A cabeça partida do burguês, por Sergio Saraiva

A politicamente poderosa burguesia paulistana, pretensamente conservadora em economia e liberal nos costumes, mostra-se, quando consultada, um estrato social dividido entre o petismo e o antipetismo. Mas insignificante eleitoralmente – caso não conquiste os corações e mentes dos pobres para um dos lados da sua polarização.

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A cabeça partida do burguês

por Sergio Saraiva

A matéria da Folha de São Paulo de 11 de janeiro: ”Leitor da Folha prefere Alckmin e Lula em 2018” mostra mais uma vez a divisão entre esquerda e direita que caracteriza nosso momento político atual. Nenhuma novidade não fosse estar localizada no coração da burguesia. Representada pelos leitores do jornal.

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O leitor da Folha de São Paulo é o arquétipo do bom burguês – conservador na economia e liberal nos costumes.

Conservador na economia – isso fica claramente demostrado quando 12% dos eleitores consultados consideram o governo Temer como bom e ótimo. Uma porcentagem baixa, o que é significativo de que nem a burguesia apoia Temer. Mas, mesmo assim, é um percentual muito maior do que os 5% da população em geral. Estão, entre os leitores da Folha, como veremos, os que se deram bem com Temer. Assim, não é estranho que mesmo Henrique Meirelles apareça como uma terceira força eleitoral.

Liberal nos costumes – é majoritariamente a favor da descriminação do aborto – 82% e do uso da maconha – 57% e contra a pena de morte – 67%. Na população geral, esses índices não chegam a 40%.

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Mas quem é esse leitor da Folha? É uma minoria. Fortemente influenciada pela população paulistana – 61% dos leitores da Folha são da Grande São Paulo.

Consultando os dados sobre o perfil dos eleitores da Folha de 2015 e 2016 ficamos sabendo que 80% têm nível de instrução superior e 59% são das classes A e B com 48% com renda média de R$ 8,8 mil. É também um público essencialmente adulto, 46% têm entre 35 e 54 anos.

Mas é um erro considerar os leitores da Folha como um bloco homogêneo e no centro do espectro político. Petismo e antipetismo os antagonizam. E a divisão das intenções de voto entre Lula e Alckmin, colocando Bolsonaro – o candidato do nível médio de renda e escolaridade – em um embolado terceiro lugar com mais quatro candidatos, mostra isso.

Outra mostra da polarização burguesa – essencialmente paulistana – é que quando Lula é interditado – nada muda, seus votos passam inteiramente para Haddad e a dicotomia se mantém.

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Nenhuma novidade para quem acompanha a cena política paulistana: ”O petismo e o antipetismo na classe média paulistana”.

É interessante notarmos, no entanto, duas coisas: a primeira é que o petismo se mantém significativo na região mais antipetista do Brasil. Uma significativa parcela petista resiste silenciosamente entre a burguesia. A segunda é a insignificância eleitoral desse estrato social – com o perfil apresentado para o leitor da Folha, são uma pequena minoria. Insignificância eleitoral, mas não política – já que toda a mídia volta-se para essa parcela da população.

Porém, no frigir dos ovos, frente à urna, serão os não-leitores da Folha – os pobres e com baixa escolaridade – quem decidirão as eleições. Eles são a grande maioria. E eles são Lula – a própria Folha sabe.

 

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – especializada na manutenção de curvas normais.

Redação

8 Comentários

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    1. Não A, mas DA

      61% moram na grande São Paulo, 80% têm nível de instrução superior e 59% são das classes A e B com 48% com renda média de R$ 8,8 mil. É também um público essencialmente adulto, 46% têm entre 35 e 54 anos.

      1. Se 59% são das classes A e B,

        Se 59% são das classes A e B, então 41% C, D e E, isto é, pertencem ao proletariado. E uma parte dos 59% são classe B, isto é, com absoluta certeza não pertencem à burguesia. Resta a parte que pertence à classe A, que não sabemos de quanto é, mas com muita probabilidade é menor do que 50%. Mas mesmo esta não é necessariamente burguesa.

        A burguesia propriamente dita, isto é, os proprietários dos meios de produção, os banqueiros, empresários, comerciantes, industriais, fazendeiros, rentistas, não tem a cabeça “partida”, é anti-petista em massa. E não perfaz um por cento da população brasileira ou paulista, nem, com toda probabilidade, dos leitores da Fôia.

  1. a cabeça….

    A bronca contra a Folha, faz aparecer o preconceito e mediocridade esquerdopata. Os números fantasiados de tal Jornal representam os Paulistas? São Paulo fez surgir a moderna esquerda brasileira. Toda ela. E a antiga também. As Revoltas Operárias do início do século passado são seu berço. Deu oportunidade para um Nordestino, que chegava com sua mãe e mais meia dúzia de irmãos, criarem raízes, ter uma casa, ter emprego, estudar, se profissionalizar, criar consciência e tornar-se um Líder Nacional. Na sua Terra Natal teria sido Pasto do atraso contínuo,  Coronéis e Jagunços. Mas tal matéria revela muito a Gestapo da Esquerdopatia Tupiniquim., Não à toa serviram de Lacaios de Ditador, que até hoje endeusam, mesmo mantendo anos de tirania e assassinado estudantes universitários desarmados que exigiam uma Constituição. O Brasil é de muito fácil explicação. Estes garotos eram a tal Elite Paulista, que a esquerdopatia acusava. Como faz hoje. O desenvolvimento e vanguarda paulistas fez surgir esta redemocracia, derrubando Governo Militar. Só que foram traidas todas promessas contratadas na Anistia de 1979. Na Redemocratização e Constituição Cidadã dos anos 80. Quem elelvou à condição de liderança no poder nacional toda esta esquerda, agora é que está errada? Este discurso canalha e hipócrita de fundamentalistas que ainda creem em algum Messias, está desmascarado. Só é ouvido entre fanáticos.    

    1. Fala sério
      Rapaz, voce nao perde essa mania esquerdofobica de patologizacao das esquerdas. Sao Paulo eh um antro de alienacao, onde uma massa de trabalhadores vota minoritariamente na esquerda, traindo sua classe e origem social e assim se submetendo a uma das direitas mais retrogradas do planeta. Tudo fruto da hegemonia pulhorda sustentada pelos oligopolios midiaticos que por la abundam. Sao Paulo eh o antro do PMDB fisiologico e do tucanato. Tambem eh a terra onde viceja a legiao dos patos amarelos com seus capatazes da tropa de choque fascista, tipo MBL. O classe media como voce precisa de uma boa dose de cegueira ideologica para nao perceber o quanto a sociedade paulistana eh prejudicada em termos cognitivos por tal estado de coisas. Desde a republica velha e ate nossos dias as principais correntes do atraso brasileiro radicam em Sao Paulo.

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