O crescimento da Colômbia

Por Guilherme Lampe

Nassif,

A matéria é de ontem, mas não vi publicada aqui.

Quais são os motivos para o crescimento colombiano?

Do Valor

Em boa fase, Colômbia se acha blindada contra crise

Sergio Leo | De Bogotá
09/08/2011

Na Colômbia nota-se hoje o temor da guerrilha principalmente pela presença nas ruas de policiais com cães e pelas medidas de segurança, como a exigência de identificação digital, até de sócios, nos clubes exclusivos da capital. Nas ruas de pedestres da luxuosa “Zona Rosa” de Bogotá, uma multidão colorida e sorridente transita entre bares e restaurantes de arquitetura moderna e paredes de tijolinho aparente, sem medo da ameaça terrorista que, poucos anos antes, apavorava a capital. Despreocupação semelhante parece reinar na Colômbia em relação à crise financeira mundial.

Assim como continua, nas conversas, o medo da guerrilha, as autoridades até admitem que os tropeços na economia mundial podem incomodar o país – hoje o segundo maior parque industrial da América do Sul; prestes a superar a Argentina como segunda maior economia do continente; presenteado nas últimas semanas com a classificação de grau de investimento pelas três maiores agências de avaliação de risco. Mas o governo se diz preparado para a crise.

“Para amortecer o impacto dos choques internacionais, temos uma parte financeira e outra comercial”, disse ao Valor o ministro da Fazenda colombiano, Juan Carlos Echeverry, revelando que há razões econômicas fortes para a nova política externa da Colômbia, de maior aproximação com países da América Latina. O governo, para compensar o esfriamento de mercados desenvolvidos, busca ampliação de acordos, para conquistar mercados como a nova classe média dos países emergentes. 

Pelo lado financeiro, o governo colombiano adotou um ativismo inédito na região, com a iniciativa do próprio presidente Juan Manuel Santos de sugerir uma “coordenação” de políticas na União das Nações da América do Sul (Unasul) para enfrentar a crise. O temor, explica Echeverry, é de que a política monetária frouxa nos EUA e na Europa crie fluxos excessivos de investimento nos países com mercados internos vibrantes, como é o caso da Colômbia. O peso colombiano vem se valorizando lentamente até agora, e o governo local, no início do ano, baixou tarifas de importação, em fevereiro, para compensar a forte entrada de dólares.

As importações, segundo o ministério da Fazenda, têm crescido 40% acima das exportações, reduzindo o superávit colombiano. Os investimentos diretos estrangeiros vêm em ritmo de US$ 12 bilhões anuais, mas os colombianos têm investido como nunca no exterior, US$ 8 bilhões, o que ajudou a compensar a entrada de capital.

A resposta à crise tem forte viés ortodoxo. “A competição é necessária para a eficiência dos mercados”, diz o ministro do Comércio, Sérgio Díaz.

As queixas dos empresários são poucas, em um país onde as tarifas de importação já são baixas, com tarifa máxima de 10% em setores sensíveis como os têxteis. “Somos muito mais abertos que o Brasil; muito do que é produzido aqui já tem tarifa zero”, comenta o presidente da Associação Nacional das Indústrias da Colômbia (Andi), Luis Villegas, que reconhece o “estresse” em setores com grande uso de mão de obra, como flores, confecções e calçados. “Assim como há tensões nas exportações quando há valorização da moeda, o sistema aberto colombiano tem distensão com as importações de matéria-prima e bens de capital mais baratas”, comenta o líder empresarial.

O bom momento econômico por que passa a Colômbia faz com que o governo e especialistas no país falem em “blindagem” da Colômbia contra os humores do mercado financeiro. Investidores estrangeiros, como a brasileira Gerdau, têm endossado essa visão, até agora. “É muito difícil prever a extensão da instabilidade econômica que alguns mercados estão apresentando”, disse ao Valor o presidente do Conselho de Administração da empresa, Jorge Gerdau Johannpeter. “Até o momento, nossa operação na Colômbia segue obtendo resultados compatíveis com o crescimento da construção civil no país.”

Com investimentos de US$ 684 milhões em compra e modernização de instalações siderúrgicas, a Gerdau é a maior produtora de aços longos da Colômbia. O contínuo crescimento do país tem impulsionado o mercado da construção civil, gerando forte demanda por produtos como o aço. No mesmo ritmo, aumenta a criação de emprego, promovida também com programas para reduzir a informalidade, metade da economia colombiana. Nos últimos dias, o presidente Juan Manuel Santos tem repetido que atingirá, ainda em 2011, a meta de reduzir o desemprego a um dígito, prevista para o fim do mandato.

Elogiado pelo Fundo Monetário Internacional, por sua política fiscal que deve garantir superávit até o próximo ano, o país recebe grande ingresso de investimentos estrangeiros e tem nível recorde de US$ 32 bilhões em reservas internacionais, equivalentes a mais de seis meses de importações. O governo exerce controles sobre a taxa de câmbio e sobre a exposição do sistema financeiro a riscos; tem elevado a taxa de juros (hoje em 4,5%) e mantém sob controle a inflação – em alta, mas abaixo do teto da meta, de 4% ao ano.

As autoridades e economistas reconhecem que deve haver impacto no lado “real” da economia, com a queda de cotações internacionais de commodities como o petróleo, responsável por quase 49% das exportações colombianas. A expectativa de que as dificuldades sejam passageiras fazem com que o governo defenda até os ajustes recessivos nas economias desenvolvidas, embora os EUA representem 38% de seu mercado de exportação, e a União Europeia, 13%. Acordos recém-firmados com Suíça e Canadá são parte da estratégia de diversificar mercados, contra os efeitos da crise.

O problema é que, além de liderarem o crescimento colombiano, as commodities têm sido um dos principais instrumentos do ajuste fiscal na Colômbia, graças à arrecadação de royalties (” regalias “) sobre minérios e a receita do petróleo. Santos pavimentou sua base política no Congresso ao redistribuir essas “regalias” não só às regiões produtoras, mas a todas as províncias colombianas. Os efeitos da crise sobre os preços e demanda de petróleo e minério ainda não são levados em conta nas contas fiscais. Os cenários mais pessimistas não chegaram, por enquanto, ao território colombiano.

(O repórter viajou à Colômbia a convite do Banco Interamericano de Desenvolvimento) 

Luis Nassif

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