Desnacionalização e a concentração anulam a democracia, por Adriano Benayon

Do blog Desenvolvimentistas

A desnacionalização e a concentração anulam a democracia

Adriano Benayon

Numerosos e conceituados economistas das principais entidades acadêmicas, consultorias e institutos reconhecem a seriedade da presente crise e a relacionam a uma contradição que apontam na política governamental.

2. Essa contradição seria aplicar, ao mesmo tempo, políticas fiscais e monetárias – inclusive juros estupidamente altos, do  agrado de banqueiros e rentistas – e políticas sociais distributivistas, além de manter gastos públicos para fomentar investimentos.

3. De fato,  a aplicação conjunta dessas políticas gera crises recorrentes, e cada vez mais graves, inclusive porque os efeitos acumulados dessas políticas causam desequilíbrios cada vez maiores.

4. Mas, piores que a incongruência das medidas macroeconômicas são os colossais defeitos intrínsecos de algumas delas, como é o caso das taxas de juros – enganosamente justificadas como barreira à inflação,  e, na verdade, fonte da inflação dos títulos públicos (elevação desmedida da  dívida pública), sem qualquer contrapartida positiva para a economia produtiva.

5. Ao contrário, prejudicam-na crescentemente, à medida que os gastos financeiros abocanham percentual cada vez mais dominante das despesas públicas e privadas. Com isso já se entende o porquê da recorrência das crises e a natureza cada vez mais perversa delas.

6. Mas há algo que fere ainda mais agudamente a economia e a sanidade social do País. São os defeitos estruturais do “modelo brasileiro”: desnacionalização e dependência financeira e tecnológica. Eles conduzem à desindustrialização (reprimarização), e acarretam desemprego, miséria, além de mais ignorância e alienação.

7. Os próprios vícios e incongruências das políticas macroeconômicas são consequências dessas estruturas determinadas por interesses estranhos aos da sociedade em seu conjunto.

8. Poder-se-ia dizer que o tecido social está sendo atacado com efeitos não tão diferentes do que as potências imperiais produziram no Iraque, Líbia etc., por meio de mísseis e bombas. É a devastação sem necessidade dessas armas, tendo por instrumento a política econômica.

9. No ponto a que chegaram a desnacionalização e a concentração, não há condições de poder para adotar política macroeconômica conforme os princípios recomendados por Keynes, Kalecki, Minsky,  ao gosto dos desenvolvimentistas, nem isso serviria de muito.

10. Ademais, essa política, por si só, não sanaria os desequilíbrios decorrentes dos oligopólios econômicos e financeiros, nem tampouco os ligados às deterioradas e mal concebidas infra-estruturas físicas (transportes, energia, comunicações, insumos básicos) e sociais (educação, saúde, cultura).

11. Toda a estrutura produtiva e de mercados, bem como as infra-estruturas foram sendo formadas em função de interesses de grupos concentradores, principalmente sediados no exterior. Assim, os investimentos têm sido  alocados sem atenção ao benefício que deveriam trazer à economia nacional em seu conjunto.

12.  Como se sabe, o  Brasil nunca chegou a formar entre os países desenvolvidos, embora tenha mostrado ter diversas das condições para isso e haver alcançado padrões elevados em algumas atividades.

13. Intervenções oriundas do exterior cassaram o requisito essencial para conquistar o desenvolvimento: a real autonomia política. De fato, ele se torna impossível se as coisas vão sendo arrumadas basicamente com o objetivo de proporcionar ganhos a grupos financeiros e econômicos.

14. O fato é que, em 2015, o descalabro patente  na queda econômica e social torna mais difícil continuar mascarando as políticas de favorecimento a esses grupos, como se elas levassem, algum dia, ao desenvolvimento.

15. Grande parte da população revolta-se com a exposição de casos específicos e adrede selecionados de corrupção no sistema político. A ela, entretanto, é subtraído o conhecimento da corrupção intrínseca ao sistema, e que explica por que um país com o potencial do Brasil chegou ao presente estado de coisas.

16. É essa corrupção que torna inviável, sob as atuais instituições, até mesmo atenuar os defeitos da estrutura econômica e os da própria estrutura de poder. Que dizer da inescapável conclusão, para quem quer que não tenha ojeriza a encarar realidades desagradáveis? Ela é:

O Brasil tem necessidade e urgência de reconstruir todas as suas estruturas sociais, econômicas e políticas, e é claro que isso não tem como ser feito no quadro da atual sistema político.

***

Artigo desenvolvido com base no comentário de mesmo título publicado há dois dias no Blog dos Desenvolvimentistas.

 *- Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.

Redação

2 Comentários

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  1. Creio que o dever do Estado é

    Creio que o dever do Estado é fornecer o mínimo para o seu povo com responsabilidade orçamentária sem interferência da iniciativa privada ou sem o privilégio de um ser em particular ou um grupo de seres em particular, em virtude de todos os outros. Protegendo seu povo. O Estado é para ser neutro, completamente neutro, e não deixar se corromper por individuos egoistas que buscam sugar do estado para aumentar seu patrimônio particular em virtude de todos os outros. Ou seja, para o estado não serve o egoísmo ou do egoísmo o estado não deve se servir. Mas não é isso que vemos, assistimos estados sucateados, vendidos e sitiados por políticos comprados e com políticas compradas. Vendem o banco central do país para que o banco central possa emitir dívidas do governo com alta taxa de juros para os bancos comprarem; para que depois, o próprio governo tenha que pagar, e assim assaltam os cofres públicos na calada da noite. Estão vendendo o país para os bancos e o povo terá de pagar depois. Deixando os povos pelo planeta e seus países reféns da dívida de meia dúzia de bancos pertencentes a meia dúzia de famílias inescrupulosas e gananciosas. Fazendo com que os povos destes países tenha que trabalhar uma parte da dívida só para pagar impostos, não impostos do seus governo, mas agora impostos dos bancos os quais seus políticos venderam seus governos com títulos públicos a alta taxas de juros. Que vão se acumulando até não poderem mais pagar. COmo é o caso dos EUA ou da Grécia que está oficialmente falida. Se o estado fosse forte, numa visão ainda utópica, haveria de se ter água, energia e alimento assim como moradia de forma gratuita a todos. Mas estas são justamente as formas de escravidão atual que a mídia luta para manter pois também lucra com isso; com propagandas, participação acionária das empresas. Um estado forte acabaria totalmente com a chance da iniciativa pivada e egoista, de manter-se no poder controlando povos e nações através da dívida, tanto bancária como setorial (alimentos, água, energia) de seus países e cidadãos. As empresas de energia, água são vendidas para mesma iniciativa privada que mantém o povo refém de contas de água, luz e energia cada vez mais caras. Porque Cuba é vista como inimiga na atualidade? Porque lá tem educação, saúde e alimento para todos? Ou porque os grupos bancários e empresarias que controlam os estados através da dívida e consequentemente os seus políticos, utilizam da mídia que também lhe pertencem para criminalizar estados fortes que ajudam seus povos como estados terroristas, comunista, marxistas… inventam um monte de nomes diferentes e o povo comum e ignorante pensa: “Que monte de nome feio, isso deve ser ruim! Se ta passando na BBC é porque deve ser coisa do demonho!” INfelizmente são só seres ignorantes que repetem as frases dos noticiarios manipulados para justamente enganá-los e cheios da razão e vaidade caem como patinhos feios na brincadeira. Como bem sabemos a energia solar ainda não está em amplo funcionamento, uma placa com alta porcentagem de absorção seria suficiente para uma casa manter-se energeticamente até que se inventasse outra forma particular de desenvolvimento energético mais fácil e poderosa. Água também deveria se haver uma forma de se captar ou desenvolver água para uso particular; mas infelizmente as tecnologias deste planeta ou são roubadas para uso militar e não são divulgadas para manter poderio militar de uma determinada facção ou são escondidas para manter uma industria no poder, como é o caso da gasolina e do petróleo perante outros combustíveis ecológicos. Alimento poderia ser produzido também de forma particular ao invés de grandes industrias que utilizam de venenos para não perder plantações imensas ou grandes manadas de animais doentes que adoecem a população. Há muitas formas que empoderariam a população e livraria a população do encarceramento das industrias, bancos e multinacionais. Mas o ser humano ainda é muito impressionável e graças ao bombardeamento “propagandial” querem o novo video game do momento. É uma época de amadurecimento da humanidade, que ainda poderá levar alguns anos de escravidão mental, física, emocional, financeira e principalmente espiritual.

  2. Brasil X Mundo

    De certa forma, como bem foi demonstrado pelos articulados do Benayon, existe uma espiral perversa no planeta que valoriza interesses difusos transnacionais  contra povos e nações.

    Mas a exposição peca justamente por falta de estruturação e unidade e acaba fazendo o líbelo perder sua contudência.

    Por outro lado, o Brasil, mesmo sendo vítima destas mesmas vicissitudes, também trás na atual administração um problema de governabilidade, que na minha humilde opinião, decorre do processo conflituoso desenvolvido na eleição, onde grupos opostos e refratários, donos de aproximadamente 50% do poder cada um deles, se degladiaram como se não houvesse amanhã e disto decorreu uma cisão onde o lado perdedor se viu totalmente alijado do poder e o lado vencedor sem a menor vontade de abrir uma porta de emergência que proporcionasse os acordos necessários a governança de 100% do Brasil.

    Assim, os que têm poder, mas ficaram no lado perdedor, se viram de um dia para o outro, a mercê de forças que os odiavam e desejavam a sua morte. 

    Situação de confronto, onde um acordo só irá ocorrer quando  o tempo curar as feridas e construir as inevitáveis pontes novamente.

    A Dilma não têm melhor opção do que esperar o tempo passar, ele o Senhor de todas as razões.

    Agora nada impede que neste interim ela não injete no País novos conceitos e principalmente faça uma reforma administrativa, que tiraria do acaso, como agora, esta fonte constante de incertezas e misérias.

    Dilma, acorda!

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