A estabilidade do governo Rafael Correa

Da Carta Capital

A revolução é estável

Antonio Luiz M. C. Costa

A reeleição em primeiro turno de Rafael Correa, com 56,7% dos votos válidos, mais que os 52% de 2009, não foi uma surpresa para quem acompanhou a política equatoriana nos últimos anos, mas deve ser frustrante tanto para os analistas neoliberais que, desde a virada do milênio, prognosticam regularmente o fracasso das alternativas à esquerda quanto para aquelas esquerdas esperançosas em desestabilizá-lo por ocasião da tentativa de golpe de 2010. Principalmente considerando que os três presidentes eleitos que o precederam – Abdalá Bucaram em 1997, Jamil Mahuad em 2000 e Lucio Gutiérrez em 2005 – foram derrubados por protestos de ruas antes de seu terceiro ano e muitos dos anteriores por golpes militares. Nos 166 anos da independência até Bucaram, a história registra 19 Constituições e 158 chefes de Estado, o mais duradouro dos quais, o general e ditador Ignacio de Veintemilla (1876-1883), foi deposto depois de seis anos e alguns meses, marca que Correa superará em maio deste ano.

Mais que isso, Correa ganhou em 22 das 24 províncias e deixa de depender de alianças e coalizões, pois seu partido Aliança País saltou na Assembleia de 59 cadeiras em 124, para 92 em 137. O Movimento Popular Democrático (MPD), feroz oposição de extrema-esquerda influente nos sindicatos de professores, apoiou os amotinados de 2010 e perdeu todos os cinco parlamentares. Seu aliado, o indigenista Pachakuti, deve conseguir seis parlamentares (tinha quatro), mas o candidato presidencial que ambos apoiaram, Alberto Acosta, teve só  3,2% dos votos. Lucio Gutiérrez, centrista que também se alinhou contra Correa na ocasião, caiu de 28% em 2009 para meros 6,6%. O bilionário bananeiro Álvaro Noboa, terceiro colocado em 2009 com 11%, caiu para 3,7% e foi superado pelo novato Mauricio Rodas, advogado de centro-direita, que teve 4%. Mais fôlego teve o banqueiro neoliberal Guillermo Lasso, ex-ministro da economia de Jamil Mahuad, que somou 23,3% e se credenciou como o principal líder da oposição.

Fala-se no Equador do “correísmo” como nova identidade política, no exterior de bolivarianismo. Ambas as descrições têm razão de ser: o movimento do Equador expressa um novo desenvolvimentismo nacionalista de esquerda — mas, no fundo, mais perto de Franklin Roosevelt do que de Che Guevara — do qual a Venezuela é a ponta de lança, mas seu enraizamento em cada país dependeu de lideranças, posturas, alianças internas e políticas econômicas e sociais com características variadas.

*Leia matéria completa na Edição 737 de CartaCapital, já nas bancas

Luis Nassif

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