Eleições 2022: Norte em revista, com cenários distintos no pleito, por Rodolfo S. Marques e Breno R. de Messias Leite

Há cenários muito particulares nas sete unidades federativas, principalmente na correlação com as candidaturas presidenciais

CEUB

Eleições 2022: Norte em revista, com cenários distintos no pleito

por Rodolfo Silva Marques e Breno Rodrigo de Messias Leite

A região Norte é a quarta do país em relação ao tamanho do eleitorado, com 12.560.410 pessoas aptas a votar – ou 8,028% do total nacional. Em área geográfica, tem os dois maiores estados da Federação – Amazonas e Pará.

Neste texto, para avaliar as eleições de 2022, usaremos como base informativa as pesquisas mais recentes do IPEC, considerando os estados da região. O quadro 1 traz um demonstrativo dos sete estados da região, considerando o número de eleitores e o percentual de cada uma dessas unidades federativas em relação ao total do eleitorado.

Quadro 1: Tamanho do eleitorado nos estados da região Norte/2022

EstadoEleitoradoPercentual/Brasil
ACRE (AC)588.4330,376%
AMAPÁ (AP)550.6870,352%
AMAZONAS (AM)2.647.7481,692%
PARÁ (PA)6.082.3123,888%
RONDÔNIA (RO)1.230.9870,787%
RORAIMA (RR)366.2400,234%
TOCANTINS (TO)1.094.0030,699%

Fonte: Compilação feita pelos autores, a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)[1]

No Acre, com histórico recente de várias gestões petistas, o cenário se mostra favorável ao atual governador e candidato à reeleição, Gladson Cameli, do Progressistas (PP). Segundo dados divulgados pelo IPEC, em 19 de setembro, Cameli liderava a disputa com 54% das intenções de voto – consolidando a boa avaliação de seu governo –, contra 25% de Jorge Viana, do Partido dos Trabalhadores (PT). Para a única vaga do Senado, o candidato Alan Rick, do União Brasil (UB) lidera com 33%, enquanto Ney Amorim, do Podemos (PODE), tem 18%, e Marcia Bittar, do Partido Liberal (PL), tem 15%. A pesquisa ouviu 800 pessoas entre os dias 16 e 18 de setembro em 19 municípios do Acre[2]. Alan Rick se mostra mais próximo da vitória, enquanto candidatos mais à esquerda estão mal posicionados no pleito.

No Amapá, o favoritismo para o cargo de governador é do ex-prefeito de Macapá-AP (2013-2016 e 2017-2020), Clécio Luís, do Solidariedade (SD). Clécio já foi filiado ao PT e ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e fortalece sua liderança no estado, para além da região metropolitana de Macapá. Ele tem o apoio do UB, do senador Davi Alcolumbre, e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), do atual governador, Waldez Góes. Segundo o IPEC, divulgado em 17 de setembro, Clécio tem 50% das intenções de voto, contra 36% de Jaime Nunes, do Partido Social Democrático (PSD). O ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre, lidera corrida à reeleição com 44% das intenções de voto, contra 33% de Rayssa Furlan, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A eleição pode se acirrar, considerando a diferença percentual entre os dois primeiros colocados, mas Alcolumbre tem a seu favor a defesa do seu mandato e o recall junto ao eleitor amapaense. A pesquisa ouviu 800 pessoas entre os dias 14 e 16 de setembro, em 12 municípios do Amapá[3].

No Amazonas, há uma disputa grande pelas primeiras posições, com três políticos muito conhecidos do eleitor pelas respectivas experiências em cargos públicos. Segundo o IPEC, o atual governador e candidato à reeleição, Wilson Lima (UB), está à frente, com 34% das intenções de voto, contra 26% do ex-prefeito de Manaus-AM e ex-governador, Amazonino Mendes (Cidadania), e 17% do senador pelo MDB, Eduardo Braga. Manaus concentra mais de 50% do eleitorado do estado. O levantamento do Instituto ouviu 800 pessoas, entre 14 e 16 de setembro, em 19 cidades amazonenses[4]. Para o Senado, o cenário também está embolado, com liderança do candidato à reeleição Omar Aziz, do PSD, com 30%. Para lembrar, Aziz presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em 2021. A seguir, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e o Coronel Menezes, do PL – candidato bolsonarista –, que estão tecnicamente empatados, com 23% e 22%, respectivamente. O Amazonas foi, provavelmente, o estado que mais enfrentou problemas com a Covid-19 e onde Jair Bolsonaro tem demonstrado muita força nos últimos anos.

Já no Pará, maior colégio eleitoral da região, a situação está praticamente definida para o cargo máximo do executivo estadual. O governador e candidato à reeleição, Helder Barbalho, do MDB, trabalhou em seu mandato, a partir de 2019, para se fazer presente nos 144 municípios do estado, além de fortalecer as relações com o Poder Legislativo. O enfrentamento assertivo da pandemia também gerou avaliação positiva pelo eleitorado. O slogan usado é “Helder novamente”. De acordo com a pesquisa IPEC, divulgada em 3 de setembro, Helder aparecia com 65% das intenções de voto, encaminhando sua vitória em primeiro turno, contra 13% do senador e candidato bolsonarista, Zequinha Marinho (PL). Um detalhe é que Zequinha esteve no mesmo palanque de Helder nas eleições de 2018[5]. O Pará tem o histórico de vários governos do PSDB que, desta vez, não tem candidato próprio ao Executivo. O levantamento teve como amostra 800 eleitores, ouvidos entre os dias 30 de agosto e 1° de setembro, em 38 municípios do Pará. Para o Senado, o cenário se mostra imprevisível, com empate técnico quádruplo entre Flexa Ribeiro (PP), Beto Faro (PT), Manoel Pioneiro (PSDB) e Mário Couto (PL) – os três primeiros, com o apoio mais destacado ou discreto do governador Helder, e o último representando a candidatura do espectro ideológico da direita. Flexa Ribeiro e Mário Couto já foram senadores pelo Pará.

Em Rondônia, estado que apresentou grande força bolsonarista em 2018 e com forte presença também do agronegócio, há um cenário de favoritismo do governador e candidato à reeleição, o coronel reformado Marcos Rocha (UB), seguido de perto pelo senador Marcos Rogério (PL). Segundo a pesquisa IPEC, a vantagem de Rocha seria de 11 pontos percentuais (38% a 27%). Os dois, inclusive, disputam o voto bolsonarista e o palanque ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Rocha emergiu na onda conservadora do último pleito, enquanto Rogério reforçou sua conexão com o presidente na CPI da pandemia. A disputa para o Senado mostra Mariana Carvalho, do Republicanos, com 26%, Expedito Júnior (PSD) com 19% e Jaqueline Cassol (PP) com 14%, todos alinhados à direita e à centro-direita. A pesquisa ouviu 800 eleitores entre 14 e 16 de setembro, em 27 cidades de Rondônia[6].

Em Roraima, na pesquisa divulgada em 19 de setembro, as eleições para o governo mostram dois candidatos à frente: o atual governador, Antonio Denarium (PP), que tenta novo mandato e está com 50% das intenções de voto, e a candidata do MDB, Teresa Surita, com 37% da preferência dos eleitores. Ambos buscam melhorar suas respectivas imagens junto ao eleitorado, ao mesmo tempo em que tentam diminuir os índices de rejeição. Denarium tem maior visibilidade por estar no comando estadual e procura se associar ao presidente Bolsonaro. Para o Senado, Hiran (PP), candidato bolsonarista, está à frente, com 36%, enquanto o ex-senador Romero Jucá, político tradicional e uma das principais lideranças do MDB, está com 27% da preferência dos eleitores. O levantamento ouviu 800 pessoas entre os dias 16 e 19 de setembro, em 14 municípios roraimenses[7].

E em Tocantins, o grande favorito é o atual governador e candidato à reeleição, Wanderlei Barbosa, do Republicanos. Ele desponta com 45% das intenções de voto na pesquisa IPEC, divulgada em 19 de setembro. Os dados foram coletados entre os dias 16 e 18 de setembro, em 35 municípios do estado[8]. Barbosa assumiu o governo em 2021, após o afastamento do então titular do Palácio Araguaia, Mauro Carlesse. Já o ex-prefeito de Araguaína-TO, Ronaldo Dimas, do PL, aparece em segundo lugar no levantamento, com 17%. O cenário se modificou a partir das convenções partidárias – até então, Dimas liderava o pleito, nos levantamentos feitos na pré-campanha. Na mesma pesquisa, mas para o Senado, a professora Dorinha lidera, com 26%, seguida de perto pela senadora e candidata à reeleição, Kátia Abreu, do PP, com 20%. Kátia é ligada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e foi candidata a vice-presidente em 2018, na chapa com Ciro Gomes (PDT).

Assim, na região Norte, há cenários muito particulares nas sete unidades federativas, principalmente na correlação com as candidaturas presidenciais – com a força do bolsonarismo e com o favoritismo destacado do ex-presidente Lula (PT). Nas eleições para os governos estaduais, destaca-se a dianteira de Helder Barbalho, no Pará, que busca um novo mandato e um protagonismo maior na região e até mesmo em nível nacional. Tocantins e Pará foram os únicos dois estados do Norte que deram vitória a Fernando Haddad, do PT, nas eleições presidenciais de 2018. Amapá, Roraima, Acre e, principalmente, Rondônia e Amazonas preferiram Jair Bolsonaro no último pleito. Candidaturas mais à esquerda perderam protagonismo na região.

Para o Senado, políticos tradicionais, como Kátia Abreu, em Tocantins, e Romero Jucá, em Roraima, enfrentam dificuldades. É importante destacar que, assim como no restante do Brasil, as escolhas do eleitorado para a vaga de senador são decididas mais perto do dia do voto.

As urnas trarão, em 2 de outubro, qual movimento político a região fará neste pleito, mesmo que de forma, prioritariamente, heterogênea.

Rodolfo Silva Marques é cientista político, professor-doutor da Universidade da Amazônia (UNAMA) e da Faculdade de Estudos Avançados do Pará (FEAPA). É colunista de política da CBN Amazônia Belém e do portal oliberal.com. E-mail: [email protected].

Breno Rodrigo de Messias Leite é cientista político, professor do Instituto Amazônico de Ensino Superior (IAMES) e do Diplô Manaus. E-mail: [email protected].

Esse artigo foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições 2022, uma iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação. Sediado na UFMG, conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br.


[1] PORTAL TSE. Disponível em: https://www.tse.jus.br/eleitor/estatisticas-de-eleitorado/consulta-quantitativo. Acesso em: 19 set.2022.

[2] PORTAL G1. Disponível em: https://g1.globo.com/ac/acre/eleicoes/2022/noticia/2022/09/19/pesquisa-ipec-no-acre-gladson-cameli-tem-54percent-e-jorge-viana-25percent.ghtml. Acesso em: 20 set.2022.

[3] PORTAL G1. Disponível em: https://g1.globo.com/ap/amapa/eleicoes/2022/noticia/2022/09/17/ipec-clecio-tem-50percent-e-jaime-nunes-tem-36percent-na-disputa-para-o-governo-do-amapa.ghtml. Acesso em: 20 set.2022.

[4] PORTAL G1. Disponível em: https://g1.globo.com/am/amazonas/eleicoes/2022/noticia/2022/09/17/ipec-wilson-tem-34percent-amazonino-26percent-e-braga-17-na-disputa-para-o-governo-do-amazonas.ghtml. Acesso em: 20 set.2022.

[5] PORTAL G1. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/eleicoes/2022/noticia/2022/09/03/pesquisa-ipec-no-para-helder-barbalho-tem-65percent-zequinha-marinho-13percent.ghtml. Acesso em: 19 set.2022.

[6] PORTAL G1. Disponível em: https://g1.globo.com/ro/rondonia/eleicoes/2022/noticia/2022/09/17/ipec-rocha-tem-38percent-e-rogerio-tem-27percent-na-disputa-para-o-governo-de-rondonia.ghtml. Acesso em: 19 set.2022.

[7] PORTAL G1. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/eleicoes/2022/noticia/2022/09/19/ipec-antonio-denarium-tem-50percent-e-teresa-surita-tem-37percent-na-disputa-para-o-governo-de-roraima.ghtml. Acesso em: 20 set.2022.

[8] PORTAL G1. Disponível em: https://g1.globo.com/to/tocantins/eleicoes/2022/noticia/2022/09/19/segunda-pesquisa-ipec-wanderlei-tem-45percent-e-dimas-tem-17percent-na-disputa-para-governo-do-tocantins.ghtml. Acesso em: 20 set.2022.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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Observatório das Eleições

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