Áudios confirmam tudo aquilo que a gente já sabia, diz Eugênia Gonzaga

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Em entrevista, procuradora regional da República relembra que “Constituição brasileira não trouxe nem uma palavra sobre os mortos e desaparecidos políticos”

A declaração do presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministro Luís Carlos Gomes Mattos, de que “ninguém perdeu o sono na Páscoa” com o vazamento dos registros onde ministros confirmaram a ocorrência de torturas nas prisões durante a ditadura militar, não chega a ser surpreendente, por mais torpe que seja tal declaração.

“Esses áudios… eles confirmam tudo aquilo que a gente já sabia, tudo aquilo que já vinha à tona há muito tempo, mas ouvir a fala pessoal desses ministros, na época, tem um poder imenso”, diz Eugênia Augusta Gonzaga, procuradora regional da República e que chegou a presidir a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP).

Em entrevista à TV GGN 20 horas, Eugênia diz esperar que a divulgação de tais áudios, ocorrida no último final de semana pela jornalista Miriam Leitão (ela mesma vítima de tortura) “sensibilize as pessoas que continuam dizendo que não houve tortura nesse país, que isso é uma afirmação exagerada de algumas pessoas”.

Além disso, Eugênia ainda considera “impressionante” como boa parte das autoridades – e não necessariamente bolsonaristas – ignoraram todas as denúncias feitas por presos políticos e autoridades contrárias à ditadura militar.

“Estou falando, por exemplo, dos constituintes de 1988, em que a Constituição brasileira não trouxe nem uma única palavra sobre os mortos e desaparecidos políticos”, diz Eugênia. “(A Constituição) trouxe menções sobre anistias, mas não falou nada sobre tortura, sobre responsabilização dos agentes…”.

Para a procuradora regional da República, tudo o que foi feito “foi um acordo para se encobrir esse tipo de coisa”, e a revelação de tais áudios são “de uma importância imensa” em um cenário onde o próprio presidente da República negue tais fatos com veemência.

“Esses áudios são de uma importância imensa para que a gente consiga falar ‘não, isso aconteceu, é verdade, está aqui… A Justiça sabia, o Ministério Público sabia. Todos estavam cientes e, mesmo assim, as coisas caminharam como a gente está vendo até hoje'”, pontua Eugênia Gonzaga.

Veja mais a respeito da ditadura militar na íntegra da TV GGN 20 horas desta quarta-feira, disponível no link abaixo:

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Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. O que outros paises fizeram após sair de seus períodos de exceção nós não fizemos , buscar a história , até aceito a anistia mas não o esquecimento. Nada de novo concordo.

  2. Os áudios entram goela abaixo das gargantas arrogantes de militares simpatizantes de sequestros, torturas e assassinatos. Os áudios também aderem e se fixam na memória desses monstros para atormentá-los e os fazerem entender que já não são mais imunes e impunes a crimes que apoiem e/ou pratiquem, ao contrário, a população estará atenta aos seus desvios para exigir a punição e o enquadramento criminal de todos que se desviarem das quatro linhas da lei, da ordem, do dever e da justiça.

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