BBB, o zoológico humano do neoliberalismo, por Cristiane Alves

BBB, o zoológico humano do neoliberalismo

por Cristiane Alves

A imagem da criança negra sendo alimentada por um visitante em um zoológico humano é revoltante. Muitos se perguntam como foi possível aceitar esse tipo de maldade ou como tal prática foi difundida há tão pouco tempo.

Durante o século XIX e nas primeiras décadas do Século XX no auge da Segunda Revolução Industrial o neocolonialismo era uma exigência às demandas capitalistas vigentes. Os países que tinham o poder de dominar e colonizar outras áreas do globo propagavam sua hegemonia e superioridade frente aos dominados. 

Os zoológicos humanos eram uma forma de propaganda neocolonialista. Neles famílias inteiras oriundas de países colonizados ficavam expostas em grandes cidades. Todo indivíduo cuja origem cultural era diferente da europeia ou estadunidense era considerado estranho, e servia como chamariz e curiosidade para as pessoas “normais”.

Tais indivíduos eram vistos como aberrações e tinham suas diferenças caricaturizadas para divertir e entreter uma elite.

Após os anos 30, a estratégia neocolonial muda, a práxis passa a ser anular e esquecer que os povos colonizados existiam como organizações e cultura, além disso o cinema aparece como entretenimento de massa, contribuindo para o desaparecimento dos zoológicos humanos. Na prática eles nunca deixaram de existir. Versões mais sutis foram, e são, muito frequentadas por décadas, dos circos dos horrores aos clubes de strippers ou dos televisivos reality shows.

Talvez questionem as realidades tão distantes da criança da foto em comparação aos voluntários que se digladiam pela chance de participar de um Big Brother. Por certo, no primeiro caso não houve voluntariedade, a criança e sua família foram forçadas a viver expostas e com pouquíssimas vantagens, já os cativos e expostos hoje o fazem com a perspectiva de alcançar fama e riqueza, mas os “artistas” dos circos de aberrações também. Houve uma “evolução” da prática, apenas isso.

Trago esse assunto dentro do contexto político brasileiro atual. Vimos, estarrecidos a insurgência de um golpe político/judicial e midiático articulado pela direita incapaz de aceitar consecutivas derrotas nas eleições presidenciais através do voto democrático. A mídia aparece como a propagadora de ideologias antidemocráticas e multiplicadora de mentiras, reforçando e ceifando o ódio naqueles cuja inclinação era latente, nesse âmbito a rede Globo tem sido preponderante.

É um jogo sutil e bem sucedido, onde mesmo aqueles que não se aliam com a ideologia da direita são enredados desapercebidamente.

Não apoiamos misoginia, machismo de forma alguma, aliás, não apoiamos banalização da violência, não apoiamos a meritocracia, não apoiamos o capitalismo selvagem e a divisão de classes. Mas dedicamos horas semanais multiplicadas em meses assistindo pessoas comer, defecar, copular, passar por situações extremas e arbitramos quem merece continuar na caixa confinada para nosso deleite.

Então nos contentamos em maquiar nosso fetiche sádico com desculpas. O motivo de assistir é que ali tem um homem negro, empoderando negros (num zoológico?); o motivo é que tem uma mulher feminista atuante e militante de esquerda ela vai sambar na cara da Globo (e enquanto ela samba, você paga pela novela machista, pelo jornal direitista, pelas fake news dos plantões de notícias); assisto porque a moça é pobre e torço para que ela mude de vida (e enquanto ela muda, você é convencido de que o capitalismo cria alternativas e que todos podem conseguir fama e dinheiro, basta ter fé, basta ter foco, basta ter sorte, basta ter estratégia).

Amigo, você vendeu tua alma, mais que isso, você pagou para que invadissem tua mente e de quebra financiou a prisão do cara que poderia mudar a vida de muitos milhares. Mas você nem viu, porque enquanto você torcia pela militante lá dentro outros muitos aqui fora foram mortos. A moça, de fato, sambou na cara da Globo (xeque). Já a Globo sapateou na nossa cara ao ritmo de “’Singin’ in the rain”.

Sinto dizer, mas a Tuiuti retratou você também (xeque mate).

 

Cristiane Alves

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