A reflexão de Gramsci sobre os modelos intelectuais

Sugerido por Paulo Kautscher

Comentário ao post “É hora dos partidos investirem nos seus intelectuais

Do Acessa.com

Gramsci e os modelos intelectuais no século XX

Giulio Ferroni

tradução: Letizia Zini Antunes & Adriana Iozzi

A reflexão de Gramsci sobre os intelectuais, sua história e sua função, constituiu por muito tempo um dos pontos de referência centrais do debate cultural italiano, sustentado por toda uma série de variantes e de ramificações, com nuanças que vão desde as diretrizes de política cultural mais determinadas e “oficiais” até as elucubrações acadêmicas mais debilitadas e auto-referenciais sobre o papel do intelectual nesse ou naquele contexto histórico, nesse ou naquele centro geográfico, etc. Entre os anos 60 e 70, mas com recaídas e retomadas que ainda estão em curso, muitas energias intelectuais jovens foram gastas para discutir sobre os intelectuais, para reconstruir comportamentos e funções de diversos grupos intelectuais, para resgatar a experiência da cultura do passado sob o signo das iniciativas, das elaborações, da consciência e da falsa consciência dos intelectuais, de sua organização em grupos, de suas relações com o poder, de sua ação nas instituições, etc. Inúmeras teses, inúmeros estudos, inúmeras pesquisas tiveram como alvo os intelectuais! Chegou-se até a acreditar que o conceito de intelectual fosse a chave para reescrever toda a história da cultura, para reexaminá-la à luz de uma verdade representada pelas suas relações e funções, pelo sistema de relacionamentos em que seus sujeitos/protagonistas estavam inseridos; e todos nós nos acostumamos a prestar atenção e a privilegiar essas funções, chegando, em muitos casos, a considerar o termo intelectual mais autêntico e abrangente do que os termos tradicionais de escritor, poeta, filósofo, cientista, etc.

É óbvio que dessa discussão derivaram também contribuições críticas e historiográficas relevantes: a pesquisa sobre os intelectuais permitiu esclarecer as situações concretas da história da cultura, reconstruir de maneira nova o sentido de muitas escolhas e de muitos conflitos, relacionando toda forma textual a projetos de consciência de si, a instâncias contraditórias de classes e grupos sociais, numa representação variada de relacionamentos com o mundo. No conjunto, porém, muitos discursos sobre o intelectual permaneceram abstratos, veleidosos, auto-referenciais: o resultado disso foi uma divulgação inerte, de má qualidade, entre instâncias mais ou menos revolucionárias (apelos aos intelectuais para que negassem seu papel e seu afastamento da sociedade, com enfrentamentos acirrados e até mesmo violentos sobre como pôr em prática essa negação) e uma atuação acadêmica medíocre (análises pedantes das diferentes maneiras de sentir o “papel” dos intelectuais, revelação de contradições e de consciências infelizes, discussões e contestações dos debates das revistas, de algumas querelles que, hoje, não nos parecem mais tão importantes).

Continua: http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=700

Luis Nassif

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