Vivendo numa Vila Operária: FNM – Fábrica Nacional de Motores, em Xerém, Rio de Janeiro

 

Você já deve ter ouvido falar da Fábrica Nacional de Motores, fabricante dos caminhões FNM e dos automóveis JK, ALFA ROMEO entre outros, não é?

VIDA DA MINHA VIDA – ali nasci, cresci e aprendi a repartir nas nossas vilas operárias

 

ZECA PAGODINHO – o maior divulgador de XERÉM atualmente

https://www.youtube.com/watch?v=5pPDW2uwn8A]

 

A ideia de criar a Fábrica Nacional de Motores surgiu em 1939, no período da história brasileira chamado de Estado Novo. Era o governo do presidente Getúlio Vargas, que desejava transformar o Brasil em uma economia industrializada. Data desta época a fundação de empresas estatais como a Companhia Siderúrgica Nacional (1941), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Companhia Nacional de Álcalis (1943), a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (1945) e outras.

Nesse espírito, o então coronel Antônio Guedes Muniz propôs a construção de uma fábrica de motores aeronáuticos que atenderia à aviação militar e à nascente produção nacional de aviões para uso civil.

Muniz foi aos Estados Unidos e fechou um contrato para produzir motores radiais Curtiss-Wright R-975. O dinheiro chegou quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, como parte dos acordos firmados com os EUA. Assim, em 1942, foi fundada a Fábrica Nacional de Motores. A construção em Xerém (distrito de Duque de Caxias, no pé da Serra de Petrópolis) ocorreu durante a guerra. Eram enormes e modernas instalações.

 

 

POR QUE NAQUELE LOCAL?

Xerém, no quilômetro 23 da Estrada Rio Petrópolis foi escolhida como sede para a Fábrica Nacional de Motores, porque só deveria ser instalada ao nível do mar”. Sua localização ao nível do mar amorteceria os custos da produção, por conter a temperatura e a pressão ideal para a construção dos motores. Deste modo, não seria necessária a construção de “câmaras fechadas” para simular essas condições. Além disso, outros fatores fizeram de Xerém a melhor escolha para sediar esse novo empreendimento que o Brasil se propunha a desenvolver.

Por exemplo, o território oferecia posição estratégica para a implantação da fábrica, um local que obtinha fácil acesso, por contar com a Rodovia Rio-Petrópolis e a Estrada de Ferro Rio d’Ouro, o que facilitava o contato com a capital federal, a chegada de técnicos e funcionários e o transporte de equipamentos. O terreno possuía uma das melhores águas potáveis do Estado do Rio de Janeiro, oferecidas pelas adutoras de Mantiquira e Xerém. Os rios Capivarí, Mato Grosso e Saracuruna cortavam o terreno, gerando assim, a água industrial necessária para abastecer a FNM. A energia elétrica poderia ser obtida pelas linhas de força que atravessavam a área. Outro fato que devemos levar em consideração, é o de estarmos vivendo em época de grande crise, que foi a Segunda Guerra Mundial e Xerém fica em uma região de mar de morros florestados além de estar próxima à escarpa da Serra do Mar, o que gerava certa camuflagem para a fábrica, que tinha fins militares e a protegia de ataques aéreos; também havia terrenos planos para a construção de um campo de pouso, para as plantações e grandes áreas de terras desocupadas que facilitavam sua transferência para a União. O terreno escolhido pela comissão de construção para sediar a primeira fábrica de motores da América do Sul foi desapropriado em janeiro de 1941 pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. A Fábrica Nacional de Motores “passou a ocupar terras devolutas no distrito de Xerém”, estas terras foram adicionadas às terras doadas e desapropriações (concedidas pela União Federal), as mesmas, “alcançaram a área de 54 milhões de metros quadrados”.

INTERCORRÊNCIAS CONJUNTURAIS

 

Quando saiu o primeiro avião com motor FNM, em 1946, a guerra já havia acabado e os EUA torravam seus excedentes militares. Só a FAB tinha 180 motores Wright importados em estoque.

Getúlio fora deposto e o interesse pela industrialização do Brasil esfriara. O novo presidente, Eurico Gaspar Dutra, mandou suspender a produção de motores. Para salvar a FNM, Muniz (já alçado a brigadeiro) pôs a fábrica para fazer desde peças para máquinas industriais a eletrodomésticos. Em 1947, a estatal teve ações vendidas na bolsa.

Só em 1949 é que Xerém encontrou seu rumo: graças a um acordo com a marca italiana Isotta Fraschini, a FNM foi a primeira empresa a fabricar caminhões no Brasil. Estreou com o D-7.300, um modelo bicudinho com motor a diesel e capacidade para 7,5 toneladas de carga. Uns 200 caminhões deste tipo chegaram a ser feitos, mas a Isotta estava em má situação financeira na Europa e interrompeu o envio de peças.

O COMEÇO

O jeito foi encontrar outro fornecedor de tecnologia: a estatal italiana Alfa Romeo. E foi com o modelo “cara chata” FNM D-9.500 que a linha de Xerém foi reativada em 1951. Em 1955, esteve à frente da produção dos “cavalos mecânicos”, primeira tentativa de lançar ônibus muito longos – décadas antes dos articulados e BRTs – adaptando caminhões para sustentar estruturas de ônibus. Alguns desses chegaram a ser utilizados, no Rio de Janeiro, para uma linha de ônibus ligando o Lins de Vasconcelos, na Zona Norte, ao bairro da Urca, na Zona Sul. No entanto, a difícil locomoção desses ônibus deu fim a esse tipo de veículo.

A nacionalização dos FNM (já chamados pelo povo de “Fenemê”) aumentou. Em 1958, foi lançado o modelo D-11.000, também derivado dos Alfa italianos. Era o caminhão pesado e se tornaria lendário em nossas estradas, com seu jeitão bruto e o som inconfundível do motor a diesel de seis cilindros, todo de alumínio.

Em 1960, a FNM lançou-se na produção de um sedã de luxo, o FNM-2000 JK. Era o automóvel mais estável e veloz fabricado no Brasil na época, mas também o mais caro. Com o golpe militar, o novo governo fez uma intervenção e, em 1968, a velha parceira Alfa Romeo assumiu o controle da FNM, que continuou a fazer automóveis, caminhões e chassis de ônibus.

Em 1972, veio um novo caminhão pesado, o FNM 180. Sua mecânica era basicamente a do velho D-11.000, mas a cabine era mais moderna. Na mesma linha, foi criado o FNM 210.

A gama de automóveis também passou por uma evolução: após o 2000, foi lançado o 2150 e, em março de 1974, foi lançado o Alfa Romeo 2300, um modelo fabricado exclusivamente no Brasil.

A operação de Xerém, porém, nunca deu grande lucro. Em 1977, a fábrica foi vendida à Fiat — que continuou a fazer o modelo 180 por mais dois anos e fechou as portas da pioneira FNM. Ao longo de todas as suas fases, a empresa produziu aproximadamente 15.000 veículos

INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DAS VILAS OPERÁRIAS

 

Havia duas vilas operárias: a Operária e a Santa Alice com muitas casas. Depois foram construídos também 5 blocos de apartamentos, chamados de IAPI. 

As casas eram reformadas por conta da FNM. Os operários pagavam um aluguel simbólico para morarem com suas famílias ali. Tinham assistência médica, dentária e quando necessário eram transportados para hospitais no centro da Guanabara.

Havia cinema e biblioteca; além de uma sede do Círculo Operário e outra do Sindicato dos Metalúrgicos (que ofereciam serviços aos operários e suas famílias).

Escola gratuita até o admissão; ESCOLA SANTO ANTONIO, com professoras e diretoras que vinham diariamente do Rio, trazidas nos ônibus, gratuitamente, para lecionar na FNM.

Depois foi criado o primeiro ginásio na região, funcionando apenas no período noturno, para atender aos trabalhadores: Ginásio Alcebíades Peçanha. Mais tarde, em 1968 inaugurou-se a construção, com muito esforço e com a ajuda de pais e alunos, do COLÉGIO ESTADUAL BARÃO DE MAUÁ.

O colégio possuía desde seu início banda marcial e fanfarra com meninas tocando flauta também. Eram os anos de chumbo e desfiles na primavera e no 7 de setembro, dia do soldado eram obrigatórios.

 

DÉCADA DE 1960 – PRAÇA DA AVENIDA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS E IGREJA DE MESMO NOME COM RUAS LADEADAS POR FLAMBOYANTS 

 

CASA (AINDA CONSERVADA) COMO AS ORIGINAIS NAS VILAS OPERÁRIAS

 

https://www.youtube.com/watch?v=eE5BmYb8uFY

 

NA VILA OPERÁRIA HAVIA O MERCADO SANTO ANTONIO- COOPERATIVA ( COM O SAPS E O SESI, PADARIA E AÇOUGUE)

 

O TRABALHO NAS MÁQUINAS FABRICANDO OS MOTORES E PEÇAS PARA OS CAMINHÕES FNM E PARA OS AUTOMÓVEIS “JK”

 

 

ENTRADA DA FÁBRICA NACIONAL DE MOTORES – POSTO MÉDICO DE ATENDIMENTO GRATUITO (à esquerda)      

 

 

OS OPERÁRIOS EM REUNIÕES COM SEUS CHEFES SEMPRE LUTANDO POR SUAS REIVINDICAÇÕES 

 

 

ENCONTROS DE LÍDERES E DIRIGENTES- CELEBRAÇÃO DA AMIZADE – ANO DE 1956

 

 

A FNM CONTAVA COM 3 CLUBES DE FUTEBOL COM SEDES ESPORTIVAS: o ALIANÇA, o PIAUÍ e o VILA NOVA- cada um criado e idealizado por gente de fora do Rio que deu a seus clubes nomes que tinham a ver com suas origens. Muitos ônibus vinham de localidades vizinhas para enfrentar os 3 times da FNM. Disputavam diversos campeonatos e dali saíram muitos jogadores para divisões do futebol carioca e de outros estados também.

 

Hoje em Xerém se instalou o CT do Fluminense, em belíssima construção.

 

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA XERÉM

 

TROPAS DO EXÉRCITO INVADIRAM A FNM EM 1964

Em 1968, após a ALFA ROMEO ter assumido e encapado a FNM, os operários, em sua grande maioria, foram indenizados, tiveram que deixar suas casas, com suas famílias e abandonar O GRANDE SONHO DE SUAS VIDAS: FICAR ALI ATÉ SUA MORTE.

 

 

[video:https://www.youtube.com/watch?v=CkydG29xWUU

 

Com algumas informações da wikipedia.

SAIBA MAIS:

Transformações espaciais ocasionadas pela instalação de indústrias no Brasil: O caso Fábrica Nacional de Motores (FNM)”, de Thiago Rodrigues Coutinho.

Redação

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Comentário de ODECIO

    A FeNeMe teve a maior

    A FeNeMe teve a maior paricipação na vida de nossa família não só através dos recursos financeiros,mas também como a formação moral e das amizades que duram até hoje.Lá eu consegui chegar a minha formação superior e onde fiz estágios de férias. A FeNeMe era uma família, todos se conheciam e ajudavam. Morava na Av N.S das Graças Nr 3 na Vila Operária.Joguei futebol no Vila Nova .Estudei na Escola Santo Antonio com as minhas inesquecíveis professoras, Maria Aparecida , Lúcia, Beatriz e Lenora.Fiz o Ginasial em Petrópolis no Colégio S Vicente de Paulo,sendo eu e os amigos  transportados pelo ônibus da FNM com o motorista Sr Almeida.Realmente foram os melhores anos de minha vida.

     

      1. Não compreendi seu comentário, Augusto

        Nasci, cresci e vivi na FNM até o ano de 1968. Acompanhei as dores e amores de bastante coisa por lá.

        Abraço. 

        1. Toda minha vida profissional como aprendizagem e incentivo para ir adiante em minha vida só tenho a agradecer a FNM, hoje aos 84 anos sou muito feliz por tudo que aprendi foi uma carreira profissional brilhante desde o tempo como profissional e chefia seria uma bonita novela com todo trajeto. Diogo Bandeira de Melo Lá trabalhei 24anos e 2meses, foi brilhante meu desempenho na Saudosa FNM um abraço a os remanescentes da inesquecível FNM.

  2. FNM

    Meu pai Elis trabalhou na FNM de 1966 até seu fechamento. Não chegamos a morar na vila, cheguei a passar na prova para estudar no colégio, mas circunstancias familiares impediram que lá morassemos.

    Fiz várias visitas com ele e ficava admirado com a grandeza do local, as vilas operárias, vila dos diretores com casas enormes e a piscina no centro, o hotel, o colégio com os alunos chegando de bicicleta (quase todos) os camihões e carros nos pátios. Era tudo muito impressionante para um garoto de dez anos.

    Tenho saudades desse tempo, mas nós acompanhamos o desmonte dessa empresa, e isso foi muito triste.

  3. FNM – boas lembranças

    Meu pai trabalhou e se aposentou na FNM. Vivemos na vila até 1960 quando nos mudamos para o Méier no Rio. Eu estava com 10 anos. Foi um período marcante em minha vida. Estudamos na Escola Santo Antônio e nos transferimos para o Colégio S. José em Petrópolis, onde ficamos até 1960. Tínhamos muitos amigos no local e lembro bem de uma família numerosa onde vários filhos tinham nome iniciados por O: Osmar, Oséias, Osvaldo, Osvaldina, Onésio, Osmarina e outros. Nessa época, perdemos o contato com os membros dessa família. Voltei à região para matar saudades nos anos 90 e vi a igrejinha, no alto do morro, o mercado e as casas que ainda guardavam boa recordação do período que vivemos na FNM. 

  4. Senti uma enorme emoção, ao ler dos alunos,da Escola Santo Antônio o agradecimento, a uma pessoa em especial, minha mãe que foi professora e diretora, da escola, minha querida Lenora Clinquart Coimbra.
    Um lugar que vi o crescimento, de alunos com carinho e muita dedicação e como o hino da escola, Salve a essa querida da mocidade estudantil salve a nossa FNM … honra e glória do nosso Brasil

    1. Oi, Rosita, que bom saber que você é filha da Dona Lenora. Minha mãe foi professora na ESA, Aldenora Ribeiro. Eu tive a honra de estudar na Escola Santo Antonio e poder cantar o hino da escola. Fica a saudade.

  5. Sou jornalista e busco pessoas que queiram contar suas histórias ba FNM e na atual fábrica rechada recentemente deixando muitos desempregados. Meu WhatsApp é 21 96020 8888

  6. … uma breve narrativa para quem jogou futebol na FNM.. quando tinha apenas 2 anos de idade, em 1951, fomos para a FNM; Meu avô, Pedro Pinheiro, foi bem antes, pois participou da construção predial da fábrica, ele era o responsável pelo “Acampamento”, moradia de alguns dos funcionários da fábrica. Crescemos num cenário singular, onde todos se conheciam e se confraternizavam, no trabalho e no lazer. Quanto ao lazer esportivo, ainda adolescente, começamos a jogar no Infantil e Juvenil do Vila Nova (time do Sr. Sergipe). Aos 14 anos já estava jogando no 1.º time do Aliança; aos 15 anos fui jogar no Petropolitano, em Petrópolis e na Seleção de Juvenis daquela cidade; quando então fui convidado à treinar no Juvenil do Flamengo (na Gávea). Mas com dificuldades visuais parei de jogar e fui ser Técnico do Aliança, …;aos 28 anos, usando lente de contato, voltei a jogar no time do Bonifácio / Piaui, por 3 anos, encerrando a “carreira” … Cheguei a participar da Comissão técnica do Serrano e recentemente realizei o trabalho “Futebol Participativo: Jogando em Equipe” para um clube profissional em Minas Gerais…
    Por hoje chega, espero ter aguçado a curiosidade de alguns, pois não me identifiquei…revivendo bons momentos que vivemos na FNM !

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador