Coletes Amarelos em Portugal “é uma operação de extrema-direita”

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Notícias ao MInuto

Coletes Amarelos em Portugal “é uma operação de extrema-direita”

Francisco Louçã debruçou-se esta sexta-feira, no seu espaço de comentário da SIC Notícias, sobre a imitação do movimento dos Coletes Amarelos em Portugal, marcada para o próximo dia 21.

por Anabela de Sousa Dantas

Francisco Louçã acredita que a imitação do movimentos dos Coletes Amarelos em Portugal esconde um objetivo paralelo, que não o de protesto puro.

Conhecido o recuo do governo francês em relação à taxação dos combustíveis, resultado do movimento Coletes Amarelos, começaram a surgir em Portugal alguns grupos na rede social Facebook com o objetivo de imitar o movimento de protesto. Um deles, ‘Vamos Parar Portugal como Forma de Protesto’, marcado para o próximo dia 21, conta já com 14 mil aderentes na rede social.

O ex-dirigente do Bloco de Esquerda, no seu espaço de comentário da SIC Notícias, abordou o tema, começando pela análise das suas propostas. “Propõem, mais ou menos, tudo e o seu contrário”, indicou.

“Uma subida do salário mínimo em 80%, uma baixa do IVA para os produtos nacionais (não é possível legalmente), uma subida do IVA para a cultura (seria possível, não sei se é muito desejável, creio que não), apoios fiscais aos estrangeiros ricos que venham para Portugal e depois uma ideia muito estranha que é a de haver só quatro deputados por cada região”, enumerou, explicando que Portalegre e Lisboa, por exemplo, ficariam com o mesmo número de deputados, sendo que o primeiro tem 8 mil votos e o segundo entre 200 a 250 mil.

No entender do comentador, este não é, porém, o aspeto mais preocupante do movimento. “Quando olhamos para o detalhe percebemos que há aqui uma coisa que se deve tomar em consideração com muita atenção. A instrumentalização pela extrema-direita, numa óbvia imitação dos processos que preparam o Bolsonaro”, afiançou.

Francisco Louçã relembra a “criação de formas de confrontação e de discursos de ódio” e “a criação de redes significativas de pessoas que ficam associadas no Whatsapp ou em sites do Facebook”. Estas pessoas permitem desenvolver “uma bolsa, um potencial de politização agressiva, nos termos da extrema-direita”, explica.

Para o comentador, não restam dúvidas que “esta operação é uma operação de extrema-direita”. Seguindo a lógica da infiltração nas claques desportivas ou em em alguns corpos especiais do Estado, “este tipo de operação (…) tentaria criar menos uma manifestação e muito mais [a angariação de] centenas de milhares de pessoas que possam ficar associadas [aos grupos de protesto] para durante os próximos meses, até às eleições, serem bem industriadas nestes redes”.

“Funcionou com o Trump, funcionou com o Bolsonaro, funcionou com o Salvini, funcionou em Espanha, veremos como funciona em Portugal”, terminou.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Portugal de …
    Portugal de direita.
    Faltou a indepedência da Madeira nos pedidos , Portugal perderia CR7…
    O Whatsapp e Telegram ainda acabam com o mundo.
    No Brasil vai ter outra greve de caminhoneiros !?

  2. É o mesmo movimento, desde o Padre Peyton

    Quem não é velho, como eu, nao se lembra do Padre Peyton, que espalhava o slogan The family that prays together stays together, mal ttaduzido no  Brasil como como … reza unida permanece unida. Seria só uma nota de pé de página se não fosse uma das bases para formação das grandes manifestações da década de 60, Marcha da família, com Deus, pela liberdade, que vendeu credibilidade ao golpe, junto com publicações para os diversos públicos, mais os grandes jornais e a televisão. Deu certo, a ação militar se limitou a alguns deslocamentos, e o congresso derrubou Jango.

    Para ganhar tempo, pulamos para os anos 2000. As primaveras de diversos países, as tomadas de poder pela direita, os ataques midiáticos, são uma adaptação moderna para ganhar os hearts and minds, e, se não der certo, fazer como no tempo que os EUA levavam felicidade ao Vietnã – take ‘em by the balls, the hearts and minds will follow. Ou seja, pela propaganda ou pela violência, para sujeitar todos os povos ao grande capital. É a guerra híbrida, cada vez mais aperfeiçoada, juntando uso intensivo de Internet, Lawfare, e até agora sem uma resistência efetiva por parte dos atacados, que incluem a União Européia. 

    Oceanos de saliva e tinta são gastos para estudar, e apoiar, os movimentos “espontâneos” e populares dos coletes amarelos, das camisas da CBF, dos black bloks, como se fossem autônomos. É preciso lembrar:

    É A GUERRA, ESTÚPIDO, E TODOS ESTAMOS PERDENDO!

     

  3. bom post.

    O  comentarista é pessoa séria e competente. Gosto de o ouvir.

    È bem provável que esteja correto.

    Que há um mal estar, um cansaço da classe média e trabalhadores por conta do excesso de impostos, queda da qualidade de vida, em todos os paises do Ocidente,  não se discute.

    Mas não será a extrema direita que vai apresentar as soluções.

    Assim como o Bolsonaro não tem as respostas.

    Nem começou o governo dele mas já sabemos disso.

  4. Nem tudo que reluz é ouro, nem todo amarelo é gilets jaunes, rs.

    Mas é um pouco óbvio: na verdade, esses protestos em Portugal podem ser o simulacro do que houve no Brasil a partir de 2013, pois lá agora como aqui havia na época, quem está no poder é um governo de centro-esquerda.

    Na França o governo é de direita, e uma das reclamações dos gilets jaunes é exatamente que o presidente é dos ricos e para os ricos. 

    Marx teria dito que a história se dá como tragédia e depois como farsa; pois quando outros países tentarem imitar os manifestantes franceses, devemos olhar contra quem e por que(m) estão protestanto. 

    O que não se pode fazer  é aceitar a falsificação e reproduzi-la como análise factual que deslegitime manifestações fidedignas e autênticas: nem todos que se vestem de amarelo estão lutando pela mesma coisa, rs. 

    E o autor observou algo muito importante: para a extrema-direita, os movimentos em si não importam, apenas seus resíduos como frustração, angústia e massa preparada para ser moldada, para serem trabalhados por técnicas de manipulação por mídia social sem qualquer vinculaçao direta e consistente com os movimentos de que sugam a energia e a atmosfera de descontentamento. Foi o que houve no Brasil: mesmo após 2013, a esquerda ganhou as eleições; o problema foi a apropriação do sentimento de indignação para levar às ruas dois anos depois quando quem esperava um governo para o povo estava confuso pela guinada neoliberal radical do governo Dilma – uma escolha que a história mostrou inadequada mas que à época foi uma tentativa de apaziguar o demônio do mercado e a classe-média golpista. 

    Portanto, mais importante que demonizar movimentos como os gilets jaunes, devemos ficar atentos aos seus desdobramentos para que não sejam, novamente, instrumentalizados pela direita e extrema-direita. E esse tem sido o erro da esquerda, a falta de visão de conjunto e de desenvolvimento temporal que metamorfoseia os impulsos sociais de ruptura, originalmente progressistas como catalisadores do pensamento e sentimento retrógrado adormecido na sociedade – quando se toca a flauta da transformação não são apenas os bonzinhos que acordam… 

    Parece que Portugal vai repetir não os yellow vests da França, mas os yellow cafajestes do Brasil. Saibam discernir entre um e outro e podem vencer a batalha contra a extrema-direita. 

     

    Sampa/SP, 15/12/2018 – 15:25  (em luto). 

  5. Raquel Varella, historiadora
    Raquel Varella, historiadora portuguesa, pensa diferente.

    https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=10213185222120220&id=1085430783

    Portugal vai ter coletes amarelos dia 21 de Dezembro?

    Há uma manifestação de coletes amarelos convocada para Portugal para dia 21 de Dezembro. Alguns jornais como o CM referiram “é uma manifestação convocada pela extrema-direita”. Outros limitaram-se à notícia.

    Peço-vos que reflictamos um pouco juntos. Em Portugal só há 4 entidades com capacidade de mobilização de manifestações de massa: o PCP/CGTP, a Igreja, os media/Estado e uma entidade chamada Povo. A extrema-direita não existe. Mesmo em França Le Pen abandonou os protestos porque à cabeça os manifestantes exigiam impostos sobre as fortunas, e ela é… uma das fortunas.

    Portugal é um país fácil de compreender do ponto de vista dos movimentos sociais porque tem pouca população, fronteiras definidas há 8 séculos, pouca imigração (muita emigração), e manteve-se rural até aos anos 60. O único dado que baralha as previsões é a pequena propriedade generalizada. De resto isto é sociologicamente até um bocado aborrecido. Previsível. Quem fique a estudar Portugal sem um olhar mundial, que nos traga novos desafios, aborrece-se. O interesse deste país -, que nos apaixona -, não é a sua complexidade. Mas a sua simplicidade. É na alheira numa tasca ilegal, onde também come o GNR, que encontramos a parte divertida do país.

    O PCP e a CGT e a Igreja têm cada vez menos capacidade de mobilizar massas nas ruas – ainda têm porém. O PCP/CGTP porque o pacto social acabou. A Igreja porque o mercado ganhou a Deus. Os media/Estado e o Povo cada vez mais influenciam e mobilizam.

    Os media e o Estado porque se agigantaram no pós guerra. O Povo por uma questão numérica e de desigualdade social. O Povo, com as classes médias proletarizadas, é a maioria esmagadora.
    Em Portugal porém desde o 25 de Abril que não há um movimento Popular – o tal “Povo”.

    Em Portugal não há manifestações convocadas pela extrema-direita porque esta não existe. Se a esquerda não falasse dela tanto nem 50 militantes tinham. Fizemos a mais radical revolução do pós-guerra e isso teve efeitos muito para além da Ponte ter passado a chamar-se 25 de Abril. Os que derrubaram a ditadura, contra o Estado, estão na sua maioria vivos. Será preciso uma geração mais para que este efeito acabe.

    Se a manifestação de dia 21 existir de massas ela não pode ser de extrema-direita. Porque em Portugal a extrema-direita junta 50 pessoas. Se juntar parte dos amigos dos animais, sectores da segurança privada e ainda a Opus Dei somará no total 200 pessoas. Isto porque as senhoras da Opus Dei são mais, mas nem às barricadas de rio Maior foram sujar os sapatos, quanto tinham a propriedade ameaçada. Quanto mais irem em auxilio de trabalhadores pobres de cidades semi-abandonadas pelo Estado, que é o que estes coletes amarelos são. Aliás enquanto a esquerda de Lisboa se entretem a chamar nomes à extrema-direita um povo do Algarve vestiu coletes amarelos contra as portagens – por acaso militantes de esquerda…É que o país não é o Bairro Alto.

    Se houver manifestação dia 21, se existir e for grande (não sei, nem posso adivinhar), ela vai ser chamada pelo Povo (por isso não posso adivinhar o número de pessoas). O que significa que a sua direcção, caminhos, propostas, etc irão no sentido de quem estiver lá a dirigir. Isto é, quem souber escutar os problemas reais das populações, ouvir as propostas de resolução com eles, e não “por eles”. E dar-lhes um sentido construtivo, em vez de destrutivo, uma direcção de bem comum e não de salve-se quem puder.

    Assim, se as populações estão contra os impostos ao consumo como o da gasolina deve-se propor a baixa destes, que é urgente e penaliza os mais pobres, em troca de impostos sobre a grande propriedade e renacionalização de sectores como a energia e investimento em linha férrea que auxilie as populações das cidades médias. Se estão contra os baixos salários a solução não é expulsar migrantes (nem aceitar concorrência com salários mais baixos) mas ter políticas de pleno emprego. Este é um exemplo, podia dar outros tantos.

    As manifestação de Timor Leste (TSF), Geração à Rasca e 15 de Setembro partiram de uma ideia relativamente desorganizada e popular nas redes sociais mas o seu eixo de mobilização de massas não foi o Povo, foram os media/e o Estado. Todas elas tiveram como ponto de mobilização principal os media (que dias antes abriam telejornais a avisar das manifs) porque os interesses do Estado, na luta fraccional entre PS e PSD, assim o convocavam. Estive em todas elas mas nunca criei expectativas de que tinham sido movimentos das classes subalternas – e quem o fez errou, apaixonado pela ideia de ver muita gente na rua.

    No caso de Timor para fazer passar o petróleo para a égide da Austrália; no caso da Geração à Rasca para uma fracção de poder fazer cair então o Governo, e caiu, e apressar a entrada da Troika; e no caso do 15 M para uma fracção do poder fazer cair a TSU. Não foram movimentos de baixo – ao contrário do que se passa em França com os coletes amarelos. Mas foram movimentos com os de baixo – por isso apoiei-os. Mas é bom não inventar massas a dirigir, quando massas estão a ser dirigidas.

    Respondendo à minha pergunta, Portugal vai ter coletes amarelos dia 21? Não sei. Se fosse o PCP/CGTP, a Igreja e os media/Estado eu diria quantos iriam estar nas ruas. Não sei se vai ser um flash daqueles que não sai das redes sociais – e isso também depende da evolução do que se vai passar em França – ou se vai a população abrir caminho a uma situação francesa. Não tenho como prever.

    Sei que politicamente as pessoas de esquerda, democráticas ou simplesmente civilizadas não devem estar contra uma manifestação justa pela diminuição de impostos, taxas e taxinhas que aniquilam a decência da vida, cada vez pagamos mais por piores serviços – isso não é de direita, é pura civilização e democracia contestar isto. Estar ao lado dos manifestantes, se eles existirem, ouvindo com ouvidos sinceros os seus anseios, debatendo soluções reais, e assim evitar que eles sejam dirigidos pela direita, é o que era necessário – já vão tarde meus queridos amigos de esquerda.

    A extrema-direita em Portugal não dirige nada, rien, nicles, nestum. É um papão que o PS e a esquerda, e até o PSD, sopram aos ouvidos de quem ousa sonhar fora do Tratado de Maastricht. A única coisa que mantém hoje os regimes europeus intactos é a ameaça da extema-direita, ninguém apoia estes regimes, mas todos estão contra o outro que supostamente virá.

    Volto sempre à ideia de Raymond Williams, o nosso papel, como intelectuais, ou dirigentes políticos, sindicais, associativos, não é tornar o desespero convincente mas a esperança possível. Neste caso não é gritar “fujam que vem aí a direita”, mas encontrar soluções reais para os problemas que realmente destroem a qualidade de vida das populações, e assim, e só assim, evitamos que venha aí a extrema-direita. O que virá aí só é pior do que o que temos se 1) não mudarmos e continuarmos a tolerar a desigualdade e o retrocesso imposto pelos neoliberais – de direita e de esquerda 2) se deixarmos esse espaço de descontentamento vazio, dando lugar assim à extrema-direita.

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