da Saúde assinou um protocolo de intenções de comprar 46 milhões de doses da Coronavac que serão produzidas pelo Instituto Butantan. Mas por causa de uma briga pessoal com Doria, Bolsonaro mandou cancelar o acordo nesta quarta (21).

Na entrevista ao GGN – gravada no dia 16 de outubro – Pasternak lamentou a politização da vacina. “É ridículo e triste pelo lado do preconceito, e porque a gente corre o risco de perder um bom acordo bilateral.”

Na visão da cientista, talvez as vacinas prometidas para 2020 e início de 2021 “não funcionem tão bem quanto a gente gostaria”, “mas atrás delas virão um monte. Vamos ter vacinas com taxas alta de proteção”, mesmo que elas demorem um pouco mais.

FINANCIAMENTO

Fato é que “a gente só está conseguindo fazer vacinas assim, a toque de caixa, porque a gente nunca teve tanto financiamento de uma vez só. Isso facilita muito porque processos de teste de vacinas são muito caros. A parte mais difícil não é a parte técnica, é a parte de testes clínicos, tanto em animais quanto em humanos.”

Outro ponto a ser lembrado é que várias universidades já estavam “trabalhando com vacinas experimentais para SARS e MERS. Foi mais fácil adaptar isso para Sars-Cov-2. Oxford já estava com a vacina para MERS pronta, testada em animais. Facilitou muito só trocar de vírus e continuar a pesquisa”.

ILUSÃO DE SEGURANÇA

Por outro lado, é preciso combater junto à sociedade a ideia de que a vacinação criará “super-homens” no instante seguinte, como se os imunizantes em desenvolvimento fossem uma “bala de prata” contra a pandemia.

“Vamos ter que trabalhar muito bem essa comunicação para as pessoas entenderem que não é porque tomei a primeira dose que posso liberar geral. A maior parte das vacinas é de duas doses. Você só vai estar teoricamente protegido após uns 15 dias de tomar a segunda dose, e não é garantia de estar protegido. A gente precisa saber da eficácia dessas vacinas.”

“A Organização Mundial da Saúde”, lembrou, “aceita vacinas com, no mínimo, 50% de eficácia. (…) O efeito protetor na sociedade demora, não é imediato, não é mágico.”

“E daí vem minha grande preocupação, porque não estou vendo essas campanhas serem pensadas, e elas eram pra ontem”, frisou.

A LOGÍSTICA DA VACINAÇÃO

Outro ponto que “preocupa” Pasternak é saber se o ministro Eduardo Pazuello – “que dizem que é um militar com treinamento grande e robusto em logística” – já organizou a logística da vacinação. “Eu gostaria de saber quais são os planos do Ministério da Saúde para criar as cadeias de frio necessárias para armazenamento e transporte dessas vacinas. Não vi isso e gostaria muito de ser surpreendida por essa capacidade de organizar, pelo menos, a distribuição e as campanhas de vacinação. Isso tudo era pra ontem. Eu gostaria de saber o que está acontecendo.”

A APOSTA  NAS VACINAS

Ainda de acordo com a cientista, o Brasil não deve apostar todas as fichas na vacina contra o coronavírus – muito menos em uma só.

“Não sabemos qual vai ser o nível de eficácia dessas vacinas. Provavelmente elas vão proteger parcialmente, talvez elas não sirvam para todos, idosos e crianças, a gente não sabe. Talvez ela ajude a diminuir a doença em sua forma mais grave, mas não impeça a circulação do vírus. Elas com certeza vão ser muito úteis e vão ajudar a taxa de transmissão e diminuir os casos graves da doença, mas elas não são a bala de prata. A gente vai precisar, durante um tempo, ainda, continuar com as medidas de quarentena. A gente precisa acostumar com isso, uso de máscara, distanciamento físico e evitar aglomerações.”

Assista:

 

Redação

1 Comentário

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  1. Infelizmente temos um presidente que não noção do crime que está cometendo, caberia ao Ministério denuncia-lo por colocar em risco a saúde e a vida da população brasileira. Deveria a OAB entrar como uma ação no Supremo contra esta pessoa despreparada e cheia de ódio que nos governa. Espero isto destas instituições pelo bem do nosso povo.

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