A corrida na direção do poder real começou, por Rogério Maestri

O conceito de governo Totalitário foi desgastado e utilizado incorretamente pela intelectualidade de baixo nível de escolaridade política e conhecimento da história

A corrida na direção do poder real começou, por Rogério Maestri

O resultado do que virá ocorrer nas próximas semanas definirá os destinos da próxima década do país. Entretanto, o que se vê claramente é que ninguém sabe com quem estão as cartas, quem blefa ou quem tem realmente o melhor jogo.

A extrema direita, incluindo o que alguns chamam de direita, mas que na verdade é a mesma extrema direita que sabe comer com talheres, está procurando verificar suas forças e, de forma totalmente improvisada, pretende partir para um governo Totalitário.

O conceito de governo Totalitário foi desgastado e utilizado incorretamente pela intelectualidade de baixo nível de escolaridade política e conhecimento da história, confundindo governos de força ou governos ditatoriais com o que se entende por um Estado Totalitário.

Vamos primeiro à caracterização do que é um governo Totalitário e, com isto, podemos entender o problema do apoio deste tipo de governo por grande parte da grande burguesia, que se acomoda muito bem em governos ditatoriais, mas fica totalmente desconfortável em Estados Totalitários.

Mussolini foi quem definiu mais claramente o que é um Estado Totalitário: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado.” Ou seja, há claramente uma contradição com o liberalismo ou o neoliberalismo (tomando uma definição de uma direita liberal, ditatorial ou não). Ou seja, um regime neoliberal, na teoria, comporta facilmente um Estado ditatorial, entretanto não comporta um regime totalitário, simplesmente porque neste último o Estado fica sob o controle da economia de forma total.

Vamos explicar melhor o que venha a ser um Estado Totalitário. Toda e qualquer ação num Estado Totalitário fica sob o controle de um partido único, gerido por um chefe absoluto. Hitler, Mussolini, Franco e Salazar montaram Estados Totalitários, onde a atividade política partidária fica restrita a um só partido e este, por sua vez, é chefiado por um só Líder. Deste partido ficam sujeitos todos os poderes – o legislativo e o judiciário -. A ação do executivo fica sem um único controle. No início dos Estados Totalitários sempre a Grande Burguesia controla a Economia e através do partido único os movimentos operários, logo,  aparentemente, é um excelente negócio. Entretanto, pelo domínio do Líder no partido único, sendo retirado qualquer outra agremiação política do país, a direção desta política econômica será feita ao sabor do Líder que, quando assume seus poderes reais, em 100% dos casos da história, ou leva o país a guerra (Alemanha e Itália) ou leva o país à estagnação econômica (Portugal e Espanha).

Confundem muitos intelectuais o governo pós 64 com um Estado Totalitário, entretanto isto é um erro fantástico que polui a discussão política e gera mais confusão desde a esquerda revolucionária até a extrema direita, passando pelos partidos e tendências centristas. O golpe de 1964 levou o país a um regime ditatorial que nunca procurou criar um regime Totalitário, isto não quer dizer que dentro deste governo não existiam os chamados “linhas-duras” que sonhavam com um totalitarismo real.

A pergunta, que talvez seja uma resposta à situação atual, é por que nos governos pós 64 jamais se passou a um regime totalitário? A resposta é um pouco complexa, quanto mais próximo a um Estado Totalitário, mais próximo da falência deste regime. Alguém poderia dizer que tanto o Nazismo como o Fascismo Italiano tiveram uma duração longa e estável, porém se analisarmos à luz de acontecimentos reais e as diversas fases que houveram nestes regimes, as duas afirmações não se sustentam.

O Fascismo Italiano, na realidade, tinha um controle que estava em mãos da grande burguesia, que poucos se dão conta de sua existência, mas que foi utilizado pela grande burguesia industrial Italiana quando viram que não poderiam seguir adiante, o Rei, uma figurinha fraca e isolada que parecia não ter nenhum poder. Poucos se lembram que quando os militares italianos se deram conta em 25 de julho de 1943 que a guerra estava perdida, Mussolini foi comunicado pelo Rei que ele estava fora, e o chamado Estado Totalitário é concluído em abril de 1926 com o fechamento de todos os partidos, exceto o Fascista e fim de toda a imprensa de oposição.

Entre 1926 e 1943, que este período não é absoluto, pois a partir de 1935 (nove anos após a implantação do Estado Totalitário) a Itália se mantém em guerra (1935-1936 Segunda Guerra Ítalo-Etíope, 1938 Invasão da Albânia e 1940-1941 Invasão da Grécia, 1940-1943 Segunda Guerra Mundial).

Ainda é importante destacar que os Estados Totalitários, exemplos Alemanha Nazista e Itália Fascista, são altamente deficitários. Germà Bel, um economista catalão descreve nos seus trabalhos “From Public to Private: Privatization in 1920’s Fascist Italy” e “Against the mainstream: Nazi privatization in 1930s Germany” que, diferentemente dos governos conservadores ou liberais europeus, supriram parte de seus déficits públicos (em torno de 1,4% ao ano) por programas de privatizações agressivos. Quando estes déficits superaram a capacidade de ser coberto pelas privatizações, socializou-se o prejuízo de novo, com, por exemplo, a instituição na Itália dos chamados instituti ou enti nazionali, para em 1939 o Istituto per la Ricostruzione Industriale (IRI) controlava 20% da indústria italiana, principalmente a indústria voltada a guerra, onde a participação em determinados setores (siderúrgico e indústria naval) era quase 70%.

Poderíamos dizer que Paulo Guedes está seguindo em parte a política dos fascistas italianos e alemães. Porém, o “em parte” coloca a situação brasileira em piores condições do que os economistas fascistas de raiz fizeram, a privatização na Itália e na Alemanha era feita para os grandes capitais nacionais de cada país, e a brasileira, como está internacionalizando os passivos nacionais, estes criarão um fluxo de capital que deteriorará as contas públicas muito pior do que as durante a crise de 1930 na Itália e na Alemanha, pois não serão passivos a serem retomados, mas sim a serem indenizados com recursos que não teremos.

Por outro lado, há um problema sério na tentativa de instalação de um governo Totalitário, que é a necessidade de uma base militante e motivada ou economicamente ou ideologicamente. Há uma confusão na esquerda em dizer que a ideologia fascista não tem ideologia, a ideologia fascista é completamente falsa e mentirosa, pois se propõe a algo que nunca está com vontade de cumprir, mas ela existe. Insisto na existência de uma ideologia fascista, pois muitos não entendem como o fascismo tem base social enquanto NÃO ASSUME O PODER ou por períodos extremamente curtos, esta base assente por discursos racistas, chauvinistas ou até religiosos (os mais perigosos e mais duradores), são efêmeros pois eles partem de um discurso de unidade contra um inimigo comum, de raça, religião ou a ameaça estrangeira. Porém, estes discursos falaciosos só podem ser utilizados quando há uma homogeneidade nestes aspectos, coisa que será difícil de forjar num país em que sua característica é de extrema heterogeneidade.

A implantação de um Estado Totalitário, motivado pelo antissocialismo ou por motivos econômicos (a espera que o governo Totalitário levará melhores condições para seu adeptos, não é uma motivação nada duradora, pois com a repressão da esquerda como a motivação econômica que deverá acompanhá-la, será perdida a sua base social, que se desmontará rapidamente na medida que as condições econômicas não melhoram).

Mas só para fechar o comentário sobre as perspectivas positivas ou negativas de um aprofundamento da política atual, lembro a todos que no meio deste torvelinho de idas e vindas da direita brasileira, o que ninguém está levando em conta é a aproximação de uma crise econômica internacional que vem sendo diagnosticada, não por economistas socialistas ou marxistas, mas sim por economistas ligados aos grandes bancos privados internacionais e organizações tipo FMI, Banco Mundial e BIS. Uma crise que se avizinha tão ou até mais grave do que a crise de 1929 e que simplesmente causará uma mudança em toda a organização econômica e política mundial.

Redação

2 Comentários
  1. Duas observações a fazer. (1) Deixei de frequentar este espaço. Especialmente, no que se relaciona a produzir comentários. Diante de centenas de links a superar – um percurso quase infinito, principalmente de publicidade comercial ou de cunho supostamente sensacionalista, como aquele com o Pelé com cara de velório, não dá, coisa, pelas dimensões absurdas, um disparate total. (2) Com relação a determinados textos, como este de Rogério Maestri, há enormes maltratos ao vernáculo (tipo ‘houveram’, no lugar de existiram, que deve ser suado sempre no singular), além de profundas confusões na construção das ideias, dando ‘saltos triplos’ aqui e ali, parece até coisa ‘com tradução do Google’. As informações são relevantes, consistentes, com relativo encadeamento lógico … Mas há muitos saltos entre uma formulação e outra, inexplicáveis … É claro que quando se produz um texto, com uma dose relativamente ampla de emoção, indignação ou necessidade de crítica exacerbada, são permitidos certos escorregões … Mas, quer me parecer que as ‘cascas de banana’ proliferam, no caminho deste articulista.

  2. Meu caro, Wilson Pósnik, realmente os meus textos tem diversos erros graves que massacram o português, porém aprendi uma coisa nos mais de quinze anos que discuto seriamente política nas redes sociais, vou te dar de graça esta informação.
    Para criticar alguém por erros o ideal é fazer a crítica com um português impecável, coisa que não faço, pois não tenho condições técnicas para isto, porém gostaria que o senhor neste português fantástico que dizes que tem o que significa a frase:
    .
    “que deve ser suado sempre no singular”
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    Gostaria que o nobre professor, explicasse a este humilde mortal o que é “suar” um verbo no singular.
    .
    Quanto críticas ao conteúdo, além de frases genéricas que serviriam para criticar qualquer texto, gostaria que o senhor, com a minha admissão de culpa sobre a forma, desse algum indício (no mínimo) a onde estão as minhas inconsistências.
    Obrigado pela correção, tentarei ao máximo “suar” os verbos da forma correta!

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