O Waterloo da esquerda brasileira, a batalha que jamais será lutada, por Rogerio Maestri

Yves Herman/Reuters

O Waterloo da esquerda brasileira, a batalha que jamais será lutada

por Rogerio Maestri

Quando Napoleão Bonaparte se aproximou de Waterloo, com seu outrora invencível exército, ele sabia que a sua frente tinha uma coalizão de todos os grandes e pequenos reinos da Europa. Porém mesmo assim o Imperador marchou contra os exércitos ingleses e prussianos, mesmo sabendo que estava em desvantagem numérica, tentou dar a sua última cartada, a Batalha de Waterloo. Derrotado e exilado o outrora imperador morreu na distante ilha de Santa Helena, no meio do Atlântico, longe de tudo e de todos, talvez pensando em todos os erros que ele fez, fazendo a derradeira autocrítica.

O que Napoleão tem com a esquerda brasileira? Praticamente nada! Enquanto o Imperador avançou em Waterloo esperando que com uma batalha pudesse conseguir negociar com a poderosa coligação uma trégua ou um armistício. A esquerda brasileira, nem Waterloo procura lutar, sonha que um dia poderá por mágica superar as forças do Imperialismo Internacional e por nada obter uma rendição ou um armistício. Ou seja, um lutou e os outros sonham.

Há duas esquerdas, uma que é cheia de sonhos eleitorais de possíveis vitórias que poderão obter no futuro. A outra, cheia de bravatas e ameaças revolucionárias pensa em outras soluções mágicas, como a famosa greve geral que os levará ao poder.

Em contraposição a estas esquerdas temos o Imperialismo, eles sabem perfeitamente que o momento só há duas opções para eles, vencer ou vencer, e se para atingir a vitória farão tudo que for necessário sem ética e sem escrúpulos.

As lideranças da esquerda ficam com medo de colocar em marcha o seu único exército disponível, o povo, ficam receosos que se perda o controle e que se passe para a única solução real e possível, o confronto entre as classes sociais. Povo versus oligarquias e seus capitães do mato, uma Waterloo de Napoleão. Muitos destes legalistas esperam o despertar de forças republicanas que os venham defender, porém fazem tudo para não enxergar a verdade, que estas forças nunca virão porque simplesmente não existem.

Alguns minúsculos partidos ditos de esquerda, ou iludidos por um sonho revolucionário ou simplesmente comprados pelo grande capital, tem sonhos oníricos ainda mais fantasiosos e macabros, esperam que com a derrota do PT, sorver o sangue ou comer as entranhas dos cadáveres dos derrotados, para adquirir a força dos mortos e terem mais forças para lutar.

O que está em jogo não é o governo atual, composto de uma gangue que posteriormente ocupará as cadeias junto com o rescaldo dos militantes da esquerda que sobrarem. O que está em jogo é o controle do único país da América Latina que poderá se levantar contra as grandes forças do Imperialismo e tentar reverter a destruição dos Estados Nacionais.

Cada dia fica mais tarde, a urgência necessária para reverter tudo não é levada em conta, acredita-se que mais um advogado, mais uma prova cabal do golpe antinacional terá algum efeito e esquecem que estão lutando com alguém que corrompe, frauda, rouba, prende e até mata para conseguir seus objetivos.

Parece que de comum mesmo com Napoleão a esquerda só tem uma coisa, o mesmo fim do Imperador, morrer no exílio na Ilha de Santa Helena.

 

Redação

13 Comentários

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  1. Infantil
    Qual a proposta prática, meu caro?
    Repetindo este jargão da falta de união das esquerdas sem proposta clara é mimimi infantil.
    Qual o programa de unificação proposto? Seria este um programa internacional de combate ao imperialismo, tipo o propugnado por Trotsky?
    Negação é muito fácil, afirmação é ação não são coisas simples.

  2. SEM LIBERDADE DE EXPRESSÃO, NÃO EXISTE MUDANÇA!

    É extremamente lamentável ver o próprio GGN, negando-se a publicar nosso ponto de vista sobre o problema. Principalmente, porque ninguém consegue contestá-lo, e é urgente apontar onde as esquerdas erraram, sob pena de continuar patinando, enquanto é perfeitamente possível reverter a situação.

    Precisamos fazer o que o PT não fez nesses 13 anos de poder, politizar o povo, e trazê-lo para o centro das decisões políticas. O PT é uma vergonha, fazia inúmeras conferências ditas “democráticas; mas que não eram consultivas, e sim apenas informativas. Ou seja, o PT torrava o dinheiro do povo, para promover grandes reuniões, para que eles apenas dissessem o que iriam fazer. Sem a menor possibilidade em consultar a população, e nem mesmo o auditório montado para essas conferências ditas “democráticas”

    Confiram o que se faz no mundo desenvolvido, que deve ser trazido primeiramente para dentro dos partidos:

    http://democraciadiretabrasileira.blogspot.com.br/2017/01/a-incorruptivel-assembleia-de-leigos.html 

     

    As esquerdas só conseguirão colocar o povo na ruas pra valer, quando começar a tratá-lo com mais respeito. E seus blogs fazem um grande deserviço ao Brasil e seu povo, quando escondem essas críticas, negando-se em publicá-las… 

    Porque, por mais leiga que fosse, nossa imensa assembleia popular, assessorada pelos melhores esecialistas em cada assunto, jamais deixaria o Brasil ter se transformado na terra da roubalheira, da injustiça; e, agora, com o fim da liberdade de expressão até nos blogs de esquerda, a terra da MENTIRA…

    Não é exatamente o que passaram a propagar?

    1. O ótimo é inimigo do bom.

      Me parece fato que só o povo educado e politizado é a solução para a falta de democracia. Mas discordo de que seja necessário um grande líder a orientar o povo todo, creio que funciona melhor na medida em que pequenos grupos se formarem, se auto-gerirem porém na mesma direção: a da afirmação de um estado democrático e socialista. Democrático porque constituído pelas pessoas comuns, do povo; e socialista porque terá, esse novo arranjo social, como mister o atendimento às demandas da sociedade como um todo. Por termos esse complexo de “se não sou o mais importante, sou o menos importante”, por gostarmos de grandes líderes unificadores é que estamos nessa bosta…

      E discordo, também – e aqui é fato – de que o PT tenha falhado na tarefa de oferecer educação ao todos. E não falo apenas de educação formal, dessas que a pessoa pensa que obtém por frequentar uma Unisquina (privada) da vida. Tanto aqui, em São Paulo, por iniciativa do Haddad, quanto no âmbito federal, Lula e Dilma, os eleitos pelo PT promoveram a associação política local da pessoa comum. E fizeram isso a ponto de incomodar os que temem o povo unido.

      Mas é como no caso do “Mais Médicos”: a iniciativa e a realização foram inéditas, o programa estava no começo e, claro, havia muitas falhas. Mas cobrar perfeição de algo que é realizado pela primeira vez e ainda sob forte resistência conservadora é tolice ou má fé. Mesmo porque há dois tipos de pensamento: o que está lá, na frente de batalha lutando por realizar, e o que fica de fora, criticando: o primeiro, apenas, tem esperança. Só tem esperança, digo, quem está dentro. Se sair fora é porque perdeu a esperança, independente do arrazoado que se crie para justificar essa perda. O mesmo raciocínio me parece poder ser aplicado quanto às associações política de moradores e ao estabelecimento de comissões populares, por exemplo, na TV Brasil.

      Ou você acredita mesmo que, de uma hora para outra, pulando sem escalas de um estado coronelista, fildalguista, provinciano, elitista e colonialista para outro, democrático e participativo, e apenas por iniciativa de uma única organização, um povo todo como o dinamarquês conseguiu o nível de organização social que pratica hoje? Lembre-se de que até em unidades nacionais bem menores do que a Dinamarca – falo da Islândia – surgiram dissidências que deram passagem para o capital baseado no dólar, por exemplo o islandês, Jon A. Johanneson.

      1. Não tem como pular entre ser

        Não tem como pular entre ser brasileiro e dinamarquês sem passar por muitas etapas de educação. Etapas que levam mais tempo do que pode sonhar a vã filosofia neoliberal. E que demandam muito mais maturidade, constância e estabilidade do que prega a mesma vã filosofia, a que nos mantém em eterna e imediatista pré-adolescência.

        É difícil mas é preciso ter consciência de que dificilmente usufruiremos do que cultivarmos. Mas que isso não é desculpa para que não cultivemos, plo contrário: é razão para que cultivemos com muito mais atenção, carinho e dedicação.

        Em tempo: tem hoje alguém com mais possibiliadde de chegar ao poder e de orientação minimamente socialista do que a turma do PT e seus aliados? Se tiver, mostra, que um monte de gente vai adotar.

  3. Waterloo não é o centro do mundo

    Muito interessante o texto. Eu pessoalmente não vejo essa mobilização tão grande em “[a]lguns partidos minúsculos ditos de esquerda” pela derrota do PT. Obviamente se estivermos falando de núcleos anarquistas revolucionários (os anarquistas de verdade), talvez a carga faça sentido, desde que troquemos “partidos” na frase acima por “núcleos anarquistas revolucionários”. E – dentro das premissas anarquistas – não os condeno: outra guerra a deles, outra estratégia e eles definitivamente não querem atrapalhar nenhuma revolução. 

    Veja bem, discutir política no país hoje precisa de maiores cuidados. Um exemplo muito emblemático para mim é o livro “Crise das esquerdas” organizado por Aldo Fornazieri. Ali podemos entender que existe ‘Política’ – como ‘aspecto da vida em sociedade’ – e existe ‘política’ como ‘instituições oficiais políticas com suas agendas, regras e ciclos (e partidos etc.)’. 

    É notável a incapacidade de um professor como Janine Ribeiro, Cícero Araújo e Ruy Fausto de falarem a respeito do primeiro sentido, de ‘Política’: a entrevista do primeiro é um papo de boteco e a conclusão é óbvia, (sonhar é importante mas) somente é possível amenizar a destruição do capitalismo; o texto dos outros dois é um apanhado de notas sobre a perseguição ao PT (o que é um fato indiscutível) e sobre as culpas do PT. Eliminar a hipótese da democracia direta parece ser o principal interesse de Cícero e Ruy: por que encarar seriamente as possibilidades técnicas contemporâneas, se podemos recauchutar aquela bibliografia bacana dos anos 1960-2000 que usamos no nosso doutorado?

    Nesse contexto a entrevista de Guilherme Boulos se destaca, dá o respiro dentro da crise, o respiro que ajuda a ver de verdade a crise, ao invés de simplesmente resignar-se com a ‘política’. Reputo um pouco esse desequilibrio a problemas de direção do livro (esse desequilíbrio e imposição de premissas é muito claro nos textos semi-acadêmicos do livro e nas perguntas durante as entrevistas: para uma esquerda envelhecida e amarga é necessário encurralar e encaçapar a hipótese socialista-comunista em todos os fronts – lógico, sociológico, histórico, etc.). 

    Chamemos de ‘esquerda’: grandes setores simpáticos ao PT pelas razões históricas e de gestão (as razões corretas = políticas públicas sociais, política de salário, indústria nacional); os movimentos sociais por reformas (urbana, agrária) e a vasta maioria dos envolvidos com movimentos identitários; simpatizantes e militantes de partidos à esquerda do PT (porque – sim – existe algo à esquerda do PT); núcleos anarquistas revolucionários.

    Conclusão: adotar táticas e operações distintas para vencer lutas distintas tem a ver não só com enxergar de outro o tamanho das trincheiras, tem a ver com enxergar outras guerras. Se for a ‘política’, então o texto acima tem parcialmente razão. Se for ‘Política’, então eu tenho uma coisa para lhe dizer, prezado: muitas pessoas não se importam mais com o que o Lula (ou o Ciro por exemplo) pode fazer no governo, sabem que é pouco (embora seja o pouco que recupere algo de nossa dignidade pública). Só torcem para que ele não seja injustamente preso.

    Desse conjunto que chamei de ‘esquerda’ é notável que somente uma parte pequena esteja envolvida com a ‘política’ no segundo sentido acima. Para que a esquerda vença dentro da sociedade civil, é necessário envolver-se com essa sociedade (coisa que o Lula, por exemplo, faz muito melhor do que quase todo mundo). E isso se chama envolver-se na ‘Política’, o que uma pessoa como o Suplicy, o Boulos, a Sonia Guajajara, o Plínio Jr., a Manuela D’Ávila fazem.

    Temos a mania de colocar a esquerda no centro da discussão o tempo todo e de colocar especialmente o PT aí. Isso se exprime até quando buscamos obsessivamente as culpas da esquerda e do PT. É uma história que só fala dos napoleões e dos nelsons, e se esquece dos ossos.

  4. acusações do Sr. Maestri

    Já agora, Sr.Maestri, quais são os minúsculos partidos comprados pelo grande capital. Dê nome aos bois!

    E v. realmente acha que Temer  & cia. vão parar na cadeia. Que ilusão!!!

  5. Bois conduzidos (pela mídia,

    Bois conduzidos (pela mídia, juciciário) ao matadouro. Esta é a verdade da esquerda de 2013 pra cá. A diferença é que o boi não sabe que será trucidado. Não consigo enteder, muito menos aceitar, esta passividade com que a esquerda se deixa ir exattamente no roteiro que os anti-brasil escreveu para aqueles que se importam com os destinos da nação. Em outros países provavelmente os aliados de Lula estariam mobilizando toda a nação pra pressionar a dona cármen a colocar imediatlamente a questão da segunda instância em penário. O roteiro já previa a não aceitação do fachin. Não acontece nada e eles fazem o que querem se sequer um arranhão de revolta dos progessistas. Entre eles, nós que nos satisfazemos em apenas mandar recadinhos via comentários. É pouco demais pra quem critica tanto. Acho que somos tão mediocres como a esquerda que criticamos. 

  6. Pois é, disso a gente já

    Pois é, disso a gente já sabe…..

     

    Qual a solução???

     

    Acabei de ler uma entrevista do ayres brito,  o “poeta”, em que diz que o judiciario é o ultima a dar a palavra, para ele, se o judiciario decidiu está decidido, em outras palavras, no mundinho tacanho desses “intelectuais”, juiz não erra, é um ser dotado de suprema inteligencia, é quase um deus a guiar nossas vidas……não é dali, que vai sair algo que preste…….

  7. Utopias

    “A esquerda brasileira, nem Waterloo procura lutar, sonha que um dia poderá por mágica superar as forças do Imperialismo Internacional e por nada obter uma rendição ou um armistício. Ou seja, um lutou e os outros sonham.”

    Os indivíduos podem ser hipócritas, sonhadores ou mentem para si próprios.Numa destas três condições ou na combinação parcial ou total destes comportamentos ,  a esquerda daqui sonha em se tornar uma Stalingrado , mesmo sabendo que nunca houve um lider que se imponha e conscientize seus soldados de que há apenas uma alternativa para a vitória.

     

  8. Não há esquerda

    A questão é que fazer um chamamento, uma autocrítica, um discurso para a esquerda é o mesmo que fazer um discurso ao cemitério.

    Não adianta falar a esquerda como se fosse um bloco coeso, unido e firme como um cardume, que pudesse responder, dialogar, se contrapor… 

    Não há esquerda. Isto tem que ficar claro.

    O que existe são alguns militantes esparsos, dispersos, abnegados e generosos, tentando de maneira mais ou menos ativa tocar o barco.

    As causas para este descalabro é matéria para muitos e muitos debates, mas eu não posso deixar de pontuar: o PT é o principal responsável pela esterilização da esquerda no Brasil. 

    Não se governa com Joaquim Levy e Meirelles sem consequências. Não se faz acordo com Deus e o diabo sem consequências. Não se cede o comando da economia ao mercado financeiro e pensa que se passa incólume. Não se loteia estatais e promove um dos maiores escândalos de corrupção da história do país sem consequências (isto depois de todo a celeuma com o mensalão…). Não se nomeia ministros e mais ministros escandalosamente ruins para STF e STJ sem consequências (quero nem falar de PGR…), etc.

    E a resposta aos erros do PT está aí, nos devorando.

    Aliás, esta é outra coisa que tem que ficar clara: a direita imunda que nos governa só pôde avançar e se aboletar novamente no poder, ora por conta dos erros, ora da inação dos governos do PT. A César o que é de César.

     

     

    1. Se não há esquerda, então o

      Se não há esquerda, então o PT não tinha outra alternativa senão essas que você acaba de criticar. Não há economistas de esquerda, não há políticos de esquerda suficientes, não há juizes, procuradores de esquerda. Quase toda a população é de direita, até os pobres são de direita. Enfim, o Brasil é um país predominante de direita e governar sem ela é impossível. 

    2. Não estou chamando ninguém a autocrítica, mas todos a ação.

      Meu caro, não se define alguém de esquerda pelo partido em que o mesmo milita ou simpatiza, há definição do pertencimento de alguém a esquerda pode de forma singela a começar com os ideais da Revolução Francesa, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Para que estes ideais existem necessariamente de outros poucos pressupostos, como a não exploração do homem pelo homem, a luta de classes como mola propulsora do progresso das sociedades, a perda do individualismo em nome da manutenção da igualdade de todos, e daí por diante,

      Eu diria sem ter medo de errar que alguns teóricos dos diversos partidos e tendências, poderiam, se abrissem mão dos seus ego que os alimentam, definir com precisão em uma só página o que seria um comportamento de alguém de esquerda. Não é preciso muito, porém o que mais incomoda tudo isto são as clivagens das diversas linhas e partidos, quando estas mais se interessam em procurar suas diferenças do que seus pontos em comum.

      O que trata este artigo é bem mais simples do que alguns podem interpretar, é que com todas as nossas divisões nem iremos ao nosso Waterloo, iremos direto para a ilha de Santa Helena, sem ao menos termos a relembrar os acertos e os erros das batalhas perdidas.

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