A estratégia brasileira para erradicar extrema pobreza, por Tereza Campello

Brasilianas: Em 2015, o Brasil foi destaque em relatório do Banco Mundial por praticamente conseguir erradicar extrema pobreza. Ex-Ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, explica qual foi a metodologia do então Governo Federal para desmanchar o núcleo duro da pobreza
 
Como o Brasil quase exterminou extrema pobreza nos anos Lula-Dilma. Colagem de fotos de Roberto Ripper e Agência PT
 
Do Brasilianas
 
Em 2015, o Banco Mundial elogiou o Brasil por reduzir mais rapidamente do que seus vizinhos na América Latina a porcentagem de pessoas que viviam com menos de 2 dólares americanos por dia. O trabalho “Prosperidade Compartilhada e Erradicação da Pobreza na América Latina e Caribe“, publicado naquele ano, apontava que o Brasil, como nenhuma outra nação vizinha, tinha praticamente erradicado a extrema pobreza, ponderando que o desempenho brasileiro era fruto de três motivos: crescimento econômico que tornou o país mais estável do que o registrado nas duas décadas anteriores; aumento das taxas de emprego e, em terceiro lugar, políticas públicas com foco na erradicação da pobreza, como Bolsa Família e Brasil sem Miséria. 
 
No trecho a seguir, da entrevista concedida ao jornalista Luis Nassif, a ex-ministra do Desenvolvimento Social e uma das principais coordenadoras das políticas de combate à miséria, Tereza Campello, esclarece que Brasil não apenas conseguiu aumentar a inclusão de renda, mas também combater a pobreza multidimensional que, na metodologia do Banco Mundial, significa o grupo de pessoas que, além da falta de renda, não possui acesso a serviços básicos como água potável, energia elétrica, saneamento básico, saúde, habitação digna e bens e serviços primordiais para a segurança alimentar e promoção de renda, como geladeira, celular e internet.

 
O método utilizado pelo então governo para conquistar esse patamar foi estabelecer grupos de trabalho interministeriais para atacar diferentes tipos de déficits de serviços sociais sempre utilizando mapas para direcionar obras onde a população era mais carente. O metodologia incluía desviar o olhar dos números gerais que o Brasil tinha alcançado para focar na situação dos mais pobres.
 
Por exemplo, em 2002, quase 97% da população brasileira tinha acesso à energia elétrica, mas quando se observava a situação dos 5% mais pobres do país verificava-se que 18,7% não tinha acesso a esse serviço básico. 
 
“Não ia adiantar continuar fazendo [em termos de políticas públicas nesse setor] mais do mesmo que a energia não iria chegar nos pobres do campo. Então a gente criou um programa específico que foi o Luz para Todos”, conta Campello mostrando um gráfico onde as curvas de acesso a energia elétrica do total da população brasileira com a parcela dos mais pobres praticamente se encontra em 2015, passando para os níveis de 99,7% e 98,6% respectivamente. 
 
“Isso é uma amostra de que é possível ter uma curva de crescimento onde a política pública alcance os mais pobres, de que isso não é sonho, de que isso não é utopia”, completa. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=LAbklSd86CM width:700]
 
A mesma lógica interministerial foi implantada nos programas Brasil sem Miséria, de Cisternas no semiárido Nordestino (premiado como uma das melhores políticas públicas do mundo pelo World Future Council), e Mais Médicos. Neste último, a economista conta que as equipes de trabalho do Ministério da Saúde fizeram a sobreposição de dois tipos de mapas: um que mostrava onde estavam os equipamentos públicos, como postos de saúde, e outro que apontava onde estavam as populações mais carentes e, assim, nos territórios onde estavam os grupos mais pobres o programa começou a funcionar. 
 
“Você tinha nas periferias das cidades vazios inteiros sem médicos e nos grotões do Brasil também, como em Melgaço, na Ilha do Marajó [município do Pará, com o menor IDH do Brasil. Até então já tinham aumentado o salário dos médicos, chegando a oferecer R$ 30 mil, mas nenhum deles aceitava”, completa a ex-ministra. 
 
Campello coordenou o trabalho “Faces da Desigualdade no Brasil – Um olhar sobre os que ficam para trás”, lançado dia 27 de novembro na FGV do Rio de Janeiro. O relatório inédito defende que a redução da pobreza no país entre 2002 e 2015 foi estrutural e chama a atenção para a importância dos governos criarem estratégias específicas para combater a desigualdade multidimensional. De outra forma, afirmam os pesquisadores, não será possível acabar com o núcleo duro da miséria. 
 
Leia também: Campello apresenta o Brasil que ficou para trás após governos Lula-Dilma
 

Faces da Desigualdade no Brasil – Um olhar sobre os que ficam para trás 
Redação

6 Comentários

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  1. Mudança de Gênero…

    Nassif: essa estratégia, decente e louvável, pecou por dois aspectos não levados en consideração. Primeiro, não perguntou aos causadores desse quadro de miséria se eles aceitariam a mudança do status quo. Segundo, de instruir a classe beneficiária que o “exterminio” era da pobreza, não dos pobres, como o faz agora o pessoal do Executivo, do Judiciário e do Legislativo. 

  2. Conheço de corpo presente a

    Conheço de corpo presente a formidável melhoria das condições de vida na região da Chapada Diamantina na Bahia. Região do Polígono das secas. Ali vivi dos finais dos anos 60 ao início dos anos 80, e depois, menos amiude durante os governos de Lula e Dilma. Não dá para avaliar, na base do ouvi dizer. Eu ví com os meus próprios olhos que a terra haverá de comer. Simplismente poque lá vivi. Simples, ouvindo rádio de pilha ligados na BBC, ora na Voz de Moscou. Ouvia também o Leporace da Rádio Globo, se não me falha a memória.

    Gostava de ler, mesmo com a luz tênue do fifó. Pra quem é da capital e não sabe, fifó, é o candieiro. Embora a grafia correta seja candeeiro, prefiro candieiro ou, fifó, como se dizia, “vá caçar o fifo minino! Já tá escuro ora.”  Ora, o Luz para Todos aposentou as lamparinas, candeeiros, fifós, ou lâmpião de gás. Na verdade, todos tocados a querosene. Soube que cozinhar com lenha, tá retornando. Na certa por conta do “progresso” do preço do botijão de cozinha, depois que os competentes golpistas chegaram, o botijão de gás tá com o preço pela hora da morte. Mas, não duvide de o filho da puta do miSheel temer conceder incetivos pra reduzir o preço da gasolina para automóvel de motor acima de 2mil cilindradas.

    O pessoal começa a se dá conta, de que é preciso enxotar esses bandidos que invadiram Brasília. Só esperam a eleição chegar pra removerem esse lixo que tai. Convém não frustrarem as esperanças desses sofridos brasileiros mais uma vez. Tá certo que houve muitas sacanagens no passado recente, e nunca deu em nada pesado. Mas…quem sabe! Se dessa vez não será diferente?…Hem?

    Orlando

  3. erros graves em a faces da desigualdade
    Salvo melhor juízo este documento é muito capcioso. 1- Analisar “desigualdades” apenas comparando o progresso ou fracasso intra-grupo é mascarar as ideologias opressivas estruturantes, tal como o racismo e o sexismo. Por exemplo, o estudo mostra  que houve uma melhora de 117% entre 2002 e 2015 na escolarização de jovens negros no ensino médio pela página 40 e tal (e olha que a juventude negra está sendo assassinada em massa enquanto por este estudo está na escola). “Já em relação aos jovens de 15 a 17 anos, a taxa de matrícula no Ensino Médio entre os brancos é cerca de 15 pontos percentuais a mais do que entre os pretos e os pardos .”http://educacao.estadao.com.br/blogs/de-olho-na-educacao/a-desigualdade-entre-negros-e-brancos-tambem-esta-na-educacao/ Isto posto, a segunda conclusão ou ensinamento: 2- estuda-se desigualdade social & estrutural (e sua desconstrução) comparando os dados do grupo populacional oprimido ou vulnerável com o correspondente grupo populacional hegemônico. E por aí vai prestando um desserviço a implementação das políticas de equidade. Atenciosamente,Profa. Dra. Isabel Cruz

  4. Dr. Melgaço

    “Você tinha nas periferias das cidades vazios inteiros sem médicos e nos grotões do Brasil também, como em Melgaço, na Ilha do Marajó [município do Pará], com o menor IDH do Brasil. Até então já tinham aumentado o salário dos médicos, chegando a oferecer R$ 30 mil, mas nenhum deles aceitava”, completa a ex-ministra. 

    O DCM abriu financiamento coletivo para realização de um documentário sobre o Programa Mais Médicos, e escolheu o município de Melgaço para avaliar o impavto do programa, porque era o de menor IDH do Brasil. Pertinente, portanto.

    Fiz minha contribuição porque prezo muito o jornalismo bem feito, e principalmente porque morei no Pará (2004/2007), a 1.100 km de Belém, e conheci um pouco da realidade local. 

    No dia 14.04.2014, compareci ao teatro do Shopping JK para assistir ao lançamento oficial do documentário, quando tive a oportunidade de cumprimentar o Paulo Nogueira, falecido recentemente.

    Saí de lá impactado, o documentário é um soco no estômago. E, ingenuamente, saí de lá com a convicção de que o governo brasileiro, então sob o comando da Dilma, iria reproduzir aquele documentário em uns 300 mil DVDs e distribuir para todas as escolas e bibliotecas do país, divulgando a relevância humanitária do programa. 

    No dia 07 de março de 2014 o documentário foi publicado no You Tube. Até hoje, 22.642 visualizações. No mundo de hoje, isso aí e nada é a mesma coisa. O Porta dos Fundos publica 3 vídeos por semana, segunda, quinta e sábado, às 11h00. Por volta do meio dia, já são mais de 300 mil visualizações. 22 mil visualizações do Dr. Melgaço são um fracasso total, completo e absoluto. 

    Fiz um teste pessoal. Nos últimos 4 anos, sempre que a conversa descambava para a política, perguntava para meus interlocutores se conheciam o documentário. A resposta era uma cara de interrrogação. Ninguém sabe que esse documentário existiu. Fiz o teste até com jornalistas com 60 anos de idade. A menos que se tome por 22 mil visualizações o total dos eleitores ou dos simpatizantes dos governos do PT. 

    Um rotundo e completo fracasso. 

    Porque o governo brasileiro não se interessou em fazer 500 mil (ou 1 milhão) cópias desse documentário e distribuir pelo país. Pra quê, né. 

    No dia da apresentação do documentário, no Shopping JK, havia cerca de 50 pessoas na platéia. Repetindo 50 pessoas. E era ano de eleição. 

    É chocante. É desolador. É deprimente. 

     

    [video:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/melgaco-palstra-alice-riff/%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=HdjA6kpLHpc&t=54s%5D

     

     

     

  5. 500.000x R$ 1,00=R$ 500.000,00

    Quinhentos mil DVD’s sairiam por 500 mil reais, dinheiro dos salgadinhos em qualquer evento de prefeitura com 200 mil habitantes.habitantes

  6. Nassif, como entender?

    Depois das entrevistas da Dilma do enorme LULA e agora da tereza Campelo dadas a ele, dá um desgosto terrível ler os comentários do nassif em crônicas frequentes onde ele se refere ao “péssimo” governo da Dilma e dos gandes “erros” dos governos Lula e Dilma e os compara no geral com sarney, color e fhc. Incompreensível e desolador.

    Me dá um tremendo desgosto e é assustador.

    É de perdoar e relevar a miriam leitão e o sademberg…

     

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