A efetivação de Paulo Sérgio Passos

Do Valor

Com respaldo do PR, Passos é confirmado nos Transportes

Fernando Exman | De Brasília
12/07/2011

Em uma operação que culminou com a confirmação de Paulo Sérgio Passos no comando do Ministério dos Transportes, o Palácio do Planalto realizou, ontem, esforços para garantir respaldo político do PR à decisão que pode dar um fim à crise política que levou à queda de parte da cúpula da pasta.

A preocupação do governo tinha razão de ser. Afinal, apesar de ser filiado ao partido, o então ministro interino não contava com o apoio de alguns de seus colegas de partido. Além disso, Dilma Rousseff precisava ter certeza de que seu ministro teria as mínimas condições para cobrar a fidelidade do PR nas votações de interesse do governo no Congresso.

“O ministro interino dos Transportes, Paulo Passos, foi convidado hoje pela presidente Dilma Rousseff a assumir a titularidade da pasta. O convite foi aceito”, informou à noite a Presidência.

OsmoOs movimentos do Executivo tomaram forma à tarde. Em meio a uma reunião com o senador Clésio Andrade (PR-MG) para tratar de questões de Minas Gerais, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foi objetiva: perguntou como a bancada do partido no Senado receberia a notícia da confirmação de Passos no cargo.

O senador e presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT) apoiou a ideia, acrescentando que a iniciativa teria a concordância dos demais senadores da legenda. “Passos tem uma visão de conjunto, e não só de obras. Tem uma visão sistêmica, e isso é bom”, comentou Andrade.

Na sequência, a presidente Dilma Rousseff recebeu em seu gabinete o senador Blairo Maggi (PR-MT), que havia sido sondado para assumir o cargo. Maggi declinou formalmente do convite de Dilma para assumir os Transportes em substituição ao senador e ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM), demitido após denúncias de suposto superfaturamento e cobranças de propina em obras do ministério.

“Agradeci e ficamos de ajudar no que for necessário”, disse Maggi ao Valor. “Ele conhece bem o que está acontecendo no ministério. Inclusive os problemas”, disse Blairo sobre a possibilidade de Paulo Passos ser nomeado como titular. Sob a condição do anonimato, no entanto, um deputado do PR revelou o sentimento da bancada. “O partido preferia algum deputado ou senador.”

Apesar de efetivado na função, Passos poderá enfrentar obstáculos no relacionamento com seus correligionários. Não são poucos os deputados que reclamam da falta de atenção de Passos às suas demandas locais.

Não bastasse, os aliados de Alfredo Nascimento acusam o novo ministro de submergir durante a crise que envolveu o órgão a fim de se descolar da crise e se cacifar para permanecer no cargo. Dando a senha do tipo de fogo amigo que Passos pode ser alvo, fazem também questão de lembrar que Passos ocupou diversos cargos estratégicos no Ministério dos Transportes nos últimos anos. Teria participado, portanto, das principais decisões da Pasta.

Ironicamente, Passos filiou-se ao PR em 2006 justamente pelas mãos de Nascimento. À época, o ex-ministro pretendia deixar o governo para disputar as eleições. Como o Palácio do Planalto sinalizava a intenção de manter Passos, então secretário-executivo, na chefia da pasta, o PR acolheu o técnico em seus quadros para “manter” o ministério sob sua influência.

A trajetória de Passos, economista de 60 anos, é marcada pela discrição. Dono de um corpo franzino, casado com a cantora e compositora Rosa Passos e pai de três filhos, o ministro dos Transportes evita as badalações do meio artístico e os holofotes da imprensa.

No ministério, Paulo Sérgio Passos é conhecido por trabalhar nos bastidores. Desde o início do governo, no entanto, não foram poucas as vezes que colegas de trabalho notaram que Passos fazia questão de mostrar autonomia em relação a Alfredo Nascimento. Obviamente, tal comportamento não contribuiu para o relacionamento dos dois nesses últimos meses.

Servidor público desde 1973, Passos entrou no governo como técnico em planejamento lotado no Ministério dos Transportes. Apesar de ter dedicado grande parte de sua vida ao setor, também passou por outras áreas do governo. Na gestão de Itamar Franco, foi secretário de Administração Geral do Ministério do Bem- Estar Social. Em 1993 e de 1995 a 2001, Passos deu expediente no Ministério do Planejamento como secretário-adjunto de Orçamento Federal.

No governo Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a chefiar o Ministério dos Transportes entre 2006 e 2007 e de março de 2010 até o fim do ano passado.

Nesse período, Passos ocupou cargos no Conselho de Administração de diversos órgãos subordinado ao Ministério dos Transportes. Dois exemplos: do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec. Ambos estiveram no centro da crise que levou à queda de Nascimento e de alguns de seus principais auxiliares. (Colaborou Mauro Zanatta) 

Luis Nassif

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