O Brasil pelo qual Marielle lutou pode estar despontando, por Rogério Marques

Não é possível saber ainda quais instâncias superiores, muito superiores, são responsáveis pelo abafamento do crime.

Foto: Mídia Ninja/Reprodução

O Brasil pelo qual Marielle lutou pode estar despontando

por Rogério Marques

Perdoem a obviedade, mas somente com o acobertamento de instâncias superiores, muito superiores, um duplo assassinato de repercussão internacional, como o de Marielle e Anderson, em plena região central do Rio, com tiros de metralhadora, por volta de 21h30m, permanece um crime insolúvel depois de mais de 5 anos.

O Rio apodreceu não é de hoje. Isso vem de longe. Primeiro, com a glamourização de chefões do jogo-do-bicho, gangsters que se infiltraram em órgãos do Estado e nas polícias, banalizando a corrupção.

Depois, vieram as milícias, tidas por muita gente como necessárias para impor regras e “segurança” em comunidades e bairros ignorados pelo Estado.

Ou mesmo em bairros da classe média, nos quais ruas passaram a ser fechadas e vigiadas por homens de coletes pretos com a palavra “apoio” nas costas. Isso a partir da década de 80. Venda de “segurança”, esquemas mafiosos.

Mais tarde, os chefões do bicho se uniram às milícias, estas ao tráfico, à banda podre das polícias e do Legislativo. E já não se sabe mais quem é quem.

Os 5 anos e 4 meses de mistério no assassinato de Marielle e Anderson têm a ver com tudo isso, com esse apodrecimento.

Não é possível saber ainda quais instâncias superiores, muito superiores, são responsáveis pelo abafamento do crime. Pode ser que estejamos perto de saber.

Nunca será demais lembrar que o deputado estadual mais votado no Rio de Janeiro foi aquele que aparece em uma foto rasgando uma placa em homenagem a Marielle. Depois de eleito, Rodrigo Amorim emoldurou a placa rasgada e a pendurou em seu gabinete, como um troféu.

Nunca será demais lembrar que uma grande parcela da população acredita que a solução de problemas sociais que se arrastam há séculos está na tortura, nos linchamentos, nos assassinatos, principalmente de quem vive nas favelas que se multiplicaram e viraram “complexos”.

Nunca será demais lembrar que em 2018 o Brasil elegeu presidente um defensor da tortura e do extermínio.

Nunca será demais lembrar que para essa eleição muito contribuíram as empresas de mídia, que apoiaram operações espalhafatosas; que criaram falsos heróis justiceiros; que apoiaram um golpe contra uma presidente que não cometeu crimes; que noticiaram sem a menor visão crítica episódios como a prisão, durante 580 dias, do então ex-presidente Lula.

Foi preciso que um periódico virtual chamado The Intercept Brasil pautasse a mídia tradicional com a série de reportagens Vaza Jato, escancarando o que as evidências já gritavam.

Pode ser que o esclarecimento do assassinato de Marielle e Anderson seja o início do desmonte de megaestruturas criminosas, e da construção de um Brasil melhor, mais fraterno, mais justo. Aquele Brasil pelo qual Marielle Franco tanto lutou, uma luta que lhe custou a vida.

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Redação

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