Chanceler alemão viajará ao Brasil para encontro com Lula

Scholz se reúne com presidente brasileiro em 30 de janeiro para debater proteção ambiental e crescimento da extrema direita no mundo, entre outros temas

Em novembro de 2021, Lula e Scholz se encontraram em Berlim. | Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

da Deutsche Welle

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, visitará o Brasil e se encontrará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 30 de janeiro.

A informação foi confirmada nesta sexta-feira (20/01) pelo embaixador alemão no Brasil, Heiko Thoms, em post no Twitter. A data já fora antecipada por Lula, mas, até então, sem confirmação por fontes diplomáticas alemãs.

Para Thoms, a visita de Scholz ao Brasil, a segunda de uma autoridade alemã em menos de um mês, é um “sinal de fortalecimento da cooperação” entre as duas nações. Em 1º de janeiro, o presidente alemão,Frank-Walter Steinmeier, esteve na posse de Lula.

Na ocasião, falando a jornalistas alemães, incluindo uma equipe da DW, Steinmeier, disse ser “bom saber que o Brasil está de volta aos palcos internacionais”.

“Nós precisamos do Brasil, precisamos da liderança política brasileira, que o país desempenhe o seu papel. E não apenas na economia, como também na proteção climática global”, declarou o chefe de Estado alemão. No dia anterior à posse, Lula e Steinmeier tiveram um encontro bilateral amistoso.

Viagem à América do Sul

Scholz viajará para a América do Sul na companhia de ministros e de representantes de grandes empresas alemãs. A comitiva também visitará a Argentina e o Chile. Os três países sul-americanos têm atualmente governos de esquerda, enquanto o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), de Scholz, é de centro-esquerda.

De acordo com o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestrei, a viagem reforça “a importância da região como parceira do governo federal” no aprofundamento das relações político-econômicas e no combate às mudanças climáticas.

Segundo Hebestreit, o governo alemão também vê os três países “como parceiros valiosos na luta por uma ordem internacional multipolar e baseada em regras”.

Thoms destacou ainda que a ministra alemã da Cooperação, Svenja Schulze, “também estará em Brasília no fim do mês”: “Estamos prontos para lutar juntos pela proteção da floresta tropical e pelo desenvolvimento socialmente justo e inclusivo”, escreveu no Twitter.

Fundo Amazônico

Após um distanciamento do Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro, a Alemanha, importante parceiro comercial brasileiro, tem manifestado interesse numa reaproximação política. Uma das possibilidades é que o país europeu destine mais recursos financeiros para custear projetos e ações de preservação ambiental principalmente na Amazônia.

No começo de janeiro, quando Steinmeier esteve no Brasil, a Alemanha anunciou o desbloqueio de 35 milhões de euros destinados ao Fundo Amazônia, a título de compensação pela redução do desmatamento no bioma amazônico durante o ano de 2017, ainda na gestão de Michel Temer.

Criado em 2008, o fundo recebe doações de instituições e governos internacionais para financiar ações de prevenção e combate ao desmatamento na Amazônia Legal. Os recursos são usados para financiar projetos de redução do desmatamento e a fiscalização do bioma.

Bolsonaro protagonizou vários ataques verbais ao governo alemão, especialmente quando Berlim cobrou mais proteção ambiental no Brasil. O governo brasileiro também promoveu mudanças unilaterais na gestão do Fundo Amazônia, que conta com recursos da Alemanha e da Noruega, provocando críticas dos dois países e paralisando o programa. Diante do desmonte de políticas ambientais no Brasil, Berlim também congelou o envio de recursos para programas ambientais ao país sul-americano durante a era Bolsonaro.

No início de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o governo brasileiro reativasse o fundo em até 60 dias. A medida foi cumprida na atual gestão. Em seu primeiro dia à frente do Poder Executivo, Lula assinou um decreto autorizando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a voltar a captar doações financeiras para o Fundo Amazônia.

Além da área ambiental, Lula e Scholz também devem discutir formas de ampliar as relações comerciais bilaterais e debater o crescimento da extrema direita em vários países. 

Um dia após a invasão das sedes dos Três Poderes por bolsonaristas radicais, Scholz usou o Twitter para condenar os atos golpistas e a depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do prédio do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Imagens terríveis nos chegam do Brasil. Os ataques violentos contra as instituições democráticas são um atentado à democracia que não pode ser tolerado. Estamos profundamente solidários com o presidente Lula e com o povo brasileiro”, escreveu Scholz no Twitter.

Relações estremecidas

Nos últimos quatro anos, Brasil e Alemanha se distanciaram. Nem Scholz, nem sua antecessora, Angela Merkel (de centro-direita, no cargo até dezembro de 2021) visitaram o Brasil enquanto Bolsonaro ocupou o Planalto. O brasileiro tampouco foi convidado para visitas de Estado ao país europeu.

Em 2019, a então chanceler federal Angela Merkel disse ver com “grande preocupação” a situação no Brasil sob Bolsonaro. Em 2020, o governo alemão ainda admitiu que a cooperação com o governo federal brasileiro em áreas como política ambiental e assistência aos povos indígenas estava sendo cada vez mais difícil.

Embora os atritos entre os dois países não tenham sido tão explícitos como os enfrentados pela França com Bolsonaro, o SPD, que participava da coalizão de Merkel e atualmente lidera o governo alemão, não escondeu sua preferência por Lula durante a campanha eleitoral.

Em novembro de 2021, Scholz chegou a se encontrar com o petista em Berlim após o resultado da última eleição alemã, quando ainda negociava a formação do atual governo. Diversas figuras do SPD também manifestaram solidariedade a Lula enquanto o petista esteve preso.

le/av (ABR,AFP,ots)

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Redação

2 Comentários

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  1. Lula precisa ter cuidado ao lidar com seu colega alemão. A Alemanha quer enviar tanques Leopard II para a Ucrânia e o Kremlin interpreta isso como uma declaração alemã de guerra contra a Rússia. O Brasil tem boas relações com os dois países e um conflito entre eles não nos interessa. O que nós interessa é o combate ao nazismo ucraniano, fenômeno apoiado pelos EUA e tolerado por Berlim. A Ucrânia já foi derrotada militarmente, mas se a Alemanha ampliar o conflito nenhuma paz poderá ser celebrada e os próprios civis ucranianos continuarão sofrendo as consequências de uma guerra que só tem uma razão econômica: permitir aos EUA destinar bilhões de dólares para as fábricas dos armamentos sofisticados “made in USA” que serão entregues aos nazistas ucranianos. Se apoiar o esforço de guerra alemão e a ampliação do conflito o Brasil ficará sem poder importar o que precisa da Rússia e deixará de exportar alimentos para aquele país sofrendo um imenso prejuízo. Nem a Alemanha nem os EUA irão cuidar dos interesses do Brasil melhor do que o nosso país.

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