Ideias de “empreendedorismos” que podem agradar Mourão, por Fernando L’Ouverture

Vice-presidente defendeu o resgate do empreendedorismo no Brasil citando capitanias hereditárias

Jornal GGN – O vice-presidente da República, general Mourão, defendeu o resgate do empreendedorismo no Brasil lembrando das capitanias hereditárias. A declaração aconteceu neste domingo (29), em sua conta pessoal no Twitter.

“Na data de hoje, em 1532, o Rei D. João III criava as capitanias no Brasil. Descoberto pela mais avançada tecnologia da época, o País nascia pelo empreendedorismo que o faria um dos maiores do mundo. É hora de resgatar o melhor de nossas origens”, escreveu.

As capitanias hereditárias foram instaladas no Brasil na década de 1530 pelos portugueses como forma de colonizar o Brasil. Nesse sistema, o território foi dividido em quinze lotes gigantes de terras entregues para famílias indicadas pela coroa para povoar o país a partir de um sistema de base escravista.

O tom comemorativo de Mourão, rebuscando um modelo de exploração econômico que é avaliado por muitos especialistas como uma das causas no atraso do desenvolvimento do Brasil, virou piada na internet. A seguir, o GGN compartilha uma das respostas mais criativas para o vice-presidente da República.

Por Fernando L’Ouverture
Via Twitter

Inspirado pelo general Mourão, um profundo conhecedor da história do Brasil e coach nas horas vagas, resolvi reunir alguns dos maiores exemplos de empreendedorismo na História mundial. Espero que gostem!

1) As plantações de borracha no Congo Belga: um exemplo de empreendedorismo foi quando a Bélgica, um país do tamanho de Sergipe, passou a colonizar o Congo diretamente pela figura do seu monarca, Leopoldo II.

Graças a um mindset arrojado, Leopoldo garantiu uma alta vertiginosa na oferta de borracha nos mercados mundiais, permitindo o avanço da vulcanização da borracha, ideal para a nascente indústria automobilística.

E, para garantir a alta produção, usou de métodos “out of the box” para motivar seus colaboradores:

(na foto, congoleses sem as mãos…entre 1880 a 1920, calcula-se em torno de 40 milhões de congoleses mortos)

2) As indústrias Schaefler (e basicamente todas as indústrias alemãs entre 1933 a 1945): em época de guerra, os “instintos primitivos” do mercado afloram. É preciso serenidades para poder aproveitar as “opportunities” que surgem.

Conheçam o Schafler-Gruppe.

Durante a guerra, a Alemanha nazista, como sabem, cortava o cabelo dos prisioneiros dos campos de extermínio. Mas o que faziam com o cabelo?

Bem, alguns grupos empresariais, atentos nas novas “trends” do mercado, resolveram reaproveitar.

Por meio de um uso sustentável dos recursos e com um “target eco-friendly”, empresas como a Schaefler pegavam os cabelos e usavam eles no estofamento de assentos dos seus carros.

https://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/germany/4930165/German-car-company-used-hair-from-Jews-murdered-at-Auschwitz.html

3) O tráfico Atlântico de escravos: ao contrário dos EUA, que hoje registra que o primeiro navio negreiro chegou no território da Virgínia, em 1619, nós não temos um ano preciso de quando o negócio do comércio transatlântico de humanos começou.

Mas foi um “case” de sucesso!

Fiquemos só nas cifras:

12,5 milhões de escravos embarcados para as Américas entre 1525 a 1875.

Só o Brasil, 5,8 milhões – nós também fazemos parte dessa história de sucesso.

https://www.slavevoyages.org/assessment/estimates

É a maior diáspora da história da humanidade. E olha que sacada genial: várias civilizações conheciam formas de trabalho compulsório. Mas depois de um tempo, o escravo se tornava “da família”, juntava os trapos com um parente, não passava o status para seus filhos.

Mas, ao migrar para América, os laços de familiaridade e parentesco eram rompidos e o status de escravo passaria de pai para filho – aliás, escravo, não, colaborador premium.

Com isso, a pujança dessa terra em que plantando tudo dá foi garantida por séculos!

4) Guerra do Ópio: é um dos meus cases favoritos. Você quer entrar num mercado, mas o Estado malvadão não deixa?

Cara, a resposta é simples: é só pensar num produto com alta demanda e na capacidade de manter uma oferta intermitente.

Agora, qual produto a gente poderia usar? Bem, a Companhia das Índias Orientais (top of marketing, galera!) chegou a uma conclusão infalível quanto a China no século XVIII faz um “rebranding” em um produto artesanal e medicinal natural chamado “ópio”.

Ao fazer isso, o mercado reagiu prontamente, a demanda cresceu vertiginosamente. Deu tão certo que o Estado quis interferir nos negócios, mas a iniciativa privada liberal saiu vitoriosa (sabe como é, mano, “there is no free lunch”!).

E para garantir que esse “case” seria ainda muito mais bem sucedido, o lance era garantir que teríamos um banco arrojado, feito para você, garantindo que não saberíamos dos mecanismos pelos quais o dinheiro chega até a sua conta, no outro lado do mundo.

https://www.reuters.com/article/us-hsbc-usa/hsbc-draws-line-under-mexican-cartel-case-after-five-years-on-probation-idUSKBN1E50YA

5) A Companhia das Índias Orientais na Índia: mano, imagina uma ideia foda. E SE…a Coca-Cola controlasse o Sudeste brasileiro??? Cara, a gente ia crescer demais, a economia ia bombar, mano!

E olha quem teve essa ideia antes? Vanguarda, véio!

Na verdade, foi exatamente isso que a CIO fez. Entre 1757 a 1858, os caras dominaram várias partes da Índia por meio de uma estratégia “high-stakes”: financiar conflitos locais e se apoderar de partes do território indiano. Em pouco tempo dominaram 3/4 dos territórios.

Mas ia fazer o que na Índia? Mano, tinha chá, tinha ópio, tinha algodão…tudo numa pegada “nature”, tá ligado? Tudo isso chegava para consumidores de toda a parte do planeta!

Era muito foda, empreender era com os caras mesmo!

Ufa, lembrei só desses agora, mas tem vários outros exemplos de empreendedorismo na história, bem ao gosto do General Mourao.

É o bonde dos milico high-stakes!

Redação

3 Comentários

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  1. O Mourão é o General mais inteligente do Exército . Imaginem o que não deve sair do Heleno !!!Estes caras não deveriam jamais sair dos Quartéis ,catar fôlhas e aparar grama ¨.Jênios¨ !!!

  2. Na verdade, achei ótimo. O Gal. Mourão acabou rasgando a máscara de civilidade da turminha “high stakes” pró-ativa do mercado, que só é “contra” o Bolsonaro na forma abjeta e grosseira, mas completamente a favor do conteúdo neoliberal e entreguista. Assim como os países “civilizados” do Norte Global, estão, na verdade, amando a derrota das esquerdas no Brasil, os ganhos do capital sobre o trabalho, o enriquecimento dos já muito ricos, o esmagamento dos mais pobres, enfim, a redução do território brasileiro a um gigantesco “plantation” neocolonial. Pode-se até dizer que foi um “sincericídio” da parte de Mourão.

    A ironia trágica do Fernando foi uma das melhores respostas que eu já vi, só que não dá pra desprezar as vontades e interesses de classe desse tweet.

  3. O General Mourão é um piadista. Está tirando onda da nossa cara.

    Se a terra pode ser plana. Por que as capitanias “hereditárias” não poderiam
    ser um lance legal de empreendedorismo.

    Isso é o que dá colocar milico para administrar país.

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