Videogame quer simular ambiente de protestos populares

Do Opera Mundi

Das ruas para os pixels: videogame quer simular ambiente de protestos populares

Idealizado por italianos, RIOT procura arrecadação colaborativa para lançar jogo para smartphones e computador

Ana Carolina Marques

Um jogo no qual o usário pode interagir e escolher ser polícia ou manifestante durante um protesto popular “onde não há vitórias ou derrotas” e que esbanja aspectos morais e pontos de vista de ambos os lados. Com a proposta de contar a história desses confrontos, o time de produtores italianos do videogame RIOT recolhe dinheiro por meio de crowdfunding (arrecadação colaborativa) para viajar e documentar o que depois irá virar game. Tudo pode ser controlado via smartphone e computador.

“Enquanto a crise econômica avança, o descontentamento de uma população inteira não pode evitar mas explodir em riots, onde o som de várias vozes são ouvidas de uma vez”, escreve o time em sua página riotgame.org. “O que é exatamente o gatilho dessas manifestações?” e “O que sente um policial durante o conflito?” são perguntas que os produtores procurarão responder.

E, para isso, os usuários passarão por experiências em protestos na Itália, Grécia, Egito, Rússia, Nova York e outros lugares do mundo. Apenas comentários de pessoas que estiveram em riots serão levados em consideração, “na busca de mostrar ambos os lados das lutas sem vieses, apenas objetivamente e com fatos”.

O time, liderado pelo editor e cinematógrafo Leonard Mechiari, diz que em um país “afundando em dívidas e corrupção, é praticamente impossível para nós achar um meio de financiar o projeto na Itália” e assim escolheram pedir ajuda financeira ao mundo.

Por meio do site IndieGoGo, a ideia da iniciativa é explicada e um valor estipulado: US$15 mil. Além de custos de despesa dos envolvidos, o valor cobriria a fase de pesquisa e a compra de licenças para lançar o jogo em PC, Mac, iOS, Android e OUYA. Até o momento de conclusão desta matéria, a arrecadação chegava a US$9.757, com ainda 19 dias restantes.

RIOT tem se disseminado na Internet e atraído atenção de outros veículos. Um blog do The New York Times conta que Mechiari teve a ideia do jogo a partir de uma foto de um manifestante, sozinho, levantando uma placa em frente a uma linha de policiais em Cairo e foi influenciado por outro jogo, Superbrothers: Sword and Sworcery EP.

 

Reprodução

À esquerda, foto no Cairo na qual Mechiari se inspirou; à direita, cena do jogo RIOT, que simula protestos contra polícia

Há um ano, o italiano participou de um protesto em Turim do movimento No TAV contra a construção de uma linha de trem super-rápido que cruzaria os Alpes, ação considerada anti-democrática e ecológica. Lá, Mechiari se sentiu em “um mundo paralelo”, com pessoas correndo na escuridão em meio a granadas. Impressionou-se com a dedicação dos manifestantes e com uma conversa que teve com um policial em um momento mais calmo, descobrindo que ambos os lados têm valores em comum.

O objetivo não é de expressar uma mensagem ideológica, mas de “replicar o sentimento que você tem quando a massa pensa como um único organismo”, de ilustrar o comportamento de ambos manifestantes e forças de segurança na mistura de paixão, adrenalina e caos dos protestos – e assim os jogadores poderão tomar escolhas “morais ou imorais”.

Reprodução

O jogador escolhe de que lado fica e, a partir disso, fica a seu cargo que tipo de decisões tomar

Entre os comentários na rede Reddit estão pessoas com receio de que seja superficial demais, apenas um jogo de minutos. Outro atenta para o fato de que, por ter a intenção de desenvolver na plataforma da Apple, os criadores provavelmente terão que adaptar o jogo para um ambiente limpo, familiar, sem controvérsias políticas ou sociais. 

Mas a maioria mostra grandes expectativas para algo que possa parecer bem realista. Um deles menciona que o jogador será, na verdade, mais um espectador do que um herói, uma vez que é difícil ser um indivíduo em riots reais. O fato de que o jogo é montado em 16 bits (pouca qualidade de pixels) é destacada por outro como vantajoso, porque permite detalhes no corpo, mas não nos rostos, e assim mantendo o jogador focado na linguagem corporal.

O site Indie Statik diz que o jogo parece se inspirar em riots reais por se preocupar com vários aspectos do fenômeno: da cobertura midiática aos líderes políticos que criaram o ambiente para que as revoltas acontecessem. 

Aliás, Mechiari já escreveu que recusou ofertas de várias empresas interessadas em financiar o projeto e que não teme a entrada no mundo Apple, porque “o jogo precisa se conectar com a população em geral, então se foca em mostrar a verdade na medida do possível for em vez de manipulá-lo para ganhar mais uns trocos”.

Jogadores de todo o mundo ainda descobrirão se o lema de RIOT emergirá em nossas telas portáteis: “Pare de ouvir às mentiras da mídia, desligue a televisão e se ponha à frente para lutar por sua liberdade de expressão”.

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* Com informações de The New York Times, This is my joystick e Indie Statik

Luis Nassif

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