O aconselhamento de Aécio e as viúvas do neoliberalismo

Mais uma vez a oposição política aos governos do PT irá trilhar um caminho errado.

Animados com os dois últimos anos de baixo crescimento do PIB, mas decepcionados com a repercussão do auxílio luxuoso do STJ, puseram a campo veteranos economistas ligados ao PSDB para aconselharem o pré-candidato do partido, Aécio Neves, e formularem a sua agenda econômica para a campanha presidencial, em 2014.

É o que informa matéria do Valor (03/01/13), “Pais do Plano Real criam agenda para Aécio”, de Raymundo Costa e Marcos de Moura e Souza.

Entre pais e mães, estão aí envolvidos Armínio Fraga, Edmar Bacha, Pedro Malan, Elena Landau, Tasso Jereissati. Outros virão.

O aconselhamento, que segundo a matéria tem motivado frequentes reuniões com o ex-governador de Minas, gradativamente, vai se espraiando pelas folhas e telas cotidianas e foca o tamanho do Estado brasileiro pós-PT.

Não vieram a esmo os artigos de André Lara Rezende, “Além da conjuntura”, para o mesmo Valor, e “A cilada do otimismo”, para a última edição da revista piauí, nem a última coluna da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), na Folha, ou a manchete de hoje, domingo, “Dilma acelera criação de empresas estatais”.

A presidente da Confederação Nacional da Agropecuária, ontem, recorreu a Pero Vaz de Caminha, ao pensador católico Alceu Amoroso Lima, e a um ex-governador do Rio de Janeiro, nomeado pelo rei dom João 5º, o coronel Luís Vahia Monteiro, “o Onça”, para denunciar “a presença, ainda hoje atuante, do Estado cartorial”, que trava o desenvolvimento do Brasil.

Não resisto dizer que a referência ao digníssimo “Onça” me fez lembrar com saudade e sede o simpático “Bar da Dona Onça”, aqui em São Paulo, onde passo tempos mais felizes do que lendo as viúvas do neoliberalismo.

Aliás, pedindo licença ao maestro, como fazia o genial Tim Maia quando desejava continuar na canção, uma só digressão a mais: se a esquerda teve que se libertar do socialismo, como praticado na ex-União Soviética e países do Leste Europeu, por que nossos neoliberais não deixam enterrar uma doutrina que, em quatro décadas, mostrou-se falida?

Há mais de dez anos longe do Poder, administrando carteiras de investimentos bilionários, esses pais e mães deveriam ter tido tempo suficiente para inovar e pensar num planejamento de médio e longo prazos para desenvolver o País.

Vamos, pois, ansiosos, curtir os conselhos a Aécio.

Defender: privatizações, Estado menor, mais parcerias com a iniciativa privada, sobretudo, em áreas de infraestrutura. Para eles, na miúda, o regime de concessões é fraco, os contratos da Petrobrás para o pré-sal afastam as petroleiras privadas, e é preciso abrir-se mais ao comércio internacional.

Com isso, o novo governo conseguirá: crescimento sustentado entre 5% e 6% ao ano e inserção na economia mundial.

Estranho. Falei em conselhos a Aécio, mas parece que ouvi conselhos de Acácio.

Nenhuma, mas nenhuma mesmo, palavrinha sobre inserção social, distribuição de renda, reformas institucionais.

Meus chapas, só pode ser truque, despiste ou algo assim. Tem carta escondida aí nessas mangas. Alguma ideia extraordinária, plano bombástico, um segredo guardado a sete chaves, de que nem mesmo a amigável mídia saberá.

E por que falo em sete e não oito chaves?

Simples. O ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, não está participando do grupo. Se estivesse, teríamos certeza de que o déjà vu só serve mesmo a distrair a situação.

Luis Nassif

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