Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Otelo, Hamlet, Macbeth?, por Izaías Almada

Otelo, Hamlet, Macbeth?

por Izaías Almada

Comecei esse artigo na noite da última sexta feira no momento em que o Sr. Ciro Gomes, candidato derrotado em primeiro turno, deveria aterrissar em Fortaleza após o seu périplo turístico pela Europa.

Modesto conhecedor que sou da prática e da teoria teatral não foi difícil ser despertado pela lembrança de algumas das peças de William Shakespeare.

E tudo indica que numa leitura atenciosa de Macbeth, Hamlet, Otelo, algumas das mais conhecidas tragédias desse incomparável poeta é quase certeza que em seus versos nos defrontaremos com alguns traços da personalidade de um homem que procura há tempos o seu lugar de maior destaque na política brasileira.

Falo aqui do mesmo cidadão Ciro Gomes, um político que já por inúmeras vezes exerceu cargos públicos e, neles, mostrou algumas das qualidades que possui. E a falta de outras.

Homem de língua ferina e gestos machistas, sempre em busca da notoriedade, ainda assim a sua presunção não cedeu diante da possibilidade de chegar a exercer o cargo público de maior destaque: a presidência da república.

Nessas eleições presidenciais de 2018, Ciro Gomes sucumbiu diante da sua incontrolável vaidade, deixando escapar pelas fímbrias do seu comportamento, até certo ponto intolerante, um rancor que não se coaduna com a sua pregação democrática.

Quem conhece a obra teatral de William Shakespeare sabe com que maestria e poesia o dramaturgo retrata os sentimentos e a alma humana.

Lá vamos encontrar o ciúme, a traição, o amor, o ódio, a inveja, a dissimulação, a prepotência, a dúvida, o rancor, a coragem, o medo, a covardia e tantos outros traços do comportamento humano que, de uma maneira ou outra, ajudaram a construir a história do homem. Com e sem grandeza.

Ao se esconder na Europa por quase três semanas e, segundo suas próprias palavras, “preparando-se para 2022”, o político cearense deu um tiro no pé com arma de grosso calibre.

Retornou ao país em cima do dia da eleição, tendo abandonado e deixado de lado o grande esforço de milhões de democratas que lutaram para manter a paz, que lutaram para se defender da campanha destemperada de um cidadão descontrolado e seus adeptos.

Rodeado de admiradores e eleitores no saguão do aeroporto de Fortaleza, Ciro declarou: “Ele não”. Nenhuma palavra mais. Um silêncio que diz muito dos sentimentos que vem carregando por ter sido preterido na escolha como candidato do PT.  Um silêncio de mágoa, mas – sobretudo – um silêncio de rancor, de puro ressentimento.

Afinal, a quem se referia Ciro com aquele sucinto e ambíguo “ele não”: a Bolsonaro ou a Haddad? Pelo resultado das urnas essa pergunta, essa dúvida, não deixa de fazer algum sentido.

Já dizem alguns analistas políticos que Ciro Gomes pretende ser o grande opositor ao governo de Jair Bolsonaro. A História costuma não transigir com os omissos, nem perdoar a eventuais traidores.

Para quem ama a liberdade e respeita e cultiva a democracia não existe a possibilidade da omissão e da ambiguidade quando se trata de opor-se ao fascismo.

 
Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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