Lenin e as concessões

Por Diogo Costa

LENIN E AS CONCESSÕES – Em 1921, Lenin explica a necessidade da implantação da NEP (Nova Política Econômica), que previa a abertura da Rússia Soviética para o investimento privado, nacional e internacional. Segue um dos trechos do depoimento dele a esse respeito:

Sobre o Imposto em Espécie
(O Significado da Nova Política e as Suas Condições)

Vladimir Ilitch Lenin, 21 de Abril de 1921

-Sobre o Imposto em Espécie, Sobre a Liberdade de Comércio, Sobre as Concessões

“(…) O caso ou o exemplo mais simples de como o Poder Soviético dirige o desenvolvimento do capitalismo para a via do capitalismo de Estado, como implanta o capitalismo de Estado, são as concessões. 

Agora todos estão de acordo em que as concessões são necessárias, mas nem todos refletem sobre a importância das concessões. O que são as concessões no sistema soviético, do ponto de vista das estruturas econômico-sociais e correlação entre elas? 

São um acordo, um bloco, uma aliança do poder de Estado soviético, isto é, proletário, com o capitalismo de Estado, contra o elemento pequeno-proprietário (patriarcal e pequeno-burguês). 
O concessionário é um capitalista. Dirige as coisas à maneira capitalista, com o objectivo de obter lucros, estabelece um acordo com o poder proletário a fim de obter lucros extra, superiores aos habituais, ou de obter um tipo de matérias-primas que doutro modo não poderia conseguir ou que dificilmente poderia conseguir. 

O Poder Soviético obtém vantagens sob a forma do desenvolvimento das forças produtivas, do aumento imediato, ou a mais breve prazo, da quantidade de produtos. 

Temos, por exemplo, uma centena de explorações, minas ou florestas. Nós não podemos explorar tudo: não temos máquinas, víveres, meios de transporte suficientes. Pelo mesmo motivo exploramos mal os restantes setores. 

Em consequência da má e insuficiente exploração das grandes empresas reforça-se o elemento pequeno-proprietário em todas as suas manifestações: enfraquecimento da economia camponesa vizinha (e depois também de toda a economia camponesa), declínio das suas forças produtivas, diminuição da sua confiança no Poder Soviético, pilhagem e pequena especulação em massa (a mais perigosa), etc. 

Implantando o capitalismo de Estado sob a forma de concessões, o Poder Soviético reforça a grande produção contra a pequena, a avançada contra a atrasada, a mecanizada contra a manual, aumenta a quantidade de produtos da grande indústria nas suas mãos (a sua quota-parte da produção), reforça as relações econômicas reguladas pelo Estado como contrapeso às relações pequeno-burguesas anárquicas. 

A política das concessões, aplicada com medida e prudência, ajudar-nos-á, sem dúvida, a melhorar rapidamente (até certo grau, não muito elevado) o estado da produção, a situação dos operários e dos camponeses — à custa naturalmente de certos sacrifícios, da entrega aos capitalistas de dezenas e dezenas de milhões de puds de produtos valiosíssimos. 

A determinação da medida e das condições em que as concessões são vantajosas e não representam perigo para nós depende da correlação de forças e resolve-se pela luta, porque também as concessões representam um aspecto da luta, a continuação da luta de classes sob outra forma, e de modo nenhum a substituição da luta de classes pela paz de classes. Os métodos de luta a aplicar serão definidos pela prática.

O capitalismo de Estado sob a forma de concessões constitui talvez a forma mais simples, nítida, clara, precisamente determinada, em comparação com outras formas do capitalismo de Estado dentro do sistema soviético. 

Temos aqui um contrato direto, formal, escrito, com o capitalismo mais culto e avançado, o da Europa Ocidental. 

Conhecemos exatamente as nossas vantagens e as nossas perdas, os nossos direitos e os nossos deveres, conhecemos precisamente o prazo pelo qual fazemos a concessão, conhecemos as condições do resgate antes do prazo, se o contrato prevê o direito de resgate antes do prazo. 

Pagamos um certo tributo ao capitalismo mundial, resgatamo-nos dele sob determinados aspectos, obtendo imediatamente em certa medida a consolidação da situação do Poder Soviético e a melhoria das condições de gestão da nossa economia. 

Toda a dificuldade no que se refere às concessões resume-se a que é preciso pensar e pesar tudo ao concluir o contrato da concessão, e depois saber vigiar o seu cumprimento. 

Existem aqui indubitavelmente dificuldades, e os erros serão aqui certamente inevitáveis nos primeiros tempos, mas essas dificuldades são mínimas em comparação com os outros problemas da revolução social, particularmente em comparação com as outras formas de desenvolvimento, de admissão e de implantação do capitalismo de Estado. (…)”

http://www.marxists.org/portugues/lenin/1921/04/21.htm

Por MiriamL

A tarefa mais importante de todos os funcionários do partido e dos Sovietes em relação à introdução do imposto em espécie consiste em saber aplicar os pincípios, as bases da política «concessionista» (isto é, semelhante ao capitalismo «concessionista» de Estado) às outras formas do capitalismo, ao comércio livre, à circulação local de mercadorias, etc. (…)
 
Conclusão
 
Façamos o resumo.
 
O imposto em espécie é a transição do comunismo de guerra para uma troca socialista regular de produtos.
 
A ruína extrema, agravada pela má colheita de 1920, tornou esta transição urgentemente necessária devido à impossibilidade de restabelecer rapidamente a grande indústria.
 
Daí resulta: melhorar, em primeiro lugar, a situação dos camponeses. Meio: o imposto em espécie, o desenvolvimento da circulação de mercadorias entre a agricultura e a indústria, o desenvolvimento da pequena indústria.
 
A circulação de mercadorias é a liberdade de comércio, é o capitalismo. Ele é-nos útil na medida em que nos ajudar a lutar contra a dispersão do pequeno produtor e, até certo ponto, contra o burocratismo. A experiência, a prática, estabelecerão a medida. Não há nisso nada de terrível para o poder proletário enquanto o proletariado mantiver firmemente o poder nas suas mãos, mantiver firmemente nas suas mãos os transportes e a grande indústria.
 
A luta contra a especulação deve ser transformada em luta contra os roubos e contra as tentativas de eludir a vigilância, o registo e o controlo do Estado. Com esse controlo dirigiremos o capitalismo, inevitável em certa medida e necessário para nós, para a via do capitalismo de Estado.
 
Desenvolver em todos os sentidos, por todos os meios e a todo o custo, a iniciativa e a autonomia locais no estímulo da circulação de mercadorias entre a agricultura e a indústria. Estudar a experiência prática neste aspecto. Torná-la tão variada quanto possível.
 
Apoiar a pequena indústria que serve a agricultura camponesa e a ajuda a reeguer-se; ajudá-la, até certo ponto, também pela distribuição de matérias-primas do Estado. O mais criminoso é deixar matérias-primas por transformar.
 
Os comunistas não devem recear «aprender» com os especialistas burgueses, incluindo os comerciantes, os pequenos capitalistas sócios de cooperativas, os capitalistas. Aprender com eles duma forma diferente, mas no fundo do mesmo modo que aprendemos e nos instruímos com os especialistas militares. Os resultados do «ensino» deverão ser verificados apenas pela experiência prática: fazei-o melhor do que o faziam ao vosso lado os especialistas burgueses, sabei alcançar duma ou doutra forma o ascenso da agricultura, o ascenso da indústria, o desenvolvimento da circulação de mercadorias entre a agricultura e a indústria. Não regateeis o preço da «lição»: não devemos olhar ao preço, desde que a lição seja proveitosa.
 
Ajudar por todos os meios a massa dos trabalhadores, aproximar-se dela, destacar dela centenas e milhares de funcionários sem partido para o trabalho económico. E os «sem partido» que de facto não sejam mais do que mencheviques e socialistas-revolucionários disfarçados com os trajes da moda dos sem partido de Cronstadt, devemos mantê-los cuidadosamente na prisão ou enviá-los para Berlim, para Mártov, para que gozem livremente todos os encantos da democracia pura, para que troquem livremente as suas ideias com Tchernov, com Miliukov e com osmencheviques georgianos.
 
V. I. Lénine21 de Abril de 1921
Redação

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  1. A necessária separação entre Governo e Partido Político

     

    A postura de alguns militantes do PT têm se caracterizado por muita imaturidade, desde que o partido chegou ao poder federal, em 2003. É incrível que, depois de 10 anos no poder, alguns ainda não aprenderam a separar governo de partido.

    A lógica do governo não é, e nem deveria ser, a lógica do partido. Os que se decepcionam não sabem fazer essa separação. Recentemente, no caso do campo de Libra, mais uma vez essa postura se manifestou.

    Manter a militância no partido é fundamental. Ela dá vida e oxigena um partido. Mas para isso, fundamental é que as instâncias dirigentes do PT rediscutam as diferenças entre o papel de um partido e os limites e condicionantes de um governo de coalizão. Ainda que o partido em questão seja o majoritário. 

  2. Coitado do Lênin

    Minha mãe!!!! No desespero vale tudo para justificar a venda do nosso petróleo ao capital estrangeiro, além de outras trasições. Até mesmo citar Lênin, que deve estar querendo sair de seu mausoléu na Praça Vermelha para esbofetear os oportunistas que usam e abusam de citações fora de seu contexto histórico. Lênin foi um REVOLUCIONÁRIO, cujas concessões ditadas por circunstâncias desfavoráveis, visavam fortalecer a construção do socialismo e o primeiro Estado operário da história. O que vivemos hoje com o PT é mera e simplesmente a tentativa de manter intacto os interesses dos capitalistas nacionais e estrangeiros, fortalecendo cada vez mais o controle do Estado burguês nas mãos de suas frações hegemônicas e de quebra garantir empregos comissionados no setor públicos para uma leva de militantes burocratizados. Para as massas, resta uma política de apassivamento baseada na geração de empregos cada vez mais precários e com baixíssimos salários, e uma cidadania de consumo que nos reserva poucos direitos e muitas dívidas. Qualquer tentativa de comparação com o contexto russo, portanto, é anacrônica.

    1. Incrível o grau de insanidade do esquerdismo delirante

      E quem está fazendo comparações, cabeça de prego? Onde estão as comparações neste post?

  3. PETRÓLEO: OS SIGNIFICADOS DA PRIVATIZAÇÃO

    PETRÓLEO: OS SIGNIFICADOS DA PRIVATIZAÇÃO

    O leilão do campo Libras, marcado para o próximo dia 21, traz em seu bojo um profundo significado histórico, como capitulação e entrega da principal riqueza do país a multinacionais, após a longa luta pelo “Petróleo é nosso”, e de violação da ética eleitoral – já que a candidata Dilma foi eleita priorizando um discurso antiprivatização, tendo dito explicitamente ser “um crime privatizar o Pré-Sal” (ouça aqui).

    A escolha, como sede do evento, de um hotel privado de nome inglês, em plena Barra da Tijuca – a “Miami brasileira” -, no lugar de um prédio público, e a convocação do Exército e da Força Nacional para garantir a segurança do leilão falam por si como índices da defesa dos interesses nacionais e do apreço pela democracia popular. Nem mesmo a opinião contrária ao leilão da imensa maioria dos especialistas no assunto e a greve dos petroleiros – os trabalhadores especializados que mais entendem de petróleo no país – têm o condão de demover o governo Dilma de realizar esse crime de lesa-pátria.

    Após a “concessão” de aeroportos, portos e estradas e logo após o anúncio de um aumento de 29% no preço máximo de duas rodovias federais que serão leiloadas em novembro – qualquer semelhança com o PSDB não é mera coincidência -, o leilão do Pré-Sal representa a perda de qualquer escrúpulo de natureza ideológica ou programática por parte do governo federal para a adoção da privatização como política setorial de Estado. Reacende, assim, o debate público sobre um tema com profundas ressonâncias na vida socioeconômica brasileira das últimas décadas.

    PRIVATARIAS A GRANEL
    Abordadas inicialmente por Aloysio Biondi – um jornalista econômico com tal grau de independência e expertise que foi capaz de identificar, no calor da hora, de forma documentada e em detalhes, o descalabro que foi a privatização da era FHC –, tais consequências, examinadas amiúde em textos em sua maioria acadêmicos e desconhecidos mesmo de leitores interessados no tema, voltaram com mais força ao debate público graças, sobretudo, ao livro A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr. (Geração Editorial, 2011), que tem promovido uma ainda tímida mas efetiva revisão das consequências da privatização dos anos 90.

    Trata-se de um empreendimento essencial para que possamos não apenas melhor entender nosso passado – bem como temas essenciais como a relação entre capital, mídia e a propagação de concepções valorativas sobre os âmbitos público e privado -, mas evitar repetir graves erros. Porém, como estes potencialmente não se restringem aos resultados da privatização promovida pelo governo peessedebista – sendo, na verdade, inerentes à concepção ideológica de Estado que gerou o boom das privatizações, da qual decorrem -, é necessário expandir a análise para além do retrato de seus temerosos resultados, contextualizando-a em termos históricos, econômicos e culturais. Não há como fazê-lo em poucas linhas. Peço, portanto, paciência ao leitor.

    NEW WORLD ORDER
    O modelo de privatização do Estado tal como mundialmente difundido a partir da primeira metade dos anos 90 deriva diretamente do chamado Consenso de Washington – uma cesta de dez medidas originalmente concebidas, por economistas do setor financeiro, como receituário a ser adotado – ou imposto – aos países latino-americanos como forma de, através de ajustes macroeconômicos, padronizar suas economias e, alegadamente, permitir sua “inserção” na (ou, em muitos casos, absorção pela) “nova ordem econômica mundial” liderada pelos EUA e caracterizada pelo capitalismo tecnofinanceiro.

    Nesse processo, encerra-se não somente a repartição binária do poder mundial pré-Queda do Muro de Berlim, mas, definitivamente, a era do sistema econômico mundial acordado em Bretton Woods (ou seja, em que a cotação das moedas nacionais em relação ao dólar, e desta em relação ao preço do ouro, pretensamente funcionaria como uma âncora entre a economia real e a financeira). O capitalismo, então, pela primeira vez em sua história, se reifica em um modelo sem lastro monetário, com predomínio do financeiro sobre a economia real e no qual têm papel preponderante as tecnologias de informação e a telecomunicação digital em tempo real. É este o sistema econômico mundial sob o qual temos vivido nos últimos 20 e poucos anos.

    Naturalmente, sem os contrapesos que a competição entre capitalismo e socialismo impunha, tal sistema implica, em termos sociais, na redução – ou, a depender de fatores geopolíticos, mesmo no fim – do Estado de Bem-Estar Social que assegurara, ao longo do século XX, as maiores conquistas trabalhistas e sociais da história da humanidade. Tal abandono se dá em prol de uma “nova ordem” em que o Estado daria lugar ao protagonismo do setor financeiro e de megas corporações forjadas a partir de sucessivas fusões empresariais, num modelo altamente nocivo à economia real e ao mundo social do trabalho. Decorrência óbvia dessa dinâmica, o consumo como gerador de cidadania e a criminalização da pobreza completam o quadro dantesco.

    Das dez medidas propostas pelo Consenso de Washington – disciplina fiscal, corte de gastos públicos, reforma tributária, juros e dólar regulados pelo mercado, abolição de barreiras ao comércio exterior e ao investimento estrangeiro em economias nacionais, desregulamentação do mercado de trabalho, respeito aos direitos autorais, e privatização do Estado -, esta última foi não somente a mais visível e impactante das políticas adotadas, como o próprio termo que a designa passou a ser utilizado como uma referência sumária às políticas de orientação neoliberal.

    O papel da mídia
    A privatização foi “vendida” à população de boa parte do mundo como uma panaceia: por um lado, enxugaria os gastos estatais; por outro, abasteceria os cofres públicos com a receita das vendas das empresas e dos serviços gerenciados pelo Estado. Um autêntico Ovo de Colombo! Ao menos foi assim que a mídia corporativa, em bloco, de forma incessante e sem permitir a menor dissonância (a internet não havia ainda se popularizado) a propagou.

    Nessa nova conformação, passam a existir razões tanto estruturais quanto de confluência de interesses econômicos que explicam porque a mídia corporativa torna-se não só uma defensora precípua do neoliberalismo, mas parte constitutiva – e, portanto, interessada – desse capitalismo infotelefinanceiro que tem na cartilha neoliberal sua base ideológica: legitimá-lo e retroalimentá-lo significa, na prática, aumentar continuamente a importância e agregar valor material à própria mídia (tanto de seu produto-informação quanto de sua estrutura).

    Antonio Rubim, no artigo “A contemporaneidade como Idade Mídia” sugere que essa nova dinâmica capitalista implica na revisão do papel dos aparelhos de reprodução midiática na clássica divisão marxista entre estrutura e superestrutura – já que, incrustada, como parte constituinte, no próprio aparelho reprodutor do sistema econômico, a mídia não pertenceria mais exclusivamente ao segundo termo da equação.

    Talvez isso soe um tanto abstrato, mas o importante a reter é que o papel da mídia em corroborar o receituário neoliberal e em fornecer-lhe autenticidade ideológica está hoje não só bem documentado, mas analisado – eventualmente com brilhantismo – por dezenas de autores. Ao internauta não familiarizado com o tema e indisposto ao tempo demandado pelos livros basta, talvez, a leitura do artigo “O Globalismo como neobarbárie”, do professor brasileiro Muniz Sodré (um dos ótimos textos críticos sobre globalização oferecidos pela coletânea Por Uma Outra Comunicação (Record, 2003), organizada por Dênis de Moraes).

    No curto texto, Sodré, a partir da constatação de que “todo fenômeno social de largo alcance gera (…) uma prática discursiva pela qual se montam e se difundem as significações necessárias à aceitação generalizada do fenômeno”, traça uma verdadeira genealogia e uma análise do modus operandi dos agentes midiáticos encarregados de fornecer uma retorica de legitimação ao neoliberalismo. Adotando o mercado como paradigma, essa “elite logotécnica”, atuando no ãmbito das formações ideológicas, adota uma lógica discursiva segundo a qual “a economia de mercado é traduzida como resultado de uma natureza eterna e imutável do homem”, fornecendo “uma base não-meritória para justificar a desigualdade” e colocando as demandas sociais em segundo plano ante a sacrossanta auto-regulação do mercado.

    Deriva precisamente desse “cadinho de cultura” o protagonismo midiático de jornalistas (e protojornalistas) econômicos que ainda hoje continuam em evidência nas corporações midiáticas e cuja linha de atuação consiste em negar-se a reconhecer qualquer avanço na economia que não derive do receituário neoliberal. Esses analistas simbólicos – muitos dos quais atuam “simultaneamente” na imprensa, na TV, no rádio e na internet – são alguns dos principais responsáveis, por um lado, pela fixação e naturalização, no senso comum, do modelito neoliberal, privatista e anti-Estado como o único válido; e, por outro, pelo terrorismo midiático contra a adoção de qualquer medida que divirja de tal paradigma.

    Ventríloquos do grande capital, do mercado e da plutocracia midiática, formam, há décadas, a linha de frente da oposição aos avanços sociais e à verdadeira democratização do país. Gozam, ainda, de acesso a um contingente enorme do público, mas, após a popularização da internet e o fenômeno da blogosfera política e das redes socais, são volta e meia contraditos e desmascarados publicamente. Reinaram, porém, nos anos 90, tendo sido fundamentais para articular e propagar a ideologia que sustentou, ante o público, a urgência e inescapabilidade das privatizações dos anos FHC.

    NOVILÍNGUA TUCANA
    A novilíngua da privatização tucana era direta, técnica e alvissareira: prometia trocar o inchado, letárgico e ineficaz Estado brasileiro pela eficiência implacável das gestões metódicas; relegar o ideologismo fanático e descriterioso pelo tecnicismo científico e (acredite quem quiser) a-ideológico; substituir os barnabés caipiras, pançudos e insolentes, sanguessugas das tetas do Estado, por funcionários asseados, adestrados e risonhamente submetidos aos rigores da hierarquia, da disciplina e do relógio de ponto.

    Falar é fácil, mas a realidade foi bem outra. O destino dado às receitas obtidas pela privatização do Estado brasileiro na era FHC permanece – ou ao menos permanecia, até a publicação de A Privataria Tucana – um mistério. De qualquer modo e ao contrário do que fora apregoado, ele nunca serviu para a liquidação ou mesmo amortização de nossa dívida externa – muito pelo contrário: o Brasil que FHC entregou a Lula devia R$20,8 bilhões e a razão da dívida pública sobre o PIB era de 60,6%. Em resumo: a privatização, no Brasil, foi um grande engodo.

    Em decorrência, é óbvio que, após as privatizações dos anos 90, tampouco o Estado, desprovido de suas gorduras, tornou-se mais eficiente – e não só porque não há eficiência que resista à falta de giz para escrever na lousa ou ao breu resultante de lâmpadas que não se acendem (porque a conta de energia elétrica não foi paga) – mas pelo fato de que a aposentadoria massiva de recursos humanos, promovida pelo hoje canonizado Bresser Pereira, fez o índice de médicos por paciente e de professores por aluno cair a níveis muito abaixo dos que são internacionalmente aceitáveis.

    O resto é história. Contada em pouquíssimos livros, ocultada pela imprensa, mas de plena lembrança nos corações, mentes e bolsos dos brasileiros, da classe média para baixo, que vivenciaram o negro quarto de século que separa a adoção do Consenso de Washington e sua substituição por um modelo que, embora conservando parte considerável das orientações neoliberais – como na atuação do Banco Central, na priorização do setor financeiro, na manutenção dos contratos terceirizados de obras e serviços, nos superávits primários ou no modelo de incentivo estatal à cultura -, passou, a um tempo, a promover a ascensão socioeconômica dos estratos menos favorecidos e a apostar na expansão tanto do Estado quanto do mercado interno como propulsores da economia – três premissas que contrariam frontalmente os dogmas neoliberais.

    No entanto – e após não apenas manter mas aprofundar os citados resquícios de neoliberalismo que caracterizaram o governo Lula – a administração Dilma, ao retomar a política de privatização do Estado, reinsere na agenda, no momento de maior crise internacional do modelo neoliberal, o principal item do Consenso de Washington, perdendo uma oportunidade histórica de marcar uma posição progressista, de minar ainda mais o modelo hegemônico e de oferecer alternativas próprias e não conservadoras ao domínio político-ideológico.

    NOVILÍNGUA PETISTA
    Ao contrário do vocabulário neoliberal tucano, a ora corrente novilíngua da administração federal petista em relação às privatizações é dissimulada e sussurrante. A insistência em termos como “concessão” e “controle do Estado” – cuja efetividade não supera o jogo de palavras – procura mitigar a contradição de estar promovendo uma política administrativa a qual, a exemplo da maioria de seus eleitores, o petismo sempre rejeitou e, como já mencionado, cujas acusações de uso pelos adversários peessedebistas serviram de arma eleitoral nos últimos pleitos presidenciais.

    Mas, se na forma as privatizações tucana e petista diferem, na essência implicam em uma premissa em comum: a crença na incapacidade do Estado (e, em decorrência, em seus servidores) de realizar, com a excelência e a presteza necessária, as obras demandadas pelo país. Outo ponto em comum, de igual gravidade, é a urgência em trocar o patrimônio nacional – no caso, nossa maior riqueza mineral – por uma injeção de capital que atenda as necessidades de ocasião e equilibre as contas do governo, satisfazendo às imposições fiscais do mercado financeiro – leia-se alto superávit primário. Agravam ainda mais as preocupações o fato de tal barganha se dar às vésperas das eleições, e sob o comando de um partido cuja cúpula, tentando evitar ser condenada pelo “mensalão”, admitiu com naturalidade a prática de caixa 2.

    Ao alienar tal patrimônio público – e de forma desnecessária, afobada e contrária aos interesses do povo brasileiro – o governo Dilma Rousseff valida e corrobora a visão do Estado brasileiro como um ente incompetente, incapaz de operar com destreza e expertise, colocando-o, simbólica mas efetivamente, em uma posição hierarquicamente inferior em relação à iniciativa privada. É no mínimo contraditório que tal política seja promovida por um governo que afirma estar ora a realizar uma revolução na – atenção para a significativa apropriação de um slogan marqueteiro tucano – “gestão do Estado”, a qual alegadamente otimizaria a atuação do funcionalismo público e o funcionamento da máquina estatal.

    Retornando, em uma perspectiva crítica, às ideias de Sodré, parece necessário reconhecer que, se o apoio militante da mídia aos pressupostos neoliberais mesmo durante os governos Lula e Dilma foi, de fato, um obstáculo de difícil transposição à articulação e à difusão de uma prática discursiva que desse conta do modelo mezzo neoliberal, mezzo pós-keynesiano em vigência em tais administrações petistas – e que colaborasse para aprimorá-lo -, a insistência destas em não confrontarem o establishment neoliberal em seu quesito essencial acaba por evidenciar o esvaziamento ideológico da política que tal recusa promove.

    O resultado, do ponto de vista do espectro político, é o esvaziamento do campo político da esquerda, em relação ao qual programas de renda mínima e política de cotas – que nada custa ao Estado – fazem as vezes de políticas sociais a um tempo reestruturantes e duradouras, que também afetasse o topo da pirâmide econômica, taxando os mais ricos e diminuindo as pornográficas taxas de lucro de banqueiros e grupos de telecomunicação.

    Este é, em si, um dos aspectos mais retrógrados e, a médio prazo, potencialmente mais danosos à evolução do debate público no Brasil, pois ao invés de avançar em direção contrária e para além do conteúdo programático neoliberal, os setores ditos progressistas e de centro-esquerda ora no poder preferem mimetizar o conservadorismo, endossá-lo e com ele se confundir, correndo o risco de, ao tornar-se ideologicamente indistinguível aos olhos dos eleitores, abrir caminho para a oposição conservadora. Exemplo prático: no caso de uma vitória de uma força conservadora nas próximas eleições, esta se veria desobrigada de explicar uma eventual política de privatização, graças ao retorno disseminado de tal prática no governo Dilma.

    RETROCESSO CONSERVADOR
    Assim além de fortalecer tremendamente a posição da mídia corporativa – a qual, em relação ao leilão de Libras, endossa com prazer a opção pela privatização, provando, uma vez mais, que sua generalização como “PIG” não procede – a atual administração fornece subsídios que revalidam a opinião daqueles que acham que há mínimas diferenças entre os métodos e estratégias tucanos e petistas e que a disputa entre PT e PSDB não passa de uma luta pelo poder, sem um verdadeiro embate de conteúdos programáticos, ideologias e propostas. Ela fortalece também a posição dos muitos que consideram que falta à aliança petista coragem e/ou vontade política para assumir uma posição político-ideológica, difundi-la e defendê-la, como forma de promover o avanço da cidadania e das lutas político-sociais.

    Além disso, ao desmentir, na prática, o discurso com o qual fora eleita, agindo de forma contrária do que apregoara e traindo a muitos eleitores que nela confiaram, Dilma fragiliza ainda mais os parâmetros éticos da política brasileira e intensifica a tendência, ora corrente em praticamente todo o mundo, ao desencanto com a política oficial. A necessidade de que os políticos brasileiros cumpram os compromissos em campanha, ao menos em linhas gerais, transcende a luta partidária: é do interesse da cidadania e do aperfeiçoamento da democracia brasileira. Por respeito ao eleitor, um governante que faz exatamente o contrário do que apregoou na campanha eleitoral, sem nenhuma calamidade que o force a isso, deveria sofrer alguma forma de grave sanção, como forma de desestimular tal estelionato eleitoral.

    Por fim, com o retorno à privatização de portos, aeroportos e estradas – além do petróleo, que o povo brasileiro tanto utou para que fosse nosso – o governo Dilma reforça e acelera a impressão –  acentuada após os protestos de junho – de que é necessário superar o falso binarismo “petismo versus peessedebismo” e buscar uma terceira opção que resgate e assuma, de forma clara e como tais, não só uma práxis de esquerda, mas de primazia ao interesse nacional sobre em relação à agenda do mercado financeiro – com um mínimo que seja de disposição de confrontar o mercado, a mídia, o latifúndio e as grandes fortunas.

    http://cinemaeoutrasartes.blogspot.com.br/2013/10/petroleo-os-significados-da-privatizacao.html

  4. Caro Nassif e demais
    Um texto

    Caro Nassif e demais

    Um texto de Lenin, sempre me é bem vindo, uma vez o esforço coletivo de sempre quere dá-lo como morto. Mas continua vivo e influente.

    Em apoio ao Sérgio Lamarca, “Um passo em frente…..” também seria interessante, em especial a sua contextualização.

    Saudações

      1. Caro Motta
        O fato de não se

        Caro Motta

        O fato de não se falar de um assunto, não quer dizer que o assunto não esteja lá.

        Como não está na Rússia, e trabalho todo que está sendo feito para desconstruir Lenin?

        É como Marx, em Davos, só não se fala em Marx, mas se dirige guiado por ele.

        Saudações 

         

  5. Concessões desnecessárias

    Não se pode considerar o leilão de libra como privatização, com a Petrobrás como operadora prioritária e o estado brasileiro com 80% dos lucros. Capitalizada por esse leilão, nos próximos leilões a Petrobrás terá mais de 40% do mínimo permitido pela lei.

    Quem derá ter havido o regime da Partilha para a VALE.

    Porém é lamentável a atitude do governo Dilma ao conceder Aeroportos, Ferrovias e Rodovias.

    Sorte do PT em não perder o discurso, outros governantes do partido vem fazendo o contrário da Dilma, felizmente:

    http://www.viomundo.com.br/politica/tarso-genro-acaba-com-pedagio-no-rs.html

    http://www.dcomercio.com.br/index.php/cidades/sub-menu-cidades/114996-haddad-pretende-ressuscitar-a-cmtc

    1. Concordo 100%

        O que me preocupa o risco de se confundir todos estes projetos em uma simplificação grosseira, o caso dos aeroportos foi amplamente debatido aqui prevalecendo uma posição crítica ao governo.

  6. Lênin

     

     

    Depois de ver pessoas íntegras, mas – creio – equivocadas, manifestarem sua indignação com a partilha do campo de Libra, foi um bálsamo, Diogo, a leitura de seu “post”. Em particular, há um trecho de Lênin que creio necessário repetir para maior reflexão: “Temos, por exemplo, uma centena de explorações, minas ou florestas. Nós não podemos explorar tudo: não temos máquinas, víveres, meios de transporte suficientes. Pelo mesmo motivo exploramos mal os restantes setores”.

    Não é outra a consciência que animou o governo federal a discutir o assunto, via audiências públicas, e a submetê-lo ao Congresso Nacional. Sob esse aspecto, convenhamos, o leilão de Libra não foi nenhum “raio em céu azul”: foi precedido de dois anos de audiências públicas e de discussões parlamentares!

    A luta política deveria ter sido travada antes e não agora, quando se tem pronto todo um arcabouço institucional e jurídico democraticamente votado e sancionado.

    É interessante verificar como, embora por motivos diferentes, a direita e os críticos à esquerda parecem coincidir de opinião: os primeiros na expectativa do momento político adequado para entregar a jazidas a seus suseranos. Os segundos, na expectativa de um Brasil autárquico que possa explorar sozinho o pré-sal, num horizonte temporal imprevisível e em benefício – não se sabe – de quem.

    Convenhamos que, à luz do direito internacional, ainda não é inteiramente pacífica a posse brasileira sobre as jazidas do pré-sal. Os EUA ainda não reconhecem o direito dos países sobre suas plataformas continentais e está aí, recentemente reativada, a IV Frota estadunidense. É preciso criar – e rápido – o fato consumado. Fato ainda mais consumado se tivermos sólidos interesses internacionais envolvidos na questão, inclusive – mas não só – empresas de outros países participando da exploração conjunta.

    Posso estar equivocado, mas não levar isso em conta parece-me um falso nacionalismo.

     

     

     

     

     

     

     

  7. Lênin

    Depois de ver pessoas íntegras, mas – creio – equivocadas, manifestarem sua indignação com a partilha do campo de Libra, foi um bálsamo, Diogo, a leitura de seu “post”. Em particular, há um trecho de Lênin que creio necessário repetir para maior reflexão: “Temos, por exemplo, uma centena de explorações, minas ou florestas. Nós não podemos explorar tudo: não temos máquinas, víveres, meios de transporte suficientes. Pelo mesmo motivo exploramos mal os restantes setores”.

    Não é outra a consciência que animou o governo federal a discutir o assunto, via audiências públicas, e a submetê-lo ao Congresso Nacional. Sob esse aspecto, convenhamos, o leilão de Libra não foi nenhum “raio em céu azul”: foi precedido de dois anos de audiências públicas!

    A luta política deveria ter sido travada antes e não agora, quando se tem pronto todo um arcabouço institucional e jurídico democraticamente votado e sancionado.

    É interessante verificar como, embora por motivos diferentes, a extrema direita e os críticos à esquerda parecem coincidir de opinião: os primeiros na expectativa do momento político adequado para entregá-la a seus suseranos. Os segundos, na expectativa de um Brasil autárquico que possa explorar sozinho o pré-sal, num horizonte temporal imprevisível e em benefício – não se sabe – de quem.

    Convenhamos que, à luz do direito internacional, ainda não é inteiramente pacífica a posse brasileira sobre as jazidas do pré-sal. Os EUA ainda não reconhecem o direito dos países sobre suas plataformas continentais e está aí, recentemente reativada, a IV Frota estadunidense. É preciso criar – e rápido – o fato consumado. Fato ainda mais consumado se tivermos sólidos interesses internacionais envolvidos na questão, inclusive – mas não só – empresas de outros países participando da exploração conjunta.

    Posso estar equivocado, mas não levar isso em conta parece-me um falso nacionalismo.

    1. Finalmente uma boa contribuição

      Tive que ler o trecho do Lenin e todos os comentários dos “gladiadores”de diversas posições e matizes para finalmente ler uma opinião sensata e informativa. Eu não tinha idéia da existência de controvérsia sobre a posse aparentemente tranquila do pré-sal, e portanto, essa possível ameaça por parte de conhecidos rapinantes estrangeiros contribui para legitimar a estratégia adotada no leilão, envolvendo no negócio grandes empresas européias, além de chineses, o que inibe as comichões agressivas norte-americanas.   

  8. A fundamental diferença da

    A fundamental diferença da situação soviética dos anos 20 com o Brasil da segunda década do século XXI é que, na Rússia, o proletariado havia tomado o poder e apeado a burguesia como classe. No Brasil do século XXI, os mencheviques estão no governo em aliança com os Miliúkovs e só brandem o bicho-papão do retorno do czarismo como forma de justificar a sua política oportunista. Como diz o Lênin, no próprio texto:

     

    «O espírito de conciliação do tempo de Kérenski entregava o poder à burguesia imperialista, e a questão do poder é a questão fundamental de qualquer revolução. O espírito de conciliação de uma parte dos bolcheviques em Outubro-Novembro de 1917 ou temia a tomada do poder pelo proletariado ou queria partilhar a meias o poder não só com os ‘companheiros de viagem inseguros’, como os socialistas-revolucionários de esquerda, mas também com os inimigos, os Tchernovistas, os mencheviques, que nos teriam estorvado inevitavelmente no fundamental: na dissolução da Constituinte, na destruição implacável dos Bogaévski, na completa aplicação das medidas das instituições soviéticas, em cada confiscação.

    «Agora o poder foi tomado, mantido, consolidado nas mãos de um partido do proletariado, mesmo sem os ‘companheiros de viagem inseguros . Falar agora de espírito de conciliação, quando não se trata nem pode sequer tratar-se de partilhar o poder, de renunciar à ditadura dos proletários contra a burguesia, significa simplesmente repetir como uma pega palavras aprendidas de cor, mas não compreendidas. Chamar ‘espírito de conciliação ao facto de que, chegados a uma situação em que podemos e devemos administrar o país, tentemos ganhar, sem poupar dinheiro, os elementos mais cultos instruídos pelo capitalismo, pô-los ao nosso serviço contra a desagregaçao dos pequenos proprietários, significa não saber de modo nenhum pensar nas tarefas económicas da edificação do socialismo.”

    Ou seja, as concessões, necessárias no contexto da destruição econômica pós-guerra civil e cerco capitalista, se davam, no entanto, na situação de um governo que havia derrotado a burguesia e o imperialismo em uma guerra civil e detinham todo o poder.

    Como demonstra o imenso temor de Diogo Costa e companheiros da constante ameaça da direita, seja via mídia, seja via Instituto Millenium, seja via Marina Silva, Aécio ou Eduardo Campos, não é a situação do Brasil. Dilma e Lula estão mais para Kerênski, fazendo concessões à burguesia intacta para garantir uma mera posição de governo semi-impotente para fazer mudanças estruturais do que para o governo soviético do início dos anos 20.

    E nem o Diogo Costa é delirante ao ponto de afirmar que. no Brasil, o proletariado tem o domínio do Estado. Pois bem, Lênin diz, no mesmo texto:

     

    «Ao mesmo tempo, o socialismo é inconcebível sem o domínio do proletariado no Estado: isso é também o á-bê-cê. A história (de que ninguém, excepto os mencheviques obtusos de primeira ordem, esperava que desse de modo suave, tranquilo, fácil e simples o socialismo ‘integral’) seguiu um caminho tão peculiar que pariu em 1918 duas metades desligadas de socialismo, uma ao pé da outra, exactamente como dois futuros pintos dentro da mesma casca do imperialismo internacional. A Alemanha e a Rússia encarnaram em 1918 de modo mais patente a realização material das condições económico-sociais, produtivas e económicas do socialismo, por um lado, e das condições políticas do socialismo, por outro lado.”

    Isto é, para Lênin, só os “mencheviques, obtusos de primeira ordem”, esperariam um socialismo integral vir de maneira tranquila, fácil, simples, como… por meio de eleições e conchavos com a burguesia. E foi o oportunismo da social-democracia alemã que, nas melhores condições econômicas para a construção do socialismo, preferiu as alianças estapafúrdias com a burguesia, como no governo de Ebert-Scheidemann, em que o operário Noske liderava os Freikorps (como a polícia do “companheiro” Cabral) para reprimir os trabalhadores e assassinar os membros do que um Diogo Costa burocrata sindical ou partidário social-democrata da época chamaria de ultraesquerda, como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. E deixaram a Rússia isolada com as condições políticas para o socialismo, mas sem as condições econômicas, único motivo da NEP.

    Por último, a NEP era uma política desesperada para superar o atraso da Rússia, em um contexto de falha da revolução nos países capitalistas avançados, porque a Rússia não era ainda NEM CAPITALISTA. Nem o mais louco delírio de um Diogo Costa, por outro lado, poderia demonstrar que, hoje, o Brasil não é plenamente capitalista, o que põe por terra toda a possibilidade de comparação. Novamente, com a palavra o próprio Lênin, no mesmo texto:

    “O capitalismo é um mal em relação ao socialismo. O capitalismo é um bem em relação ao medievalismo, em relação à pequena produção, em relação ao burocratismo ligado à dispersão dos pequenos produtores. Uma vez que ainda não temos forças para realizar a passagem directa da pequena produção ao socialismo, o capitalismo é em certa medida inevitável, como produto espontâneo da pequena produção e da troca, e portanto devemos aproveitar o capitalismo (principalmente dirigindo-o para a via do capitalismo de Estado) como elo intermédio entre a pequena produção e o socialismo, como meio, via, processo ou método de elevação das forças produtivas.”

    Por isso, para defender a política oportunista do menchevismo petista, é melhor Diogo Costa buscar outros autores. Que tal Eduard Bernstein? Pode ser a edição do Instituto Teotônio Vilella do PSDB:

    http://ww1.psdb.org.br/psdb_antigo/Partido/itv/publicacoes.htm

    2. SOCIALISMO EVOLUCIONÁRIO
    Eduard Bernstein – 1997

     

     

     

    1. Não viaja tchê

      Eu trouxe um texto para debate. Não fiz nenhuma comparação com o Brasil atual. Se quisesse fazer isto, teria feito, sem problemas nenhuns. O esquerdismo delirante é tão tosco, sectário e, delirante, que vê fantasmas em cada esquina…

  9. Muito bom conhecer essa

    Muito bom conhecer essa faceta da NEP, até porque o compromisso primordial de Lenin foi realizar uma Revolução Industrial em um país rural quase feudal com um capitalismo tardio, e ele conseguiu.

    A conclusão que tiro é que esse pessoal estadista ao extremo é mais anacrônico do que o Lenin.

  10. Olha, de todos os posts do

    Olha, de todos os posts do Diego defendendo o governo a qualquer custo, esse ganha de longe no quesito cara-de-pau.

    Invocar Lênin para defender a Privataria II que este governo vem promovendo (não só na Petr, mas também nos aeroportos, estradas, financiamentos do BNDES a Eike, Oi etc) é o cúmulo do fanatismo, ou de coisa pior.

    É absolutamente ridículo comparar a Rússia dos anos 1920, recém saída de um Czarismo feudal multicentenário, agrária, arrasada pela I Guerra Mundial e pelas revoluções de fevereiro e de outubro de 1917 (portando, SEM GRANA PRA NADA), com o Brasil do século XXI, sétima maior economia do mundo, dotado de um orçamento federal superior a R$ 1 tri, de um Banco de Fomento que empresta mais do que o Banco Mundial, de indústrias de base já instaladas desde Getúlio, de indústrias de bens de consumo instaladas desde JK etc, etc, e mil outros etc…

    Enfim, os militantes perderam a noção do ridículo para defender este governo. 

    1. É um texto descritivo, pangaré

      Defendendo o governo? Onde? Quando? É um post descritivo, pangaré!

       

      Se eu quiser defender o governo desta ou daquela medida, escrevo diretamente. Onde tu viu alguma comparação entre a Rússia e o Brasil atual? Alguns e outros perderam completamente o senso. A burrice tomou conta. Um post descritivo, com Lenin comentando sobre a necessidade da NEP, vira uma ‘comparação’ com o Brasil… 

       

      Deve ser um orgulho a estupidez, para os estúpidos que leem o aquilo que não existe, só pode ser isto.

      1. Falou, puro-sangue

        O governo sendo criticado principalmente pela esquerda “dogmática”, “tradicional” etc, que é e sempre foi contra “concessão”, “privatização” ou que diabo de nome tenha, aí vem Vossa Senhoria e lança um texto de autoria de Lênin, ícone dessa esquerda, defendendo as concessões. Tipo um “vejam só, até Lênim defendia as concessões”.

        E agora vc vem dizer que não tem nada a ver com nada, foi por acaso seu texto.

        Hahahaha, duro é que você acredita nas coisas que diz…

         

  11. Quando se vê o que não existe, melhor contratar um psiquiatra

    O bom de trazer um post como esse para o blog é que de imediato surgem os sectários, acometidos de doenças infantis para lá de conhecidas. Por inferência, veem o que não existe no post. Por dedução, estabelecem comparações que só existem nas suas ocas e obtusas cabeçorras. É algo inacreditável.

     

    Num post descritivo, que não tem a pretensão de estabelecer nenhumas comparações estruturais ou conjunturais com o Brasil atual, surgem comentários de “revolucionários” que veem um fantasma em cada esquina!

     

    Esse tipo de comportamento do esquerdismo sectário, principista e microscópico é que faz com este mesmo esquerdismo se perca em devaneios, lendo, vendo ou ouvindo coisas que não existem, a não ser nas suas próprias e pobres imaginações.

  12. Puxa! Como nós, esquerdistas,

    Puxa! Como nós, esquerdistas, somos obtusos! O Diogo não queria defender o governo, nem justificar as privatizações do oportunismo petista. Só trouxe o texto de Lênin para discutir a situação russa dos anos 20 e nos ilustrar quanto ao pensamento revolucionário! Como eu não percebi esses louváveis e desinteressados propósitos! Como pude ser tão vil de pensar tão mal de uma criatura tão gentil, afável e preocupada com o debate como o Diogo! Ai de mim! Que vergonha!

    1. Não se envergonhe, outros tantos sofrem do mesmo mal…

      Não se envergonhe. Tu não é o único que vê duendes, fadas e potes de ouro no final dos arco irís…

       

      Quando eu quiser escrever um texto defendendo uma tese qualquer, o farei normalmente, como sempre fiz.

    2. “O Diogo não queria defender

      “O Diogo não queria defender o governo, nem justificar as privatizações do oportunismo petista. Só trouxe o texto de Lênin para discutir a situação russa dos anos 20 (…)”

      kkkkkkkkkkkk, pois é….

      O pior é que ele acha que mais alguém além dele acredita nisso…

       

      1. Exatamente

        Morales e Charlie

        Por isso eu (não foi a MiriamL como aparece erroneamente no post*) trouxe o complemento do artigo do Lenin, de 1920, contextualizando o mesmo, que falava em nome dos camponeses da Rússia … de então.

        Engraçado foi o Diogo ter parado no parágrafo imediatamente anterior ao seguinte:

        “A tarefa mais importante de todos os funcionários do partido …”

        hehehhhehee

        É rir pra não chorar. Ou, o Diogo seria cômico se não fosse trágico. Ou seria trágico, se não fosse cômico, ou…

        Pra ser bem sincera, é tragicômico!

        hahahhahhaha

        Eu até me divirto.

         

        *https://jornalggn.com.br/noticia/fora-de-pauta-21

        1. A fina ironia dos imbecis

          Trágico e cômico é a burrice de algumas pessoas, incapazes de assumir suas posições, a não ser por meio de interpostas pessoas. Esse tipo de imbecilidade é digno de piedade, nada mais do que isto.

          1. Que ironia…

            às vezes me envergonho da minha burrice, da minha inabilidade para com as palavras, das minhas limitações para o blablablá, que coisa… O que eu posso fazer?

            Por outro lado, que ironia, meu querido. Pensar que uma pessoa que possua (ou pense que possua ou aparentemente, superficialmente possua) uma inteligência excepcional, uma vasta cultura (leu todas as bíblias), o dom do blablablá, uma capacidade incrível de dramatização dos blás e coisa e tal, pensar que tudo isso não vale nada ou é totalmente anulado quando o indivíduo se torna um crente. Todas as suas capacidades parecem anuladas pela fé cega, pela devoção que não se permite questionar o seu deus… tanto talento desperdiçado.

            Pena que o seu deus não me abençoou com tamanha capacidade de blá. Ave PT! Dai-me sabeboria para nunca questionar-te, para crer em ti e defender-te em tudo e acima de tudo! Amém!

             

          2. A “burrice” não foi pra ti, até porque seria injusto

            Não se preocupe que a burrice não era direcionada para ti. Muito antes pelo contrário. Só não compreendo o porquê de algumas pessoas adorarem utilizar formas irônicas e sarcásticas, como se isto fosse um argumento e não uma simples pilhéria ou menosprezo. Este post hoje foi um clássico! Fui condenado pelo domínio do fato, afinal de contas, em que pese eu não ter escrito absolutamente nada daquilo que me acusam, sou condenado assim mesmo, afinal de contas eu, na verdade, mesmo sem escrever formalmente, quis dizer isso, aquilo ou aquilo outro. Isto é algo incrível! Responder por aquilo que a gente escreve é tranquilo, difícil é responder quando a gente faz um texto que não tem nada daquilo que as pessoas utilizam para condenar. Abraço.

          3. Bonito mesmo é chamar os

            Bonito mesmo é chamar os outros de “imbecil”, “idiota”, “pangaré”, “burro” e “estúpido”, como você fez acima.

            Isso sim é debate de alto nível…

            Na boa, a única diferença entre você e o “Tio Rei” é o sinal ideológico trocado, porque a agressividade, o radicalismo e a hidrofobia são iguais.

            Ah, e  o “Tio Rei” não tem carguinho comissionado.

          4. Mas é muito safado mesmo!

            Já não é a primeira nem a segunda vez que tu mente a meu respeito, dizendo que tenho um cargo comissionado.

             

            Tu é um safado, um sem vergonha, e, além de tudo isso, um réles mentiroso. Tu vai insistir nessa mentira deslavada? Preciso me informar para tomar as devidas providências.

          5. Foi vc quem disse que ocupou

            Foi vc quem disse que ocupou cargo nao sei de que em prefeitura da serra gaúcha.

            Ou não disse?

            No mais, você segue espumando de raiva igual os leitores da Veja e o guru deles.

            Cuidado, isso faz mal ao estômago.

          6. Então vamos ajustar. Vou te ajudar.

            Tchê, vamos então combinar o seguinte, não diga mais que eu tenho um cargo comissionado, pois eu não tenho. Vivo do meu trabalho na iniciativa privada, como a maioria das pessoas deste país.

             

            Se tu quiser dizer alguma coisa a meu respeito, eu vou te ajudar. Diga então que eu fui (pretérito), Diretor de Meio Ambiente numa prefeitura da Serra Gaúcha. Tudo bem, sem problema algum. Que eu saiba isto ainda não é crime… Um grande abraço.

          7. Não é crime algum, você é

            Não é crime algum, você é quem ficou ofendido.

            E pára de ficar se dando nota máxima assim que posta o próprio comentário, é coisa de garoto.

  13. So’ por “divertissao” adoro

    So’ por “divertissao” adoro ver a bananolandia reunida, ate o Morales apereceu…hehehe, coisa feia, coisa velha…e eles nem se aprecatam do ridiculo…

     

     

  14. Dieguito, com sua infinita

    Dieguito, com sua infinita mediocridade, agora resolveu sair em defesa de FHC e dos tucanos, tentando justificar as concessões promovidas por estes na exploração da telefonia, energia, etc.

    Seria cômico, se não fosse ridículo. 

    1. Palhaço graduado

      Resposta típica do palhaço do blog. O safado e palhaço graduado que oscila entre o Partido Baath e o Black Block, passando pelo anarquismo e pelas teses do PCB ou PSTU, sempre de acordo com a conveniência. Não tem, e nunca teve, a capacidade de escrever um único e mísero texto sobre assunto algum, pois é um imbecil completo que não sabe nem onde está e nem onde quer chegar.

        1. Só ser o Lênin

          E quem está a defender? O Lênin? Onde há alguma menção ao governo FHC, Lula ou Dilma? Tente agir com um pouco menos, se possível, de má-fé. Gracias.

          1. Todo mundo aqui sacou suas

            Todo mundo aqui sacou suas intenções com a postagem desse texto.

            Portanto, devo alertá-lo que, ser intelectualmente medíocre, não te impede de ser, pelo menos, intelectualmente honesto. 

          2. Impostor, charlatão e farsante

            Medíocre é um imbecil, que além de burro ao extremo, como tu, é incapaz de escrever um mísero texto sobre um assunto qualquer. Além de medíocre e incrivelmente burro, até bem pouco tempo atrás entrava aqui no blog com dois nomes e dois cadastros diferentes, até ser definitivamente desmascarado. Ou seja, além de tudo é um impostor, charlatão e farsante.

  15. Paulo Metri: Muito além do branco ou preto

    Libra: Day After

    por Paulo Metri, conselheiro do Clube de Engenharia, por e-mail

    Um amigo me perguntou, assim que soube do resultado do leilão de Libra, se ele tinha sido um sucesso ou um fracasso. O interessante é que, em muitos momentos na vida, respostas curtas não satisfazem.

    Comecei a explicar a ele que, se compararmos com a alternativa de entregar Libra através da lei das concessões (no 9.478), o que ocorreu foi um sucesso.

    Se compararmos com a alternativa de entregar o campo à Petrobras, sem leilão prévio, para ela sozinha assinar um contrato de partilha com a União em melhores bases para a sociedade, o ocorrido foi um fracasso.

    Neste momento, vem a célebre argumentação da falta de recursos da Petrobras.

    É verdade que o superbônus definido pelo governo atingiu seu duplo papel de conseguir arrecadar recursos para o superávit primário e de desalojar esta empresa da pretensão de ficar sozinha com o campo.

    A curtíssimo prazo, segundo autoridades, a empresa tem falta de recursos, sim. Mas, se ela passasse a ter, no seu portfólio, um campo com mais de 10 bilhões de barris, considerando que sempre foi competente para produzir petróleo, não teria a mínima dificuldade para obter financiamentos.

    Com o superbônus, o governo trocou o benefício de satisfazer o superávit primário, de curtíssimo prazo, por perdas que irão durar 35 anos.

    Considerando os impactos para a sociedade brasileira, a alternativa com a Petrobras, que está dentro da lei, pois atende ao artigo 12 da lei no 12.351, é a melhor, à medida que ficamos com 100% do petróleo, assim como 100% do lucro.

    Não sei se consegui, mas tentei explicar ao amigo que o leilão ocorrido consistiu em um “meio fracasso” e um “meio sucesso”.

    Meus amigos de esquerda dirão que foi um fracasso total. Quero lembrar a eles que a manchete principal de um dos jornalões, no dia do leilão, era que a lei dos contratos de partilha precisava ser reformulada, pois criava grandes dificuldades.

    Obviamente, queriam o retorno das concessões para o pré-sal.

    Infelizmente, existe no nosso país uma dicotomia também na mídia.

    Acho que a sigla PIG foi criada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, representando o Partido da Imprensa Golpista, que congrega a imprensa do capital. Aquela que busca iludir nossa sociedade para colher o máximo de aceitação dela, contrariando até os seus próprios interesses. Concordo integralmente com o criador da sigla PIG.

    Entretanto, existe também, para mim, o PIP, o Partido da Imprensa Petista, que é sempre favorável a qualquer decisão do governo Dilma. O PIP está mais em sites e, na maioria das vezes, concordo com as posições que ele toma.

    Mas, na questão de Libra, o PIP e a presidente se comportaram pessimamente. Não ouviram, não dialogaram, quiseram “criar verdades”, igual aos manipuladores do PIG.

    Não concluam que, por não apoiar a posição neoliberal tucana, nem concordar com a posição privatista petista, eu seria adepto da dupla Marina e Campos, até porque, possivelmente, eles devem concordar com a posição tucana.

    Aliás, é sofrido ser de esquerda em um país como o nosso, onde há total controle das massas através da disseminação abusiva de posições de interesse do capital ou do governo, pelos meios de comunicação, sobre quase todos os temas.

    Esta mídia irreal, incompleta e falsa não analisa os fatos, omite opiniões, desvirtua acontecimentos e conclui, na maioria das vezes, errado, não ajudando em nada a sociedade. Não há um debate público na mídia sobre pontos relevantes.

    O tema do destino dos royalties tomou todo o tempo do noticiário e debates porque era indiferente para o capital e, além disso, ajudava a esconder temas cuja conscientização era inconveniente, como os modelos para exploração de riquezas minerais no Brasil.

    Nada foi debatido sobre o monopólio, quando ele foi extinto, em 1995. Ouvia-se, à exaustão, que no monopólio, por não haver competição, o monopolista irá ofertar o produto com baixa qualidade e por preço alto. Isto é a mais pura verdade, se for um monopólio privado.

    Entretanto, a mídia silenciava por completo sobre o monopólio estatal poder ser a melhor opção para a sociedade, desde que controlado para evitar o corporativismo.

    Retornando a Libra, os royalties a serem destinados para a educação e a saúde, tão proclamados por um dos porta-vozes do governo, que invadiram nossas televisões nestes dias, seriam idênticos, se 100% deste campo tivesse sido entregue à Petrobras, como já descrito. Então, não era um argumento que diferenciasse alternativas.

    O PIG e o PIP não falaram sobre a existência da alternativa de o campo de Libra, friso bem “campo”, posto não ser um reles bloco exploratório, dever ser entregue à Petrobras para 100% dos rendimentos, assim como 100% do petróleo produzido pertencerem ao governo brasileiro.

    O PIG e o PIP boicotaram esta alternativa. 99,9% dos brasileiros não souberam da sua existência.

    O PIG por querer satisfazer ao máximo os interesses das empresas estrangeiras, que só aceitam as concessões, e o PIP por querer satisfazer a presidente Dilma, que está preocupada com o superávit primário.

    A Petrobras poderia prometer entregar 80% ou mais do excedente em óleo para o Fundo Social, enquanto o consórcio ganhador se comprometeu só com 41,65%. Aliás, 41,65%, que poderão não ocorrer. Poderá ser remetido bem menos que este valor.

    Mas isto terá que ficar para outro artigo.

    A presidente Dilma fala que o leilão não correspondeu a uma privatização. A Shell e a Total não são empresas privadas estrangeiras? A CNPC e a CNOOC não são empresas estrangeiras? Elas não passarão a ter a posse de uma parcela do petróleo e do lucro gerados? Não poderão fazer com suas parcelas de petróleo o que bem quiserem? Não poderão remeter suas parcelas de lucro para o exterior?

    Então, desculpe-me presidente, mas isto é privatização e a negação do fato é tergiversação.

    A presidente falou também que ficará no Brasil 85% dos rendimentos de Libra. Trata-se de uma afirmação corajosa, por vários motivos.

    Por exemplo, para obtenção destes 85%, utiliza-se, dentre outros fatores, a arrecadação de 25% do lucro para o imposto de renda. Este imposto é cobrado da empresa, e não do campo petrolífero.

    Existem várias formas de se reduzir o imposto a ser pago pela empresa, bastando ver, por exemplo, o quanto a Petrobras declara de lucro e o quanto ela paga deste imposto. Além do exemplo do imposto de renda, poderiam ser feitos outros questionamentos a este número de 85%, mas um artigo só não suporta tantas considerações.

    A presidente não falou nada sobre a perda da possibilidade de ação geopolítica porque o Brasil está entregando em torno de 46% do petróleo produzido em Libra para as empresas estrangeiras.

    A sociedade não sabe nada disso. Pelo seu valor político e econômico, Libra mereceria um plebiscito com debates prévios diários nas televisões, durante uns 30 dias, para conscientizar a população.

    Nestes dias, o povo só recebeu os assédios de informações truncadas do PIG e do PIP. Em compensação, ficaremos durante 35 anos com a Shell, a Total e as chinesas também plantadas em Libra.

    http://www.viomundo.com.br/politica/paulo-metri-muito-alem-do-branco-ou-preto.html

     

     

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