No primeiro Cai Na Roda de 2022, as jornalistas do Jornal GGN conversaram com a psicanalista e feminista Manuela Xavier. Fenômeno na internet, ela conta com mais de 300 mil seguidores nas suas redes sociais e utiliza esse espaço para discutir cultura e relacionamento para “despertar mulheres”.
Para Manuela, o amor tem uma dimensão política e social que não é descolada do patriarcado e do machismo. As mulheres aprendem uma forma “torta” de amar desde o berço. Nos é ensinado que toda maneira de amor vale a pena, mas não vale, diz Manuela.
“A gente aprendeu uma forma de muito torta, colonial, patriarcalista e machista de amar, que tem a ver com a forma como a gente se relaciona com o outro. A gente não sabe ser amada pelo outro, porque a gente confunde amor com violência; e a gente não aprendeu a se amar, porque a gente aprendeu que amar é se mutilar. Você faz uma hora de academia porque se ama ou porque você odeia seu corpo? A gente não pode despolitizar o amor, ele tem uma dimensão política e social que não é descolada do patriarcalismo.”
A visão corporal feminina é distorcida
Para Manuela Xavier, é necessário questionar a motivação por trás de cirurgias plásticas e horas e horas de academia. “Nós confundimos amor com violência, e a gente aprendeu que se amar é se mutilar.”
Aos olhos da sociedade, o corpo feminino é um território público. Essa invasão acontece, principalmente, por comentários, críticas e imagens vendidas pela mídia. “Nosso corpo não está aberto a comentários.”
A psicanalista acredita que isso incide na subjetividade feminina em forma de insegurança, já que as mulheres são ensinadas a buscar a validação do outro para se sentirem dignas. Essa validação, em grande parte, é masculina.
A massificação de um ideal falso do “corpo perfeito” tem mais do que efeitos físicos de mutilação corporal, ela causa uma mutilação psíquica. O objetivo é enfraquecer as mulheres e torná-las inseguras, fragilizadas e dependentes.
Instagram X Realidade
Manuela comenta sobre o impacto que o Instagram gera na noção corporal das mulheres, citando que, em 2020, cresceu a procura por cirurgias plásticas, principalmente desejando uma aparência igual a dos filtros do aplicativo.
Para ela, é um sistema feito para fazer as mulheres se sentirem inseguras. “Ele vai te vendendo uma frustração, e as cirurgias plásticas são tidas como a solução.”
Luta contra a gordofobia, uma pauta deturpada
Manuela esclarece que, ao discutir a luta contra a gordofobia, é essencial debater a ampliação do acesso dessas pessoas a elementos básicos do dia a dia, o que é direito delas.
A psicanalista acredita que essa pauta é deturpada na internet e as vozes de mulheres gordas são constantemente silenciadas, principalmente por mulheres que se encaixam no padrão estético e dizem que a luta contra a gordofobia é sobre se amar. “Não é só sobre isso.”
O acesso ao amor, para certas mulheres, é negado por conta de estigmas sociais, principalmente para mulheres gordas, negras, trans e deficientes.
Isso se dá por conta da insegurança e estrutura social política que diminui essas mulheres. “A dinâmica social coloca essas mulheres como não-mulheres.” A sociedade não enxerga nelas sexualidade e potência.
Para ela, é a representatividade que mostra que essas pessoas existem, são dignas e admiráveis.
O efeito colateral do amor?
Outra pauta discutida foi a do relacionamento abusivo. Para Manuela, muitas mulheres acabam insistindo em um ciclo de violência porque foram ensinadas que toda forma de amor vale a pena.
“O relacionamento abusivo é um pacto social. As mulheres são empurradas porque ninguém quer saber de nós.”
A psicanalista acredita que a primeira relação abusiva começa na família. Isso porque, é projetado para a menina que seja “bela, recatada e do lar”, e para o menino, que seja viril e violento.
“Isso vai fundando as matrizes do abuso que desenha para nós os nossos comportamentos.”
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