Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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O que o episódio GDias nos ensinou, por Fernando Castilho

Hoje, a polarização é com a extrema-direita. Se ela vencer em 2026, pode ser que destrua a democracia e nunca mais deixe o poder.

Ricardo Stuckert

O que o episódio G.Dias nos ensinou

por Fernando Castilho

A última pesquisa Quaest, divulgada em 19/04 nos alertou: a avaliação positiva do governo Lula caiu de 40% para 36%, enquanto a negativa subiu de 20% para 29%.

Na mesma pesquisa, a Quaest perguntou a opinião dos brasileiros sobre a taxação de produtos de empresas como Shein e Shopee. Fabulosos 84% são contrários. Lula, com seu feeling político, se antecipou à pesquisa e reverteu a ideia proposta pelo ministro Fernando Haddad.

Percebe-se claramente que, para o brasileiro médio, o assunto taxação da Shein e da Shopee desperta muito mais interesse do que o novo arcabouço fiscal ou a viagem à China.

Vamos guardar os escritos acima para mais tarde serem retomados.

A CNN divulgou imagens editadas de golpistas no terceiro andar do Palácio do Planalto em 8 de janeiro. Os rostos dos funcionários do GSI, Gabinete de Segurança Institucional, foram borrados para que não fossem identificados, mas o do ministro da pasta, general Gonçalves Dias, que passou a ser chamado pela mídia de GDias, aparece nos vídeos claramente. Mais tarde, sentindo a pressão, a emissora retirou os borrões.

É óbvio que a CNN recebeu as imagens já editadas de um pacote de 160 horas gravadas por 22 câmeras. E é óbvio que havia a intenção de causar desgaste e crise no governo. É mais óbvio ainda que a intenção por detrás de tudo isso era alimentar a CPMI que apura as responsabilidades do 8 de janeiro, interessada em culpar Lula pelas depredações dos bolsonaristas. E é por demais claro que foi um bolsonarista quem entregou as imagens para a CNN.

O atual chefe interino do GSI, Ricardo Capelli, rapidamente identificou para o ministro Alexandre de Moraes os servidores civis e militares que estavam no palácio no dia 8 de janeiro, coisa que GDias devia ter feito logo que assumiu o gabinete. Alguém deveria ter sugerido Capelli para o GSI? Ou sugeriram, mas Lula bateu o pé no amigo general?

Lula foi obrigado a demitir GDias, pois não viu outra alternativa que pudesse salvar o amigo de longa data.

GDias, como se depreende pelas imagens, ao contrário dos funcionários do GSI que se encontravam naquele dia no palácio, não confraternizava com os golpistas, mas buscava retirá-los daquele andar utilizando de cuidados para que os ânimos não se exaltassem, até porque ele se encontrava numa posição isolada e poderia sofrer violência.

Quais foram os erros do general?

Em primeiro lugar, quando recebeu a informação dos militares bolsonaristas que infestavam o GSI, repassada a Lula, de que as câmeras não registraram a invasão porque estavam quebradas, GDias não se preocupou em checá-la. Omissão indesculpável.

Em segundo lugar, o general, investido na função de ministro, tinha por obrigação, como primeiro ato administrativo, exonerar todos os funcionários bolsonaristas do GSI, mesmo que isso lhe custasse o esvaziamento do órgão até que novas contratações fossem feitas.

Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso sabe que não é possível obter colaboração de gente que está no ministério somente para sabotar o novo governo.

Agora retomo o que escrevi mais acima e junto ao restante.

Lula não pode e não consegue governar sozinho e é por isso que buscou montar ministérios cujos titulares seriam os melhores nomes à disposição, além de serem de sua confiança. Alguns, é claro são exceção, como os ministros da Comunicação e de Minas e Energia, impostos a ele por partidos da coligação.

Porém, salta aos olhos que Lula precisa o tempo todo acompanhar o que fazem seus ministros, mesmo que muito capacitados como Fernando Haddad. E isso lhe toma um tempo precioso.

Camilo Santana, ministro da Educação, tencionava manter o Novo Ensino Médio, mas Lula, ao perceber a reação de professores e alunos, suspendeu por 60 dias sua implantação.

Márcio França, ministro de Portos e Aeroportos, anunciou com pompa seu projeto Voa, Brasil que prevê passagens ao valor de 200 reais para aposentados, pensionistas e estudantes. Lula não gostou de saber disso pela imprensa e, em reunião ministerial, exigiu que a Casa Civil seja informada previamente de qualquer projeto de qualquer ministro para que as ações possam ser harmônicas dentro do governo.

No caso de GDias faltou experiência política e no caso dos demais, apesar de terem muita experiência, talvez falte sintonia fina com um governo que, como diz Lula, não pode errar.

Por que não pode errar?

Antes de Bolsonaro, a alternativa ao PT era o PSDB que, mesmo sendo de centro-direita, neoliberal e distanciado de sua origem social-democrata, era um partido com o qual se podia dialogar e que, caso se elegesse em 2026, não destruiria o país.

Hoje, a polarização é com a extrema-direita. Se ela vencer em 2026, pode ser que destrua a democracia e nunca mais deixe o poder.

Lula está totalmente atento a isso.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. A publicação do artigo dependerá de aprovação da redação GGN.

Fernando Castilho

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

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