Apreensões de cocaína dão prejuízo de R$ 50 mi para o PCC

Por André Paulistano

Do iG

Polícia Federal ataca finanças do PCC

Por Vasconcelo Quadros

Apreensões de toneladas de cocaína criaram prejuízos de R$ 50 milhões para a facção criminosa em seis meses

A Polícia Federal descobriu que o Primeiro Comando da Capital (PCC), a organização que controla os presídios, vem erguendo um verdadeiro império financeiro através do tráfico de cocaína em São Paulo. O maior sintoma desse poderio pode ser medido pela estatística: em seis meses de investigação, entre janeiro e junho deste ano, foram apreendidas sete toneladas e meia de cocaína no estado cujo valor de atacado no mercado das drogas – onde o preço médio é de R$ 10 mil o quilo – chega a R$ 75 milhões.

Como parte da droga apreendida é a pasta base da cocaína, comercializada a um valor menor que o do cloridrato, quando ela está pronta para o consumo, o rombo nas finanças da organização só na perda do “produto” que alimenta a organização é estimado em cerca de R$ 50 milhões.

Isso significa dizer que as quadrilhas envolvidas com a compra e distribuição no atacado movimentam finanças equivalentes ao capital de giro de empresas de médio porte. Em cada operação, além das prisões, a polícia tem apreendido e confiscado todos os bens em poder dos criminosos, o que aumenta os prejuízos.

“O que move a quadrilha são negócios”, afirma o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Roberto Troncon Filho.

Desde que o Ministério da Justiça e o governo paulista fecharam um acordo de cooperação, iniciado em novembro do ano passado, os órgãos policiais centraram foco para combater o PCC naquilo que é vital para sua existência: as finanças, minadas através das apreensões de drogas.

Também estão quebrando o fluxo financeiro alimentado pela lavagem de dinheiro e as ações violentas fora das prisões que, só no ano passado, como consequência da guerra entre PCC e Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) resultaram na morte de dezenas de criminosos e mais de noventa policiais militares.

Até o final do ano passado, mesmo diante do evidente avanço da organização no controle dos presídios, o governador Geraldo Alckmin e os órgãos de segurança paulistas (Secretaria de Segurança e Secretaria de Administração Penitenciária) procuraram negar a existência do PCC.

Em 20 anos, no entanto, a quadrilha se expandiu de tal forma que atualmente não só detém a maior fatia do mercado do tráfico de drogas, como também estendeu seus tentáculos lavando dinheiro no crime em atividades legais (como o transporte) e se infiltrando discretamente nas estruturas políticas de municípios da Grande São Paulo.

Representante da Polícia Federal na força tarefa organizada com a criação da Agência de Atuação Integrada – grupo de inteligência onde têm assento também as polícias militar, civil e rodoviária federal, as secretarias de Segurança e de Administração Penitenciária, Receita, Banco Central e outros órgãos de controle -, o delegado Roberto Troncon alerta que o PCC não deve ser mitificado e nem ignorado. A quadrilha tem poder financeiro e de fogo e se infiltrou na política penitenciária.

“A pregação de que tudo é em prol da causa carcerária é papo furado”, afirma o superintendente da PF. “Eles têm capilaridade dentro dos presídios, mas seus líderes estão presos em estabelecimentos de segurança máxima. Mesmo assim, por uma questão de legalidade, não é possível mantê-los em completa incomunicabilidade. A quadrilha alimenta-se de criminosos iniciantes, cooptáveis, mas sua influência é exercida mais pela mística do que pela realidade. No topo, os líderes são capitalistas e se utilizam do discurso contra o sistema carcerário para tocar seus negócios criminosos”, afirma o superintendente da PF.

A organização, segundo ele, tem o poder concentrado em dez líderes, conhecidos como “torres” – todos eles cumprindo as penas mais longas do país em presídios paulistas -, presta uma espécie de serviço social aos detentos, mas cobra um alto preço a ser pago em forma de ações quando estes retornam às ruas. Para ele, é falsa a pregação ideológica por trás das ações assistencialistas nos presídios.

O caso mais exemplar da contrapartida exigida dos investimentos em operações de tráfico foi a matança de policiais, no ano passado, ordenada pela cúpula como retaliação as ações da Rota, mas executada pelo “baixo clero”, os criminosos que estão na base da organização, conhecidos na gíria como “piolhos”, envolvidos no varejo do tráfico.

O homem forte ainda é Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso atualmente na Penitenciária de Presidente Venceslau, o homem que dá a última palavra nas decisões mais importante. O PCC controla cerca de 90% da população carcerária paulista, estimada em 200 mil detentos, mas seus líderes gerenciam esquemas distintos, cada um com sua “filial”, com investimentos e cobrança de resultados.

Nessas relações financeiras que permeiam o crime organizado a garantia é a palavra que, uma vez rompida, paga-se com a vida. É isso que explica, segundo a polícia, a eventual alternância entre o tráfico e os crimes contra o patrimônio: sempre que a polícia impõe algum prejuízo de monta ao grupo em grandes apreensões, descapitalizado, o perdedor parte para um grande assalto a banco ou carro forte para devolver o dinheiro emprestado. “Não tem título protestado”, diz o delegado.

Firmado no dia 12 de novembro do ano passado, depois da demissão do ex-secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto durante choque com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o acordo que gerou a agência de inteligência integrada mudou a política de repressão ao PCC. Os confrontos ostensivos passaram a ser precedidos de ações de inteligência voltadas para a economia da quadrilha.

No combate ao tráfico os resultados podem ser percebidos na apreensão recorde no primeiro semestre de 2013, sempre com grandes volumes apreendidos de cocaína: 1.079 quilos em janeiro, 975 em fevereiro, 1.146 em março, 810 em abril, 1.886 em maio e algo em torno de 1.700 em junho. O que dá ares surreais é que as operações são ordenadas ou geridas de dentro das cadeias.

Como o PCC tem capilaridade nacional e as operações de tráfico têm sempre estrutura em outros estados e nos países produtores de cocaína (a Bolívia é o maior exportador da droga que chega ao Brasil), as investigações desencadeadas em São Paulo também têm reflexos no montante de cerca de 17 toneladas apreendidas no país, em cuja estatística estão incluídas as sete toneladas e meia confiscadas em São Paulo.

A integração entre os órgãos de segurança, possível depois que a presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin, finalmente, se entenderam numa ação comum para atacar o crime organizado, é a novidade mais saudável na política de segurança do país. Com ela as polícias aperfeiçoaram a repressão. “Estamos descapitalizando e desmantelando o crime organizado”, afirma o delegado Troncon.

Luis Nassif

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