Morte de Marielle pode ter outras razões e mais: casos inusitados do crime

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Interesses imobiliários podem ser só "parte" das razões. E o crime ainda envolveu miliciano infiltrado, queima de arquivos e sambista alvo

Marielle Franco em corredor de PMs em frente à Câmara – Foto: Bárbara Dias/Zimel Press

Os detalhes do asssassinato de Marielle Franco, em março de 2018, foram tornados públicos neste final de semana, após a prisão dos responsáveis. Mas por detrás de uma principal motivação, outros detalhes desconhecidos envolveram o crime. O GGN separou alguns casos inusitados que aparecem no inquérito da Polícia Federal sobre a morte de Marielle. Confira:

O crime pode ter tido outras razões

Ronnie Lessa declarou que o motivo da morte de Marielle foi que a vereadora atuava contra os interesses mobiliários dos irmãos Brazão. Em mais de um momento, é narrado que Marielle pediu para os eleitores e a população fluminense não comprar propriedades e loteamentos em áreas de milícias do Rio.

Um dos ápices da irritação dos irmãos Brazão foi o movimento feito pela então parlamentar na votação do PLC n.º 174/2016, de autoria do próprio Chiquinho Brazão, então vereador do Rio, que tratava da regularização de terras em áreas dominadas pela milícia.

Sobre este ponto, os investigadores ressaltam que “inexistem dúvidas” sobre a motivação do crime pelos irmãos Brazão. Entretanto, deixam claro que a razão apontada pode ser “apenas uma parte de um contexto mais intricado e desconhecido pelo algoz [Ronnie Lessa] da Vereadora”.

Ou seja, a PF indica que, possivelmente, houve mais razões para o assassinato de Marielle.

Miliciano foi morto em queima de arquivos

Os irmãos Brazão cometeram os crimes por meio da influência que detinham junto às milícias da zona Oeste do Rio de Janeiro. E milicianos foram mortos como “queima de arquivos” da investigação do caso Marielle.

A informação foi confirmada pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, em coletiva de imprensa: “intermediários foram assassinados no intercurso de 6 anos”. Na decisão do STF, mostra-se claramente a intermediação de Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé.

Macalé era sargento reformado da PM, fez o contato com Ronnie Lessa para cometer o crime e integrante das milícias do Rio. Ele foi morto a tiros, em 2021, na zona oeste da capital fluminense.

Sambista também seria assassinada

Não só Marielle Franco, como também a ex-presidente do Salgueiro, Regina Celi Fernandes Duran, era alvo de assassinato.

Ronnie Lessa foi contratado para matar a sambista a mando de outro pedido: do bicheiro Bernando Bello. O motivo é que Regina era alinhada a família do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, e tentava se reeleger na presidência da escola de samba, enquanto Bello queria outro candidato que representava os seus interesses.

Um miliciano foi infiltrado ao PSOL

Um miliciano foi infiltrado no PSOL para monitorar a vereadora Marielle Franco. Laerte Silva de Lima filiou-se ao PSOL vinte dias depois do segundo turno das eleições de 2016, por interesses de monitorar o partido para a milícia de Rio de Pedras, na zona oeste do Rio. Ele tinha vínculo direto com os irmãos Brazão.

Do celular de Laerte, outro miliciano, Major Ronald, informou o paradeiro de Marielle na noite do dia 14 de março.

Chefe da Polícia foi contratado por impunidade, mas se tornou autor

Rivaldo Barbosa, então chefe do Departamento de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, foi contratado para tornar os crimes impunes, mas depois passou a ser também “um dos arquitetos” da execução, ajudando em exigências do plano de morte e nomeando uma organização criminosa dentro da polícia civil para impedir a investigação do caso.

A Polícia Federal afirmou que os indícios de autoria dos irmãos Brazão no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes “são eloquentes” e que eles contrataram dois serviços: o de homicídio da vereadora e da impunidade.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Esse trecho do relatório da PF que diz que o Delegado Rivaldo tinha domínio final do fato faria Klaus Roxin corar.

    Nem o tribunal de Nuremberg forçou tanto a barra na Teoria do Domínio do Fato.

    Não há uma evidência que comprove a afirmação.

    É possível que o delegado tenha incorrido em corrupção passiva? Muito.

    Mas ter o domínio do fato? Como? Que planejamento foi esse que permitiu a todos, desde a mais tenra hora, saberem que era uma execução sofisticada, justamente o contrário que o relatório da PF diz que era o objetivo do delegado, e a razão maior de sua contratação?

  2. O óbvio, não é óbvio se aparece um “por que”, então agora é prender e prender, não precisamos mais de “Provas das Provas”, o Ministro Alexandre de Moraes precisa ser alertado, pelo conjunto de crimes tipificados, lá no 08/01, a cadeia é a parada.

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