Da precariedade dos argumentos – o movimento feminista da Unicamp (I)


(ou, de como fiquei sabendo que os homens de Malta têm placenta)

Em uma democracia de massas os movimentos de massas são fundamentais para seu funcionamento. São eles quem põem – muitas vezes impõem – debates à sociedade – ainda mais num país em que a pauta do dia costuma ser dada prioritariamente pelo presidente de turno. Por exemplo, não fosse o MST e a questão agrária – que atualmente avançou para uma questão territorial – teria ficado em terceiro plano, e a violência no campo talvez hoje fornecesse mão-de-obra para o crime organizado, assim como nossas prisões.

Os movimentos de massas, além de colocar o debate, são também importantes para mantê-los na cena pública. Porém, na hora de conduzi-lo, quando esses movimentos conseguem não se prejudicar a si próprios, já saem no lucro. Poderia buscar exemplos no MST, mas me centro num que tem me incomodado por ser mais próximo e mais presente para mim: o movimento feminista da Unicamp.

Me incomoda por dois motivos, primeiro porque são pessoas que estão numa universidade, muitas já na pós-graduação, e são incapazes de elevar o nível da discussão; segundo porque sou favorável à boa parte das – se não todas – bandeiras defendidas pelo movimento: fim da chamada jornada dupla exclusiva para mulheres, legalização do aborto, e, onde cabe, igualdade entre os sexos – pois, apesar das feministas negarem, há diferenças entre macho e fêmea, mesmo no gênero humano.

Quer dizer, ao menos eu, um reaça desinformado, assim cria. Porque a levar a sério uma das pichações das feministas, no Canadá, na Espanha, em Malta, na Nova Zelândia, homens já possuem placenta. Diz a tal pichação: “Se homem engravidasse, aborto já seria lei”. A conclusão lógica não é nada difícil de se alcançar. Perceber a precariedade do raciocínio tampouco.

Quem o movimento pretende sensibilizar com esse tipo de “argumento”? Os convertidos mais dogmáticos talvez aplaudam, mas os que não vêem motivos para apoiar o aborto, seguirão tão convictos quanto. E na minha visão é para esses que o debate deveria ser direcionado.

Quem sabe se as integrantes do movimento feminista da Unicamp saíssem de seu mundinho muito estreito e fossem atrás de outros exemplos, dentro da própria causa feminista, como os quadros da artista lusitana Paula Rego – seja a série em defesa do aborto, ou outras obras não tão específicas, mas muito forte na abordagem da temática da violência contra a mulher –, não conseguissem elevar o debate, alcançar ouvidos surdos à sua causa? Quem sabe se não agissem muitas vezes contra a própria causa o aborto não estaria mais próximo de se tornar lei, sem necessidade de homem ter ovário e placenta?

Campinas, 24 de julho de 2011.

Redação

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