Os bancos estatais e a agenda nacional

Jornal GGN – No atual momento de ajuste fiscal, muito se fala sobre a redução da oferta de crédito dos bancos privados. Paralelamente, critica-se a atuação anticíclica dos bancos estatais.

Alguns especialistas acreditam que essa atuação foi justamente o que fez com que o Brasil passasse sem grandes problemas pelo momento mais grave da crise financeira mundial.

Outros entendem que, pelo volume de reservas que o país dispunha à época, a crise teria sido superada de uma maneira ou de outra.

O assunto foi abordado por Roberto Luís Troster, diretor da Troster Associados e ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), no 65º Fórum de Debates Brasilianas.org.

Troster afirmou que não há uma correlação direta entre a participação dos bancos estatais na economia de cada país e a renda per capita desses países. E explicou que qualquer recorte é possível, a depender da posição defendida pelo economista.

“Você pode ter banco estatal e ter uma renda per capita alta, você pode ter banco estatal e ter uma renda per capita baixa. Você pode não ter banco estatal e ter uma renda baixa e pode não ter e ter uma renda alta”, disse.

Para ele, o sistema bancário brasileiro tem espaço para aumentar a relação crédito/PIB. “Dá para alongar prazos, dá para estreitar margens. Dá para reduzir inadimplência, dá para melhorar a competitividade das empresas. E, mais importante, dá para aumentar a legitimidade do setor”.

Troster entende que a questão fundamental é que o Sistema Financeiro Nacional possua uma agenda comum, coerente com as necessidades do país.

A ausência de correlação entre participação dos bancos estatais e renda per capita

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“Banco estatal pode ajudar ou pode atrapalhar. Tem países que têm, tem países que não têm. E se a gente vê o resultado, aqui a gente vê a renda per capita, não tem correlação nenhuma. Você pode ter banco estatal e ter uma renda per capita alta, você pode ter banco estatal e ter uma renda per capita baixa. Você pode não ter banco estatal e ter uma renda baixa e pode não ter e ter uma renda alta. Então, o problema não é se tem ou não tem banco estatal.”

O espaço para crescimento na relação crédito/PIB

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“Essa relação crédito/PIB em um país de renda baixa é 20%, de renda média é 90% e de renda alta é 140%. Quer dizer, quanto mais crédito você tem, mais oportunidades. Não é uma correlação perfeita, mas o crédito é um fator muito importante. O Brasil é um país de renda média alta, tem uma relação crédito PIB baixa e está vivendo uma crise bancária.”

A armadilha da dívida e a crise de liquidez

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“É o peso da dívida. Aumenta a renda, sobe os juros, amortização maior, prazos mais curtos e surpresas. E aí você cai na armadilha da dívida. Hoje os números assustam. Você tem 57,2 milhões de CPFs negativados. A crise em bancos está mais ou menos estabilizada, mas fora dos bancos está disparando. Quando está faltando crédito na praça, o que acontece? Todo mundo tenta não pagar. E quem está cobrando, tenta cobrar mais rápido. É isso que o país está vivendo. Você está vivendo uma crise de liquidez.”

Dívidas inteligentes suavizam o ciclo econômico

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“Dever bem é bom. Você suaviza o ciclo econômico. Eu acho que o Brasil deve mal. Alguém que se endivida para viajar… está errado. Eu estou falando esse exemplo emblemático, mas que tipo de crédito a gente está dando no país? Hoje, dois terços das concessões de crédito pessoa física, recursos livres, é rotativo do cartão e cheque especial. Não faz sentido. Para pessoa jurídica, o que você dá é capital de giro.”

A crise de legitimidade do setor bancário

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“Chamaram os banqueiros de ladrões na campanha eleitoral. E ninguém reagiu. Quer dizer, falta o setor ter legitimidade frente à sociedade. E é muito ruim isso. Isso acaba mal, sempre. O Sistema Financeiro Nacional tem muitos méritos. O sistema funciona muito bem em algumas coisas. Tem um sistema de pagamentos eficiente, mercados futuros e de capitais. Tem coisas muito boas.”

A ausência de uma agenda comum do sistema financeiro nacional

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“Não existe estratégia de desenvolvimento no Brasil. Política bancária não existe. Em um evento que eu estive, perguntaram para o chinesinho: quais são as prioridades do seu banco. Na hora, mas na hora: ‘as prioridades do partido’. Quer dizer, eles têm o partido, o partido sabe o que quer, o banco está sintonizado. Então, eu acho que falta uma agenda do sistema financeiro nacional. A tributação do crédito faz sentido? O banco, para financiar o rotativo tem que pagar o IOF dele antes. O IOF é pago na frente, o banco vai cobrar o IOF do empréstimo. Vai cobrar uma taxa maior por conta do risco dele. Taxa mais alta, inadimplência esperada mais alta, você entra em todos aqueles outros custos a mais. Todo mundo subsidia o crédito ou não faz nada. A gente tributa o crédito. Podíamos substituir por um imposto de valor agregado. A gente só discute Copom, metas de inflação, tudo isso, e o resto? Quer dizer, não tem nenhuma relação entre a taxa básica e a taxa do rotativo. Uma é 14% ao ano. A outra é 400% ao ano. Faz sentido?”

Roberto Luís Troster, ex economista-chefe da febraban from Jornal GGN
Redação

4 Comentários

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  1. O sistema financeiro capturou

    O sistema financeiro capturou o país. Tem o ministro da fazenda. Paga todos os seus custos somente com as taxas de serviços. Cobra juros abusivos. Presta péssimos serviços no atendimento pessoal ao cidadão de baixa e média renda. É um péssimo patrão, pagando salários a seus trabalhadores incompatíveis com os lucros que eles geram e com os rendimentos de seus executivos. 

  2. buenos
    os bancos estatais

    buenos

    os bancos estatais ainda estão por ai, a juros extorsivos pornográficos do mercado player

    já, a agenda nacional foi roubada, em meio ao butim político ao erário ao estado ao povo.

  3. Troster distorce. bancos estatais são importantes, sim.

    Se bem entendi, Troster diz que se pode vender os bancos estatais, inclusive BNDES e quem sabe até mesmo o BC, que não fará diferença alguma em termos de fazer bem ou fazer mal ao país.

    Ou estou enganado?

    Penso, ao contrário, que se um governo quiser contar com bancos privados para desenvolver o país, tem de arcar com custos maiores do que se continuar mantendo bancos estatais atuando.

     

     

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