Não há plano B para PT, mas movimento anti-Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Imprensa alude a manifestações que poderiam indicar o contrário. Mas interpretações não se materializam e, apesar de riscos, o partido sabe que para resguardar possibilidades de vitória, Lula será o candidato até o último minuto
 

Foto-montagem: Brasil247
 
Jornal GGN – Para garantir a força dentro do partido, independente do cenário atual, a cúpula nacional do PT mantém firme a bandeira de que Luiz Inácio Lula da Silva é plano A, e não existe plano B. Apesar de possibilidades, hipóteses e inclusive pressões serem discutidas nos bastidores das reuniões, a defesa só será alterada se esgotadas as chances de Lula.
 
Mas, enquanto isso, foi uma publicação na última semana do presidente do diretório estadual do PT no Rio, Washington Quaquá, que nutriu o noticiário para sustentar que o partido teria encaminhado outras opções que não Lula. Como resultado, as interpretações da declaração, motivaram a manchete “Petistas já discutem estratégias em caso de prisão de Lula”, no Estadão e reproduzido pelo Uol.
 
“Enquanto torcem para que o STF (Supremo Tribunal Federal) conceda um habeas corpus em favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), petistas próximos ao ex-presidente discutem o que fazer caso o líder máximo do partido vá para a prisão”, introduz o jornal, contextualizando com o cenário real apenas depois:
 
“O debate ainda não foi colocado formalmente para deliberação das instâncias partidárias, mas um grupo restrito formado por dirigentes, parlamentares, ex-ministros e líderes de movimentos sociais tem conversado sobre quais ações podem ser postas em prática enquanto Lula estiver na prisão”, continuou.
 
Mas, publicamente e como forma de estratégia partidária diante dos números que colocam o ex-presidente, ainda que sob a mira de uma possível prisão a qualquer momento, como líder de uma disputa política à Presidência da República este ano, o PT por enquanto só tem plano A.
 
Ainda que seja óbvio pela experiência dos anos de pleitos eleitorais que as lideranças da sigla sim aventam todos os caminhos possíveis e impossíveis, nas mais diversas situações, sejam elas brandas ou extremas, o discurso é um só: não há plano B e Lula é o plano A. 
 
A declaração de Quaquá, na última semana, era positiva: 
 
“Não temos nenhuma dúvida de que Lula é nosso líder e, muito mais que isso, o líder do povo brasileiro! Ele comandará essa eleição queira ou não o estado policial! Mas nós não podemos fazer burrada e nos isolar ao ponto de tornar a nossa maior arma; a nossa bomba nuclear, em um artefato inativo eleitoralmente. Lula tem que ser inscrito nosso candidato mesmo com a condenação e mesmo preso, se eles chegarem a esse cúmulo do arbítrio! Mas temos sim que ter um petista na chapa, como vice, desde já que sinalize pro Brasil e pro meio político qual o caminho vamos seguir caso façam uma violência maior e desmedida!”
 
A análise que a imprensa gostaria partiu da publicação, porque de alguma maneira rompeu o silêncio e a defesa uníssona dos correligionários. Mas ao mesmo tempo que o texto divulgado nas redes sociais do político, intitulado “Permita-me discordar!” revelou um pequeno tom de discordância – não de afastar Lula das opções, mas de se estudar alternativas em caso de hipóteses de impossibilidade da candidatura (o que obviamente é feito por qualquer partido em situações similares) -, a publicação também deixa claro se tratar de uma opinião que desvia dos caminhos adotados pela cúpula nacional do PT.
 
“Lula tem que dizer para o Brasil e para o povo! Eu sou ‘fulano’ e fulano sou ‘eu’. Querem me fazer uma violência para acabar com os direitos do povo! Se fizerem, eu estarei representado por ‘Fulano’ e vocês vão ser meus guardiões votando nele e nos nossos deputados, senadores e governadores! Essa é inclusive a melhor forma de resguardar o Lula!”, posicionou-se Quaquá.
 
A evidência é uma só: por enquanto, o partido não considera que pensar e apresentar publicamente um plano B seja a melhor forma de resguardar Lula ou de resguardar uma possibilidade de vitória da sigla nas eleições. 
 
A medida seria contrária às posturas tomadas até agora, incluindo a de lançar oficialmente o ex-presidente como pré-candidato à Presidência um dia após a condenação determinada pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Além disso, indicar outro nome, mesmo materializado na figura do vice, seria aumentar possíveis rupturas dentro do PT, com divisões, enfraquecendo a legenda em luta interna, a exemplo do que vem ocorrendo com o PSDB.
 
Paralelamente, o que sim o partido está trabalhando é para fortalecer a frente de esquerda e anti-Temer. Seja na forma de mobilizações e manifestações, como as que serão realizadas nesta segunda-feira (19), seja para impedir avanços de governos conservadores e do atual em riscos à democracia. 
 
Não à toa, amanhã está previsto o lançamento do “Manifesto Unidade para Reconstruir o Brasil”, que conta com as forças das fundações Lauro Campos (PSB), Leonel Brizola-Alberto Pasqualini (PDT), Perseu Abramo (PT), Maurício Grabois (PCdoB) e João Mangabeira (PSOL). O evento está marcado para ocorrer nesta terça (20) no Plenário da Câmara dos Deputados, reunindo os presidentes das cinco legendas, líderes e parlamentares, além de representantes de movimentos sociais.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

11 Comentários

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  1. Presidência

    Os juizes de Curitiba e de Porto Alegre não podem impedir Lula de exercer a presidência, a menos que o matem. Prendem o Lula? Pois bem. Ele indica o Zé das Couves, que cuida da horta, para ser o presidente. E o Zé vai exercer o mandato de dentro da cela onde estiver o Lula, assinando todos os atos que o Lula aprovar. Talvez possa até assinar um indulto, usando a competência que lhe atribui a Constituição.

  2. As esquerdas e a bolha intransponível.

    Eventos na Câmara dos Deputados, na Casa de Portugal, na UFRJ, etc. com transmissão de blogs sujos têm que alcance?

    Precisamos mobilizar é o povo que vota em Lula e ele está nas periferias e pequenas cidades não está na região da Paulista, em áreas centrais de Brasília, etc. 

    As esquerdas me parecem enclausuradas em uma bolha intransponível. Fiz dois pequenos textos, um falando do evento em Brasília e outro da comemoração dos 38 anos do PT, refletindo sobre a BOLHA.

    Vou colocar aqui:

    TODO MOMENTO UMA NOVA FRENTE DAS ESQUERDAS. E O POVÃO NAS PERIFERIAS. (Notícia do Brasil 247 dá conta do lançamento da Frente de Esquerda para reconstrução do Brasil).

     

    Será que a centro-esquerda parlamentar, partidária e institucionalizada um dia sairá da bolha?

    A gente vê a todo momento que estão se organizando para uma frente, um manifesto novo contra as ações dos golpistas e/ou pela reconstrução do Brasil e/ou por eleições limpas.

    Vejam que repetição incrível dos participantes e local de lançamento da Frente de Esquerda para reconstrução do Brasil:

    “Evento deve acontecer no Plenário 4 da Câmara dos Deputados, em Brasília, e deverá reunir os presidentes das cinco legendas***, seus líderes de bancada e parlamentares, assim como representantes de movimentos sociais, sindicais, intelectuais e artistas.” Brasil 247.

    *** PT, PDT, PCdoB, PSOL e PSB

    E a velha mídia hegemônica não dará mais que notas protocolares e nem saberemos, além da bolha virtual das esquerdas, via blogs e portais políticos como Brasil 247, Revista Fórum, Jornal GGN, Rede Brasil Atual e alguns sites mais sobre o manifesto e, certamente, não teremos acesso ao conteúdo e ações além bolha.

    Enquanto isto, me parece, o povão desorganizado, que quer votar no Lula e/ou centro esquerda nas periferias e pequenas cidades desmobilizados, sem capacidade de ter seu voto garantido, com Lula candidato, via organização social efetiva das esquerdas ocupando os espaços geográficos do eleitorado que pode votar nela.

    Viveremos até quando nesta bolha centralizada nos espaços do Golpe, das elites e seus eleitores? Só falta ir na Casa de Portugal e no Teatro Casa Grande para fazer um evento de lançamento e divulgação (para quem?) nas cidades de Sampa e do Rio de Janeiro com os convidados de sempre, transmitido o evento pelos blogs progressistas.

    E a direita intensificando a Lava-Jato, para ferrar com toda a centro-esquerda e seus candidatos nas eleições ou até preparando o bote do adiamento da Eleição ou de facilitação do voto em candidatos multimilionários ou bilionários.

    E sem organização capaz de juntar o povão nas ruas, as esquerdas vão ficar colecionando frentes e manifestos e a Direita continuará soberana no aprofundamento do Golpe.

    Saber o quanto é desmobilizada a centro-esquerda é só pensar no Manifesto: “Eleição sem Lula é fraude” ter 200 mil assinaturas num quadro eleitoral em que Lula deve estar perto de ter 50 milhões de pessoas, hoje, que já são seus eleitores em potencial em 2018, ou seja, + ou – 0,3% do seu eleitorado assinou o manifesto, quase todos da bolha.

     

    AS ESQUERDAS E SUA BOLHA INTRANSPONÍVEL.

     

    PT comemorará 38 anos em Sampa na Casa de Portugal com Lula e Gleisi dia 22.

    A bolha das esquerdas continua em ação. Fizeram CEUS na periferia com espaço para eventos deste tipo e continuamos a assistir as mesmas pessoas indo nos mesmos lugares no centro expandido de Sampa, próximo dos paneleiros.

    Por que não levar a comemoração do PT com Lula e Gleisi para perto do povão, com um palanque montado em uma praça na periferia de Sampa? Para comemorar e dialogar com quem lhes têm apreço: o Povão, que é majoritariamente o eleitorado de Lula e do PT?

    A bolha e a institucionalização excessiva nos legam a chance de não ter mobilização popular para um candidato amado pelo povo no Estado de São Paulo. Tudo porque quem comanda o PT não parece mais acostumado a ir aonde o povo está. Prefere a comodidade do centro da cidade, do ar-condicionado e da fácil locomoção.

    Teremos a participação de sempre: sindicalistas, movimentos sociais organizados, gente do partido, artistas e intelectuais todos gritando: – Fora Temer e dizendo para eles mesmos: – Eleição Sem Lula é fraude e: – Estamos numa semi-Democracia! E muitas selfies com Lula e com transmissão ao vivo em alguns blogs “sujos”. E nenhuma repercussão ou transmissão do evento, da fala de Lula para além da bolha.

    E, enquanto isto, se aprofunda o Golpe.

    E o povão, aquele trabalhador não-organizado na periferia desmobilizado e sem a chance de ver o Lula, seu candidato, e ter a chance de uma consciência maior do que acontece no Brasil hoje, do monopólio da informação capitaneado pela Globo & velha mídia.

    Depois não reclamem que a Ditadura venha.

    Quem foge dos seus, vive enclausurado numa bolha elitista não pode ter forças populares ao seu lado, não tem a chance de combater a tentativa de destruição de suas legenda e candidato e do Brasil como um todo com forças populares mobilizadas.

    A Luta pelo fim do Golpe é nas periferias e pequenas cidades, não é na Região da Paulista, nas instalações da Câmara dos Deputados nem no Teatro Casa Grande nem na Casa de Portugal nem no teatro da UFRJ nem no Teatro do Tuca (PUC/SP).

     

  3. .. salvo conduto..

    .. talvez as lideranças de esquerda contem com um salvo conduto diante do que vem aí.. é a única razão que eu enxergo para eles não estarem se preparando..

  4. O grande risco. O PT corteja o abismo

    O PT – leia-se Lula – está cortejando o abismo. Mantém a candidatura “até o último minuto”, e vai pra hipotética eleição, cada vez mais melada. Daí Lula ganha. E FUX, no TSE, liquida o Lula e dá posse para o segundo lugar, ou o perdedor. Mergulho no abismo.  É um risco real e concreto. 

    1. Não Dá Pra Ir de Faz de Conta, O Norte Quer Manter a Majestade

      Do angulo golpista, a eleição só irá valer se eleger candidato comprometido, para legalizarem o golpe e desatolarem o governo da enrascada onde o meteram. Caso contrário, fazem qualquer coisa, quer na apuração, legislação e se caso, radicalizando via forças militares.

      Do angulo contrário, vencer a eleição, tomar posse e desaloja-los do poder, acabando com o golpe. Para que isso aconteça o povo tem que estar em massa junto ao candidato que representa a mudança, para impedi-los, via pressão das ruas, que impeçam serem vencidos e que se tome posse. Só há um que possibilita essa situaçao, Lula, que caso seja impugnado pelo TSE, seria substituido por outro previamente indicado.

      Nessa condição de pressão popular, derrota-se o golpe e mesmo que consigam manter o poder através de alguma heterodoxia ou ortodoxia, se dará em condições precárias, que não os manterá no poder por muito tempo.

      Qualquer outro candidato contrário, que não surja da operação ‘Lula ou ‘Lula”, apoiada por todos, tem remotíssima possibilidade de galvanizar as ruas e portanto mais possível garantir a eleição do candidato golpista, ajudadndo assim a legalizarem o golpe e estabilizarem o governo e aí então, esquece, o Brasil será transformado em neo-colônia e entreposto comercial, com Casa Grande e Senzala, Patrimonialismo e Desigualdade, como paisagem, salvo milagre, decadas e decadas, sabe-se lá quando? 

  5. Então  ..mas alguém sabe

    Então  ..mas alguém sabe exatamente o que vem por aí ?

    Penso que os militares, diante de suas hipóteses, já estão se preparando pra ficar por tempo indeterminado  ..só não sei se com esta direita canalha por perto (tal qual em 64)

    ..e dependendo do desenrolar dos fatos, há que se pensar tb em qual  opção seria mais apropriada

    claro que risco sempre há ..o de LULA morrer ou ser morto, de ser preso, impedido, destituido por força das “regras golpistas”

     ..e PIOR, o risco de não dar tempo dele dizer ao POVO  quem deveria substituí-lo em caso de não poder concorrer

    de qq forma ainda há uma questão muito maior ..que é a do PT dar amplo apoio, amparo e solidariedade ao MAIOR dos seus líderes, um cidadão que provou ter dado INFINITAMENTE muito mais ao país do que recebeu do seu povo

  6. O Lula não é nenhum secundarista disputando grêmio estudantil…

    O Lula não é nenhum secundarista disputando grêmio estudantil. Ele sabe muito bem que a estrutura montada para impedi-lo de ser eleito presidente é muito maior do que as forças de que dispõe para enfrentar essa máquina golpista.

    No momento oportuno o Lula apoiará o seu candidato, que vencerá as eleições. A política é um jogo que possui muitas variáveis que poucos dominam tão bem quanto o ex-presidente. Muitas vezes uma derrota jurídica pode se transformar em uma vitória política.

    Provavelmente o Lula vai convidar o Requião a se filiar ao PT e se lançar candidato ao Planalto em 2018.

    1. Improvável

      Requião abrir mão de uma eleição certa no Paraná por conta de uma aventura. Depois, filiar-se ao PT já é improbabilidade grau máximo. 

        1. Entre o improvável e o impossível

          Wilton, ainda não tinha visto o vídeo, estava na fila de espera, muito bom. Considerações:

          Diferentemente do Ciro, que espana todas, Requião age com a prudência dos sábios, não fecha portas, mantém todas bem abertas. Não é o momento de fechá-las, ainda mais em meio ao turbilhão em que  estamos vivendo, de total imprevisibilidade dos acontecimentos. Por isso, todas as possibilidades ficam em aberto de forma a mais simpática possível. Já o ciro, por ser atabalhoado, terá problemas nessa área. 

          O PT tornou-se uma legenda maldita, dentro em breve, teremos a confirmação disso. Se houver tantos candidatos ao congresso quanto em 2014, não precisa nem ser mais, basta ser igual, retiro tudo. O Paraná é o estado mais conservador e reacionário do Brasil, o eleitorado majoritário do Requião é de centro-direita ou centro, que jamais iria aceitar uma filiação ao PT. O mandato de senador acaba no final do ano, e essas variáveis todas conduzem a uma encruzilhada. 

          Também diferentemente de Ciro, que corre o país há mais de 3 anos, Requião manteve-se à margem do processo. A aposta de alto risco do PT, “até o último minuto”, tange o precipício, ao lançar um nome a poucos dias das hipotéticas e meladas eleições, confiando apenas na transferência dos votos. Arriscado é pouco, diria que beira a roleta russa. 

          Por fim, ambos estamos de acordo, improvável é diferente de impossível. Ainda mais em política. 

    2. Penso da forma que você,nesta

      Penso da forma que você,nesta questão,companheiro Wilton.Lula jamais apoiará Ciro Gomes,e Ciro sabe disso.De Lula sei algumas coisas,e uma delas posso lhe afirmar peremptoriamente,Lula não gosta de Ciro,vice versa.Isso em politica é fatal.Para o seu caderninho.Ciro tinha asbsoluta certeza que Lula o indicaria para sucede-lo.Ledo engano,Lula indicou(talvez o maior erro politico cometido por ele),Dilma Roussef.Pronto.O assunto Lula/Ciro encerrou-se ali.

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