Israel e a poderosa máquina de fabricar antissemitismo
por Michel Arbache
“É a consciência de ter sido vítima que permite a Israel tornar-se opressor do povo palestino. A expressão ‘Holocausto’, que singulariza o destino das vítimas judias e banaliza todos os outros (do Gulag, dos ciganos, dos africanos escravizados, dos índios das Américas), torna-se a legitimação de um colonialismo, de um apartheid e de uma guetificação para os palestinos.” – (Edgar Morin – ‘Israël-Palestine : Le cancer’ – Le Monde, 04/06/2002).
Sobre o banho de sangue em Gaza, peço licença ao leitor para lembrar os comentários de Jorge Pontual na Globo News em defesa de Israel. Alguém poderia supor que o assunto já está batido e que a pequenez do dito jornalista não merece atenção – a não ser pelo fato de que os comentários foram feitos no mais poderoso veículo de comunicação do Brasil e que colegas de Pontual continuam repetindo o mantra em favor da truculência israelense. Primeiro, Pontual deu asas à fake news dos “40 bebês decapitados pelo Hamas”; depois implorou pela continuidade dos bombardeios da máquina de guerra de Israel em cima dos palestinos. E o insaciável Pontual ainda disse que o exército de Israel “tem advogados que decidem se os alvos são legítimos pela Lei Internacional”, ou seja, se um alvo militar tem população sendo usada como escudo humano, então seria legítimo bombardear. Foi assim, por exemplo, que Pontual defendeu o bombardeio de um comboio de ambulâncias, não importa que a ONU já tenha acusado Israel de violação de Direito Internacional (1) e que a Anistia Internacional já tenha apontado crime de guerra (2). E não importa que os próprios integrantes e veteranos do Exército de Israel venham denunciando, há anos, as atrocidades sistemáticas contra palestinos com requintes de crueldade, humilhação, violência, roubo e assassinato de pessoas inocentes com acobertamento da cúpula militar israelense. Assim, foi fundada a ONG ‘Breaking the Silence’ (“Quebrando o Silêncio”) na qual militares e veteranos denunciam, de forma anônima ou não, os crimes que praticaram e se arrependeram (3) (4). O site da ONG conta com provas documentais, testemunhais, vídeos etc mostrando, por exemplo, soldados israelenses invadindo casas de palestinos e acordando crianças, inclusive de madrugada. Segundo a organização, invasões truculentas a domicílios de famílias palestinas ocorreram 6.402 vezes só entre 2017 e 2018 (5).
Se é chocante ver esse festival de estupidez no maior grupo de mídia do Brasil, sinto dizer que isto não é novidade na mídia velha de guerra. Basta lembrar de Caio Blinder, em 2012, defendendo o assassinato de cientistas iranianos “para intimidar outros cientistas” e glorificando Israel por ter, nos anos 60, assassinado cientistas egípcios (6). Isto num programa (Manhattan Connection) sob responsabilidade do mesmo grupo de mídia que emprega pessoas como Pontual. O que dá para depreender da truculência desses funcionários da mídia é que, no todo, significa apenas uma caricatura, no varejo, do que a chefia vem fazendo, há décadas, no atacado – porém com linguagem mais discreta e roupagem mais requintada dos estúdios high tech. E não estamos falando apenas de grupos de mídia brasileiros, mas de quase todos os conglomerados midiáticos da América à Europa. E foi assim que o brasileiro médio formou sua opinião sobre as guerras atiçadas e patrocinadas pelos EUA com o suporte da mídia, que transformou a matança de pessoas numa espécie de reality show em que o mundo precisa torcer para os “xerifes do planeta” manterem sua hegemonia. Particularmente, o marco inicial foi a chamada “Guerra do Golfo” em 1991 no ataque da “coalisão” ao Iraque; e depois na efetiva invasão e destruição do Iraque em 2003 a partir de argumentos que, depois se confirmou, foram baseados em documentos falsificados que os críticos da guerra já tinham alertado. Ali, o mundo ocidental aprendeu a se deliciar com as bombas explodindo contra cidadãos – mas desde que sejam “bombas boazinhas” ocidentais contra os inimigos da vez e que as câmeras das TVs não mostrem prédios destruídos e pessoas mutiladas, mortas ou presas nos escombros. Porque, na visão ocidental, não se pode humanizar os inocentes mortos e feridos no território inimigo. Na destruição do Iraque, enquanto mísseis atingiam Bagdá e a artilharia antiaérea do Iraque respondia, ficaram na minha memória dois comentários de repórteres em canais diferentes. Disse um: “parecem fogos de artifício”; outro comentou em indisfarçável euforia: “é um videogame da vida real”. Impossível também não lembrar das imagens “engraçadinhas” mostradas pela mídia em que crianças (dos ‘aliados’) escreviam “dedicatórias” em inglês nos mísseis tipo “Para Saddam, com amor”. Sim, passou isto na televisão. Todo esse sadismo com fundo pueril se contrastava com a profunda tristeza do meu pai, ex-oficial do Exército Sírio, vendo toda aquela barbárie. Foi com ele, aliás, que aprendi, de certa forma, o senso “democrático” da dita grande imprensa. Na época em que Israel se expandia – como a chamada “Guerra dos Seis Dias” – meu pai, indignado com as deturpações que lia nos jornais e ouvia na mídia, enviou cartas e mais cartas às redações para tentar que publicassem a “outra versão”. Nunca deram bola, claro.
Mídia e a fabricação do antissemitismo
Com os recentes conflitos em Gaza, voltaram a circular vídeos que chocam muitas pessoas acostumadas à retórica enganosa da mídia: judeus queimando a bandeira de Israel (7); ou judeus ortodoxos condecorando o então presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad (8). Sim, aquele mesmo Ahmadinejad que a mídia, na época, dizia que pregava “ódio aos judeus” e a “destruição de Israel”. Realmente são imagens chocantes para quem, ao longo de décadas, embarcou nos enredos ardilosos da mídia velha de guerra que, como lembrou alguém, não traz notícia, mas propaganda. Mas a resposta para esses estranhos acontecimentos merece uma explicação, que não é tão complexa como parece, ou, que fazem parecer – haja vista o bombardeio de manipulação e desinformação que, por longo tempo, desabou sobre nossas cabeças com a mesma fúria que bombas caem em Gaza para matar inocentes.
E no momento em que o mundo se choca com a carnificina em Gaza, a Folha, com imenso senso de oportunidade, noticiou “Ataques antissemitas cresceram 1.200% no Brasil e confederação israelita aciona a polícia e o Ministério Púbico” (9). A notícia vem acompanhada do intertítulo: “Conib organizou uma força-tarefa (sic) para monitorar manifestações nas redes sociais”. A notícia parece nova, mas a tática é velha: intimidar e censurar qualquer crítica à política de Israel. E esta expressão, “força tarefa”, vem bem a calhar para quem já entendeu os meandros da Lava Jato que, lá no seu auge, plantava notícias com títulos impactantes como “Lava Jato cria força tarefa para apertar o cerco contra empreiteiras”. Hoje sabemos que o objetivo não era informar, mas intimidar; dobrar os potenciais delatores. Sobre a Conib – Confederação Israelita do Brasil –, não direi muita coisa. Mas vou deixar aqui três notícias envolvendo a Conib para que tenhamos uma noção da coisa. Uma é de 2018, na Folha: “PSOL expressa antissemitismo, diz líder (sic) judeu” (10). Na notícia, o líder, no caso, é o presidente da Conib, que acusou de “antissemitismo” o Partido Socialismo e Liberdade – PSOL – pelo fato de o partido ter soltado nota criticando o que chamou de “genocídio contra palestinos” imposto pelo governo de Israel. Vale repetir que a denúncia de genocídio é de 2018, mas poderia ser de bem antes; ou ao longo de 75 anos… Outra notícia, de 28 setembro de 2023, está dentro do próprio site da Conib: “Conib repudia entrada do Irã no BRICS”. Entre os argumentos do texto, destaco: “a teocracia iraniana defende abertamente a destruição de Israel, oprime sua população, persegue duramente mulheres e homossexuais e promove o terrorismo no Oriente Médio e além.Não são posturas nem valores que coadunam com os valores humanistas defendidos pela diplomacia brasileira” (11). Ok, vamos relevar este digníssimo argumento. Mas vamos à terceira notícia no mesmo dia, 28 de setembro de 2023, também dentro do site da Conib: “presidente da CONIB destaca a possibilidade de acordo histórico entre Israel e Arábia Saudita” (12). Ora, a orientação não é repudiar ditaduras teocráticas que perseguem duramente mulheres e homossexuais, promove o terrorismo e assassina jornalistas? Mas vamos falar mais um pouco do festival de “antissemitismo”…
Recentemente, o jornalista Breno Altman, por denunciar caráter racista do sionismo, foi duramente atacado nas redes com acusações de “antissemitismo”. Em resposta, Altman, de origem judaica, comentou em seu perfil no “X – Twitter”: “(…) Há três gerações minha família está acostumada a enfrentar esses supremacistas” (13). Sobre as acusações de “antissemitismo”, importante lembrar também do chargista Carlos Latuff e seu “título” de “Terceiro Maior Antissemita do Mundo” concedido em 2012 por uma ONG de nome ‘Simon Wiesenthal Center’, localizada em Los Angeles. Isto simplesmente pelo fato de Latuff mostrar, em suas charges, as repetidas atrocidades impostas por Israel ao povo palestino. Vale ressaltar que as charges de Latuff são críticas à política de Israel – e nunca aos judeus. A mídia brasileira noticiou largamente o “título” de Latuff e, ao invés de questionar o claro atentando contra a liberdade de expressão, deu respaldo à acusação (14). A propósito, a ‘Simon Wiesenthal Center’ está sempre conectada à outra ONG chamada “LAD” – Liga Anti-Difmação –, com uma repercutindo matéria da outra. Voltarei a falar da “LAD” mais adiante. E ambas as ONGs são citadas no livro ‘A Indústria do Holocausto’, de Norman Finkelstein, professor da Universidade de Nova York e filho de vítimas dos campos de concentração nazistas. Finkelstein obviamente não é um negacionista do Holocausto, mas sofreu acusações de “antissemitismo” pelo fato de seu livro trazer uma crítica aos que instrumentalizam a tragédia com objetivos políticos (justificar a política de Israel) e financeiras (lucros). Ainda sobre o “título de antissemita” de Carlos Latuff, o chargista, em entrevista à Folha naquele mesmo ano (2012), argumentou que esse lobby da extrema direita tenta associar qualquer crítica à política do Estado de Israel a um ataque contra judeus, confundindo antissionismo (posicionamento político) com antissemitismo (preconceito étnico). Diz Latuff: “na verdade eles não confundem [antissemitismo com antissionismo]; eles querem promover essa confusão como se Israel fosse representante de todos os judeus” (15).
A mídia brasileira em geral também funciona como uma caixa de ressonância do sionismo com um furor que não existe nem sequer em setores da imprensa independente de Israel. Uma emissora de TV brasileira, por exemplo, certa vez escalou uma “especialista” para “esclarecer dúvidas” dos telespectadores sobre os conflitos envolvendo Israel. Alguém perguntou sobre a diferença entre antissionismo e antissemitismo – e a resposta foi mais ou menos esta: “é a mesma coisa, já que toda crítica ao sionismo vem eivada de um antissemitismo disfarçado”. Argumentos ardilosos como este, aliás, viraram clichês entre os “especialistas” nos conflitos envolvendo Israel. Mas a confusão não fica apenas na retórica da imprensa ocidental, pois a extrema direita israelense impõe, junto ao seu lobby internacional, que a expressão ‘antissionismo’ seja posta no mesmo patamar do antissemitismo. Assim fica fácil o mau governante praticar crimes, visto que está imbuído com a imunidade étnica, ou, religiosa, pois qualquer crítica trará a pecha do preconceito “por ser judeu”. Se tal raciocínio fosse importado para a política brasileira, qualquer crítica à chamada bancada da bíblia no Congresso brasileiro passaria a ser criminalizada como “preconceito religioso”.
O tabu do antissemitismo tem lobby e ministério dentro do governo de Israel
“Semita – [do antropônimo Sem, de uma personagem bíblica] 1.Indivíduo dos semitas, família etnográfica e linguística, originária da Ásia Ocidental, e que corresponde os hebreus, os assírios, os aramaicos, os fenícios, os árabes 2.Restritivo. O judeu.” – Dicionário Aurélio;
“Sionismo – 1.Estudo das coisas referentes a Jerusalém. 2.Movimento político e religioso judaico iniciado no séc. XIX, que visava ao restabelecimento, na Palestina, de um Estado judaico, e que se tornou vitorioso em maio de 1948, quando foi proclamado o Estado de Israel. – Dicionário Aurélio.
Para começar a entender o tabu do antissemitismo propagado pela mídia ocidental, começo contando a história de um israelense chamado Yoav Shamir. Um belo dia, o jovem Shamir resolveu ir atrás de uma intrigante questão: sendo ele um judeu israelense e tendo viajado para várias partes do mundo, incluindo o Oriente Médio, Europa e América do Norte, por que ele, pessoalmente, nunca sofrera preconceito por ser judeu no contexto em que a mídia bombardeava diariamente vários casos de antissemitismo pelo mundo?
Shamir então resolveu ir atrás da resposta. E começou no lugar certo, mais precisamente em Manhattan, Nova York. Trata-se de uma ONG de nome ‘ADL – Anti-Defamation League’, traduzindo para o português como “LAD – Liga Anti-Difamação”. Pelo fato de Shamir ser judeu israelense, o então presidente da organização, Abraham “Abe” Foxman sentiu-se seguro para abrir as portas da LAD para mostrar o funcionamento da organização. O registro de Shamir (que, aliás, é cineasta) acabou virando um documentário chamado “Defamation”, ou, “Difamação” (16), lançado em 2009. O título é uma referência (irônica?) à “Liga Anti-Difamação”, que no fim das contas se configura como parte de um poderoso lobby (V. The Israel Lobby / John Mearsheimer & Stephen Walt) para influenciar líderes no mundo todo a combater um antissemitismo que, em rigor, não passa de um fantasma tal qual o “perigo comunista” que a extrema direita brasileira evoca em cada eleição. A propósito, o documentário mostra ainda que a LAD é umbilicalmente ligada à extrema direita israelense. Segundo Uri Avnery (jornalista e ex-parlamentar israelense), entrevistado no filme, a LAD tem “Bibi” Netanyahu como sua mais querida figura pública. E emenda Avnery: “eles [os sionistas] não lutam contra o antissemtismo; eles lutam contra a crítica a Israel (…) o fenômeno do chamado antissemitismo só existe na mídia pró Israel”. Para se ter uma medida da influência da LAD, o documentário mostra o encontro entre Abe Foxman e o então Ministro Para Assuntos Antissemitas de Israel, Isaac Herzog, que hoje é presidente de Israel. Vale a pena repetir: Israel tem ministério especial para tratar do antissemitismo, ou seja, o tema está sempre vivo na agenda.
Como fica bem claro no documentário, a recorrência à expressão ‘zionism’ (“sionismo”, como se define a extrema-direita israelense) é comum dentro da própria política em Israel, mas que a mídia ocidental tratou de transformar num imenso tabu. Se é verdade que o movimento sionista, lá na sua origem, teve o caráter de proteger os judeus da real perseguição sofrida na Europa ao final do século XIX (V. Caso Alfred Dreyfus), também é verdade que, após a criação do Estado de Israel, a extrema-direita encampou o movimento e deturpou sua bandeira original. Daí veio a disseminação da confusão entre “antissemitismo” e “antissionismo”, mesclando ambos os termos para forjar um combo que traz no pacote o mesmo pecado, ou seja, o preconceito contra uma etnia (semita) que, em rigor, é irrisória perto do turbilhão de preconceitos étnicos e raciais que conhecemos no Brasil e no mundo. E além tudo a reclamação é exclusivista e historicamente débil, visto que a expressão ‘semita’ (hoje ‘exclusiva’ dos judeus) abrangeria também os árabes; e o embasamento histórico, visto que ‘semita’ vem da Bíblia. A ironia da coisa é que os “democratas” sionistas, que gostam de atacar as teocracias alheias (como a iraniana), usam a Bíblia para reivindicar seus “direitos históricos” ou até para justificar a guerra, como fez recentemente Benjamin Netanyahu ao declarar: “a Bíblia diz que há um tempo para a paz e um tempo para a guerra. Este é o tempo para a guerra” (17). E no roldão das diferentes vertentes políticas envolvendo países do Oriente Médio, fica evidente que o uso, ou, apelo da teocracia pelo governo de Israel é mais explícita e ostensiva que os países oficialmente teocráticos.
O documentário ‘Difamação’ não deixa de tocar no tema ‘Holocausto’. Com incentivo do governo de Israel, anualmente milhares de estudantes israelenses são levados em excursões à Polônia para conhecer os campos de concentração nazistas. O vídeo traz o depoimento de vários jovens durante a excursão. Uma jovem confessa sentimento de culpa por, diante daquele museu mórbido, não ter brotado nela a compaixão pelos antepassados ali brutalmente assassinados pelos nazistas. E fica a reflexão: qual o real objetivo daquelas excursões? Que a tragédia não se repita? Ou seria incutir nos jovens o temor de que aquele horror ainda está vivo e à espreita? Outros estudantes revelaram que foram alertados pela organização da excursão, que levava um agente do serviço secreto israelense, que aquele lugar (Polônia) tinha tradição de hostilidade aos judeus. E o vídeo mostrou três idosos na praça conversando com uma estudante israelense, que saiu dizendo que aqueles homens a xingaram pelo fato de ser judia e falaram mal de Israel. O próprio documentarista disse à jovem que ela entendeu errado o que os idosos teriam dito. A jovem, pois, cometera uma deturpação provavelmente vinda da paranoia do “antissemitismo sempre à espreita” martelada naqueles estudantes. A certa altura, uma outra jovem diz: “quando a gente vê as notícias de uma casa de árabe sendo destruída pelo Exército, achamos que não está tão mal, já que sofremos pior”. E assim vai se perpetuando um certo desejo de “revanche” da barbárie que, se é verdade que não deve ser esquecida, também não deveria servir para atiçar na nova geração o ódio do passado. Será que Israel está formando jovens para o “futuro da paz”?
Mídia e a deturpação da realidade para forjar o antissemitismo
Sobre o evento supracitado de Mahmoud Ahmadinejad sendo calorosamente recebido por rabinos em setembro de 2008, na época o vídeo obviamente rendeu celeuma na imprensa dos EUA e por conseguinte nas suas ‘sucursais’ do resto do mundo, como a mídia brasileira. Como poderia alguém “que odeia judeus” e que prometera “varrer Israel do mapa” ser recepcionado e condecorado por rabinos ortodoxos? Não se trata, aqui, de defender Ahmadinejad ou o regime do Irã, mas mostrar como a mídia falsifica a realidade para blindar Israel e jogar ao mundo os alarmes falsos sobre as eternas ameaças contra judeus. Por tantas mentiras espalhadas, de fato foi chocante as imagens do “maior inimigo dos judeus” abraçando judeus. Isto estragava a falsa retórica de que Ahmadinejad tinha desejo de exterminá-los. Alguns jornais tentaram os seguintes argumentos de “especialistas” para definir aqueles rabinos: “trata-se de uma ‘seita (sic) fanática’ de judeus ortodoxos que apoiam os inimigos de Israel” (18) ou “esses fanáticos não representam os judeus”… A “seita”, no caso, é formada de religiosos ortodoxos ligados aos Direitos Humanos e solidários à causa palestina, vejam que “horror”. Certamente os escribas da mídia não consideram preconceito chamar um grupo religioso de “seita”; e acham normal um primeiro-ministro evocar a Bíblia para fazer guerra . O fato é que o evento (Ahmadinejad e rabinos) aconteceu um dia após o presidente do Irã fazer um duro discurso na Assembleia Geral da ONU (23/09/2008) criticando claramente os sionistas que governavam (ainda governam) Israel. A mídia ocidental obviamente não perdeu tempo em jogar ao mundo o “discurso de ódio antissemita” do líder iraniano, que teria dito que “Israel será eliminada do mapa” (19). Como diria um programa de tevê, na dúvida consulte os universitários. Segundo Juan Cole, professor de História da Universidade de Michigan e que entende a língua persa, Ahmadinejad nunca usou as expressões (contra os judeus) que a mídia insiste em deturpar. Enquanto o presidente do Irã dizia, por exemplo, que “esse regime [sionista] desaparecerá das páginas do tempo” a imprensa traduzia para “Israel será varrida do mapa” (20). Corrobora com esta informação o experiente jornalista britânico Jonathan Steele, em artigo ainda mais antigo, publicado de junho de 2006 no The Guardian sob o título “Perdidos na Tradução” (21) (22). Como ironizou Juan Cole: se é verdade que Ahmadinejad tinha um desejo tão ávido de exterminar os judeus, por que então não começou dentro da própria casa com os milhares de judeus que vivem no Irã? A ironia de Cole é buscada na própria realidade, ou seja, o Irã abriga a maior comunidade judaica do Oriente Médio fora de Israel, com sinagogas espalhadas por todo o país pregando o judaísmo. Numa matéria da BBC de 2006, o líder comunitário judeu Unees Hammami, que organiza eventos judaicos no Irã, declarou: “o pai da Revolução Islâmica no Irã, o Aiatolá Khomeini, reconhecia os judeus como uma minoria religiosa que devia ser protegida. Como resultado dessa política, os judeus hoje têm um representante no parlamento iraniano (…) O Aiatolá Khomeini fazia uma distinção entre judeus e sionistas, e nos apoiava” (23).
Terrorismo do bem x terrorismo do mal
Em 1946 o grupo terrorista Irgun explodiu o Hotel King David em Jerusalém, atentado que matou 91 pessoas e deixou centenas de feridos. Entre os mortos estavam árabes, britânicos e judeus. O mentor intelectual do atentado foi o terrorista Menachem Begin. Em 1977 ele virou primeiro-ministro de Israel.
Do lado palestino, surgiu como líder o engenheiro Yasser Arafat. Criou o grupo político laico chamado Fatah (OLP – Organização para Libertação da Palestina) e, com carisma e senso diplomático, se transformou numa grande voz que foi ganhando cada vez mais respeito entre líderes mundiais em todos os cantos do mundo. Yasser Arafat, não por acaso, estreitou laços com Nelson Mandela, símbolo da luta contra o regime racista do apartheid na África do Sul e que permaneceu preso por 27 anos por acusação de “terrorismo”. A despeito do terror do apartheid, Ronnie Kasrils, ex-ministro de Nelson Mandela, em 2012 declarou: “o regime de Israel contra palestinos é pior do que apartheid na África do Sul” (24).
Yasser Arafat nunca foi aceito pela extrema-direita israelense, acusando-o de “ligação com o terrorismo”. Ou seja: a régua sionista que servia para alçar Menachem Begin como grande liderança de Israel era a mesma que rejeitava qualquer diálogo com o “terrorista” Arafat. Nem mesmo o acordo de paz assinado por Arafat e o então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin (que em 1994 rendeu a ambos o Prêmio Nobel da Paz) fez com que os sionistas aceitassem Arafat. Em 1995, ano seguinte ao Nobel, Yitzhak Rabin foi assassinado por extremista de direita israelense.
Sobre a ascensão de Arafat, isto nos leva a outro fato controverso: para enfraquecer a liderança do grande líder dos palestinos, Israel teria não apenas criado o Hamas, mas também dado apoio nos últimos anos. Conforme o jornal Israelense Haaretz, em 2019 Benjamin Netanyahu teria dito aos seus correligionários: “Qualquer pessoa que queira impedir o estabelecimento de um Estado palestino tem de apoiar o reforço do Hamas e a transferência de dinheiro para o Hamas; isto faz parte da nossa estratégia” (25).
A lógica de Israel ao fortalecer o Hamas na sua origem era para criar obstáculos para Yasser Arafat e esvaziar sua influência como liderança palestina (26). E veio à tona o artigo do jornalista italiano Antonio Ferrari no Corriere della Sera. Ferrari lembra de uma conversa que teve com o ex-presidente do Egito Hosni Mubarak, que por sua vez relatou uma conversa pessoal com o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, que teria admitido que a invenção do Hamas fora “o mais grave erro de Israel” (27). O próprio jornal O Globo deu destaque para o tema em matéria publicada em 2014 sob o título “Como Israel ajudou a criar o grupo islâmico que viria a ser seu maior inimigo” (28). Curiosamente, este assunto, hoje, está praticamente enterrado pela imprensa assim como caiu no esquecimento o fato de que os Estados Unidos, invariavelmente apoiadores da política israelense, armaram o Estado Islâmico (ISIS), como admitiu Henry Kissinger, em entrevista à Fox Business (da Fox News) em junho de 2015 (29). Fica a reflexão: não seria coincidência demais o fato de os Estados Unidos e Israel terem empoderado, segundo fontes insuspeitas, dois grupos fundamentalistas como o ISIS e o Hamas?
A invenção do povo judeu
Em 2008 aconteceu um terremoto no mundo editorial e que abalou as estruturas que, até ali, sustentavam a história de Israel e do “povo judeu”. Trata-se do livro ‘A Invenção do Povo Judeu’ de Shlomo Sand, professor de História da Universidade de Tel Aviv. Antes de discorrer sobre esta obra, julgo conveniente marcar, de imediato, um ‘selo de qualidade’ do trabalho de Shlomo Sand: foi recomendadíssimo por ninguém menos que Edgar Morin e Noam Chomsky. Edgar Morin, que participou da resistência contra o nazismo, opinou: “acho esse livro salutar e muito preciso quanto ao seu conteúdo”. Por sua vez, Chomsky comentou: “Sand desmascara o Moisés histórico” (30).
Após pesquisas exaustivas em várias obras acadêmicas, Sand concluiu que grande parte delas, no fim das contas, foram alicerçadas em mitos bíblicos. Em suma, nunca existiu o povo judeu como etnia ou raça, mas sim o judaísmo como religião e os convertidos. E não houve expulsão e diáspora, como a da Babilônia (séc VI a.c.) ou as do Império Romano sob o imperador Tito (70 d.c.) e Adriano (132 d.c). Os estudos do professor Sand abordam também as diversas escavações arqueológicas feitas na região e que apontam diversos erros nos textos bíblicos e que foram noticiados na imprensa ao longo dos anos (31) (32). Shlomo Sand cita inclusive o trabalho de Israel Finkelstein, professor de arqueologia também da Universidade de Tel Aviv. Finkelstein é autor do livro “A Bíblia Desenterrada”, que põe em contraponto várias passagens da Bíblia e as descobertas arqueológicas nas regiões descritas nos “escritos sagrados”. A propósito, o professor Israel Finkelstein já esteve no Brasil em 2019 para um seminário na Universidade Metodista de SP em que detalhou as técnicas científicas usadas nas escavações arqueológicas (33). Voltando ao livro de Shlomo Sand, o que se depreende da obra é que simplesmente a história foi sistematicamente falsificada e que muitos mitos, como a própria diáspora, são invenções modernas. A polêmica que o livro gerou vem do fato de que ele desmonta o principal “argumento histórico” para a criação do Estado de Israel, ideia fomentada pelo sionismo.
Considerações finais
A citação inicial deste texto traz um trecho do artigo do filósofo e intelectual francês Edgar Morin, publicado no Le Monde em 2002 sob o título “Israel-Palestina – O câncer” (34). Por causa do artigo, Morin foi processado por “antissemitismo” pela entidade francesa Associação França-Israel. Por conta deste processo, na época Morin recebeu apoio de vários intelectuais e até de entidades judaicas em protesto contra o que consideraram censura e tentativa de intimidação. No fim das contas, Morin acabou sendo inocentado. Conto isto para que tenhamos uma dimensão do patrulhamento em favor de Israel que é vivo e atuante em todos os cantos do mundo (ocidental), o que acaba avalizando os diversos crimes perpetrados pelos governantes daquele país, como as constantes violações dos Direitos Humanos e crimes de guerra, como o uso de armas proibidas (bombas de fósforo branco, por exemplo) e o bombardeio sistemático de áreas civis, hospitais, escolas, ambulâncias, áreas de refugiados etc.
Quem conhece a história dos conflitos rurais no Brasil, certamente conhece a expressão “grilagem”, vinda de invasores que falsificavam documentos e os colocavam em caixas contendo grilos. A voracidade dos insetos e seus dejetos acabavam deixando os papeis escurecidos e carcomidos com aparência de velhos, o que forjava um “direito legal” antigo do invasor. Analisando os fatos friamente, é exatamente assim que pode ser contada a história de Israel e dos colonos, normalmente chegados da Europa, invadindo terras e casas dos palestinos, jogando-os ao relento. A diferença é que, em vez da artimanha de envelhecimento dos papeis usando grilos, os invasores usam a Bíblia e seu conteúdo que versa sobre o suposto “direito ancestral dos judeus” àquelas terras – o que a História real, como visto, desmente. Mas, ainda que a Bíblia servisse como ‘A Lei’, judeus ortodoxos rogam o Talmude para dizer que, na “Letra da Sagrada Lei”, Israel só poderia existir após a chegada do Messias. O fato é que, por essas e outras, os rabinos ortodoxos dentro e fora de Israel são marginalizados pelos sionistas justamente porque se posicionam politicamente como antissionistas e em solidariedade ao povo palestino. Daí, qual tribunal poderia condenar esses judeus pelo “crime” de antissemitismo?
Enfim, uma das maiores farsas da retórica midiática é que os conflitos envolvendo Israel seriam “ancestrais” e “religiosos próprios do mundo árabe”, criando uma aura de intocabilidade na base do determinismo histórico, já que ninguém deveria se meter numa “briga antiga sem solução” que teria começado com os filhos de Abraão. Obviamente que nunca foi isto, a não ser que tenhamos que reescrever a História sob a perspectiva de personagens como Adão e Eva, Noé… Nota-se que forçam a barra para impor uma suposta “guerra santa” que colocaria em conflito judeus e muçulmanos, o que de certa forma responde a reflexão anterior, que aqui repito: não seria coincidência demais o fato de EUA e Israel terem empoderado “como parte da estratégia” (como teria dito Netanyahu) o ISIS e o Hamas, dois grupos fundamentalistas?
De qualquer jeito, a imposição da temática religiosa só favorece o sofisma da extrema direita (ou sionistas, como queira) que governa Israel e que, conforme argumenta Edgar Morin no artigo supracitado, usa os crimes pretéritos sofridos pelos judeus para a prática do apartheid; a violenta opressão contra os palestinos. Vale, aqui, reproduzir a continuidade do raciocínio de Morin na citação supra: “A consciência da vítima inclui obviamente uma visão unilateral da situação e dos acontecimentos. No início do sionismo, a fórmula ‘um povo sem terra para uma terra sem povo’ ofuscou o acordo palestino anterior. O direito judeu a uma nação ofuscou o direito palestino à sua nação. O direito ao regresso dos refugiados palestinos é visto hoje não como um direito simétrico ao do regresso dos judeus que nunca viveram na Palestina, mas tanto como um sacrilégio como uma exigência de suicídio demográfico por parte de Israel. Considerando que poderia ter sido considerada uma reparação com termos negociáveis”.
Como podemos constatar, a história dos conflitos na região é muito mais recente do que tentam nos impor com as lendas religiosas e remonta a pouco antes de 1948, quando cristãos, judeus e muçulmanos viviam em paz e harmonia na região da Palestina e em todo o Oriente Médio. A efetiva perseguição sofrida pelos judeus aconteceu na Europa – e não no Oriente Médio. É nos países europeus, aliás, que o mundo tem testemunhado até hoje, em pleno século XXI, casos de xenofobia e perseguições religiosas. Os atritos do mundo árabe perante Israel nunca foram movidos por algo contra os judeus; nunca foram religiosos, posto que são estritamente políticos, já que o Estado de Israel está desde sempre alinhado aos EUA e sua gula expansionista que já destroçou países como o Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iêmen etc, deixando um rastro de mais de um milhão de pessoas mortas somente nestes citados. Vale lembrar que, por muito menos, o Ocidente acusou o “expansionismo” da Rússia desde quando o governo russo passou a apoiar os movimentos separatistas na Ucrânia após o golpe de 2014; e depois, em 2019, quando chegou ao poder Volodymyr Zelensky, que colocou dentro do governo exércitos armados neonazistas (V. Regimento Azov) que até então agiam clandestinamente dentro da Ucrânia, sendo reprimidos nos governos anteriores pró-Rússia. Zelensky também começara a abraçar a confraria de guerra OTAN, a mesma que destruiu a Líbia e assassinou seu líder, Muammar Al-Gaddafi, para os sócios da destruição chuparem o petróleo do então país soberano. E hoje, na estupidez de todas as guerras, a hipocrisia ocidental só consegue enxergar a tragédia das bombas russas explodindo na Ucrânia em áreas civis enquanto são relativizadas as bombas e armas ilegais israelenses caindo sobre Gaza.
O mundo quer paz, mas é nítido que não há vontade política para que cessem as guerras. Afinal, os EUA, a maior potência no que tange à indústria bélica, precisa justificar periodicamente perante a opinião pública o investimento bilionário em armas e munições. E para que isto aconteça, o mundo precisa estar em constante insegurança; a violência precisa eclodir e, claro, as bombas precisam explodir.
Fontes:
(1) ONU acusa Israel de violação do Direito Internacional:
(2) Ação de Israel em Gaza equivale a crime de guerra, diz Anistia Internacional:
(3) ONG israelense Breaking The Silence (“Quebrando o Silêncio”): militares israelenses denunciam abusos contra palestinos:
https://www.breakingthesilence.org.il/
(4) Soldados israelenses revelam a ONG abusos cometidos contra palestinos:
(5) Vídeo: soldados israelenses invadem casa de família palestina de madrugada:
(6) Caio Blinder diz que Israel fez bem em assassinar cientistas egípcios e iranianos:
(7) Judeus em Londres queimam a bandeira de Israel:
(8) Presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad e os rabinos ortodoxos (2008):
(9) Folha: “Ataques antissemitas cresceram no Brasil”:
(10) Folha: PSOL expressa “antissemitismo”, diz Conib:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/05/psol-expressa-antissemitismo-diz-lider-judeu.shtml
(11) Conib repudia entrada do Irã no BRICS – “porque é uma ditadura”:
https://www.conib.org.br/noticias-conib/37870-conib-repudia-entrada-do-ira-no-brics.html
(12) Presidente da Conib aplaude acordo entre Israel e Arábia Saudita:
(13) Por denunciar caráter racista do sionismo, Breno Altman é ameaçado:
(14) Carlos Latuff: mídia e a falsa acusação de antissemitismo:
(15) Em entrevista à Folha em 2012, Carlos Latuff explica o “título” de 3ª maior antissionista do mundo:
(16) Documentário ‘Difamação’, do cineasta israelense Yoav Shamir:
(17) Benjamin Netanyahu cita a bíblia para justificar a guerra:
(18) Mídia e a tentativa de desacreditar judeus ortodoxos antissionistas:
(19) Mídia e a retórica do “Ahmadinejad diz que Israel será eliminada do mapa”:
https://www.reuters.com/article/mundo-ira-varrer-israel-pol-idBRB17634620080603
(20) Juan Cole, professor de História da Universidade de Michigan, diz que a mídia distorce os discursos de Ahmadinejad:
https://www.juancole.com/2007/06/ahmadinejad-i-am-not-anti-semitic.html
(21) Jonathan Steele, The Guardian: “especialistas confirmam que o presidente do Irã nunca disse que Israel será varrida do mapa”:
https://www.theguardian.com/commentisfree/2006/jun/14/post155
(22) Tradução de artigo da cientista política norte-americana Virginia Tilley: “Pondo palavras na boca de Ahmadinejad” (V. “Putting Words in Ahmadinejad’s Mouth, – CounterPunch:.
https://resistir.info/irao/por_palavras.html
(23) BBC: Judeus e muçulmanos vivem pacificamente dentro do Irã:
https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2006/09/060922_judeusiran_is
(24) Ronnie Kasrils, ministro de Mandela: apartheid contra palestinos é pior que o da África do Sul:
(25) Haaretz: Benjamin Netanyahu defendeu suporte ao Hamas:
(26) IHU: A memória curta do Ocidente – Quando Israel inventou o Hamas:
(27) Corriere della Sera: Antonio Ferrari – “Quando a verdade dói demais”.
(28) O Globo (01/08/2014): Como Israel ajudou a criar o Hamas
(29) Fox: Henry Kissinger admite que EUA armaram o Estado Islâmico – ISIS.
(30) Edgar Morin e Noam Chomsky elogiam livro de Shlomo Sand:
https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/morin-e-chomsky-sobre-shlomo-sand-1.297539
(31) Arqueologia: templo de 3 mil anos põe em xeque textos da Bíblia:
(32) Arqueologia: Bíblia cita animais que não existiam na época descrita:
(33) Israel Finkelstein na Universidade Metodista de SP (16/05/2019):
(34) Artigo original de Edgar Morin no Le Monde – Israël-Palestine : Le cancer:
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Os mitos bíblicos para justificar a usurpação das terras e bens dos palestinos islamitas, além da sua eliminação é de uma crueldade sem paralelo, abaixo abordo alguns desses mitos.
TERRA PROMETIDA – Segundo a narrativa bíblica, Deus prometeu a Abraão que sua herdade seria premiada. Ora, na antiguidade, quem recebia os bens em herança era o filho primogéito e o primogénito de Abraão era seu filho com a escrava Agar, Ismael, sendo ele portanto, a herdade de Abraão e não Isaque que era o segundo filho.
POVO de israel – A bíblia narra que o povo de Israel surgiu dos 12 filhos homens de Jacó que deram origem as 12 tribos de Israel. A Bíblia não narra com quais mulheres os filhos de Jacó geraram seus filhos, pois ainda não haviam mulheres judias, com exceção de Dinah, única filha de Jacó, que desaparece da narrativa bíblica após o assassinato do seu pretendente, o príncipe heveu Siquem. Assim sendo, a formação de um povo do ponto de vista étnico é impossível sem o concurso de outras etnias e para piorar o quadro, quatro (Dan, Neftali, Gad e Aser) dos 12 filhos de Jacó, eram filhos de escravas sem origem declaradas.Assim, a formação do povo de Israel como narrado na bíblia é uma falácia.
https://2.bp.blogspot.com/-S92Sr0sZy_Y/V99dpLEq6VI/AAAAAAAALFg/4NPiGQHPNuEbkEjJdBdP2OulrGT0wFq1wCLcB/s1600/execution_german_communist_1919.jpg
O alvo da fotografia acessável no link acima era supostamente comunista. Mas Comunistas e Ciganos não têm importância, só judeus importam.