Morte de Marielle pode ter sido motivada por proposta que atravessa interesses das milícias

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornalista que prepara livro sobre o miliciano Adriano da Nóbrega arrisca palpite sobre motivação para assassinato; assista na TVGGN

Mulher negra de perfil. Marielle Franco usa camisa branca e brincos longos, enquanto fala na tribuna da Câmara do Rio
Foto: Divulgação/Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Na última segunda (24), o Ministério da Justiça anunciou que a Polícia Federal avançou com uma etapa da investigação sobre o caso Marielle Franco, sobre os executores do crime brutal que ocorreu em março de 2018. Agora, a apuração busca responder à pergunta que há cinco anos está sem resposta: quem mandou matar Marielle? E por quê?

Com a confirmação de que milicianos do Rio de Janeiro foram os executores de Marielle e do motorista Anderson Gomes, os holofotes se voltam, naturalmente, para os interesses desses grupos paramilitares e outras organizações criminosas. Quem encomendou o assassinato? Por que Marielle entrou na mira dos milicianos? Há poderosos por trás da ordem para matar?

Na opinião do jornalista Sergio Ramalho – que conhece o inquérito do assassinato da ex-vereadora e prepara um livro sobre o miliciano Adriano da Nóbrega, amigo dos Bolsonaro e membro do Escritório do Crime – um motivo para a execução pode ser um projeto de lei com potencial para atrapalhar um novo modelo de negócios para as milícias.

“Eu acredito que isso [a morte de Marielle] está relacionado ao uso de solo dentro de favelas. A Marielle tinha um projeto de lei que ela colocou no primeiro ano de legislatura dela, mas sequer foi ao plenário. Ela fez modificações e iria apresentar no início de 2018, mas foi assassinada antes”, disse Ramalho, autor de reportagens sobre o caso Marielle para o site The Intercept Brasil.

De acordo com o jornalista, os milicianos não contavam com o tamanho da repercussão do assassinato de Marielle. Com a comoção a nível internacional, a Câmara do Rio de Janeiro colocou em votação e aprovou diversos projetos da ex-vereadora do PSOL. Mas não o que versa sobre o uso do solo em favelas.

“É um tema sensível aos grupos paramilitares porque eles vinham começando a investir em construção de prédios. Tem muito dinheiro, muita coisa envolvida”, apontou Ramalho.

Segundo o jornalista, a construção de prédios habitacionais é uma nova etapa do modelo de negócios das milícias, que começou com a grilagem de terras para construção de moradias precárias nas favelas e se diversificou para fornecimento e cobrança por água, luz e gás, entre outros serviços impostos às comunidades.

Na entrevista ao jornalista Luis Nassif, veiculada na TVGGN na noite de segunda-feira (24), Sergio Ramalho explicou como as milícias do Rio funcionam como um Estado paralelo e como ganham dinheiro com negócios ilegais.

Ele também detalhou a operação de grupos que prestam serviço de assassinato encomendado, como o Escritório do Crime, e apontou que, dado o modus operandi desses grupos, o mais provável é que a investigação da Polícia Federal encontre mais envolvidos na execução de Marielle. Até agora, estão presos pelo crime, como executores, os milicianos Ronnie Lessa, Élcio Queiroz e Maxwell Corrêa, o Suel – este último, delatado por Queiroz.

A importância da Polícia Federal

Para o jornalista, é importante que a Polícia Federal tenha entrado no caso com autonomia para investigar, desde fevereiro de 2023. O ideal, em sua visão, seria que o caso saísse do Ministério Público do Rio de Janeiro, e fosse para o Ministério Público Federal, para que se alcance um novo patamar na apuração.

Ramalho lembrou que o MP do Rio teve uma conduta questionável no início das investigações. Inclusive, teria deixado de lado outras duas delações que interessavam à solução do crime. Na visão dele, tanto o MP-RJ quanto a Polícia Civil “deixam a desejar” quando as investigações envolvem crimes encomendados e executados por milicianos.

“O ideal seria PF e MPF, para fazer algo realmente autônomo. Não estou acusando o MP do Rio, mas acho que uma coisa com credibilidade teria que ter PF e MPF.”

Confira a entrevista completa abaixo:

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1 Comentário

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  1. Cintia obrigado pelas informações. Imagino que os funcionários públicos do MP do Rio temem por suas vidas, pois moram no Rio, tal como suas famílias. Os funcionários do MP de Brasília teriam menos o que temer. Não?!

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