Ex-presidenciáveis e opositores de Lula em grande frente democrática

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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"Estou querendo chamar vocês para um desafio que é muito maior do que apenas governar", convocou Lula

Foto: Reprodução

“Estou querendo chamar vocês para um desafio que é muito maior do que apenas governar. Governar é uma coisa velha. Governar é uma coisa de alguém que senta numa cadeira e acha que é maior do que todo mundo. Nós vamos ter que mudar a palavra, e dizer que nós não vamos governar, nós vamos tentar cuidar esse país, do nosso povo. Nós vamos restabelecer a palavra soberania na sua plenitude. Refedinir o papel de cada um, porque as instituições estão desmontadas, desmoralizadas.”

Assim Lula fez um chamado aos seus antigos adversários políticos, opositores de posicionamentos liberais, conservadores e distoantes das propostas que embasaram os governos Lula e, inclusive, seu atual projeto de governo. Na mesa, Henrique Meirelles (União Brasil), Marina Silva (Rede), Luciana Genro (PSOL), Cristovam Buarque (Cidadania), Guilherme Boulos (PSOL), João Goulart Filho (PCdoB), e o candidato a vice Geraldo Alckmin (PSB).

Mesa mais representativa desde a redemocratização

Fernando Haddad (PT), que substituiu Lula na corrida presidencial em 2018 contra Jair Bolsonaro, quando ele foi preso, também esteve presente, dando o tom:

“É curioso que essa mesa, do ponto de vista econômico, você tem liberais, você tem socialistas, social-democratas, você tem também trabalhistas, nacional-desenvolvimentistas, do ponto de vista de gênero tem homens e mulheres, uma mulher negra do norte, uma mulher branca do sul, ou seja, essa mesa talvez seja a mais representativa, que eu me lembre desde a redemocratização em torno da figura do presidente Lula, nesse momento dramático da vida nacional.”

Aquela fotografia, continuou depois Lula, simbolizava “a reconstrução do Brasil”. “Essa reunião simboliza a vontade que as pessoas têm de recuperar a democracia no nosso país. E todo mundo sabe que a democracia não é um pacto de silêncio. Todo mundo silenciosamente vendo um governo governar? Não. A democracia é exatamente o contrário. É a sociedade se movimentando, dia e noite, na perspectiva de conquistar melhores condições de vida para o povo brasileiro.”

“Desprendimento”

Em tom de recuo e humildade, Alckmin disse que “as mudanças têm que começar por nós mesmos”. “Nós todos aqui, com desprendimento, estamos dando um exemplo, entendendo a gravidade e a importância para o povo brasileiro dessa mudança com o presidente Lula.”

“É necessário”, seguiu Alckmin. “Esse é um momento histórico. Quando o Brasil precisa e os democratas têm que estar juntos. E, lá atrás, para redemocratizar o Brasil estávamos do mesmo lado, no período da ditadura. Na nova Carta Magna, na Constituição cidadã, aliás, eu estava com o presidente Lula, elaborando a nova Carta Magna. Nesse momento, estamos unidos de novo, porque o Brasil precisa.”

Celebrar diferenças

Conversando com Alckmin, anterior opositor acirrado de Haddad, o agora candidato ao governo de São Paulo pelo PT disse que estava lá para “celebrar justamente as nossas diferenças”. “Porque do lado oposto, o que existe é o autoritarismo que quer anular as nossas diferenças. E não existe democracia quando uma força política que está no poder quer anular as diferenças.”

Mostrando-se a voz que unificará as principais pautas da sociedade atual, de recuperação de princípios básicos e democráticos, Lula fez um compromisso de que governará ao lado daquela frente ampla, mas principalmente junto às representações da população: “O governo não é maior do que a sociedade, é a sociedade que é maior do que o governo. Então a sociedade, muitas vezes, tem que criar instrumentos e mecanismos de fiscalização que possam ser até mais fortes do que o governo.”

Confira outros temas trazidos por Lula:

Educação

“Não foi pouca coisa o que fizemos neste país e não foi pouca coisa o que eles destruíram. Desde investimento a laboratórios, a pesquisadores, ou seja, é quase que uma política de terra arrasada, porque eles não acreditam na educação.”

“Esse dinheiro não pode ser considerado gasto, é considerado investimento. A educação é retorno mais extraordinário que a gente tem. “

Cultura

“A lei Rouanet para esse governo é uma coisa que não tem nenhuma valia, é jogar dinheiro fora, porque um ogro como o Bolsonaro efetivamente não gosta de cultura. Porque a cultura é uma coisa que desperta o lado revolucionário do ser humano, o lado de conscientização política.”

Indígenas

Defendeu não só a demarcação de terras indígenas, como o fortalecimento de instituições e de representatividade do povo indígena, “para que eles possam desenvolver, a modo deles”, e afirmou estar “determinado a criar um Ministério dos Povos Originários”.

Meio Ambiente

Em diálogo com Marina Silva, falou dos desafios para o meio ambiente, de reconstrução dessa “terra arrasada”. “Vamos ter que recuperar o Instituto Chico Mendes, vamos ter que recuperar, vamos ter que recuperar o Ibama, vamos ter que recuperar a CNBio, recuperar o Conama, coisas que eram elementares.”

Paulo Freire

“É importante esse dia porque se Paulo Freire fosse vivo, hoje ele estaria completando 101 anos de idade.”, homenageou Paulo Freire e brincou dizendo esperar conseguir ultrapassar o centenário de vida para continuar lutando pelo país.

Evangélicos

Também deu recado aos religiosos e envagélicos, afirmando ser “crente”, ter fé e acreditar em Deus.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Acredito, plenamente, na honradez e na fidelidade democrática de todos esses senhores. Anima-me a constatação de que os democratas são, na verdade, a maioria das pessoas de bom senso em nosso país. Desanima-me ver que uma grande parte da sociedade ainda apoia a desconstrução de tudo.. . .

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