A militância petista se alvoroçou com a informação de que o senador Jacques Wagner pediu cautela em relação à CPI do Covid.
A razão é simples de entender.
O Brasil não é um país democrático. Nem instituições, nem Supremo, nem a mídia tem convicções democráticas. Valores como democracia, direitos, princípios, são instrumentos utilitários para os jogos de poder.
Os assomos de democracia dos últimos meses respondem a dois movimentos. O primeiro, o despertar de parte da opinião pública para o estrago produzido por Bolsonaro no país. O segundo, a incapacidade do sistema em produzir uma reação minimamente eficaz contra o desastre e a ameaça de golpe que diariamente vem de Bolsonaro.
Some-se a Vaza Jato, a exposição pública dos pecados de Moro e companhia, e criou-se uma onda democratizante. Tornou-se moda novamente ser democrata, a favor do politicamente correto, contra a fome, a miséria – desde que não se mexa no orçamento público.
Aí entra o acaso, o Ministro Luiz Edson Fachin, cuja reputação morrerá abraçada à Lava Jato. Para impedir o julgamento da suspeição de Sérgio Moro, Fachin define que não cabe a Curitiba julgar o caso do Triplex e, sem perceber, abre a tampa da garrafa. Imaginava livrar Lula apenas do processo do triplex. Na prática, liberou-o para as eleições de 2022.
Imediatamente houve a manifestação de Lula, uma nova carta aos brasileiros, que instantemente funcionou como uma freada de arrumação na resistência política a Bolsonaro. Um discurso histórico que definiu os pontos centrais da busca da democracia, desenhando com meia dúzia de palavras o projeto de Brasil que todos ambicionam.
Os resultados foram uma redução geral nas resistências a Lula, com mudanças até no principal agente de instabilidade politica do país, o Jornal Nacional. O mercado começou a discutir quem seria o “posto Ipiranga” de Lula, na mídia corporativa houve várias manifestações de colunistas aspirando um espaço maior para suas convicções pessoais. E tudo isso porque, nessa primeira rodada, Lula se revelou o único em condições de derrotar Bolsonaro.
O que ocorreria se Bolsonaro fosse colocado fora do jogo, por um impeachment? Lula saltaria imediatamente de boia de salvação nacional para inimigo político? Imediatamente grande parte dos neoliberais trariam de volta a luta ideológica pré-Bolsonaro. A mídia retornaria com campanha de ódio ou se pode confiar em sua sinceridade, com a descoberta tardia da democracia? O Supremo seria novamente instado a tirar Lula de combate, votando contra a decisão de Fachin – provavelmente até com o voto dele?
Pode ser uma visão muito pessimista do Supremo e da mídia. Mas, sem uma justiça de transição, mídia e Supremo continuarão no seu papel de biruta de aeroporto – em vez de bússola da cidadania.
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