Vampiros emocionais, os que agem inclusive à luz do dia

Vampiros emocionais é um termo que vem sendo usado para também falar sobre pessoas tóxicas, relacionamentos sanguessugas e outros tipos desvantajosos de troca entre adultos. Fixe isso: entre adultos. Será importante durante a leitura pressupor que todos os casos retratados aqui se dão entre e por pessoas que, teoricamente, deveriam saber e praticar respeito ao limite do outro.

Existe um livro maravilhoso, e eu indico com força pra quem quiser e puder acessar – tem inclusive online, em PDF, aqui – com este nome, que explica, além de como se dão estas relações, os tipos vampirescos de forma maravilhosamente bem-humorada, até mesmo para quando o vampiro é você. 

Basicamente, uma relação com um vampiro emocional é pautada pelo sugar de energia de um no outro. Sim, exatamente como acontece nos contos soturnos e obscuros, as interações com pessoas que estão neste estado – pois sempre existe água benta e um tiquinho de fé, num é? – então, que alívio, podemos assumir que este é um estado e não uma permanência, embora seja sempre demorado demais pra quem assiste a vampirização ocorrer que haja a salvação, bem, estas interações são pautadas basicamente por um indivíduo que literalmente drena a vida de outra(s) pessoa(s). Vsle dizer que normalmente quem está vampirizado demora pra perceber, tamanho encantamento sofrido. Ai…

Para o autor do livro (e vem aí longas aspas, esse é um tema que merece ser lido com atenção e tempo). Vou comentar ponto a ponto com o que percebo e vivencio e, então, abro a discussão nos comentários, quero muito saber das experiências que cada um teve sendo ou tendo um vampirinho desses:

“Pelo que me consta, maturidade e saúde mental são a mesma coisa. Ambas consistem em três posturas essenciais.

Percepção de controle

Para sermos psicologicamente saudáveis, temos de acreditar que nossas atitudes têm consequências sobre o que nos acontece. Mesmo que a percepção de controle seja ilusória, geralmente leva a atos mais produtivos do que acreditar que o que fazemos não faz diferença. Com o passar do tempo e com reflexão, as escolhas vão melhorando e percebemos ainda mais controle sobre nosso destino. Essa é a principal vantagem do amadurecimento. Os Vampiros Emocionais jamais amadurecem. Durante toda a vida, se vêem como vítimas do destino e da imprevisibilidade alheia. As coisas acontecem e eles simplesmente reagem a elas. Em consequência, não têm a oportunidade de aprender com os próprios erros e os repetem incessantemente.”

Aqui, basciamente, a regra de ouro da atitude-consequência. Os vampiros emocionais simplesmente parecem cagar e andar para as consequências de seus atos, especialmente quando carregam traumas de infância, normalmente utilizados como desculpa para seu comportamento ainda infantil. Olha, eu também sei o que são traumas de infância, os meus também são bastante pesados (pra mim, acho até que pra geral se eu contar…), mas, felizmente, venho me transformando de uma vampira (especialmente de algumas amizades, desculpa, pessoal, vamos recuperar isso aí!) em uma pessoa que trabalha essa temática toda em terapia, justamente porque iluminou em mim que ficar exigindo que cada adulto que eu encontre pelo caminho seja uma tábua de salvação para este passado distante faça de mim nada mais nada menos que uma criança de novo, só que velha. Fica feio, além de extremamente prejudicial. O tempo e a análise salvam vidas e, no mais, já deveríamos saber a determinada altura, que aquele pedido de desculpas não vai adiantar nada, que aquela vivência familiar que tanto sonhamos simplesmente desmoronou de tão fantasiosa que era e que, ademais, cada um continua sendo cada um, independente da dupla dinâmica que se forma – já pensou se nossa única missão nessa vida fosse resolver traumas infantis, e não viver, que coisa horrorosa seria? E, como bem disse minha psicóloga: você já parou pra pensar onde esse trauma te levou? De repente, nem na encosta da montanha mais bonita do litoral eu viveria, deus me livre! 

“Sensação de ligação

Os seres humanos são criaturas sociais. Só vivemos nossa humanidade em plenitude no contexto da ligação com algo maior que nós. São as ligações e os compromissos que dão sentido a nossa vida. Tornar-se adulto significa aprender a viver segundo as normas sociais que passam a participar tanto da nossa realidade que as obedecemos sem mesmo pensar. As outras pessoas são iguais a mim. Quando as pessoas normais crescem, passam a prezar cada vez mais a semelhança com as outras. Empatia é sinônimo de maturidade. Os vampiros simplesmente não entendem esse conceito. Para eles, os outros são o suprimento de suas necessidades.

O que é justo é justo. Os sistemas sociais baseiam-se na reciprocidade em tudo, de coçar as costas a falar a verdade. Os adultos desenvolvem uma noção de justiça e a utilizam como régua para avaliar comportamentos. Os vampiros não fazem isso; têm como justiça receber o que querem quando querem. O que se recebe é igual ao que se dá. Os adultos compreendem que quanto mais se dá mais se recebe. Os vampiros tomam. As outras pessoas têm o direito de negar. Os relacionamentos humanos dependem de uma percepção clara da divisão psicológica entre o que é meu e o que é seu. Robert Frost definiu bem: “Boas cercas fazem bons vizinhos.” Os vampiros têm dificuldade de perceber esse limite tão importante. Acreditam que devem receber imediatamente tudo o que quiserem, não importando o que qualquer outra pessoa ache disso. As criaturas sociais confiam que cada qual obedecerá a normas fundamentais, mas os Vampiros Emocionais traem essa confiança. A falta de ligação com algo maior que eles mesmos também é motivo de sofrimento interior dos vampiros. O universo é um lugar frio e vazio quando não há nada nele maior do que a própria necessidade.”

Os vampiros emocionais possuem uma enorme capacidade de justificar suas atitudes imbecis usando os laços como desculpa – esfarrapada, claro, porque laço pressupôe troca e eles, não, não, eles não querem trocar. Eles querem o que querem, e ponto final, senão vão se jogar no chão e fazer aquela cena da criança no chão do shopping, só que a criança, enfim, passa por estes momentos naturalmente e cresce, o vampiro não. Justificam que fazem o que fazem pelo bem-estar dos filhos, em prol da relação de amor que só eles enxergam daquela forma, em nome do pai, do espírito santo e amém, mas num olhar um pouco mais atento, percebe-se que os vampiros simplesmente manipulam toda e qualquer situação em nome de seu desejo e unicamente dele, quer dizer, as pessoas que ele cita estarem muito preocupadas e envolvidas nem sempre estão dando importância ao que ele exige e demanda. 

A questão do limite, para se salvar deste tipo de atuação, é deveras relevante: eu bloqueei cerca de 17 números de telefone que um vampiro insistente usou nos últimos meses pra me procurar, brandando desde de “você é muito importante pra mim, eu não consigo sair dessa sem você” (às quatro da manhã, completamente alterado, mais de uma vez na semana) até “se você não vier pra cá eu vou acabar me matando”. Limite. Bloqueei, me despedi solenemente, falei que rezaria por aquela alma perdida mas que, dali pra frente, não receberia mais interferências de qualquer natureza que fosse proveniente da pessoa. Se sumiu, se morreu, se fez o que seja lá que fez, não sei, não me culpo, saí do campo da hipnose comumente aplicada pelos vampiros – um mix de sedução, alienação e depreciação, onde só eles e apenas eles têm o poder de nos tornar pessoas minimamente úteis perante a vida SUGANDO NOSSO PODER VITAL INCLUVIE, CUIDADO, ALERTA, PELO AMOR DE DEUS SE AINDA NÃO CAIU NESSA NÃO CAIA! Ufa, é assim que a gente fica, em maiúsculas mesmo, quando lembra do poder que tem um ser trevoso desses. 

Uma amiga, inclusive, lançou mão de uma notificação judicial para limitar ações vapirescas que estavam adentrando sua morada e, por mais absurdo que possa parecer, é certo que cada um tem sua maneira de manifestar fronteiras e que essas bordas são, no mínimo, necessárias para sair inteiro de um chega pra cá desse tipo. Mesmo que isso signifique internar-se em casa debaixo de cobertas em pleno verão, Netflix e conversas intermináveis sobre o porquê isso aconteceu assim, dessa forma. Acredite: quando encontramos um vampiro emocional pelo caminho, poucas respostas fazem sentido. O melhor é encontrar seu crucifixo e fazer valer a vontade de deus e do funk: cada um no seu quadrado e, á que o vampiro não entende disso, é você quem dará o tom do fim. Que seja assim. 

Por último, não menos importante: 

“A busca de desafios

Crescer é saber enfrentar momentos difíceis. Sem desafios, nossa vida se recolhe a rotinas seguras, porém insatisfatórias. Há desafios de todos os tipos e tamanhos. Os que mais ajudam nos obrigam a encarar nossos medos, a subjugá-los e ampliar os horizontes da nossa existência. Os vampiros às vezes são melhores nisso do que nós. Além de serem uma chateação, os Vampiros Emocionais são artistas, heróis e líderes. Devido a sua imaturidade, conseguem fazer o que nós não conseguimos. As forças das trevas sempre giram em turbilhão ao redor da criatividade e das grandes façanhas. Um mundo sem vampiros seria menos tenso, mas fatalmente chato. Para lidar com eficácia com os vampiros, temos de ter novas idéias e agir de maneiras como não estamos acostumados. Às vezes pode ser assustador, mas encarar o medo é o tipo de desafio que nos faz amadurecer.”

É isso: o vampiro não quer crescer. Basicamente, usa de sua dor – real, sim, gente, não tô falando que ser adicto ou abandonado não seja das piores coisas desse mundo e arredores, mas vamos lá, terapia, terapia, terapia… pelo menos vamos conter a demanda pra florescer novas possibilidades de relação sem repetir os roteiros? Falando em roteiro, taí uma verdade: tem uma vampira que eu conheço que inventou um papel extremamente fantasioso sobre mim, que inclui desejos que sequer tenho, ações que jamais faria e atitudes que eu não tomo desde, hum, nunca. Ela cria com tanta veracidade que, juro, se escrevesse um livro ou até mesmo o roteiro de um seriado, seria um sucesso, porque a criatividade da cidadâ em inventar argumentos para me destruir não para, incansável que é. Não sei se trabalha, se cuida de casa, dos filhos, mas olha, com um tempo de sobra desse, eu estava era fazendo dinheiro (mentira, adoro meus grupinhos de WhatsApp). 

Mas bem, a criatividade é, também, uma oportunidade para quem é vampirisado experimentar a liberdade, mesmo que #SPH (só por hoje) e, então, começar a se reabilitar e voltar a reconhecer uma vida mais próxima da saúde mental, da alegria, da leveza e, enfim, da liberdade. 

 

Mariana A. Nassif

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