Golpe e ditadura militar seriam alternativas aos problemas atuais do Brasil? Por Ceci Juruá

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil
 
 
Por Ceci Juruá
 
Certamente não, diz a quase unanimidade dos intelectuais e cientistas sociais do Brasil. E eu me incluo neste grupo, com a convicção de quem sempre lutou nas hostes democráticas.
Mas ainda, amparada no conhecimento de nossa história e na vivência e resistência a dois golpes de Estado, 1964 e 2016, eu me pergunto: golpe? Para quê? Para quem?
 
-Não há mais democracia O golpe já ocorreu, em 2016, destruiu o embrião democrático que minha geração pensou estar nutrindo, resultado da fertilização de quatro décadas em que: a)
organizamos os movimentos sociais pró-democracia, b) inserimos na Constituição de 1988 os tão sonhados direitos universais e os direitos trabalhistas e sociais, c) obtivemos avanços qualitativos nos setores da Cultura, Educação e Saúde, d) enfrentamos as desigualdades de renda e de oportunidades características do subdesenvolvimento.
 
Com Lula e Dilma o governo brasileiro deu passos de gigante em direção à afirmação da soberania nacional, projeto nascido do trabalhismo gaúcho e encaminhado por Getúlio e
por Geisel. Velha aspiração dos brasileiros, o desejo de soberania nutriu, por sua vez, a retomada do controle sobre o petróleo e o pré-sal e a retomada da indústria naval, cujas
sementes haviam sido plantadas por Mauá (1846), por Juscelino e pelos governos militares. Dilma esboçou também novo código de mineração e a quebra de monopólio das altas
finanças como fonte de recursos externos, o banco dos BRICS.
 
Por tudo isto, veio o golpe de maio de 2016 e a enxurrada de projetos anti-nacionais e anti-populares que jamais seriam aprovados sem a quebra dos limites democráticos. Voltamos, 
em 2016, à ditadura constitucional do Império e da República Velha, estamos sendo esmagados por um governo ilegítimo que concentrou esforços, e sabe-se lá o quê, na destruição dos direitos inscritos no Pacto de 1988 e na dilapidação do patrimônio nacional. Chegamos ao fim da Era Vargas, projeto explicitado claramente por Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990.
 
-O projeto futuro dos senhores do poder O golpe liquidou a democracia e nos colocou sob comando dos poderes imperiais, em estado de submissão aos objetivos dos conglomerados industriais e financeiros mundiais. O governo brasileiro obedece a estes senhores, como era
costume no Império e na República Velha, do café-com- leite, quando o estado-maior do governo ficava em São Paulo e Minas Gerais. Exportava-se café e os minérios e metais
preciosos eram contrabandeados. Em lugar de impostos, o governo era financiado por divida. Para regozijo dos rentistas. 
 
Saúde e educação eram privilégio de 5% da população. Recolhiam-se tributos para pagar a dívida pública e distribuir privilégios.
 
Se alguém acredita que estes senhores permitirão eleições limpas em 2018, renunciando à ditadura constitucional ganha sem luta e sem sangue, engana-se redondamente. Eles
vieram para ficar no poder por um século. Destroem a cidadania brasileira para nos oferecer uma cidadania global. Como já fizeram na Ásia e na África. As Forças Armadas serão sucateadas. Parcela significativa já foi transformada em Força Nacional, isto é, a guarda nacional dos antigo coronelismo. Mesmo na ocorrência de uma guerra serão desprezadas, pois a guerra entre nações é feita hoje com poucos homens, aviões não pilotados, muito dinheiro e mísseis de longo alcance. 
 
E o povo? Ora, o povo que se dane. Cachaça e muito samba rock e algo mais, pensam os que defendem a liberação das drogas. Na China foi assim. Porque seria diferente no Brasil?
 
Para chefiar este projeto já foram designados o futuro presidente, qualquer que seja a reforma política e o regime eleitoral adotados. Mas também os governadores dos principais estados do Brasil.
 
Não há razão alguma para ter receio de outra ditadura. Ela já chegou. Voz mansa pregando a bíblia. Distribuindo balas e migalhas. E balas de fuzis. Trocando a educação pública
pelo mecenato dos rentistas. E fazendo do direito à saúde um privilégio dos endinheirados. Mais é desnecessário. Não caberia no orçamento de um país submisso, subjugado, sem
militares à altura da Pátria, sem tribunais que respeitem os princípios universais da Justiça, sem políticos que honrem a Nação e seu povo.
 
Ceci Juruá é economista, pesquisadora independente, doutora em políticas públicas. RJ, setembro de 2017.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Democracia sempre!

    Uma hora a democracia voltará…

    Ai todos devem ser submetidos RIGIDAMENTE sob o império da lei, não este arremedo de justiça que hoje temos, nem com este STF – que é uma vergonha!

    O que não pode ter é a anistia ampla geral e irrestrita aos golpistas, sejam eles bilionários, juizes, empresários, políticos – enfim sem isso!

    Mídia vai ter que mudar, sistema financeiro tem acabar com a agiotagem!

    Eles criam um turbilhão no país para obter vantagem – chega disso!

    Viram o país de cabaça para baixo para colocar em prática fobias, preconceitos e doenças mentais.

    Tem juiz ai que é doente mental – não tem a menor chance!

  2. É só dar um ctrl-c e um

    É só dar um ctrl-c e um ctrl-v que sai tudinho!!Tá tudo na internet! !

    Com a ameaça da cura gay não ser aprovada, entre outros projetos de lei, as forças armadas, que são os principais interessados nessa cura entre outras coisas, pretendem dar o golpe, tomar a governança e aprovar uma série de medidas, entre elas a cura gay. No caso da cura gay, vai beneficiar milhões de militares que sofrem com bullying e todos os tipos de preconceitos, bem como alavancará a dissememinação de clínicas especializadas para todos os civis. Vamos todos torcer para que os objetivos dos militares gays sejam alcançados, acabando com os preconceitos.

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  3. PARA SE ENTENDER POLÍTICA

    tem-se que olhar à distância. Distância histórica, geográfica ou pessoal. Observar os ciclos políticos tanto quanto os ciclos da natureza para perceber quem e como controla a política.

    O que está muito próximo não se vê com clareza. Olhando para o continente sul americano, de fato,   a ditadura militar caiu de moda.Os  governos desses paises, após um discreto respiro pós ditaduras,  vêm sendo subsituidos pelos “democratas  conservadores” (de seus próprios interesses)  e apoiado pelo discurso “moderno” do liberalismo econômico.  Ao governo que resiste acusa-se de , curiosamente, ser inimigo da democracia por tentar respeitar a vontade do povo  e preservar seus interesses aplicando-se-lhe sanções de tal monta que o tornam inviável. Junte-se a isso a difamação desse governo  às demais populações do mundo para que o exemplo não seja seguido. Uma espécie de intimidação.

    No final das contas quem paga é o povo quer tenha sua vontade respeitada,quer não, porque manda no mundo quem tem mais dinheiro.

     

  4. Discordamos: é fake news!

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    ALERTA: a (muito!) perigosa “Fake News” de “golpe militar” (sic)

    Por Romulus & Núcleo Duro

    – A provocação do General Mourão: “se não forem capazes, através do Poder Judiciário, de barrar Lula, as Forças Armadas o farão”.

    – A sinuca de bico do General Villas Boas, Comandante do Exército: como manter a “legalidade constitucional” tendo de bater continência para um…

    (UNIVERSALMENTE reconhecido…)

             – … chefe de quadrilha??

    – Mourão – a “síndrome do vice” (golpista!) ataca de novo: General Mourão tenta a última cartada para cacifar-se. Ao produzir a “fake news”, avaliou, corretamente, que o “seu” (?) momento era agora…

             – … ou nunca!

    – Decifrando o “mistério” (?) narrativo: quando o (civil…) Ministro da Defesa, Raul Jungmann, para (de maneira estabanada…) mostrar serviço, cobra a punição de Mourão, Villas Boas recusa-se.

    Ora, o Comandante, corretamente, não quis promover o espetáculo reclamado pela mídia – inclusive a “de esquerda”!

    Espetáculo esse…

             – … ANSIADO pelo próprio Mourão (!)

             – Dããããã!

    – Cumpre registrar: o Brasil do(s) Golpe(s) – e do caos “institucional” (sic) dele(s) resultante – deve MUITO ao bravo General Villas Boas. Bem como à sua resiliência cívica e altruísta – inclusive em nível pessoal e, até mesmo, físico.

    – Desastre na “blogosfera progressista”: o único a sacar o “jogo” – e a sinuca de bico – foi Fernando Brito, do Tijolaço. Evidente: ter andado tantos anos ao lado de Leonel Brizola fez toda a diferença.

    – Lamentavelmente, todos os demais blogueiros derraparam feio na nova “batalha de narrativas”. Pior: foram PAUTADOS por interesses de direita (de novo, Senhor!). Desta feita, dos mais perigosos que há: nem mais, nem menos!

    – Destaque, em especial, para a inverossímil análise dessa “nova polêmica” feita por Luis Nassif, no GGN.
     

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  5. Artigo Magistral, Excelente

    O autor do post captou o cerne da questão: Não se trata de dar um golpe ou não, o golpe já foi dado. Trata-se de escolher qual golpe vamos querer; se um golpe militar, nacionalista, com crescimento robusto de PIB e de empregos,  ou um golpe parlamentar, rentista e entreguista, com desemprego record.

    Um golpe militar com torturas físicas  a uns poucos ( se bem que só para os que desafiassem o sistema ) ou um golpe parlamentar com tortura do desemprego, fome, miséria e recessão  para a grande maioria.

    ————–

    Porque as esquerdas, com certeza, mesmo que remotamente chegassem ao poder, não venceriam o sistema do rentismo, nem o sistema midiático, ou seja, o projeto das esquerdas, é serem síndicas de um condomínio do grande capital, para gerarem alguns empregos e gerenciarem alguns projetos sociais. Mais que isto nem a elite, nem o Império deixariam, se é que deixariam isto até.

    E mesmo que alguma esquerda quisesse diferente, não tem apoio de ninguém. Guerras  hoje, como disse acertadamente o autor, se vencem com poucos homens, e com muita tecnologia e dinheiro, mesmo uma guerra contra um povo. O povo não tem nada disto.

    Os militares sim, estes tem poder, para se imporem, pelo menos ao sistema rentista e midiático local.

    Mas a esquerda quer acabar com o rentismo midiático, só que… tem medo. Quer, mas tem de ser do jeito dela.

    ————-

    ” Os intelectuais pensam diferente, acham que o Brasil pode esperar”

    No dia em que os intelectuais tiverem de encarar um salário mínimo sem registro em carteira para sustentar a família, isto por décadas, talvez eu dê credibilidade ao que eles dizem.

    ———-

    Então, fazer o que né ? Cavalo encilhado passa do lado do povo e este fica com medo de montar. Deixa a esquerda se convencer por si mesma de que 2018 vai ser uma festa, para a qual o povo não foi convidado.

    E então, daqui a décadas… Ou seriam séculos ? Alguém vai olhar pra trás e dizer:

    – ” Quanto tempo faz que o grupo de Temer assumiu o poder, estão até hoje no comando do país né? “

  6. Na maioria das análses, penso

    Na maioria das análses, penso que prevalece a impressão (real?) de passividade e o compasso de espera por algo pior (ou melhor).

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